sábado, 26 de fevereiro de 2022

Ministério da Defesa afirma ressurgimento da Junta Militar da RENAMO

MOÇAMBIQUE

Ministério da Defesa de Moçambique avançou ter conhecimento do ressurgimento da Junta Militar da RENAMO. Analista ouvido pela DW África diz que reagrupamento da junta pode ter impactos negativos no centro do país.

O grupo da Junta Militar da RENAMO terá reunido na semana passada e elegeu novos quadros, e um novo líder numa das suas bases, nas imediações da serra da Gorongosa, afirmou o diretor de operações no Estado maior das Forças de Defesa e Segurança de Moçambique, Chongo Vidigal.

A fonte do Governo moçambicano falava este final de semana, na Beira, durante a Cerimónia de abertura do "Ano Operacional e Desportivo Militar das Forças Armadas de Defesa de Moçambique (FADM)", na qual fez parte o ministro de Defesa, Cristóvão Chume.

"Nós temos a informação de que, recentemente, houve eleições internas", disse Vidigal, e que "foram nomeados, ou eleitos, novos dirigentes. Quer dizer que este grupo [a Junta Militar da RENAMO] para todos os efeitos, continua", disse.

"Não se desativaram esforços"

O militar afirmou ainda que por isso, "não desativaram os esforços, e que isso está no teatro operacional". "É verdade que fizemos alguma alteração em função da situação atual, mas ainda é um ponto que nos preocupa e estamos atentos a esta situação, e a monitorar na base das atividades operativas diárias, para poder inverter qualquer cenário que venha a acontecer", explicou.

Segundo Vidigal as tropas governamentais querem garantir a ordem e segurança na região do centro de Moçambique. "Depois da morte do principal líder da Junta Militar  [da RENAMO] o quadro da situação alterou profundamente. Mas a situação não terminou com isso. Aliás, quando se elimina um líder, não significa que a força deixa de existir", argumentou.

Questionado sobre a identidade e perfil dos novos quadros da autoproclamada Junta Militar, a fonte da tropa moçambicana respondeu que, como não é o porta-voz da junta, "será difícil comentar sobre a situação deles", explicou.

"Mas sei que em relação ao processo do Desarmamento, Desmobilização e Reintegração (DDR), o processo está encaminhado, está a ver o progresso e até este momento a informação que tenho é que continua. As partes comprometeram se a cumprir, os passos estão sendo dados", disse.

Seis meses após morte de Mariano Nhongo

A DW África apurou, entretanto, que integram o grupo antigos militares da RENAMO, que no passado teriam aderido ao processo do DDR. Esta recomposição do grupo acontece seis meses depois da morte de Mariano Nhongo, que fundou e liderou o grupo desde 2019, contestando a liderança do partido RENAMO.

Em setembro passado, após a morte de Mariano Nhongo em combate com as forças governamentais, uma fonte anónima ouvida pela DW África afirmou que a morte do mesmo não significava o fim do grupo. 

Na altura, a mesma fonte assegurou que brevemente o grupo iria se reunir - numa segunda conferência nacional - para falar da morte do seu líder, Nhongo, e eleger novos quadros. Sobretudo, depois da saída de vários indivíduos que militaram no grupo desde a sua fundação, em princípios de 2019.

A fonte considerou, porém, que há espaço na junta para negociar com o Governo de Moçambique para depor as armas. Mas, em todo caso, o grupo diz aguardar o Governo de Filipe Nyusi oferecer garantias de segurança, e parar com as perseguições contra elementos do grupo da Junta Militar. 

Governo e RENAMO

Em entrevista à DW África, o analista político Wilker Dias considerou que a RENAMO e o Governo desleixaram-se após a morte de Mariano Nhongo. O analista assegura que ambas as partes deveriam tomar a iniciativa de chamar a razão aos integrantes da junta quando perderam o seu líder. Para dias, o reagrupamento deste grupo pode ter impactos negativos no centro do país.

"Este reagrupamento da Junta Militar constitui uma ameaça para a paz e estabilidade na zona centro do país, após a morte de Mariano Nhongo. Verificou-se que este grupo ficou praticamente separado, dividido, e sem ação nos dias subsequentes à sua morte. Como consequência deste desleixo, verificamos o reagrupar deste movimento que pode constituir uma ameaça à integridade de todos os moçambicanos, numa altura em que temos o conflito de Cabo Delgado". 

"A RENAMO deverá ter uma certa influência na acessibilidade desses indivíduos que estão a se reagrupar. Mas em termos de persuasão e condições para que essas pessoas possam largar as armas, essas garantias devem ser dadas pelo Governo", acrescentou.

A DW África procurou a RENAMO, que​ se absteve de comentar o assunto. Entretanto, disse que o faria nos próximos dias.

Arcénio Sebastião | Deutsche Welle

Na imagem: Chongo Vidigal, diretor de operações no Estado maior das Forças de Defesa e Segurança de Moçambique.

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