domingo, 28 de novembro de 2021

A COISA EXATA E ERRADA A FAZER SOBRE A OMICRON

Não feche as fronteiras - Esse impulso nos falhou repetidas vezes durante a pandemia

# Publicado em português do Brasil

Susan Matthews | Slate, 28.11.2021

A Organização Mundial da Saúde declarou o COVID-19 uma pandemia em 11 de março de 2020. O anúncio que declara isso deixou claro que, embora a atenção tenha se concentrado principalmente na rápida escalada do vírus na China, casos foram detectados em todo o mundo, e países que não estavam detectando casos estavam basicamente enterrando a cabeça na areia. “A OMS tem avaliado este surto 24 horas por dia e estamos profundamente preocupados tanto com os níveis alarmantes de propagação e gravidade, como com os níveis alarmantes de inação”, disse o comunicado.

Nos meses e anos desde aquele anúncio, todos nós vimos os países fazerem o seu melhor para agir , com sucesso variável e com abordagens diferentes . O que é desconcertante sobre esse coronavírus é que ele parece refluir e fluir em locais diferentes sem um conjunto inteiramente causal de explicações - alguns lugares fazem muitas coisas certas e apresentam surtos ; alguns lugares fazem muitas coisas erradas e estão bem (por um tempo). É essa situação que torna tudo frustrante, assustador e difícil de controlar.

Uma das coisas que muitas nações tentaram fazer quando começamos a aprender sobre o COVID-19, e novamente quando soubemos da variante delta, foi fechar as fronteiras na tentativa de conter a propagação. Essa abordagem parece intuitivamente fazer sentido - você pode, teoricamente, evitar que um vírus ou variante se espalhe em um país se puder evitar que ele chegue lá em primeiro lugar. Mas a maioria das pesquisas descobriu que o fechamento de fronteiras, na prática, é tarde demais para ser eficaz. “Os modelos descobriram que o fechamento estrito das fronteiras poderia ter ajudado a limitar a transmissão viral nos primeiros dias da pandemia”, afirma uma notícia na Nature sobre o resultado de um metaestudo sobre as restrições de viagens do COVID-19. “Mas, uma vez que o vírus começou a se espalhar em outros países, o fechamento das fronteiras trouxe poucos benefícios.”

Essa pesquisa foi publicada em dezembro de 2020 - ela ecoa o sentimento de muitos funcionários de saúde pública e cientistas que descrevem o fechamento das fronteiras como um sinal de ação que é mais estético do que significativo. Quando eles percebem que as fronteiras podem fechar, o vírus já está se espalhando dentro deles. Além disso, a medida tem um custo financeiro e prejudica qualquer senso de comunidade global. Este último não é sobre sentimentos: fechar fronteiras reflexivamente pode desincentivar os países de compartilhar o que sabem sobre a propagação do vírus por simples praticidade para seus cidadãos que precisam ir a lugares.

Moçambique | “EUROPA AGE CONTRA A HUMANIDADE” - dizem Mia e Agualusa

Mia Couto e José Eduardo Agualusa criticam duramente a Europa por suspender a entrada de voos que saem de países africanos. Os escritores entendem não se tratar apenas de falta de solidariedade, mas também de acções contra a ciência e contra a humanidade.

“O continente europeu, que se proclama o berço da ciência, esqueceu-se dos mais básicos princípios científicos. Sem se ter prova da origem geográfica desta variante e sem nenhuma prova da sua verdadeira gravidade, os governos europeus impuseram restrições imediatas na circulação de pessoas”. São palavras de Mia Couto e José Eduardo Agualusa, que se manifestam indignados com a posição dos países europeus de suspenderem a entrada de voos de países africanos, com e em risco de ter a nova variante da COVID-19.

Aliás, os escritores lembram que os vírus sofrem mutações sem distinção geográfica e no caso do novo Coronavírus, a África do Sul está a ser sancionada apenas por descobrir a nova estirpe.

