O ódio figadal à democracia é uma
característica indisfarçável da UNITA. O partido antes odiava Angola
independente, revolucionária e socialista. Manifestou esse sentimento
destruidor ao alistar-se nas forças de defesa e segurança da África do Sul, em
regime de apartheid. Jonas Savimbi arrastou os seus seguidores para o mísero
papel de carne para canhão, porque bem sabia que os negros eram segregados,
humilhados, desrespeitados, mortos nas ruas, nas esquadras, nos quartéis, nas
prisões. Ou em Angola.
Nunca esqueçam o massacre de Cassinga, nunca!
O ódio à democracia implica
também odiar o MPLA, porque foi este movimento de libertação que conduziu os
angolanos até aos píncaros da Independência. Porque foi o MPLA que se
constituiu em vanguarda politica e militar, para defender a soberania nacional
e a integridade territorial. Eu sei que isto já não se usa, mas nesses tempos
heroicos usava-se e era a mais pura das verdades: O MPLA É o Povo e o Povo É o
MPLA. As forças guerrilheiras foram proclamadas Forças Armadas Populares de
Libertação de Angola (FAPLA) em Agosto de 1974. E Exército Nacional em 11 de
Novembro de 1975.
A democracia angolana, nascida
com o Acordo de Bicesse, foi atacada pela UNITA, quando perdeu as
primeiras eleições multipartidárias, com duros golpes, desferidos directamente ao
seu coração. O MPLA defendeu o regime democrático com unhas e dentes, até
Savimbi acabar os seus dias de criminoso de guerra, como um pária, nas matas do
Lucusse. Marcolino Moco, cabeça de lista do MPLA e por isso indigitado
Primeiro-Ministro, descreveu esta tragédia de uma forma muito feliz: “A UNITA
quer matar a democracia, ainda no ovo!”.
Tanto ódio a Angola e à
democracia só podia dar em debandadas de respeitáveis dirigentes e militantes
da UNITA. Uns saíram com estrondo, outros discretamente, outros ainda vivem
angustiados, não vá saber-se que um dia estiveram ao lado do criminoso de
guerra Jonas Savimbi. Os que ficaram, por mais voltas que deem, por mais
riviangas que façam, por muito que mintam e finjam, são indubitavelmente
inimigos da democracia e só descansam quando virem os angolanos, de novo, sob a
pata de um qualquer senhor, seja defensor do apartheid declarado, ou fingido
como ocorre nos EUA.
Ontem assisti ao debate na TPA
sobre a revisão da Constituição da República. A deputada Mihaela Webba, da
UNITA, deu um festival medonho de ódio a tudo quanto é diferente e pensa
diferente. A menina espumava ódio e ressentimento. As veias do pescoço pulsavam
com tal violência que ameaçavam rebentar. Temi o pior. Sendo jovem, não se
compreende como, quando e onde acumulou tanto ódio à democracia angolana e aos
angolanos. Disse várias vezes que é constitucionalista, mas ao mesmo tempo
afirmou, com esgares de ódio, que a Constituição da República “tem muita coisa
errada”. Os outros participantes no debate, entre os quais Lucas Ngonda, líder
da FNLA, tentavam lançar água na fervura. Mas Mihaela não deixava. Parecia o
Savimbi atirando com as elites femininas da UNITA para as fogueiras da Jamba.
Aka!
Dona Mihaela, o texto
constitucional é o que é. Errado não. Pode ter preceitos com os quais vossa
excelência não está de acordo, mas como muito bem aconselha a Polícia Nacional,
por favor, não entre em conflito com a Lei, muito menos com a Constituição da
República.
Política é um pouco mais fina do
que tiradas demagógicas eivadas de ódio e ressentimento. Diz a senhora deputada
Mihaela que Angola não é uma democracia, porque se um cidadão com capacidade
eleitoral quiser candidatar-se ao cargo de Presidente da República, tem de
pertencer a um partido político. Alto lá. Essa norma tem a ver com a Democracia
Angolana e não adianta fazer comparações com o Chile, EUA, Portugal, Roménia ou
Haiti. Em Angola é assim: Só pode ser o mais alto magistrado da Nação, quem
concorrer ao acto eleitoral, como cabeça de lista do partido que vencer as
eleições. Mas atenção! Se não conseguir o apoio de uma ampla maioria na
Assembleia Nacional, tem o fracasso garantido. Isto exige amplos consensos e
garante a estabilidade política e social.
Senhora deputada Miahela! Se a
UNITA conhece alguma angolana de excepção (ou angolano) só tem que lhe dar o
lugar de cabeça de lista nas próximas eleições e automaticamente fica
habilitada ou habilitado à eleição para a Presidência da República. Não precisa
de pertencer ao partido. Como qualquer outra candidatura a deputada ou
deputado. Portanto, o seu argumento é tão pobre que me faz ter pena dos seus
alunos e colegas na Assembleia Nacional.
O ódio cura-se com conhecimento e
o conhecimento estimula a inteligência. Quem é minimamente inteligente não guia
a sua vida pelo ódio à democracia. Quanto mais não seja, porque não adianta.
Aquelas e aqueles que se bateram até à morte pela independência, a soberania
nacional e a integridade territorial também vão bater-se pela democracia.
Acredite, senhora deputada. Vossa excelência está sentada no Parlamento, por
estar. Mas a majoria das deputadas e deputados está lá porque tem como missão
promover a democracia e fazer de Angola um país bom para o seu povo viver.
Mihaela, tal como a UNITA, está condenada ao fracasso.
UM dia fui ao deserto do Namibe
fazer uma reportagem com o séquito de um marquês espanhol, que era genro do
ditador Franco. Uma prendada senhora da comitiva começou a fazer uns avanços e
o repórter fotográfico disse que ela estava a atirar-se a mim. Naquele tempo
atraía tudo quanto era desgraça. Disse respeitosamente à madame que não gostava
de mulheres nem de homens, só de zebras. E contei-lhe como andava atrás delas.
Ia direitinho às montanhas rutilantes, virava à esquerda até encontrar a mulola
onde elas bebiam. Depois, uma delas escolhia-me. A senhora, entusiasmada, quis
saber o nome de todos os bichos que encontrava pelo caminho.
Falei-lhe de lacraus gigantes,
ratos com focinho de macacos, avestruzes e uma raridade, o Sukuama, que umas
vezes era metade homem metade cobra. Outras, tinha cara de homem e corpo de
pássaro gigante. Arranjei-lhe umas 50 versões do Sukuama. No final, a senhora,
empolgada, bichanou-me ao ouvido: Anda para a minha tenda!
Espero que a senhora deputada da
UNITA, Mihaela Webba, depois do que lhe expus, não me cuspa ódios e
impropérios, em vez de pensar uns minutos sobre o assunto. Eu não duro sempre.
E o Sukuama nunca existiu, foi um mero truque de emergência.
* Jornalista
FOTO: Mihaela Webba –
como a senhora deputada se vê ao espelho.