quarta-feira, 13 de outubro de 2021

Portugal | Os ricos não jogam à raspadinha

Nuno Ramos de Almeida | AbrilAbril | opinião

Os pobres jogam, nesta sociedade, porque os convenceram que é a única forma de a sua vida ser melhor.

A literatura e a realidade por vezes não se encontram. Às vezes aquilo que é traçado nas letras é mais justo que aquilo que ocorre na verdade. Nas linhas de Jorge Luis Borges no conto A Lotaria da Babilónia, o sorteio servia para tornar todos os homens e mulheres iguais durante a vida.

«Como todos os homens da Babilónia, fui procônsul; como todos, escravo; também conheci a omnipotência, o opróbrio, os cárceres. Olhem: à minha mão direita falta-lhe o indicador. Olhem: por este rasgão da capa vê-se no meu estômago uma tatuagem vermelha: é o segundo símbolo, Beth. Esta letra, nas noites de lua cheia, confere-me poder sobre os homens cuja marca é Ghimel, mas sujeita-me aos de Aleph, que nas noites sem lua devem obediência aos de Ghimel. No crepúsculo do amanhecer, num sótão, jugulei ante uma pedra negra touros sagrados. Durante um ano da Lua, fui declarado invisível: gritava e não me respondiam, roubava o pão e não me decapitavam. Conheci o que ignoram os gregos: a incerteza.»

Na realidade, os ricos não conhecem a incerteza e o jogo é sobretudo um expediente dos pobres sonharem com uma existência diferente.

Os pobres jogam, nesta sociedade, porque os convenceram que é a única forma de a sua vida ser melhor. Os ricos não precisam de jogar à raspadinha. Já mandam. A sua vida não está sujeita à sorte: têm o dinheiro para a comprar.

Portugal | Um novo recorde no IRS

Rafael Barbosa* | Jornal de Notícias | opinião

O Orçamento do Estado para 2022 não deixará ninguém eufórico. Mas também não haverá razões para se ficar deprimido.

As classes médias vão pagar um pouco menos de IRS. São só uns trocos, não dá para fazer uma festa. Mas é melhor do que nada e incomparavelmente melhor do que o "brutal aumento de impostos" que alimenta os pesadelos de qualquer trabalhador ou pensionista que tenha passado pelos anos da troika.

Os mais pobres não deixarão de o ser. Porque o trabalho, com os seus baixos salários, já não chega para garantir um lugar no elevador social. Mas o Estado será um pouco mais generoso este ano, como devia ser sempre, e a vida poderá ser um pouquinho menos difícil. Em particular, ao que nos garantem, para as famílias com crianças.

Os funcionários públicos não vão recuperar os rendimentos perdidos ao longo da última década, mas, pelo menos desta vez, há aumentos que acompanham a taxa de inflação. E há ainda a garantia de continuarem a progredir nas suas carreiras, com o correspondente incremento salarial.

Os empresários continuarão, como todos os outros, a reclamar mais apoios do Estado, mas também eles vão respirar um pouco melhor. Porque se acaba o pagamento especial por conta, porque haverá ajudas à recapitalização das empresas, porque aumenta o investimento público, graças à "bazuca", com mais contratos, mais encomendas, mais dinheiro a circular.

Vamos ficar mais ricos graças ao Orçamento do Estado para 2022? Não vamos. Mas então vamos ficar mais pobres? Também não. Alguns políticos dirão que falta ambição. Outros que há despesa e dívida a mais. A esmagadora maioria dos cidadãos limitar-se-á a respirar de alívio, como sempre sucede quando o pico de uma crise fica para trás.

Ainda assim, convém recordar a frase popularizada por Benjamin Franklin, político dos EUA do século XVIII: nada é certo neste Mundo exceto a morte e o pagamento de impostos. O Orçamento para 2022 é naturalmente omisso relativamente à primeira certeza. Mas reforça a segunda. Apesar do desconto com que acena o Governo, a receita de IRS vai continuar a crescer: 14 712 milhões de euros, mais 322 milhões do que este ano. Um novo recorde.

*Diretor-adjunto

Orçamento em risco de chumbar. PCP e BE esticam a corda


PORTUGAL 

Sem a promessa de inclusão no OE2022 de matérias "prioritárias" (expressão do BE) ou "importantes" (expressão do PCP), os dois partidos votarão contra logo na generalidade, dia 27. Subitamente, ganhou corpo o cenário de uma crise política no curto prazo.

Sendo certo que a proposta de Orçamento do Estado (OE2022) já não pode ser alterada até à votação na generalidade, dia 27, o que o Bloco de Esquerda e o PCP exigem ao Governo e ao PS é garantias de que, depois, na discussão na especialidade, as suas principais reivindicações serão atendidas.

