No Expresso de hoje bati com
olhos e o coração num título que intrinsecamente, dolorosamente, me diz respeito.
A mim e aos pais de filhos e filhas, às vezes ainda bebés, que depois de muita
luta e sofrimento são derrotados pelo cancro. È nessas circunstâncias contra
natura que não só os filhos são derrotados mas também os pais, porque “os
filhos nunca devem morrer antes dos pais”.
É esse o título do Expresso em
que muitos olhos e corações de certeza bateram quando o viram em manchete. O que dizer?
O que sentir? O que fazer? Só acrescentar que também nós, os pais e as mães, os
irmãos e irmãs, quando tal acontece também morremos para muito do que
consideramos vida. Ainda mais, talvez, quando uma adorável filha já adulta, mas
muito jovem, acaba por ser derrotada após anos de luta e sofrimento. Sim, este é
um exemplo pessoal-familiar. Mas quantos destes casos estão agora a ocorrer?
Imensos, por todo o país, por todo o mundo… Tanta dor. Tanta saudade.
Cancro. O que fazer? Como aceitar
algo tão contranatura sob a ilusão de estrelas?
Nunca será demais elogiar,
enaltecer, os profissionais do IPO. Ficarmos sempre gratos por tudo de bom que
deram (dão) deles a doentes e a familiares. São gente única, são gente
excecional. Tudo que possível no máximo do seu desempenho médico e tecnicamente
nos dão. No cargo mais ínfimo ou máximo por ali é assim que acontece, ainda
bem. Obrigado, sempre muito obrigado, independentemente do resultado de sucesso
ou insucesso da luta titânica que pais e filhos têm de travar junto com os
profissionais do IPO (no referido caso é o IPO de Lisboa), o IPO de Portugal,
afinal.
Do Expresso, aproveitando o Curto
de hoje eis o “desabafo”. Também, mais uma vez, agradecer, enaltecer a gente do
IPO que acabou a morar no meu coração agradecido, mesmo ao lado do desgosto de
ter perdido uma grande filha para um cancro que só a morte o venceu, privando a
minha querida companhia na flor da vida, da juventude. Morte que deixa a
sobreviver um velho e leva uma jovem. Nem lágrimas, nem apertos do peito, nem
memórias… Nada é remédio, a dor é constante e só vai acabar quando acabarmos,
quando formos pelo caminho dos entes queridos que perdemos e ver-lhes ser
negado o futuro, a juventude, a vida.
Desculpem a fulanização destas linhas
de hoje (algo muito intimo e pessoal), mas achei que devia fazê-lo. Foi isso que senti dever partilhar e
rechear da consolação e grande estima que nutro por todos os pais que perderam
os filhos numa ação contranatura do destino… Aconteceu. Acontece. Infelizmente continuará a acontecer. Para os pais que cá
ficam passa a existir um sofrimento permanente de uma vida recheada por uma
injustiça atroz. Permanente.
Do referido artigo, em exclusivo Expresso,
eis o link: “Os
filhos nunca devem morrer antes dos pais.” O luto parental é apenas de cinco
dias e há uma petição que quer mudar isso. Se puderem leiam.
É evidente que em pais em idade
profissionalmente ativa o período de luto parental deve ser mais lato. Está
fora de questão. Nem é compreensível que assim não aconteça.
Bom dia. O Curto a seguir.
Respiremos fundo depois de recalcarmos as vicissitudes que a nossa existência nos
reserva. Saibamos guardar em memória os momentos felizes que tivemos ou ainda
conseguimos vivenciar. Afinal, andamo-nos a “ralar” porquê? E para quê? Pois,
mas assim acontece porque de tudo um pouco é constituído aquilo que conhecemos
e consideramos VIDA. Depois os que nos são muito queridos e que tanto amamos
tomam a forma e o lugar de estrelas. Olhando o céu em noites límpidas lá os
vemos, se assim quisermos. Mas nem isso nos abranda as saudades, nem a
tristeza, nem os apertos no peito inconsolado, nem a dor… Nada.
Cancro. O que fazer? Como aceitar
algo tão contranatura sob a ilusão de estrelas?
Lembremo-nos sempre que o cancro
rouba a vida a muitas crianças, a bebés, a gente muito jovem, a outros(as) de mais ou menos idade e com outras doenças. Pais e mães que sofrem e que connosco se cruzam em silêncio, transportando a dor incurável... Até um dia.
O Curto a seguir. Vale.
MM | PG