Angola | O DRAMA DO DESEMPREGO

Agostinho Chitata* | Jornal de Angola | opinião

O Instituto Nacional de Estatística acaba de divulgar a Folha de Informação Rápida (FIR) relativa ao terceiro trimestre do presente ano. A fotografia com que nos brinda este tão importante documento deve merecer a atenção e a preocupação de todos nós.

Verificou-se, digamos assim, uma subida considerável da taxa de desemprego, comparativamente ao segundo trimestre, que apresentava tendência de melhorias. Passou-se dos anteriores 30.5 para 34.1.

Os números quando perdem a sua frieza e se distanciam da abstração que as estatísticas nos apresentam, revelam-nos que temos mais de cinco milhões de angolanos em idade activa que não trabalham, ou seja, não têm um emprego.

Se se olhar com um pouco mais de atenção, vamos constatar que a nível da área urbana, esta taxa é bem mais elevada. Fala-se de 43.4 por cento. Entretanto, mais preocupante ainda, é a informação segundo a qual perto de 81 por cento dos que são considerados empregados actuam no sector informal.

O que, fazendo uma avaliação desapaixonada, são números assustadores. Claro que não constitui uma realidade exclusiva de Angola, pois os países a nível do globo têm estado a se deparar com este grande dilema.

Se juntarmos a esta informação o facto de Angola fazer parte dos dez países que mais crescem, registar um crescimento médio de um milhão por ano, mais preocupantes ainda nos parecem estes números.

Guiné-Bissau | Domingos Simões Pereira critica "desmandos" do Governo

O líder do PAIGC, partido na oposição, diz em entrevista à DW África que o atual Governo guineense deixou o povo numa situação de abandono total.

Domingos Simões Pereira, presidente do Partido Africano para a Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC) acusa a atual governação de não priorizar setores fundamentais, como a educação e a saúde.

O Bureau Político do partido debate hoje (26.11) e amanhã a situação política do país.

Em entrevista à DW África, Simões Pereira acusa os membros do Executivo de Nuno Gomes Nabiam de falta de coordenação, denuncia que o Estado foi sequestrado para "vantagem pessoal" de alguns políticos e critica o salário "escandaloso" do Presidente da República.

DW África: Que retrato faz da atual situação social e política da Guiné-Bissau?

Domingos Simões Pereira (DSP): Para ser sincero, não me consigo lembrar da última vez em que encontrei os guineenses tão cabisbaixos e tão sem esperança. Mas, ao mesmo tempo, parece-me que está a nascer um sentimento de querer enfrentar esta situação e reverter o quadro.

DW África: Qual é essa situação?

DSP: Há uma situação de absoluto abandono das instâncias e das pessoas. A educação, a saúde, a solidariedade não fazem parte da prioridade desta governação, que tem consciência de não representar a escolha livre do povo guineense. Portanto, por um lado, não há uma coordenação bem estruturada e, por outro, cada um tenta amealhar para a sua própria vantagem pessoal, porque não tem certeza se estará lá amanhã e quanto tempo vai durar este sequestro da nossa administração.

Nós estamos a falar de um país com muitas dificuldades, onde é normal inscrever-se no Orçamento do Estado um défice da nossa balança, mas simultaneamente é um país que, nos últimos 15 a 20 meses, recebeu uma injeção de capital na ordem dos 200 milhões de dólares. Outros países receberam essa injeção de capital e foram capazes de investir nas infraestruturas e na supressão das assimetrias sociais. Mas, na Guiné-Bissau, essa injeção foi utilizada exclusivamente para o consumo, para despesas não prioritárias, para despesas de luxo. O ex-Presidente da República recebia um valor superior ao salário do Presidente dos Estados Unidos, mas hoje recebe quatro vezes mais. Isto é mais do que um escândalo.

ÀS ARMAS, O INIMIGO ESTÁ ÀS NOSSAS PORTAS

Manlio Dinucci*

Os Estados Unidos (EUA) não estão ameaçados por ninguém, desmoronam-se a partir do interior. Para manter o seu controlo sobre os seus aliados, esforçam-se para convencer os asiáticos de um perigo chinês e a União Europeia de uma ameaça russa. Se não tiverem êxito no Extremo Oriente, encontram um acolhimento favorável entre as classes dirigentes europeias. Tudo é útil para alimentar o seu discurso com ainda mais facilidade visto que os dirigentes europeus ignoram a História imediata.

