domingo, 4 de julho de 2021

A razão é e será o nosso escudo -- Parlamento de Cuba

– Declaração da Comissão de Relações Internacionais da Assembleia Nacional do Poder Popular da República de Cuba

Por Parlamento de Cuba

Uma vez mais, o Parlamento Europeu desempenhou o triste papel de refém de um pequeno grupo de eurodeputados da extrema direita, obcecados por destruir a Revolução cubana e que têm um comprovado vínculo com organizações radicadas em Miami, financiadas pelo governo dos Estados Unidos.

A espúria e ingerencista resolução [NR] que acaba de ser aprovada no Parlamento Europeu diminui a credibilidade dessa instituição e reflecte a dupla moral em relação à nação cubana. Não há, no documento, nenhuma intenção de cooperar ou dialogar, nem a menor expressão de respeito a Cuba, como país livre, independente e soberano.

Reiteramos o nosso enérgico repúdio a esse invento promovido pelos representantes mais extremistas dos agrupamentos políticos espanhóis Partido Popular e Vox, os quais não têm nenhuma autoridade moral para julgar Cuba, e levaram ao Parlamento Europeu as suas querelas políticas internas contra o actual executivo do seu país.

Frente à retórica violenta, vulgar e neofascista desse minoritário grupo de europarlamentares, levantaram-se vozes dignas, que expuseram a verdade sobre Cuba e qualificaram a acção como uma hipocrisia. Referiram-se ao bloqueio dos Estados Unidos como a mais flagrante violação dos direitos humanos do povo cubano, e exigiram a sua eliminação, ao mesmo tempo em que defenderam o desenvolvimento de uma relação respeitosa e construtiva entre Cuba e a União Europeia.

Uma resolução como essa, plasmada com dois pesos, não nos tira o sono. Os legisladores cubanos, junto ao povo, do qual somos parte inseparável e ao qual nos devemos, trabalhamos para fortalecer a estrutura normativa da nossa nação, que prioriza o pleno gozo de todos os direitos humanos para todas as pessoas.

Em Cuba, a cultura é de alcance universal, e o Estado preserva o acesso cada vez mais amplo do povo a todas as suas manifestações. A cooperação médica cubana, da qual também se beneficiaram povos europeus, é um paradigma da projecção externa da Revolução, sobre a base do princípio martiano de que “Pátria é humanidade”.

As campanhas promovidas pelos inimigos e os seus lacaios fracassam ante a vontade do nosso povo, de seguir avançando unido na construção de uma sociedade cada vez mais justa e democrática.

A razão é e será o nosso escudo.

Comissão de Relações Internacionais da Assembleia Nacional do Poder Popular da República de Cuba.

Havana, 10 de Junho de 2021.

[NR] A resolução do PE foi aprovada por 386 votos a favor e 236 contra, com 59 abstenções.   Pelo menos três deputados portugueses votaram contra Cuba, todos do PSD (Maria da Graça Carvalho, Claudia Monteiro Aguiar e Paulo Rangel).

Ver também:

  Se suspende temporalmente la aceptación de depósitos bancarios en efectivo de dólares de los EEUU

A tradução encontra-se em www.parlamentocubano.gob.cu/wp-content/uploads/portu-PDF.pdf

Esta declaração encontra-se em https://resistir.info/

Moçambique | Portugal quer envolvimento de outros países da UE no apoio aos deslocados

Moçambique recebeu neste sábado (03.07) o primeiro dos três voos da ponte aérea humanitária da União Europeia para Pemba, que trazem donativos doados por várias ONGs da Itália e Portugal aos deslocados de guerra.

O secretário de Estado dos Negócios Estrangeiros e Cooperação de Portugal, Francisco André, pediu este sábado (03.07), em Cabo Delgado, o envolvimento de outros países da União Europeia (UE) no apoio a Moçambique face à violência armada no Norte do país.

"Moçambique e esta região em concreto estão neste momento a precisar de ajuda”, começou por dizer Francisco André, destacando que "são centenas de milhares de deslocados, em tempo de pandemia, e isso só se resolve com a atuação de todos”.

O dirigente português defendeu por isso ser importante que "outros estados europeus e fora da Europa se juntassem a nós neste esforço para ajudar as populações do país", declarou Francisco André.

Aquele responsável falava à comunicação social no Aeroporto Internacional de Pemba, no âmbito da chegada do primeiro avião de três que vão garantir a ponte aérea humanitária da UE para apoiar as populações afetadas pela violência armada em Cabo Delgado.

