Rafael Barbosa* | Jornal de Notícias | opinião
O Orçamento do Estado para 2022 não deixará ninguém eufórico. Mas também não haverá razões para se ficar deprimido.
As classes médias vão pagar um pouco menos de IRS. São só uns trocos, não dá para fazer uma festa. Mas é melhor do que nada e incomparavelmente melhor do que o "brutal aumento de impostos" que alimenta os pesadelos de qualquer trabalhador ou pensionista que tenha passado pelos anos da troika.
Os mais pobres não deixarão de o ser. Porque o trabalho, com os seus baixos salários, já não chega para garantir um lugar no elevador social. Mas o Estado será um pouco mais generoso este ano, como devia ser sempre, e a vida poderá ser um pouquinho menos difícil. Em particular, ao que nos garantem, para as famílias com crianças.
Os funcionários públicos não vão recuperar os rendimentos perdidos ao longo da última década, mas, pelo menos desta vez, há aumentos que acompanham a taxa de inflação. E há ainda a garantia de continuarem a progredir nas suas carreiras, com o correspondente incremento salarial.
Os empresários continuarão, como todos os outros, a reclamar mais apoios do Estado, mas também eles vão respirar um pouco melhor. Porque se acaba o pagamento especial por conta, porque haverá ajudas à recapitalização das empresas, porque aumenta o investimento público, graças à "bazuca", com mais contratos, mais encomendas, mais dinheiro a circular.
Vamos ficar mais ricos graças ao Orçamento do Estado para 2022? Não vamos. Mas então vamos ficar mais pobres? Também não. Alguns políticos dirão que falta ambição. Outros que há despesa e dívida a mais. A esmagadora maioria dos cidadãos limitar-se-á a respirar de alívio, como sempre sucede quando o pico de uma crise fica para trás.
Ainda assim, convém recordar a frase popularizada por Benjamin Franklin, político dos EUA do século XVIII: nada é certo neste Mundo exceto a morte e o pagamento de impostos. O Orçamento para 2022 é naturalmente omisso relativamente à primeira certeza. Mas reforça a segunda. Apesar do desconto com que acena o Governo, a receita de IRS vai continuar a crescer: 14 712 milhões de euros, mais 322 milhões do que este ano. Um novo recorde.
*Diretor-adjunto
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