quinta-feira, 21 de abril de 2022

ANGOLA E OS VENTOS FAVORÁVEIS -- Artur Queiroz

Artur Queiroz*, Luanda

O mundo está feito num oito, o dólar vai a caminho de valer tanto como o leone da Serra Leoa, a União Europeia caiu nas mãos do senhor Zelensky, um actor que os eleitores elegeram para presidente da Ucrânia, o estado terrorista mais perigoso do mundo já começou a vender os anéis para pagar a astronómica dívida soberana. E eu hoje vou falar de ninharias mas com alguma piada.

Fernando Pacheco, na sua Conversa na Mulemba, episódio III, pergunta: Pode Angola Melhorar? Desculpem-me o atrevimento mas penso que sou o único ser humano que sabe a resposta. E antes que seja tarde, respondo. Pode, sim! Antes que o inigualável colunista do Novo Jornal lance nova pergunta (Como?) eu respondo imediatamente.

Angola pode melhorar kiavulu se Fernando Pacheco for presidente da república, primeiro, segundo, terceiro, quarto e quinto ministro, chefe das forças armadas, chefe das forças de segurança. Gerente das fazendas de milho, arroz, mandioca, café, algodão, capim e gado. Líder do Banco Nacional de Angola e de todos os bancos privados ou a privatizar. Director técnico e financeiro de todas as fábricas, desde as cervejeiras às dos tractores. Grande chefe das empresas de telecomunicações. Director geralíssimo do Jornal de Angola, Rádio Nacional, TPA e ANGOP.

Em nome da nossa velha amizade vou deixar-lhe um conselho. Fernando, não escrevas mais. Não tens a mínima noção da gramática da linguagem jornalística. E eu já encaixotei os livros que usava na formação. Mais ninguém te pode valer. Fala apenas do que sabes. Naqueles encontros no Quintal da Tia Guida aprendi imenso contigo. E lá está. Na tua área não conheço em Angola quem saiba mais do que tu. Esquece o resto. 

Para não parecer injusto, tenho para ti uma boa notícia. Os colunistas todos do Jornal de Angola são tão maus como tu. Das traves mestras do jornalismo sabem tanto como tu. Alguns deviam saber e muito, mas quando me esforcei por ensiná-los, eles tinham a cabeça nos dólares e nas mordomias. Andavam a conspirar contra o director do Jornal de Angola para o MPLA lhes entregar o lugar. Deu o que está à vista e me escuso de qualificar porque há amigas e amigos que não gostam que introduza palavrões nos meus arrazoados. Têm razão mas às vezes não me contenho. 

Fernando, em vez de conversas à sombra da mulemba, debaixo da sua copa frondosa tira uma soneca, bebe um dedal de maruvo, namora uma donzela gentil mas não mostres de uma forma tão evidente a tua incompetência para a escrita nos jornais. Repara bem: Nos jornais. Para livros, artigos científicos, mukandas, cartas de amor, estás à vontade. Escreve no teu jeito balbuciante e a arranhar as mudanças, que ninguém te leva a mal.

Um conselho de amigo verdadeiro: Na política não queiras mais do que já tens. O Conselho de Estado fica-te bem, apesar de não teres as mínimas condições para a vida política. Como ficou demonstrado ao longo der todos os anos em que te meteste nisso. Há gente das nossas relações que além de grandes técnicas e técnicos fizeram maravilhas na política. Ainda fazem. Mas tu esquece. Serás sempre um derrotado e com as derrotas políticas vem o ressentimento e com o ressentimento os raciocínios obtusos. 

Não estejas preocupado com o futuro Angola porque os miúdos de hoje (miúdos aqui é no sentido carinhoso) que chegam às Universidades sabem mais a dormir do que nós os dois com os olhos todos abertos, inclusive o do meio nas traseiras. Quantos mais chegarem ao ensino superior e se formarem, mais nós seremos irrisórios na sabedoria. Felizes pelos seus sucessos, poremos à disposição da juventude a nossa experiência. É isso que o Povo Angolano espera de nós. Nada mais. Doutorices compradas com kamanga, engenheirices de obras feitas, mestradices à boleia e outras aldrabices serão um dia coisas sem préstimo e não servirão para brasonar ou enfeitar ninguém.  