Para Francisco André, a chegada do primeiro voo humanitário, organizado por Portugal e Itália, reflete a solidariedade dos povos daqueles países europeus para com a situação das populações afetadas pela violência em Cabo Delgado.

"É muito importante para o Governo português estar aqui a assinalar a chegada deste voo, sobretudo no final de um trimestre em que Portugal esteve em frente dos destinos da presidência do Conselho da União Europeia e que trabalhou bastante para colocar Moçambique como uma prioridade para política externa", declarou Francisco André.

EUA alertam para tráfico de seres humanos em Angola e Moçambique

Jovens e crianças angolanos são explorados por traficantes dentro e fora do seu país, enquanto Moçambique "não cumpre os padrões mínimos" para erradicar o tráfico de humanos. É o que aponta o Governo norte-americano.

Em Angola, jovens e crianças, de ambos os sexos, são explorados por traficantes no seu próprio país e fora dele, alerta o relatório do Departamento de Estado norte-americano sobre tráfico de seres humano, divulgado na quinta-feira (01.07).  

"Os traficantes exploram angolanos, incluindo jovens de 12 anos em trabalhos forçados no fabrico de tijolos, no serviço doméstico, construção, agricultura, pescas e exploração artesanal de diamantes e outros setores de mineração", refere o relatório, acrescentando que meninas angolanas com 13 anos são vítimas de tráfico sexual e trabalho doméstico em casas particulares.

"Adultos angolanos usam crianças menores de 12 anos em atividades criminosas forçadas, porque as crianças não podem ser processadas judicialmente", refere ainda o documento, sublinhando que com a pandemia de Covid-19 os "manipuladores" angariaram mais crianças pobres de Luanda para trabalharem na rua a mendigar, engraxar sapatos, a lavar carros e a ajudar a estacionar.

Angola a Frelimo e as coincidências

Soberano Kanyanga | Jornal de Angola | opinião

A história da colonização portuguesa, com apetites ingleses pelo meio, o mapa cor-de-rosa, as rebeliões nativas, a tomada de consciência nacional, a frequência das mesmas escolas metropolitanas, a passagem pela CEI¹ e a mobilização para a luta armada que levou às independências são comuns. Tirando pequenos laivos de “excessivo apego à estrutura sintáctica”, para os luso-índico-africanos, e refinada dicção, a roçar ao tuga alfacinha, para os luso-afro-tropicais-atlânticos, é tudo, como se diz em Umbundu, walisetahãla²!

Há angolanos, mais pelo interior, sobretudo os que frequentaram missões católicas, que reverenciam a sintaxe, mas descuidam a prosódia. Assim como os há,  sazonalmente, em Moçambique. É por isso que sem alistar os santomenses, netos de nossos antepassados aí levados para povoar as duas ilhas perdidas no kalunga lwiji³, os kanimambu⁴ são os nossos irmãos siameses no comportamento social, nas cleptomanias, e no que só Mia sabe descrever.

Falando em Mia Couto, biólogo que, para mim, é nobável⁵ sempre que o leio nas suas caracterizações de Mussa Al-Bike, penso que ele é meu vizinho, colega de trabalho e confessionário de mesmas crenças e dogmas. É tanta coincidência entre os dois países banhados por oceanos distintos!

Conta-se que estando em Moçambique dois angolanos, idos do Ndongo, decidiram procurar por um restaurante à beira-mar, em Beira, onde encontrariam apetecíveis  garoupas grelhadas, regáveis com as mais suculentas produções vinícolas lus-e-tanas.

- Bem-vindos queridos fregueses. Aqui tem de tudo: peixe, mariscos, frutos do mar, petiscos e bons vinhos portugueses e mandelenses. - Convidou Hibrahima, mulher de pele achocolatada aparentando ascendência etíope.

- Boa tarde e muito obrigado pelo convite. - Respondeu António Tandela, meio reclinado, veniando a donzela, enquanto o companheiro retirava o boné da cabeça.

- Em que vos pode valer a minha serventia, cavalheiros? - Perguntou Hibrahima, ao mesmo tempo que minuciava os gestos, sotaques, o brilho e o aroma que os recém-entrados expeliam.

- Há bons dias que não passamos de carnes e aves. Hoje é peixe que queremos: calafate, garoupa, pungo, o que houver de bom. - Respondeu Dias, até então calado.

- Traga-nos também a carta das pomadas⁶. Este sol pede um bom litro⁷. Para mim, água de côco. - Emendou Tandela.

Hibrahima tomou nota do pedido no bloco de apontamentos que levou à cozinha e ao bar, deixando lacrados no cérebro as informações descritivas sobre os dois cavalheiros.

