Mercedes oferecido por Hitler a Salazar era mesmo blindado. Esta fuga de Caxias já fez 60 anos
A 4 dezembro de 1961, oito militantes do partido comunista entraram num Mercedes e escaparam da prisão de Caxias, à vista dos carcereiros. Tudo em menos de um minuto. A TSF conversou com Domingos Abrantes, o único fugitivo que ainda pode contar a história.
"Golo" foi a senha gritada pelo comunista José Gervásio para pôr em marcha a última fuga coletiva das prisões do Estado Novo. "Eu, por acaso, em miúdo, era apaixonado pela bola. Ainda cheguei a treinar nos juniores do Oriental. Gostava muito de jogar à bola. E essa palavra "golo" - que ali era um sinal - é uma palavra mágica", lembra Domingos Abrantes.
Numa segunda-feira que amanheceu cinzenta e fria, dez presos jogam com uma bola de trapos durante o recreio no pátio interior da cadeia de Caxias, enquanto eram vigiados por quatro guardas. "Claro que é uma palavra mágica quando se chega ao fim. Porque quando o Gervásio diz "Golo" entra-se num processo cheio de incógnitas: Disparam? Não dispara? Atingem-me? Não me atingem? O carro é blindado? Ou não é blindado? Mas isso... depois daqueles 60 segundos, é uma imagem fantástica!", continua o histórico comunista.
Em plena luz do dia, e perante o olhar incrédulo dos carcereiros, oito funcionários do partido comunista abalroaram o portão do forte de Caxias e saíram de carro para a rua. O Mercedes de Salazar tinha atravessado o túnel para o interior do forte de marcha-atrás, e fica, parado, rodeado pelos presos. Sempre com o motor a trabalhar, o carro ocupa quase todo o espaço. Ao sinal combinado, os presos precipitam-se para dentro do carro. Os termómetros marcavam 13ºC e os relógios 09h35.