sexta-feira, 24 de dezembro de 2021

Autoridade eleitoral propõe adiar eleições na Líbia para 24 de Janeiro

Na Líbia, as eleições foram adiadas, após o comité eleitoral ter sido dissolvido. O processo de paz liderado pela ONU deveria culminar em eleições a 24 de dezembro. Autoridade eleitoral propõe nova data a 24 de janeiro.

Na noite desta terça-feira (21.12), a Alta Comissão Eleitoral Nacional (HNEC) ordenou a dissolução dos comités eleitorais do país. O objetivo deste processo de paz liderado pela ONU seria de permitir eleições nacionais a 24 de dezembro. No entanto, estas já foram adiadas para 24 de janeiro.

A decisão foi proposta esta quarta-feira (22.12) pela HNEC, após um comité parlamentar ter concluído que era "impossível" realizar o escrutínio na sexta-feira (24.12), o que representa um duro golpe nos esforços internacionais para pôr fim a uma década de caos na Líbia.

Sami Hamdi, diretor da International Interest, "think-thank" com sede em Londres, lembra que já há alguns meses havia tentativas de adiar as eleições. "Os grupos que procuram adiá-las são todas as fações líbias. Na verdade, ninguém quer mesmo eleições. Conseguiram, de alguma forma, garantir que o ambiente não fosse propício", diz.

A realização destas eleições presidenciais foi proposta para ajudar a unificar o país após uma década de guerra civil, mas nas últimas semanas multiplicaram-se os apelos para um adiamento.

Logo após a decisão da comissão eleitoral Líbia, a missão de apoio da ONU no país alertou, numa declaração, que a atual mobilização de forças afiliadas a diferentes grupos cria mais tensão e aumenta o risco de confrontos no país.

Embora não se tenha confirmado oficialmente, a conselheira especial da ONU para a Líbia, While Stephanie Williams, deve encontrar-se com candidatos esta semana. No entanto, 17 deles disseram que esperavam que as eleições fossem "inevitavelmente” adiadas.

"Eleições têm uma base fraca"

Em entrevista à DW, a politóloga Asma Khalifa, especialista em estudos sobre a Líbia no Instituto GIGA, em Hamburgo, na Alemanha, diz que "as eleições têm uma base fraca". Na sua opinião, as eleições são menos que ideais no modelo atual, "não temos uma base jurídica adequada, não temos uma base constitucional”, explica.

Para Khalifa, "as leis que foram aprovadas pelo atual presidente da Câmara dos Representantes da Líbia, Águila Salah, e pela própria Câmara dos Representantes não serão contestadas, se os resultados não couberem a uma determinada pessoa."

Ao todo, cerca de 80 candidatos concorrem ao cargo no país profundamente dividido e devastado pela guerra.

Candidatos controversos

Até agora, a comissão eleitoral não publicou uma lista oficial de candidatos, sendo muitos deles altamente contestados.

Entre os controversos candidatos estão o ministro Abdul Hamid Mohammed Dbeibah, que foi escolhido pela ONU em fevereiro para preparar as eleições nacionais. No entanto, decidiu concorrer por si próprio ao cargo - apesar de ter sido tecnicamente excluído pelo plano da ONU.

Aguila Saleh, orador da Câmara dos Representantes do Parlamento, insistiu numa nova lei eleitoral que lhe permite concorrer.

O general Khalifa Haftar, que foi uma das figuras-chave na guerra civil, e é conhecido pelo seu discurso simples. Na semana passada, as suas tropas entraram em confronto com apoiantes do Governo interino de Trípoli, na cidade de Sabha, no sul da Líbia.

Um dos nomes mais controversos é, sem dúvidas, o de Saif al-Islam al-Gaddafi, filho do antigo líder Muammar al-Ghadafi. Sua candidatura foi primeiro rejeitada por um tribunal em Trípoli, sob alegação de crimes de guerra. Depois, outro tribunal declarou-a admissível, no início de dezembro.

Al-Gaddafi diz que vai restaurar a estabilidade que o seu país já teve, na época de seu pai.

Na opinião de Sami Hamdi, o candidato é controverso e torna-se mais fácil de compreender quando temos presente que a revolução líbia só foi bem-sucedida através da intervenção da NATO.

"Isto sugere talvez que existe algum tipo de nostalgia por algum tipo de segurança e estabilidade, não democracia, direitos e liberdades, mas sim segurança e estabilidade", argumenta.

A história repete-se?

Os analistas veem muitas semelhanças com as eleições de 2014. "Nessa altura, resultados indesejáveis criaram revoltas pelas milícias que capturaram a capital e expulsaram os representantes da Câmara, independentemente do ambiente e das circunstâncias", diz Hamdi.

Para ele, é evidente que a ameaça de uma nova guerra civil está a pairar sobre o país, caso não haja consenso político ou em linha com as eleições.

Na opinião de Asma Khlalifa, este ano revela o quão pouco mudou a cultura política na Líbia, especialmente no topo. "Durante anos, as elites acham que a competição política apenas pode ter um vencedor, não imaginando uma partilha de poder, apesar das lutas civis devastadoras", explica.

No entanto, a situação fica mais complicada quando os rivais, com a exceção de Dbeibah, se encontraram em Benghazi. "Isto indica que as narrativas orientais e ocidentais já não são credíveis", diz.

Jennifer Holleis, Kersten Knipp, Agência Lusa | em Deutsche Welle com mais imagens no original

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