Se até lá, porém, os socialistas não derem essas garantias, então os dois partidos votarão contra logo na tal votação na generalidade. Ora votando o BE e o PCP contra - e somando-se esses votos aos dos partidos à direita do PS - a conclusão é simples: o OE2022 será chumbado. Daí até à demissão do Governo será um pequeno passo. Depois tudo se encaminhará para eleições antecipadas, lá para janeiro - de preferência já tendo o PSD e o CDS os seus problemas de liderança esclarecidos.

Bloquistas e comunistas foram ontem muito claros, falando através de, respetivamente, Mariana Mortágua e João Oliveira. Os dois partidos votarão contra a proposta no dia 27 se nenhuma garantia surgir de que depois será alterada.

A CRISE ENERGÉTICA

A UE é a principal responsável pela crise energética na Europa, que agora se traduz numa disparada de preços. Este é o resultado das políticas estúpidas impostas pela UE, tais como:

1) a mania do "tudo eléctrico", esquecendo que a electricidade não é uma energia primária (ou seja, tem de ser produzida);   2) a política da chamada "descarbonização" total promovida pelo czar europeu da energia dita "verde", sr. Frans Timmermans e o seu sinistro Objectivo 55;   3) a estrutura oligopolista da oferta de energia e dos mecanismos de preços impostos pelas corporações com o aval da UE;  4) a demonização do dióxido de carbono (CO2) que é um gás não poluente e perfeitamente inofensivo;  5) a ideologia do chamado aquecimento global, defendida a ferro e fogo pela UE;  6) o assassinato da indústria europeia do carvão, que começou com a Margaret Thatcher;  7) o quase suicídio económico da Alemanha, que abdicou do nuclear, quer abdicar do carvão e esteve prestes a ceder às pressões estado-unidense contra o novo gasoduto russo;  8) a marginalização sistemática da maior e mais importante fonte de energia do século XXI: o gás natural;  9) o servilismo da UE frente aos diktats do governo estado-unidense, mesmo à custa dos interesses europeus;  10) a anarquia capitalista, agora agravada pelo neoliberalismo de que a UE é fiel servidora (até as décadas de 50 e 60 a Comunidade Europeia ainda fazia algum planeamento, mas isso hoje está acabado).  

Para agravar as coisas, há rumores de um possível corte no gasoduto entre a Argélia e a Espanha (o qual também abastece também Portugal).  Os beatos das intermitentes "energias verdes" ficarão felizes com estes desenvolvimentos – mas com o risco de congelarem neste Inverno.

07/Outubro/2021

Resistir.info

O poder político do Facebook

Thierry Meyssan*

No imaginário global, o Facebook seria uma rede social responsável que permite a todos conectarem-se confidencialmente enquanto em simultâneo censura mensagens contrárias às leis locais. Na prática, é completamente diferente. O Facebook colecta informações sobre vocês para a NSA, censura as vossas opiniões e fabrica o seu próprio dinheiro. Em poucos meses, esta empresa tornou-se um dos mais influentes actores da política mundial.

Nota Página Global acerca de Facebook: Esta publicação, Página Global, foi excuída do Facebook devido a publicar, ao abrigo da liberdade de expressão, artigos sobre factos e/ou opiniões que não eram favoraveis ao Facebook e às agências dos EUA em que a empresa está envolvida, o que nos provou fazer parte da componente espiã e de modo censório que pretende ocultar as verdades sobre ocorrências desfavoraveis às políticas da empresa e dos Estados Unidos da América, entre as quais envolve crimes de guerra e contra a humanidade, entre outros. (PG)

O FACEBOOK ENQUANTO REDE SOCIAL

O principal actor político da Internet é a rede social Facebook. Em 1 de Janeiro de 2021, ela contava 2,85 mil milhões (bilhões-br) de usuários activos mensais e 1,88 mil milhões de utilizadores (usuários-br) activos diários em todo o mundo. A rede social censura regularmente mensagens, incluindo fotos de nus ou actividade sexual, assédio, discurso de ódio, falsificações, spam, propaganda terrorista ou violência, usando inteligência artificial sobretudo aproximativa e injusta. Ela fecha contas que considera perigosas, ou porque foram censuradas várias vezes, ou porque estão ligadas a inimigos dos Estados Unidos.

O Facebook é uma enorme sociedade que inclui o Instagram, Facebook Messenger, WhatsApp, Oculus, Workplace, Portal, Novi. Emprega mais de 60. 000 pessoas.

O FACEBOOK COMO BANCO

O Facebook emite agora a sua própria moeda, a Libra, tal como um Estado. Esta está ligada a um cesto de divisas composto em 50 % por dólares, 14 % de ienes, 11 % de libras esterlinas e 7 % de dólares de Singapura [1].

