MOÇAMBIQUE
Ex-Presidente moçambicano Armando Guebuza vai esta quinta-feira prestar depoimento no caso das dívidas ocultas, na reta final do processo. Centro para a Democracia e Desenvolvimento espera conhecer a verdade com Guebuza.
O diretor do Centro para a Democracia e Desenvolvimento (CDD), Adriano Nuvunga, em entrevista à DW África, defendeu que o povo moçambicano não está satisfeito com o que foi dito até agora em tribunal e, por isso, espera conhecer a verdade a partir do depoimento de Armando Guebuza.
Nuvunga espera que a crise entre o ex-Presidente Guebuza e o atual, Filipe Nyusi, potencie o surgimento da verdade esta quinta-feira (17.02) na tenda da B.O., onde decorre o julgamento. O ativista crítica também o juiz do caso, Efigénio Baptista, acusando-o de proteger o atual chefe de Estado.
DW África: O que se pode esperar da audição do ex-Presidente Armando Guebuza?
Adriano Nuvunga (AN): Esperamos que o Presidente Guebuza informe as pessoas sobre o que efetivamente aconteceu. Muitas das pessoas que foram à tenda da B.O. estiveram a mentir e o juiz deixou isso ficar assim. Então, esperamos que dada a relação ruim entre o Presidente Nyusi e o ex-Presidente Armando Guebuza, esperemos que ele fale a verdade. E eventualmente ver se se pode extrair daí processo autónomos. Como sabe, a nossa expetativa é de que o Presidente da República fosse chamado para depor, mas o juiz o protegeu.
DW África: Na sua opinião, o que motivou a escolha de Guebuza para depor pessoalmente no tribunal, ao invés de fazê-lo por escrito?
AN: Esse é o procedimento do tribunal. Sei que tentou que fizesse esse depoimento numa sala especial, mas ele se recusou. Penso que ele queria mesmo ir para a tenda da B.O. e isso é uma coisa muito importante para a sociedade moçambicana no esclarecimento da verdade material.
DW África: Acha que por detrás dessa preferência de Guebuza haveria alguma intenção política ou tem mesmo a ver com o esclarecimento do caso?
AN: Justiça e política não andam muito distantes uma da outra, dada a relação muito ruim entre o antigo Presidente e o atual, penso que o antigo Presidente vai querer dizer o que os moçambicanos querem ouvir. Então, tem uma dimensão política, isso é óbvio, mas seja como for o que queremos é a verdade.
DW África: O ex-ministro do Interior, Alberto Mondlane, disse na semana passada que nunca se falou nas empresas envolvidas nas dívidas ocultas. Mas o réu Gregório Leão, em setembro, afirmou o contrário. Como avalia essas contradições?
AN: O juiz deixou que o julgamento tivesse filhos e enteados e que se escamoteasse a verdade, porque as incogruências estão lá nas várias declarações. Mas como disse, isso tem que ver com o julgamento que foi marcadamente político.
DW África: Que resumo podemos fazer do julgamento até aqui?
AN: O julgamento está no fim, com a audição de Guebuza termina o resto são alegações finais e a sentença. Fica claro que o julgamento é uma montanha que pariu um rato. Passou ao lado que que as pessoas tinham como verdadeiro julgamento, era para se julgar as dívidas ocultas, mas aqui se esteve a julgar onde as pessoas foram comprar extensões para o cabelo, tijoleira e onde foram jantar. O julgamento em si não foi feito.
DW África: O Gabinete Central de Recuperação de Ativos, oficializado esta terça-feira (15.02), poderá ajudar a recuperar o dinheiro das dívidas ocultas?
AN: Claro que não, é ele próprio um gabinete com problema de corrupção no que toca à gestão dos ativos que já foram recuperados, esteve sempre a soldo da agenda política e nunca foi um gabinete credível. Então, é mais um gabinete que se cria para se gastar dinheiro público à vontade, mas não há muitas expetativas em torno dos resultados desse gabinete.
Thiago Melo | Deutsche Welle
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