O Secretário Geral da NATO, Stoltenberg encontrou-se com o Presidente Draghi (na foto), em 17 de Novembro, em Roma, para enfrentar "os actuais desafios de segurança" provenientes do "desenvolvimento militar da Rússia na Ucrânia e à volta da mesma". Stoltenberg agradeceu à Itália porque "contribui para a nossa presença na Região Báltica com o seu patrulhamento aéreo e com as suas tropas". A Força Aérea Italiana – especifica o Ministro da Defesa - implantou, no aeroporto de Ämari, na Estónia, caças F-35A do 32º Esquadrão, em Amendola e caças Eurofighter Typhoon do 4º Esquadrão em Grosseto, do 36º Esquadrão, em Gioia del Colle, do 37º Esquadrão, em Trapani e da 51º Esquadrão, em Istrana (Treviso). Quando os aviões russos voam no espaço aéreo internacional sobre o Báltico, normalmente com destino ao exclave russo de Kaliningrado, os caças italianos recebem uma ordem do comando da NATO para descolar imediatamente em alerta e interceptá-los em mi-nutos. O objectivo oficial desta operação é "preservar o espaço aéreo aliado". O verdadeiro objectivo é fazer com que a Rússia pareça uma potência ameaçadora que se prepara para atacar a Europa. Alimenta-se, assim, um clima de tensão crescente: os F-35As e os Eurofighter Typhoons, instalados a poucos minutos de voo do território russo, são caças com dupla capacidade convencional e nuclear. O que aconteceria se caças russos semelhantes fossem instalados junto às fronteiras dos EUA?

“SEMÁFORO ALEMÃO” É REAÇÃO AOS AUTORITÁRIOS DO MUNDO

# Publicado em português do Brasil

Marcel Fürstenau* | Deutsche Welle | opinião

Futura coalizão tripartite de governo da Alemanha comprova capacidade de conciliação de visões políticas, mandando recado aos que promovem o nacionalismo, o isolamento e o autoritarismo, opina Marcel Fürstenau.

Em breve, a Alemanha será governada por uma aliança inédita em nível federal, liderada por uma legenda que venceu de forma surpreendente as eleições, o Partido Social-Democrata (SPD). Esta força política das mais antigas, emergida do movimento operário do século 19, várias vezes mostrou coragem para realizar mudanças em sua longa história.

Mais recentemente, no início deste milênio, quando, junto com os verdes, modernizou o incrustado mercado de trabalho, a política social e econômica, num pacote de medidas chamado Agenda 2010. Uma mudança radical de rumo que permitiu ao "homem doente da Europa", como era então chamada a Alemanha, se recuperar, pelo menos economicamente. Isso trouxe a quarta maior economia do mundo de volta aos seus pés e foi capaz de reativar seu importante papel como a força motriz da Europa.

Cada partido tem sua marca no acordo

Não há dúvida de que também houve muitos perdedores nessa mudança radical de curso. A pobreza relativa na Alemanha é preocupante; em nenhum lugar há um setor de baixos salários tão amplo. O futuro governo da chamada "coalizão semáforo" - em referência às cores dos três partidos envolvidos: o SPD (vernelho), Liberal (amarelo) e Verde - quer agora mudar isso, aumentando o salário mínimo para 12 euros por hora - acima dos 9,60 atuais. Com isso, Olaf Scholz, o futuro chanceler e sucessor de Angela Merkel, está cumprindo uma importante promessa eleitoral do SPD. Isso é bom, porque cerca de 10 milhões de pessoas serão beneficiadas.

Entretanto, tal medida, que chega com atraso, era fonte de controversa nas negociações da coalizão, já que os liberais, fortemente orientados para a economia de mercado, realmente não têm propensão alguma a apoiar medidas que significam uma intervenção estatal na negociação salarial coletiva. Em contrapartida, o Partido Liberal Democrático (FDP, na sigla em alemão) conseguiu prevalecer com a sua exigência de adesão ao freio da dívida, ancorado na Constituição alemã, que limita o endividamento do país. E a marca dos verdes é inconfundível, pois se trata do assunto que lhe é mais caro: o clima. Por exemplo, a eliminação da geração energética a carvão deve ser antecipada de 2038 para 2030.

