sábado, 30 de abril de 2022

O GENERAL AS RUÍNAS E O BURRO -- Artur Queiroz

Artur Queiroz*, Luanda

Era uma vez um velho, um rapaz e um burro. Foram da Chikuma à Ganda ver em que paravam as modas e se o sisal do Cubal já tinha chegado às plantações de café. O burrinho ia à frente, marcando o passo, e os dois atrás. Na primeira aldeia todos se riram imenso da figura que faziam. Uma voz falou alto:

- Que matumbos! O burro folgado e os dois a pé!

Um pouco mais à frente o velho disse ao rapaz para montar no burro e ele seguia à frente, marcando o passo. O rapaz montou. Quando passaram por outra aldeia ouviram grande alarido. E uma voz trovejou fortíssimo:

- O mundo está perdido. Venham só, o rapaz vai de burro e o velho a pé!

Nova paragem na picada. O velho disse ao rapaz para desmontar e ele ia de burro. Assim foi. O moço ia atrás, acompanhando a passada pachorrenta do burrinho. Ao atravessarem mais uma aldeia ouviram grande galhofa. E uma vos potente berrou:

- Velho desalmado! Vais de burro e o rapazinho a pé. Não tens vergonha?

Mal saíram da aldeia, o velho disse ao rapaz que o melhor era irem os dois de burro. E assim se fez. Antes de chegarem à Ganda entraram na sanzala grande onde planeavam beber água. Ninguém nega o precioso liquido a viajantes e a um burrinho sequioso. Mal chegaram às primeiras casas ouviu-se um clamor crítico. E uma voz irada berrou:

- Que selvagens! Dois homens em cima de um burrinho. Querem matar o animal!

Os viajantes nem pararam. Seguiram viagem e o velho disse ao rapaz:

A partir daqui não ouvimos mais ninguém. Não tarda nada, vão exigir que levemos o burrinho às costas. Voltamos ao princípio. Nós vamos a pé. Foi assim que o engenheiro à civil Adalberto da Costa Júnior, o burrinho de Chikuma, chegou a chefe dos galos.

Segundo capítulo. Era uma vez a Ucrânia. Um general que se identificou como comandante militar de Kiev pegou num burrinho e levou-o a ver umas ruínas em Bucha. E o animal zurrou:

- Que horror, prédios em escombros. Estou a imaginar a minha família, as minhas netinhas dentro daqueles prédios.

O burrinho não sabia que os prédios tinham sido evacuados antes da chegada das tropas russas, quando montaram o cerco a Kiev. Mas não sabe outras coisas que obrigatoriamente tinha que saber. O secretário-geral da ONU não pode ir a um país que está em guerra e passear-se ao lado de um general que comanda as tropas na região de Kiev. Os cães amestrados que se fazem passar por jornalistas calaram o seu gravíssimo erro.

O secretário-geral da ONU, mesmo que seja burrinho e se deixe levar pela arreata de um general ucraniano, tem a obrigação de saber que para ir ver as ruínas de Bucha também tinha de ir ver as ruínas de qualquer c idade no Leste da Ucrânia (Donetsk e Gdansk). Preferiu fazer o papel de burrinho do velho Biden e do rapaz Stoltenberg da OTAN (ou NATO). E dizer ao mundo que a guerra na Ucrânia só começou em 24 de Fevereiro, quando começou há oito anos. E sobretudo dizer que os milhares de mortos no Leste da Ucrânia e mais de um milhão de refugiados não valem nada. São russos!

Guterres também disse que os moradores daquelas ruínas não têm culpa nenhuma do que está a acontecer. O burrinho está pior da perna. Nas democracias, a soberania está no voto popular. Zelensky não chegou à presidência por assalto, como aconteceu com Poroshenko, em 2014. Está legitimado pelo voto popular, A responsabilidade do que está a acontecer na Ucrânia é de quem votou no homem que arrastou o país para a tragédia que está a viver. De mais ninguém. Até porque na campanha eleitoral ele garantiu aos eleitores que ia meter a Ucrânia na OTAN (ou NATO) e isso só podia mesmo dar guerra. Ou guerras. Vamos ver.

António Guterres, perante as ruínas e preso pelas rédeas na mão do general ucraniano, disse que é preciso fazer uma investigação independente aos crimes de guerra. Uma investigação independente! Mas ele já decidiu que houve mesmo crimes de guerra e já assumiu que foram cometidos pelas tropas russas. O burrinho que tem a manjedoura no palácio de vidro em Nova Iorque só faz estes jogos, porque os jornalistas mandados para a Ucrânia são apenas vozes submissas do Pentágono e da CIA. Eu pensava que o burrinho estava num nível mais elevado. Mas preferiu colocar-se numa posição ainda mais rastejante.

No seu país, Portugal, os agentes dos serviços secretos ucranianos, com especial destaque para a embaixadora da Ucrânia em Lisboa, e um tal Pavlo Sadokha, decidiram cuspir no prato e na cara de quem acolhe e dá de comer a refugiados do seu país. Mas são eles que mandam no lindo torrão lusitano. E dão ordens. 

Uns burrinhos que os portugueses, com os seus votos, fizeram deputados, querem em Portugal as leis anticomunistas da Ucrânia e ilegalizar o Partido Comunista Português. O alvo de momento é a Câmara Municipal de Setúbal que acolheu refugiados ucranianos disponibilizando-lhes tradutores! O problema é que esses cidadãos solidários são portugueses de origem russa! Não pode. Em Portugal, segundo o Tio Célito, são todos ucranianos.

Na Ucrânia, as leis anticomunistas deram uma guerra civil, iniciada em 2014. Em Portugal vai acontecer o mesmo. Tenham juízo e limitem-se a encher a pança. Quem combateu durante décadas contra o fascismo e seus aparelhos repressivos, come de cebolada esses burrinhos eleitos deputados. Não façam Portugal desaparecer do mapa.

*Jornalista

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