terça-feira, 12 de abril de 2022

ACERCA DA UCRÂNIA

Serviço de Informações do Fórum de Belgrado
Excertos do Documento Final da Conferência Internacional realizada em Belgrado nos dias 22 e 23 de março de 2014, por ocasião do 15º aniversário da agressão da NATO contra a RF da Jugoslávia
    

Outros autores* - 07.Abr.22

Este documento é particularmente significativo. É parte do documento final de uma conferência internacional realizada em 2014 em Belgrado, por ocasião do 15º aniversário da agressão da NATO contra a RF da Jugoslávia. A amarga experiência de muitos dos participantes contribui para a lucidez da análise feita, das justas apreensões manifestadas, da previsão do que aí viria. A crise de 2014 na Ucrânia abriu o caminho para a situação actual. E aqueles que viram o seu país bombardeado e destruído não esqueceram que os primeiros responsáveis são os mesmos: o criminoso eixo EUA-NATO-UE.

“Exportar democracia e ditar padrões culturais e civilizacionais tornou-se uma abordagem comum de potências ocidentais, principalmente dos EUA, na sua aspiração de governar o mundo de acordo com os seus próprios padrões e de acordo com os seus interesses egoístas. A imposição de tais padrões culturais e civilizacionais é um acto de violência contra a realidade que quase invariavelmente resulta em conflitos, desordens internas e mais profundas fragmentações e divisões; com o tempo, isto tende a minar a paz no mundo e apresenta uma desculpa perfeita para a interferência militar externa. Este modelo criou as chamadas “revoluções coloridas” na Geórgia, Venezuela e Ucrânia e a muito falada “revolução da Primavera Árabe”, que conseguiu devastar e fazer retroceder várias décadas o relógio da história, como na Líbia, Egipto e Síria.

A estratégia do intervencionismo envolve vários motivos e propósitos. Estes incluem o controlo sobre recursos naturais e de desenvolvimento, realocação de recursos e reconfiguração geopolítica do mundo, contra e à custa do predeterminado adversário geopolítico chave. Foi assim que EUA/NATO/UE encenaram a crise na Ucrânia, cuja solução ainda não está à vista. Pode-se dizer que a crise ucraniana é a mais perigosa ameaça à paz desde o fim da Guerra Fria. Em vez de reconhecer a Ucrânia como uma conexão natural entre a Rússia e a Europa, o Ocidente optou por interferir, deslocando-a artificialmente do seu ambiente cultural, civilizatório e geopolítico natural e atraindo-a para ocidente. Ao fazê-lo, o Ocidente não prestou atenção ao facto de que a acção poderia levar a um conflito interno na Ucrânia e que colocaria em risco interesses vitais da Rússia. Este perigoso jogo geopolítico dos Estados Unidos da América, da NATO e da UE contra a Rússia, como uma guerra por procuração à custa da Ucrânia sob a “boa” mas falsa desculpa de ser travada para benefício dos ucranianos e da sua estrutura social democrática, ignorou completamente os efeitos de tal política contra os interesses da Ucrânia, do seu povo, da paz e segurança na Europa e no mundo. Os participantes da Conferência defenderam uma solução política pacífica, livre de interferências e pressões externas, ou seja, uma solução que garanta a vontade dos seus povos e respeite o seu papel de ponte entre o Oriente e o Ocidente. Tal solução implica o abandono da perniciosa “expansão para leste” que já produziu desestabilização na Europa. Os participantes expressaram satisfação pelo facto de o povo da Crimeia ter usado o seu direito de autodeterminação, que resultou na reunificação com a Rússia”.

(The Global Peace vs. Global Interventionism, Belgrad Forum for a World of Equals, Belgrad, 2014, ISBN 978-86-83965-44-1, multilíngue)

*O Serviço de Informações do Fórum de Belgrado, beoforum@gmail.com

*Publicado em O Diário.info

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