Refugiados | Travessias de canais: quem faria uma viagem tão perigosa e porquê?

# Publicado em português do Brasil

A maioria das pessoas que chegam ao Reino Unido depois de arriscar suas vidas em pequenos barcos têm seus pedidos de asilo aprovados

A tragédia da semana passada no Canal da Mancha reabriu o debate sobre como impedir que as pessoas façam travessias perigosas, com as soluções apresentadas pelo governo focadas em como policiar as águas.

Menos tem sido dito sobre de onde essas pessoas vêm, com a maioria dos conflitos e perseguições fugindo. Cerca de dois terços das pessoas que chegaram em pequenos barcos entre janeiro de 2020 e maio de 2021 eram do Irã, Iraque, Sudão e Síria. Muitos também vieram da Eritreia, de onde foram aprovados 80% dos pedidos de asilo.

De acordo com o Dr. Peter Walsh, do Observatório de Migração da Universidade de Oxford , esses países têm as maiores taxas de aceitação de pedidos de asilo, então é provável que a maioria daqueles que cruzam o Canal da Mancha tenham pedidos de asilo genuínos que deveriam ser aceitos pelo governo.

“Essas são pessoas de alguns dos lugares mais caóticos do mundo”, disse Walsh. “São pessoas de países assolados por conflitos civis e étnicos e por perseguições políticas. Você não precisa ser um Einstein para deduzir por que as pessoas são bem-sucedidas em pedidos de asilo. ”

Para muitos, o Reino Unido se torna um destino porque têm parentes ou sabem que existe uma comunidade estabelecida, enquanto outros preferem um país de língua inglesa e alguns simplesmente acreditam que serão tratados melhor.

GUERRRA DA CORRUPÇÃO CONTRA A LEI

# Publicado em português do Brasil

Eva Joly* | Project Syndicate

Da Nigéria à Itália, as forças da corrupção estão lutando contra aqueles que as erradicam, e desde bombas e balas até ordens e moções, eles usarão qualquer arma que puderem para melhorar suas chances. Não se contentando em intimidar ou mesmo assassinar seus oponentes, agora eles estão visando o próprio Estado de Direito.

PARIS - Quando você tenta combater a corrupção, a corrupção revida. A jornalista investigativa maltesa Daphne Caruana Galizia poderia dizer isso - se ela não tivesse sido assassinada por companheiros daqueles que ela estava investigando. O advogado anticorrupção de Ruanda Gustave Makonene, que foi estrangulado e atirado de um carro , também não consegue falar. Nem o ativista brasileiro Marcelo Miguel D'Elia, que foi baleado várias vezes em um canavial perto de sua casa.

Policiais, promotores e funcionários públicos também enfrentaram graves consequências por tentarem combater a corrupção. Um desses oficiais é Ibrahim Magu, que se tornou presidente em exercício da principal agência anticorrupção da Nigéria, a Comissão de Crimes Econômicos e Financeiros (EFCC), em 2015. Em 2017, homens armados atacaram a casa de Magu, matando um dos policiais que a guardava. Mas não foram as balas que neutralizaram Magu. Em vez disso, sua destituição do cargo foi planejada por meio da “lei” - o uso (ou abuso) da lei para fins políticos.

No ano passado - em um momento em que o EFCC estava investigando alegações de corrupção contra o procurador-geral Abubakar Malami - Magu foi preso e detido por acusações de corrupção e insubordinação, feitas por ninguém menos que Malami. Embora as mesmas alegações tenham sido investigadas e rejeitadas três anos antes, Magu foi suspenso do cargo, enquanto se aguarda o resultado de um Painel de Inquérito criado pelo Presidente Muhammadu Buhari.

Magu teve poucas opções para se defender. Por várias semanas, ele foi impedido de acessar as provas contra ele, e foi repetidamente negada a permissão para se dirigir ao Inquérito ou interrogar testemunhas.