Tornando-se um banco cuja moeda é progressivamente aceite pelo sítios de venda Internet, o Facebook construiu uma economia paralela, simultaneamente virtual e global, mais importante que a economia de muitos Estados.

O FACEBOOK E SEUS UTILIZADORES

O Facebook faz apelo aos seus utilizadores para detectar as contas que violam as suas regras. Ele abre um dossier sobre cada um dos seus informadores e pontua-os [2].

O Facebook, que afirma tratar todos os utilizadores com igualdade, formou secretamente uma lista de 5,8 milhões de VIP a quem as suas regras não se aplicam. Só eles podem dizer tudo e mostrar tudo [3].

Pandora Papers: Paraísos fiscais e globalização do capital

* Publicado em português do Brasil

Rolando Astarita*

Pandora Papers é um vazamento de quase 12 milhões de documentos que mostram a riqueza oculta de políticos, empresários, artistas, atletas, membros de famílias reais, líderes religiosos, de mais de 200 países. Nesta nota, apresento dados (retirados principalmente de publicações do FMI) sobre essas colocações de contas off-shore e algumas conclusões.

Alguns fatos sobre paraísos fiscais

Em 2019, o produto bruto global foi de 87 trilhões de dólares. A quantidade de riqueza privada escondida em centros financeiros  offshore foram 7 bilhões de dólares; 8% do produto mundial. Outros cálculos a elevaram para 8,7 trilhões, o que representaria 10% do produto. Com um grau de concentração significativo: 80% desses recursos pertenciam a 0,1% das famílias mais ricas. Em muitos países, esses valores acumulados são uma parte considerável dos produtos nacionais. Em 2017, calculou-se que era mais de 30% do PIB da Argentina e da Grécia; mais de 40% do produto da Rússia; mais de 50% do da Arábia Saudita; mais de 60% do produto da Venezuela; e mais de 70% dos Emirados Árabes Unidos. São fundos que escapam ao tesouro, mas também regulações financeiras ou cambiais. Ou é a lavagem de dinheiro que vem de operações ilícitas - tráfico de armas, pessoas, drogas, corrupção (por exemplo, o FMI estima que apenas para subornos entre 1,

Quanto à riqueza detida por empresas multinacionais e grandes empresas financeiras em paraísos fiscais, em 2018, era estimada em cerca de 12 trilhões de dólares. Eles representam 40% de todo o investimento estrangeiro direto global. O fenômeno é mundial. Na Índia, China e Brasil, entre 50 e 90% da saída de investimento estrangeiro direto é realizada por meio de entidades estrangeiras sem substância econômica. Entre 50% e 60% em países desenvolvidos como Estados Unidos e Grã-Bretanha.

Trata-se de um investimento financeiro fantasma, que é realizado principalmente em paraísos fiscais, e vai para os chamados “veículos especiais”, que carecem de atividade real. Essas instituições têm registro legal sujeito à legislação nacional; eles são propriedade de estrangeiros; eles têm poucos funcionários; pouca ou nenhuma produção no país anfitrião; e agrupam as atividades financeiras ou de manutenção como atividade principal. Desde a crise financeira de 2008-9, o investimento fantasma cresceu mais rápido do que o IDE genuíno e a produção global.

Armas nucleares e Europa

# Publicado em português do Brasil

Brian Cloughley* | Strategic Culture Foundation

O envio de aeronaves de ataque nuclear pelos EUA ao Reino Unido sinaliza à Europa continental que o planejamento de uma guerra nuclear contra a Rússia está se acelerando.

Em 5 de outubro, o Departamento de Estado dos EUA anunciou que o arsenal de armas nucleares dos militares dos EUA somava 3.750 em 30 de setembro de 2020. Foi declarado com satisfação que “Este número representa uma redução de aproximadamente 88% no estoque de seu máximo (31.255) em final do exercício de 1967 ”, embora não tenha sido mencionado que a redução desde 2018 foi de apenas 35.

No mesmo dia, a publicação Stars and Stripes do Departamento de Defesa dos Estados Unidos relatou que “um caça a jato da Força Aérea com estreia prevista para o final deste ano na Europa ultrapassou um marco ao lançar bombas nucleares simuladas durante voos de treinamento destinados a garantir sua capacidade de cumprir as exigências nucleares da OTAN missão de dissuasão. . . O teste bem-sucedido do F-35A Lightning II veio quando o 48º Fighter Wing, baseado na RAF Lakenheath da Grã-Bretanha, reativou o 495º Esquadrão de Caça na semana passada para uma nova missão na Europa . [Ênfase adicionada.] Antes da chegada do modelo de caça a Lakenheath, dois F-35As que decolaram da Base da Força Aérea de Nellis, em Nevada, realizaram uma demonstração completa do sistema de armas, considerada um teste de vôo de graduação para obter a certificação nuclear. ”

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