Anália Vitória Pereira foi a menina mais bonita nas Festas das Colheitas na cidade do Uíje em 1957. Foi então que a conheci com os seus irmãos que eram craques do Futebol Clube do Uíje. O Milo mais tarde fundou o Duo Ouro Negro. Anália Jogou basquetebol com a mãe dos meus filhos César e Anabela, no Ferrovia do Huambo. Grandes atletas!  Muitos anos depois conheci o seu marido Carlos Simeão (Manolo), uma figura notabilíssima e que foi um dos meus melhores amigos de sempre, apesar de ser radicalmente pró americano. Portanto, era amigo do casal de longa data. Partilhei com eles a felicidade suprema do nascimento da filha (única) Alexandra.

Agora a parte dolorosa. Alexandra Simeão escreveu isto sobre Angola no Novo Jornal: “Nestes 20 anos tivemos todos os ventos a nosso favor”. É bom esclarecer que “estes 20 anos” começaram em 2002, com a morte do criminoso de guerra Jonas Savimbi. Antes que esqueça. Alexandra, a tua escrita é uma espécie de formatura militar porque alinhas as palavras por alturas. Esquece a escrita. Se puderes e te ouvirem, fala. Porque palavras, leva-as o vento e os teus disparates não ficam impressos. Tu não escreves, sujas papel. Tem pena dele (do papel, não do criminoso de guerra).

Savimbi foi babado em 2002 e os ventos começaram a soprar a nosso favor. Arrancou o processo de reconstrução nacional. Estávamos abaixo de zero. Tudo destruído, economia destroçada e uma gritante falta de massa crítica, o que impedia qualquer veleidade de iniciar um processo de Desenvolvimento suportado na Investigação. 

Em 2008, aconteceu a falência do Lehman Brothers, um dos maiores bancos de investimentos dos Estados Unidos da América e do mundo. Este facto simboliza a maior crise financeira desde o “crash” de 1930. No dia 15 de Setembro de 2008, um tribunal federal norte-americano recebeu a formalização da falência do gigante da indústria financeira, uma decisão que mudou a história económico-financeira mundial. Alexandra, tu  estás a sentir os ventos favoráveis para Angola?

O Presidente José Eduardo dos Santos e o Governo do MPLA tomaram medidas sociais importantíssimas para amortecer o efeito da crise mundial nas populações mais vulneráveis. E isso foi conseguido. O Fundo Soberano teve um papel importante nesta conjuntura. E ao mesmo tempo continuaram as grandes obras da Reconstrução Nacional.

Os ventos voltaram a soprar favoráveis a Angola quando o preço do barril de petróleo caiu de 130 dólares para menos de 50! Em 2017, esteve abaixo dos 40 dólares o barril. Alexandra, não bebas mais, deita fora a garrafa. Sabes tu, filha da Anália e do Manolo, por que razão a COVID está associada a 19? Não penses mais, podes ficar com uma anemia. Eu digo-te. Porque os primeiros casos dessa peste foram notificados no ano de 2019. Esse vírus parou o mundo e já matou milhões de pessoas. Também parou Angola fazendo uma barreira aos ventos favoráveis.

O MPLA ganhou todas as eleições desde 1992 com maiorias absolutas e qualificadas. Apesar disso, o primeiro governo do regime de democracia representativa e “economia de mercado” incluiu todos os partidos que elegeram deputados. Depois veio o Governo de Unidade e Reconciliação Nacional (GURN), andavam os teus amos da UNITA aos tiros à democracia e ao Povo Angolano. Foi aproveitando essa boleia que chegaste ao Governo de Angola. Tu demonstras à puridade que não tens nível sequer para governar uma pocilga. E, aparentemente, ficas feliz por mostrar publicamente que não devias ter passado da porta da rua dos ministérios. Se isso te faz bem ao azedume e ao ressentimento, continua.

Com toda a ternura te digo para não fazeres esse papel perigoso de aprendiza de feiticeira. Sabes porquê? Os da UNITA hoje dão-te uns trocos para escreveres palermices. Mas amanhã, se em Agosto lograrem os seus intentos, como já és feiticeira formada, queimam-te nas fogueiras da Jamba ou de qualquer outro acampamento militar. Mas pode ser que te safes porque, na verdade, eles só consideram bruxas as mulheres que pensam, têm formação e sabedoria.

Por isso, com sorte, ainda chegas a primeira-dama do Luter Silva Campos, o King. Estou a imaginar os dois queimando sedes do MPLA e autocarros do Ministério da Saúde. Vais longe, Alexandra. Os ventos sopram mesmo a teu favor. Mas se os teus amos ganharem, serão tempestuosamente desfavoráveis a Angola. 

* Jornalista

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