Além disso, o mandato, os termos de referência e o cronograma do Inquérito ao qual se esperava aderir nunca foram divulgados. Isso deixou Magu - que supervisionou o processo bem-sucedido de vários políticos importantes por acusações de corrupção e a apreensão de milhões de dólares em ativos obtidos ilegalmente - não apenas incapaz de continuar fazendo seu trabalho, mas também exposto a um processo aberto de intimidação.

LOUCURA ORÇAMENTAL

A situação aqui descrita aplica-se também a outros países

Prabhat Patnaik [*]

O governo Modi (Índia) tem aumentado os impostos sobre os produtos petrolíferos como o seu principal instrumento de mobilização de recursos para gastos governamentais. Ironicamente, isto tem o duplo efeito de não estimular a economia, mas sim de estimular a inflação. Uma política orçamental alternativa de levantamento de recursos através de impostos directos sobre os ricos (dos quais a tributação da riqueza é a melhor opção possível) e a utilização dessas receitas para aumentar a despesa governamental teria simultaneamente estimulado a economia e mantido baixa a taxa de inflação.

Para ver porque é que isto acontece, considere-se o seguinte exemplo simples. Suponha-se que o governo queira gastar mais 100 rupias (Rs) e obtenha este montante através do aumento dos impostos sobre os produtos petrolíferos. Isto eleva os preços da gasolina e do gasóleo e tem um efeito de pressionar custos em todos os sectores, elevando os custos dos transportes. Além disso, também aumenta o preço do gás de cozinha, o que tem um efeito directo sobre o custo de vida. Por esta razão, o impacto de um aumento dos preços dos produtos petrolíferos cai muito mais fortemente sobre os trabalhadores do que sobre os ricos. Mas os trabalhadores consomem a maior parte dos seus rendimentos de qualquer forma. Assim, se os seus rendimentos reais descerem, verifica-se então uma queda correspondente no seu consumo real. Portanto, as Rs 100 arrecadadas através de impostos sobre produtos petrolíferos reduzem a procura de consumo em cerca de Rs 100, mesmo quando o gasto deste montante pelo governo aumenta a procura agregada em Rs 100. O aumento líquido da procura agregada é portanto muito pequeno, razão pela qual toda esta política orçamental não consegue estimular a economia.

Contudo, verifica-se ao mesmo tempo um aumento de preços devido a esta política orçamental e assim o consumo dos trabalhadores diminui. Temos portanto os efeitos duplamente deletérios mencionados anteriormente: dificilmanete há qualquer estímulo da economia mesmo quando a taxa de inflação aumenta. Isto é exactamente o que tem acontecido na economia indiana. A taxa de inflação tem aumentado (atingiu 4,48 por cento em Outubro/2021 em comparação com Outubro/2020), mas a estagnação industrial persiste, juntamente com enormes stocks de cereais alimentares com a Food Corporation of India. O Índice de Produção Industrial era apenas 3,1% mais elevado em Setembro de 2021 em comparação com um ano anterior; era 2,6% mais baixo em comparação com o mês anterior, ou seja, Agosto de 2021.

QUEM PROVOCA A ONDA DE REFUGIADOS?

A manipulação de uma situação parcial num quadro muito mais amplo, pretende, entre outras coisas, minimizar ou mesmo silenciar os crimes contra os refugiados que fazem parte do quotidiano da União Europeia

José Goulão * | opinião

A atitude do governo bielorrusso de Aleksander Lukashenko para com os refugiados é condenável. Não menos condenável é o comportamento dos governos da Polónia, da Lituânia, da Estónia e da União Europeia em geral para com os refugiados. A diferença é que os órgãos de manipulação social apenas têm olhos para observar o que se passa na Bielorrússia desde o início da segunda metade deste ano, ignorando – com raras excepções – as consequências profundas da política de perseguição aos refugiados praticada há muitos anos pela União Europeia em todas as suas fronteiras. Uma política que milhares de seres humanos já pagaram com a vida.