Feitas as diligência, e quando as garoupas mostravam já as espinhas dorsais e a garrafa de Don Juan e verter por baixo, Hibrahima, no papel de boa anfitriã, voltou a questionar.

- Desculpe, senhor Dias. Vocês me parecem de Nhambate, pois não?

- Nhambane? Nem conhecemos ainda. Nós somos angolanos. - Retorquiu Dias procurando saber o porquê da colação a Nhambane.

- É que, pelo vosso sotaque, só podem ser de Nhambane. Tenho certeza porque já lá vivi e convivo com muitos nhambanenses. - Explicou arguciosa.

Nisso, Tandela que inclinara as últimas gotas do envelhecido Don Juan entrou em cena procurando por um documento que levasse Hibrahima a dirimir as dúvidas.

- Só um momento minha senhora e já lhe mostro que somos mesmo angolanos. - Apelou, tentando encontrar, entre os papéis no bolso interior do casaco, um documento que indicasse a sua proveniência. Não foi, porém, a tempo, pois Joia, uma garçonete que se achava a poucos metros, atirou em seco.

- Porquê
que vocês da Frelimo gostam tanto de mentir? Depois da refeição, se quiserem conhecer Beira, podem ligar para mim que já estou no fim do meu turno. Aceito jornada after work.

Trocaram nomes e telefones para o intercâmbio de culturas, odores e suores nos dias que faltavam à missão. Quanto à língua herdada da colonização e aos sotaques, ficou provado. Angola tem tudo de Moçambique e vice-versa!

Notas:
¹ Casa de Estudantes do Império.
² Parecidos.
³ Mar, aceno, imensidão (Ucokwe).
⁴ Alusão a moçambicanos. Saudação.
⁵ Merecedor de prémio Nobel.
⁶ Alusão ao vinho tinto.
⁷ Garrafa.

Soberano Kanyanga

Imagem: JA

As universidades angolanas e timorenses devem adaptar-se à covid-19

J.T. Matebian, emTimor-Leste

O Vice-Reitor da Área Académica da Universidade Privada de Angola (UPRA) defende que os gestores universitários angolanos e timorenses, com a pandemia da covid-19, devem ajustar os Planos de Desenvolvimento Institucional. Na opinião de M. Azancot de Menezes, os docentes terão que adaptar os projectos pedagógicos dos cursos ao modelo de ensino online e aproveitar para mudar o paradigma do processo de ensino-aprendizagem.

As Instituições de Ensino Superior (IES) de todo o mundo sentiram o impacto da pandemia da covid-19. A imposição de medidas de biossegurança e outras acções implementadas nos diversos estabelecimentos de ensino foram uma solução necessária, mas, a situação continua a preocupar governantes, gestores e docentes universitários.

Sobre esta matéria decidimos auscultar a opinião de M. Azancot de Menezes, PhD em Educação pela Universidade de Lisboa, ex-Pró-Reitor da Universidade de Díli (UNDIL) e ex-assessor no Ministério de Educação e Cultura de Timor-Leste, actualmente Vice-Reitor da Área Académica da Universidade Privada de Angola (UPRA), um conhecedor das realidades do Ensino Superior de Angola e de Timor-Leste.

Prof. Azancot de Menezes, no caso de Angola e de Timor-Leste, as duas realidades que melhor conhece, as universidades nestes países como é que devem proceder face à covid-19?Devem ser encerradas?

De modo algum! A manter-se a situação pandémica controlada, havendo um rigoroso cumprimento das medidas de biossegurança, as universidades angolanas e timorenses, ou de qualquer outro país, devem adaptar-se à situação, o encerramento está fora de questão.

O modelo de ensino online  agora é incontornável e as universidades devem estabelecer novos objectivos estratégicos, metas e acções ajustadas ao contexto da pandemia da covid-19.

Por outras palavras, os gestores de topo e intermédios , onde se incluem reitores, directores, decanos e chefes de departamento, bem como os docentes, devem repensar os Planos de Desenvolvimento Institucional (PDI) e trabalhar as (necessárias) adaptações em relação aos objectivos estabelecidos e aos projectos pedagógicos.

Os horários nas universidades, inclusivamente, poderão ser mais flexíveis para minimizar o ajuntamento de estudantes, com a grande finalidade de se evitarem riscos para a saúde de todos os membros da comunidade académica e, simultaneamente, manter-se a oferta educativa com a modalidade de ensino b-learning, um ensino híbrido, ou seja, presencial e não presencial.

