Perto do rio Ondyila-Hulu, mais conhecido por Giraúl, aconteceu esta história prodigiosa. Uma menina que se camava Tyiliteteka andava a colher eingi, um fruto tão saboroso que quem o comia, sentia um prazer que só mesmo os deuses podiam sentir. Perto de umas espinheiras encontrou um eingi madurinho. Colheu-o e levou-o para casa com muito cuidado. Quando chegou, começou a cantar:
- Mamã, porque não dizes/ó minha filha primogénita/dás-me o eingi?/ Jamais te recusaria/ o fruto do prazer.
A mãe pediu-lhe o fruto e a menina foi procurar mais. Quando chegou a casa disse à mãe para lhe devolver o eingi, mas como ela já o tinha comido, para compensar a filha deu-lhe uma agulha.
Tyiliteteka andava pelo mato à procura de mais eingi e encontrou o pai, cosendo com um espinho, o seu cinto de couro. A menina aproximou-se e cantou:
- Meu pai porque coses o cinto de couro/ com esse espinho rombo?/Porque não pedes à tua filha / esta agulha tão pontiaguda/ acaso eu recusava?
O pai pediu a agulha e Tyiliteteka continuou à procura de eingi. Algum tempo depois regressou e disse:
- Meu pai, quero a agulha! Mas o couro era muito duro e a agulha partiu-se.
Tyiliteteka começou a cantar:
- Mas como partiste a agulha/ que a mãe me ofertou/ que o meu eingi comeu/ que a árvore prodigiosa me deu?
O pai, para compensá-la, deu-lhe o seu machadinho.
A menina continuou a andar ao longo da margem do rio Ondyila-Hulu até que encontrou pastores tentando derrubar uma árvore com pedras afiadas, para colherem os favos de mel que estavam numa colmeia, no ponto mais alto da omu-nthiati.
A menina, com a sua voz maviosa, cantou:
- Rapazes, porque cortais a omu-nthiati com pedras/ se eu tenho aqui o machadinho/ que corta como o vento frio/ que sopra das montanhas de Capangombe?/ Se me pedirem acaso eu posso recusar?
Os pastores pediram-lhe o machadinho, cortaram a árvore e colheram o mel. A menina continuou à procura do eingi. Depois regressou e pediu o machado de volta, mas ele tinha-se quebrado. A menina então cantou:
- Onde está o machadinho que recebi do meu pai/ que partiu a minha agulha/que recebi da minha mãe/ que comeu o meu eingi/que colhi da árvore dos prodígios?
Os pastores para compensá-la deram-lhe uma cabaça de mel. A menina continuou e perto de um riacho seco encontrou uma velha que estava a comer raízes do mato. Com sua voz de cristal ela cantou:
- Mamã Velha porque comes raízes duras/ se eu tenho aqui tanto mel/ se me pedires a cabaça/ acaso recusava o teu pedido?
- A velhinha pediu a cabaça de mel e a menina continuou o seu caminho à procura de eingi. Quando voltou, pediu à velha que lhe devolvesse o mel, mas como ela tinha comido tudo, para compensá-la deu-lhe uns grãos de massambala.
Tyiliteteka recebeu os grãos e cantou:
- Porque comeste o mel/que os pastores me ofertaram/que partiram o machado/que meu pai me ofereceu/que a agulha quebrou/que minha mãe me deu/que o eingi comeu/que a árvore prodigiosa gerou/e minha mão colheu?
Com os grãos guardados nos seios, a rapariga continuou até encontrar umas galinhas do mato. Então ela cantou:
- Ó galinhas kapotas, porque estais a esgravatar/tenho aqui grãos de massambalas/se os pedirem acaso eu vou recusar?
As galinhas disseram:
- Irmã dá-nos então uns grãos de massambala.
Ela deu-lhes os grãos e prosseguiu a procura de eingi. Quando voltou, pediu os grãos de volta. Como tinham comido tudo, as galinhas deram-lhe as suas belas penas brancas e negras.
Tyiliteteka cantou:
- Comeram os grãos/que a velha me deu/que o meu mel comeu/colhido pelos pastores/que meu machado partiram/que meu pai me ofertou/que a minha agulha partiu/que minha mãe me deu/que o eingi comeu/ que a árvore prodigiosa gerou/e minha mão colheu?
E seguiu caminho. Encontrou caçadores que preparavam as suas flechas com pelos de animais. E ela cantou:
- Tenho aqui estas belas penas/acaso as recusava/se mas pedissem/para as vossas flechas?
Os pastores pediram-lhe as penas e com elas fabricaram as suas flechas. A rapariga lá foi, procurando eingi. Quando voltou pediu as penas de volta. Mas as flechas já tinham partido em direcção às presas e como os tiros foram errados, as penas perderam-se.
Os caçadores tinham leite fresco e deram-lhe uma cabaça cheia, para compensá-la.
- Fizeram desaparecer as minhas penas/que as galinhas do mato me deram/ que comeram os grãos/que a velha me deu/que o meu mel comeu/colhido pelos pastores/que meu machado partiram/que meu pai me ofertou/que a minha agulha partiu/que minha mãe me deu/que o eingi comeu/ que a árvore prodigiosa gerou/e minha mão colheu?
E Tyiliteteka seguiu caminho até encontrar um cão que roía um osso:
- Ó cão, róis esse osso duro/ eu tenho aqui leite puro/ acaso to recusava se o pedisses?
O cão pediu-lhe o leite, bebeu-o e fugiu para cima de uma omu-papa frondosa. A rapariga correu atrás dele, subiu até ao ponto mais alto da árvore e o cão, que era muito esperto, saltou para o chão.
- Ajuda-me a descer? – Pediu Tyiliteteka.
Mas o cão foi embora e deixou-a entregue à sua sorte, para nunca mais dar e depois tirar.
Okangano kandye…tepa! Assim acaba a minha historinha!
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