Há ainda uma outra diferença. Os refugiados que procuram entrar na União Europeia a partir da Bielorrússia, tal como os que tentam o mesmo através de outras regiões terrestres e marítimas dos 27, têm origem nas guerras provocadas pelos Estados Unidos, a NATO e potências da União Europeia; e também na política colonial, sobretudo em África, entranhada nas políticas europeia e norte-americana. As guerras sangrentas e destruidoras e o colonialismo têm efeitos bem mais graves do que qualquer «guerra híbrida» de que acusam a Rússia e a Bielorrússia, países que não podem ser responsabilizados pelas agressões militares ao Iraque, ao Afeganistão, à Síria, à Líbia, ao Iémen. A União Europeia recusa-se a acolher as pessoas que tentam sobreviver fugindo dos conflitos que provocou; e entende que outras nações não podem assumir idênticos comportamentos, mesmo que nada tenham a ver com a origem dos fluxos de refugiados. Bruxelas procura sempre encontrar bodes expiatórios para não assumir os seus desmandos em matérias como a democracia e os direitos humanos.

Os refugiados que chegam à Bielorrússia são oriundos sobretudo do Iraque e, em menor volume, do Afeganistão e da Síria. Trata-se efectivamente de refugiados e não de «imigrantes» e «imigrantes ilegais», termos que os governantes europeus e os correspondentes meios de comunicação usam preferencialmente, sempre com o objectivo de não associar esses movimentos desesperados de pessoas às guerras e outras façanhas provocadas por potências ocidentais. Sem os dramáticos conflitos impostos, que as fazem deixar tudo para trás apenas pela simples e humana necessidade de sobreviver, a esmagadora maioria dessas pessoas não pensariam sequer em emigrar dos seus países, sobretudo em casos como os da Síria e do Iraque, mesmo do próprio Afeganistão. Isto é, a grande massa dos refugiados actuais que batem às portas da União Europeia jamais seriam os «imigrantes» que agora se diz serem para iludir as opiniões públicas, a realidade e a própria História.

A Bielorrússia foi apresentada aos candidatos a refugiados como um país de acesso à União Europeia, em tese mais favorável que os tradicionais pontos de passagem, por exemplo a Líbia, a Grécia e a Turquia, onde sofrem situações humilhantes com os objectivos primários de os fazer regressar ao seu país e nem sequer podem apresentar pedidos de asilo. Sabe-se que agências de viagens iraquianas têm incitado os candidatos a fugir da situação de guerra a procurar a cidade Minsk como porta de entrada na União Europeia – e não para ficarem a residir na Bielorrússia, uma solução que não estaria nos planos da maioria deles. Os métodos violentos de Lukachenko para lidar com o problema são inaceitáveis, tal como os adoptados pelos governos da Polónia, da Estónia e da Lituânia, que aliás têm da democracia uma ideia que se assemelha à do presidente bielorrusso. O executivo de extrema-direita da Polónia, xenófobo por definição e avesso ao Estado de direito, como até Bruxelas muito bem sabe, já é um velho conhecido pela rejeição de refugiados, mesmo das ínfimas quotas arduamente discutidas na União Europeia em vergonhoso jogo de empurra. A Estónia, por seu lado, tem a xenofobia inscrita nas próprias leis porque os cidadãos com nacionalidade estoniana mas de outros origens, designadamente a russa, são considerados oficialmente de segunda categoria, não lhes sendo permitido sequer votar.

Nada disto impede, contudo, que a União Europeia esteja incondicionalmente solidária com esses países no contencioso com Minsk, ávida de seguir os Estados Unidos na declaração de mais sanções e reforçadas ameaças da NATO. Penalizações essas apresentadas como respostas à dita «guerra híbrida» de Moscovo, não sendo de excluir que os inusitados incitamentos a refugiados para procurarem Minsk sejam uma nova provocação na panóplia com que Washington e Bruxelas mantêm o perigoso clima de alta tensão militar no Leste da Europa.

O CICLO TRÁGICO DA ÁGUA ENGARRAFADA

Empresas como a Nestlé e a Coca-Cola engarrafam água de fontes públicas – ou mesmo da torneira – e vendem-na como “limpa” ou “purificada”. Um caso de privatização encoberta que gera bilhões e se nutre do consumismo. 