Angola | O Ódio Cego e os Bichos do Deserto

Artur Queiroz*, Luanda 

O ódio figadal à democracia é uma característica indisfarçável da UNITA. O partido antes odiava Angola independente, revolucionária e socialista. Manifestou esse sentimento destruidor ao alistar-se nas forças de defesa e segurança da África do Sul, em regime de apartheid. Jonas Savimbi arrastou os seus seguidores para o mísero papel de carne para canhão, porque bem sabia que os negros eram segregados, humilhados, desrespeitados, mortos nas ruas, nas esquadras, nos quartéis, nas prisões. Ou em Angola. Nunca esqueçam o massacre de Cassinga, nunca!

O ódio à democracia implica também odiar o MPLA, porque foi este movimento de libertação que conduziu os angolanos até aos píncaros da Independência. Porque foi o MPLA que se constituiu em vanguarda politica e militar, para defender a soberania nacional e a integridade territorial. Eu sei que isto já não se usa, mas nesses tempos heroicos usava-se e era a mais pura das verdades: O MPLA É o Povo e o Povo É o MPLA. As forças guerrilheiras foram proclamadas Forças Armadas Populares de Libertação de Angola (FAPLA) em Agosto de 1974. E Exército Nacional em 11 de Novembro de 1975.

A democracia angolana, nascida com o Acordo de Bicesse, foi atacada pela UNITA, quando perdeu as primeiras eleições multipartidárias, com duros golpes, desferidos directamente ao seu coração. O MPLA defendeu o regime democrático com unhas e dentes, até Savimbi acabar os seus dias de criminoso de guerra, como um pária, nas matas do Lucusse. Marcolino Moco, cabeça de lista do MPLA e por isso indigitado Primeiro-Ministro, descreveu esta tragédia de uma forma muito feliz: “A UNITA quer matar a democracia, ainda no ovo!”.

Tanto ódio a Angola e à democracia só podia dar em debandadas de respeitáveis dirigentes e militantes da UNITA. Uns saíram com estrondo, outros discretamente, outros ainda vivem angustiados, não vá saber-se que um dia estiveram ao lado do criminoso de guerra Jonas Savimbi. Os que ficaram, por mais voltas que deem, por mais riviangas que façam, por muito que mintam e finjam, são indubitavelmente inimigos da democracia e só descansam quando virem os angolanos, de novo, sob a pata de um qualquer senhor, seja defensor do apartheid declarado, ou fingido como ocorre nos EUA.

Ontem assisti ao debate na TPA sobre a revisão da Constituição da República. A deputada Mihaela Webba, da UNITA, deu um festival medonho de ódio a tudo quanto é diferente e pensa diferente. A menina espumava ódio e ressentimento. As veias do pescoço pulsavam com tal violência que ameaçavam rebentar. Temi o pior. Sendo jovem, não se compreende como, quando e onde acumulou tanto ódio à democracia angolana e aos angolanos. Disse várias vezes que é constitucionalista, mas ao mesmo tempo afirmou, com esgares de ódio, que a Constituição da República “tem muita coisa errada”. Os outros participantes no debate, entre os quais Lucas Ngonda, líder da FNLA, tentavam lançar água na fervura. Mas Mihaela não deixava. Parecia o Savimbi atirando com as elites femininas da UNITA para as fogueiras da Jamba. Aka!

Dona Mihaela, o texto constitucional é o que é. Errado não. Pode ter preceitos com os quais vossa excelência não está de acordo, mas como muito bem aconselha a Polícia Nacional, por favor, não entre em conflito com a Lei, muito menos com a Constituição da República.

Política é um pouco mais fina do que tiradas demagógicas eivadas de ódio e ressentimento. Diz a senhora deputada Mihaela que Angola não é uma democracia, porque se um cidadão com capacidade eleitoral quiser candidatar-se ao cargo de Presidente da República, tem de pertencer a um partido político. Alto lá. Essa norma tem a ver com a Democracia Angolana e não adianta fazer comparações com o Chile, EUA, Portugal, Roménia ou Haiti. Em Angola é assim: Só pode ser o mais alto magistrado da Nação, quem concorrer ao acto eleitoral, como cabeça de lista do partido que vencer as eleições. Mas atenção! Se não conseguir o apoio de uma ampla maioria na Assembleia Nacional, tem o fracasso garantido. Isto exige amplos consensos e garante a estabilidade política e social.

Senhora deputada Miahela! Se a UNITA conhece alguma angolana de excepção (ou angolano) só tem que lhe dar o lugar de cabeça de lista nas próximas eleições e automaticamente fica habilitada ou habilitado à eleição para a Presidência da República. Não precisa de pertencer ao partido. Como qualquer outra candidatura a deputada ou deputado. Portanto, o seu argumento é tão pobre que me faz ter pena dos seus alunos e colegas na Assembleia Nacional.

