sexta-feira, 24 de dezembro de 2021

DEFENDEM O CLIMA ENQUANTO NOS PREPARAM O FIM DO MUNDO

Manlio Dinucci*

O discurso sobre o “aquecimento global” e o futuro do planeta contém em muitos casos enorme hipocrisia. A Itália e a Grã-Bretanha assumiram protagonismo na preparação da COP26 da ONU. Esses mesmos países, que manifestam tanta preocupação com o aquecimento global, contribuem activamente (junto com os EUA) na escalada armamentista que poderá conduzir a uma catástrofe nuclear. Se tal vier a suceder, seguir-se-á um inverno nuclear no qual poucas formas de vida sobreviverão.

No início de Outubro, a Itália acolheu a reunião preparatória da Conferência das Nações Unidas sobre Alteração Climática, COP26, que está agora a ocorrer em Glasgow.

Duas semanas depois, a Itália acolheu também outro evento internacional que, ao contrário do que sucedeu com o primeiro, o governo italiano preferiu realizar no maior silêncio: a manobra de guerra nuclear Steadfast Noon, organizada pela NATO nos céus do centro e do sul de Itália.

Sob as ordens dos Estados Unidos, as forças aéreas de 14 países membros da NATO participaram durante 7 dias nesta manobra, deslocando nas bases de Aviano e Ghedi (Itália), caças-bombardeiros capazes de transportar tanto armas convencionais como armamento atómico.

Aviano, na região italiana de Friuli, serve como base permanente para o 31º Esquadrão Aéreo dos Estados Unidos, que dispõe de caças-bombardeiros F-16C/D e de bombas nucleares (EUA) B61.

Entretanto, em Ghedi - também em Itália, mas na região da Lombardia - o 6º Esquadrão Aéreo italiano dispõe de caças-bombardeiros Tornado PA-200 e de bombas nucleares (EUA) B61. A Federação de Cientistas Estado-unidenses (FAS na sigla em inglês) disse em 2021 que: foram atribuídas à Força Aérea Italiana missões de ataque nuclear com bombas norte-americanas, armazenadas em Itália sob o controlo da US Air Force, cujo uso em acções de guerra deve contar com a autorização do Presidente dos Estados Unidos.

As bases de Aviano e Ghedi foram reestruturadas para receber aviões de guerra F-35 armados com novas bombas nucleares (dos EUA) B61-12. Em Outubro passado foi realizado no Nevada (Estados Unidos) o teste final de lançamento – a partir de dois F-35As e sem cargas atómicas - das novas bombas nucleares estado-unidenses B61-12. Assim que essas novas bombas atómicas cheguem a Itália, juntamente com 30 aeronaves F-35A adquiridas pela Itália, estas poderão ser instaladas na base de Ghedi, onde estarão prontas para o ataque, sob as ordens dos Estados Unidos, com 60 B61-12 bombas nucleares armazenadas nas mesmas instalações.

Apenas uma semana depois de ter participado do exercício de guerra nuclear Steadfast Noon, a Itália participa da Conferência das Nações Unidas sobre Alterações Climáticas, presidida pelo Reino Unido em associação com a Itália. O primeiro-ministro britânico Boris Johnson declarou então: “Estamos a um minuto da meia-noite e temos que reagir agora” contra o aquecimento global que está a destruir o planeta.

Boris Johnson utilizava a imagem do simbólico “Relógio do Apocalipse”, mas esse relógio na verdade mostra o curto tempo que nos separa da meia-noite nuclear. O mesmo Boris Johnson havia anunciado em Março o desenvolvimento dos submarinos britânicos de ataque nuclear Astute, com o custo de US $ 2.200 milhões cada um, armados com mísseis nucleares de cruzeiro EUA Tomahawk IV cujo alcance é de 1.500 quilómetros, e dos seus submarinos Vanguard, cada um armado com 16 mísseis balísticos Trident D5 dos EUA com um alcance de 12.000 quilómetros, capazes de transportar mais de 120 ogivas nucleares. Os Vanguard serão rapidamente substituídos pelos novos e ainda mais poderosos submarinos da classe Dadnough.

Os submarinos britânicos de ataque nuclear, que já navegavam ao largo das costas russas, agora navegam também frente às costas da China partindo da Austrália, país ao qual Estados Unidos e Reino Unido vão proporcionar submarinos nucleares. Como estamos a ver, o Reino Unido, que acolhe a conferência para salvar o planeta das alterações climáticas, contribui alegremente para a aceleração da corrida armamentista que arrasta o mundo para a catástrofe nuclear.

Em meio a todo este contexto, o vídeo promocional da Conferência sobre Alterações Climáticas peca por erróneo. Nesse vídeo [ver o início deste artigo], um dinossaurio, representante de uma espécie extinta, sobe à tribuna da ONU para alertar os humanos sobre a necessidade de salvar a humanidade do aquecimento global.

Mas os estudos científicos confirmaram que não foi um aquecimento global que matou os dinossaurios, mas, pelo contrário, um arrefecimento generalizado do planeta causado pelo impacto de um enorme meteorito que levantou nuvens de poeira de tal magnitude que eclipsaram o sol por muito tempo.

Isso é exactamente o que aconteceria no caso de uma guerra nuclear. Além da destruição de proporções catastróficas e dos efeitos das radiações nucleares que afectariam todo o planeta, um conflito nuclear provocaria, tanto em áreas urbanas quanto em áreas florestais, incêndios de tal magnitude que espessas cortinas de fumo ocultariam o sol, o que teria como consequência um arrefecimento climático que duraria anos, ou seja, um muito longo inverno nuclear.

Entre as consequências desse inverno nuclear estariam a extinção da maioria das espécies vegetais e animais que hoje conhecemos e efeitos devastadores na agricultura. O frio e a fome reduziriam as possibilidades de subsistência dos poucos sobreviventes, o que levaria à extinção da espécie humana por “arrefecimento nuclear”.

*Il Manifesto, em O Diário.info

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