JP Sottile* | Truthout*

O Departamento de Saúde e Serviços Humanos do Michigan, nos EUA, alertou recentemente(link is external) a população de Benton Harbor – cidade do sudoeste do estado predominantemente negra – para parar de beber, cozinhar ou escovar os dentes com água da torneira. “Por excesso de precaução”, as autoridades estaduais recomendaram o uso de água engarrafada para evitar a contaminação tóxica do chumbo que flui pelo sistema de água da cidade e, em última instância, pelas casas e corpos dos moradores.

O aviso, junto com 20.000 caixas de água engarrafada, veio aproximadamente três anos(link is external) depois dos primeiros testes revelarem níveis de chumbo além do nível de ação da Agência de Proteção Ambiental, de 15 partes por bilhão (ppb). O “nível de ação” é o limite legal que aciona a ação regulatória. Na verdade, pouco foi feito durante o período em que a água potável da cidade “deixou de atingir, por seis medições consecutivas, os padrões de amostragem nos últimos três anos(link is external)” após o primeiro teste. Tudo isto aconteceu três anos depois do Michigan ter acrescentado uma “ Regra de chumbo e cobre(link is external) ” à Lei de Água Potável Segura de Michigan em 2018.

Esta regra exigia a “remoção de todas as linhas de serviço de chumbo no Michigan” e “a redução do padrão de 15 ppb” para “12 ppb em 1 de janeiro de 2025”. Talvez mais irritante para o povo de Benton Harbor, a regra promete que o “Estado trabalhará em estreita colaboração com as autoridades locais de água para responder rapidamente a qualquer resultado de teste que mostre altos níveis de chumbo, incluindo medidas para atingir os níveis exigidos pela regulamentação estadual.”

Infelizmente para os cerca de 10.000 residentes de Benton Harbor, foi só em 30 de setembro deste ano, uma semana antes do aviso oficial, que o MDHS finalmente começou a “distribuir caixas de água engarrafada para todos os habitantes em Benton Harbor.” Somente em 11 de outubro, cinco dias após o aviso mencionado, eles ofereceram “exames de sangue ao chumbo gratuitos para crianças” e “inspeções domiciliárias para quem mostra sinais de chumbo no seu sistema”.

Funcionários do estado e voluntários, desde então, despejaram caixa após caixa de água engarrafada “grátis(link is external)” numa cidade cada vez mais furiosa(link is external). Alguns moradores esperaram mais de uma hora e meia(link is external) para ter acesso à água potável que deveria estar prontamente disponível em suas casas. Mas, assim como a história infame da contaminação por chumbo na cidade de Flint, localizada 250 quilómetros a leste de Benton Harbor, a imagem icónica do fracasso é a chegada de água engarrafada de marca corporativa. Mais uma vez, é através da água engarrafada que se entrega o que será talvez o bem mais básico que um governo deve fornecer: água limpa e segura.

Portugal | POLÍTICA E POLITIQUICE

Inês Cardoso* | Jornal de Notícias | opinião

Encerrado um capítulo essencial para clarificar que alternativas se colocam aos portugueses na escolha do próximo primeiro-ministro, é tempo de o PSD se libertar de desalinhamentos internos e se focar na preparação da corrida decisiva que aí vem. E é tempo de todos os partidos mostrarem claramente ideias, projetos e a ambição que têm para o país, num momento em que a incerteza causada pela covid-19 volta a inquietar os portugueses.

A crise política não tem nada de dramático em si mesma (basta olhar em volta, na Europa, para se perceber o que é a normalidade democrática), mas será um problema se não trouxer mais maturidade e sentido de serviço público à nossa vida política. O taticismo que conduziu ao chumbo do Orçamento do Estado começa igualmente a manifestar-se nalguns discursos sobre a saúde pública e a covid-19 e sairemos todos a perder se houver aproveitamento do medo.