O ódio cura-se com conhecimento e o conhecimento estimula a inteligência. Quem é minimamente inteligente não guia a sua vida pelo ódio à democracia. Quanto mais não seja, porque não adianta. Aquelas e aqueles que se bateram até à morte pela independência, a soberania nacional e a integridade territorial também vão bater-se pela democracia. Acredite, senhora deputada. Vossa excelência está sentada no Parlamento, por estar. Mas a majoria das deputadas e deputados está lá porque tem como missão promover a democracia e fazer de Angola um país bom para o seu povo viver. Mihaela, tal como a UNITA, está condenada ao fracasso.

UM dia fui ao deserto do Namibe fazer uma reportagem com o séquito de um marquês espanhol, que era genro do ditador Franco. Uma prendada senhora da comitiva começou a fazer uns avanços e o repórter fotográfico disse que ela estava a atirar-se a mim. Naquele tempo atraía tudo quanto era desgraça. Disse respeitosamente à madame que não gostava de mulheres nem de homens, só de zebras. E contei-lhe como andava atrás delas. Ia direitinho às montanhas rutilantes, virava à esquerda até encontrar a mulola onde elas bebiam. Depois, uma delas escolhia-me. A senhora, entusiasmada, quis saber o nome de todos os bichos que encontrava pelo caminho.

Falei-lhe de lacraus gigantes, ratos com focinho de macacos, avestruzes e uma raridade, o Sukuama, que umas vezes era metade homem metade cobra. Outras, tinha cara de homem e corpo de pássaro gigante. Arranjei-lhe umas 50 versões do Sukuama. No final, a senhora, empolgada, bichanou-me ao ouvido: Anda para a minha tenda!

Espero que a senhora deputada da UNITA, Mihaela Webba, depois do que lhe expus, não me cuspa ódios e impropérios, em vez de pensar uns minutos sobre o assunto. Eu não duro sempre. E o Sukuama nunca existiu, foi um mero truque de emergência.

* Jornalista

FOTO: Mihaela Webba – como a senhora deputada se vê ao espelho.

ANGOLA, RUPTURA, LIBERTAÇÃO E VIDA – III

CULTURA DE VANGUARDA NA LUTA ARMADA DE LIBERTAÇÃO

Martinho Júnior, Luanda

UMA REFLEXÃO NECESSÁRIA DAS RAZÕES PORQUE “A LUTA CONTINUA” DESDE A SAGA ANTICOLONIAL, AO ANTIIMPERIALISMO INTERNACIONALISTA DE NOSSOS DIAS

A historiografia à portuguesa, durante séculos que, em relação a África e tendo em conta que do lado africano houve uma insuficiência gritante de registos escritos, foi produzindo narrativas que primaram pela ausência de contraditórios e por isso de capacidade dialética de interpretação.

Isso tem influenciado nas narrativas históricas até aos nossos dias, distorcendo conteúdos também por causa de filtragens ideológicas e colocando por conseguinte os autores portugueses numa grupo de intelectuais de 2ª categoria, abrindo as portas até a correntes fascistas de reinterpretação da história, como é o caso flagrante de Carlos Pacheco, no rescaldo de seus próprios traumas e saudosismos (não serão as mentes dos fascistas reprodutoras de sociopatias?)…

O que é facto é que isso serve à inteligência portuguesa em África, particularmente no caso dos relacionamentos para com Angola e é um dos instrumentalizados serviços que interessa ao “hegemon” em função do carácter da NATO e do Africom (a luta de libertação em África era-o também anti-imperialista e por isso tudo tem de ser condicionado, pelo que a liberdade não pode passar de um arremedo).

Mesmo em relação à luta armada de libertação em África contra o colonialismo português e o “apartheid” esse redutor “espírito” de vassalagem se manifesta e, por exemplo, torna os narradores incapazes de reconhecer as contradições internas da internacional fascista em África, as contradições internas das políticas colonial-fascistas e as inerentes à sua evolução quando, em função da “africanização da guerra”, elas foram obrigadas a adoptar os conceitos de “combate à subversão”.

O professor Gerald J. Bender, autor de “Angola sob o domínio português, mito e realidade”, quando muito é reduzido a notas de rodapé, apesar de na verdade, para se compreender o movimento de libertação em África e suas “zonas cinzentas” em termos de tensões de inteligência e influência, os contreúdos que ele subscreve são de muito sensível acuidade dialética…

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