António Costa tem-se mantido resguardado, e essa será a melhor forma de gerir a obra que todos os dias vai sendo mostrada por uma equipa em funções, capitalizando os erros dos partidos de oposição, até aqui mais entretidos, à direita, a arrumar a casa do que a fiscalizar o Governo. Mas também sabe que o tom da campanha será determinado, em larga medida, pelo rumo da pandemia e pela capacidade de encontrar soluções para a grave crise que se vive nos hospitais.

Não será aceitável que as medidas de contenção sejam escolhidas em função de cálculos eleitorais. Da mesma forma que os portugueses saberão ler eventuais excessos em declarações ou ações que usem a covid como arma de arremesso. Além de cada vez mais cansados de politiquices, os portugueses sabem interpretar manobras táticas. Os partidos, os programas e os protagonistas não são todos iguais, por muito que vozes demagógicas tentem fazer crer o contrário. E no dia 30 a palavra é de quem vota.

*Diretora

Rui Rio reeleito líder do PSD. Rangel promete "lealdade" e pede "unidade"

Contrariando as expectativas geradas no início do processo eleitoral, Rui Rio foi ontem reeleito presidente do PSD, por 52,5 por cento contra 47,5 para Paulo Rangel

Pelas 21:50 de ontem, Paulo Rangel assumiu a derrota nas diretas do PSD. Estavam nessa altura contabilizados mais de metade dos votos dos 46664 eleitores registados. Nessa altura, Rui Rio liderava por escassa margem (50,88% contra 49,12%) mas depois a vantagem foi-se reforçando, nomeadamente com vitórias importantes no Porto (59,32% contra 40,68%) e em Braga (56,19% contra 43,81%).

Às 22.35, faltando apenas 20 secções por apurar (num total de 318), Rio liderava com 52,34% (17564 votos) e Rangel tinha 47,66% (15 992 votos). Tinham votado 33556 militantes (dos 46664 registados) e a abstenção apontava para valores na ordem dos 21 por cento.

Rui Rio celebrou a vitória pelas 22.20, começando de imediato a disparar para dentro. Esta foi - disse - "a vitória dos militantes de base" contra os dirigentes, "que têm de se ligar mais aos militantes": "Grande parte do apoio dos dirigentes foi mais a pensar nos seus interesses pessoais e não nos interesses do PSD", disse.

Quanto à unidade interna, deixou o aviso: "Estou disponível mas só com quem quer fazer unidade. Já aprendi que muitos dizem que querem unidade mas depois não querem unidade nenhuma."

Portugal quer vacinar mais de meio milhão de pessoas por semana contra a Covid

Relativamente à nova variante, o coronel Carlos Penha Gonçalves, responsável pelo núcleo de coordenação do plano de vacinação contra a Covid-19, refere que o foco é "vacinar as pessoas mais frágeis que podem estar a perder imunidade".

O responsável pelo núcleo de coordenação do plano de vacinação contra a Covid-19 indicou este sábado que o objetivo é atingir uma capacidade de inoculação de meio milhão de pessoas por semana.

"Neste momento temos 304 centros de vacinação a funcionar e estamos a planear, com as câmaras municipais, com as administrações regionais de saúde, onde é que é preciso ter mais centros de vacinação", disse o coronel Carlos Penha Gonçalves aos jornalistas em São Domingos de Rana, Cascais, onde visitou um centro de vacinação ao lado da diretora-geral da saúde, Graça Freitas.

"A capacidade que queremos ter, total, é de 500.000 pessoas por semana. É essa a capacidade que estamos a planear neste momento e depois irá ser aumentada, consoante as necessidades", acrescentou.

Questionado sobre a eventual chegada a Portugal da nova variante (Omicron) do vírus que causa a Covid-19, o responsável afirmou: "Estamos completamente concentrados em vacinar pessoas mais frágeis que podem estar a perder imunidade e que precisam de ser protegidas neste inverno, não nos vamos distrair com outras coisas neste momento".

Graça Freitas, por seu lado, assumiu a preocupação com esta nova variante, recordando que foi classificada pela Organização Mundial de Saúde (OMS) como "preocupante".

TSF | Lusa

Na TSF: Mais 12 mortes e 3364 casos de Covid em Portugal

LEIA AQUI TUDO SOBRE A COVID-19 -- TSF

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