sábado, 28 de maio de 2022

A ESQUINA PATRIÓTICA ILEGAL MAS UNIDA -- Artur Queiroz

Artur Queiroz*, Luanda

De mansinho, sem ninguém dar por ela, Adalberto da Costa Júnior, Filomeno Vieira Lopes e Abel Chivukuvuku foram atirados para o caixote do lixo doméstico. Nem sequer são recicláveis como vidro, plástico ou papel. Lixo mesmo e nauseabundo. Amigas e amigos criticavam-me porque apresentava a Frente Patriótica Unida (FPU) como uma esquina dos três amigos. E vaticinei, desde o primeiro instante, que os esquinados não tinham futuro. Eu sabia que os homens grandes da UNITA, savimbistas radicais, reprovaram a coligação com “um mulato vaidoso (Filomeno) e um traidor (Abel)”. Exigiram o fim do projecto.

Filomeno Vieira Lopes nunca teve votos, não tem assinaturas para legalizar partidos, jamais terá um lugar na política angolana. Ninguém gosta de equilibristas e muito menos de quem muda de pele como a cobra surukuku. Nada tinha para dar à esquina. Abel Chivukuvuku, o torcionário favorito do Savimbi, terrorista encartado numa academia de Marrocos, protagonista dos mais graves crimes da BRINDE (polícia secreta do Galo Negro), instigador das fogueiras da Jamba, desde que se entregou ao governo, em 1992, passou a ser um traidor para os radicais da UNITA. Não consegue assinaturas para constituir um partido político. Quanto a votos, só tem o dele, das cinco mulheres, de um irmão e dois filhos. 

Adalberto da Costa Júnior não teve coragem de informar a opinião pública de que os radicais da UNITA o proibiram de avançar com a Frente Patriótica Unida. Combinou com Filomeno e Abel continuarem a fingir que a esquina existia. Levaram a vigarice ao ponto de colocarem cartazes nas ruas, com a xipala dos três. Adalberto aparece com pose de artista do cinema. E por baixo da sigla FPU a mensagem triunfal: “Povo Já Ganhou”. Filomeno Vieira Lopes, sempre com o sofrimento da prisão de ventre estampado no rosto fala assim: “Chega Angola Levanta. Abel Chivukuvuku, ainda sibilando que vai reduzir Angola a pó, como nos tempos do Savimbi, diz ao eleitorado: “ Agora ou Nunca Abra Visão Povo”.

A vigarice começou no dia 5 de Outubro de 2021, quando Adalberto da Costa Júnior, ladeado por Filomeno e Abel anunciou, em Luanda, o nascimento da “Frente Patriótica Unida (FPU), enquanto coligação eleitoral”.  Neste acto foi anunciado que o líder da coligação seria ele próprio e o objectivo é “protagonizar a alternância do poder político em Angola”. Abel Chivukuvuku, líder de um nado-morto chamado PRA-JA Servir Angola, disse aos jornalistas que ele e mais duas centenas de simpatizantes “apreciaram a utilidade da Frente Patriótica Unida, a sua viabilidade e modalidades de participação”.

Adalberto Costa Júnior informou que o nascimento da FPU “foi o culminar de um amplo processo de negociações que termina hoje, com a formalização da Frente Patriótica Unida. Já temos os documentos fundamentais terminados e estamos em condições de corresponder às expectativas criadas pela coligação junto do eleitorado”.

Um jornalista perguntou ao engenheiro à civil, que dirige as obras de demolição da UNITA: E se a coligação for rejeitada como foi rejeitado o PRA-JA Servir Angola? Adalberto Costa Júnior respondeu: “Se isso acontecer é mais uma justificação de que a mudança é necessária. Angola precisa de liderança que legitime e credibilize as instituições, não interfira na vida normal dos cidadãos e dos partidos políticos, bem como da política em si própria”. A FPU não foi rejeitada porque nunca entrou o processo de legalização no Tribunal Constitucional. Na apresentação, Filomeno Vieira Lopes ficou calado porque o Bloco Democrático elegeu um deputado (Justino Pinto de Andrade) à boleia da coligação CASA-CE, nas últimas eleições. O contrato só acaba no final da legislatura, no próximo mês de Agosto. 

Esta segunda-feira soubemos que o processo da esquina FPU nunca deu entrada no Tribunal Constitucional, para ser legalizada. Em 5 de Outubro de 2021 os documentos já estavam todos prontos. E desde então, o processo para a legalização não entrou no Tribunal Constitucional. Esta segunda-feira, o magistrado Mauro Alexandre, diretor do Gabinete dos Partidos Políticos do Constitucional, informou que “a FPU não existe legalmente e, por isso, não pode apresentar candidaturas. O processo de pré-campanha e campanha eleitoral está reservado a forças partidárias legalizadas. Os mentores desta plataforma política estão a confundir os eleitores”.

O magistrado Mauro Alexandre acabou com todas as dúvidas: “A Frente Patriótica Unida não tem anotação do Tribunal Constitucional através de símbolos e siglas próprios. Por isso, não pode aparecer em público a produzir atividades políticas sob pena de confundir o eleitorado.”

Muata Sebastião, secretário-geral do Bloco Democrático e membro da direcção de campanha eleitoral da FPU, disse que “não é preciso legalizar nada”. O Filomeno pensa com os cotovelos. O Justino pensa como intestino grosso. O Muata pensa com a cabeça do dedo pequenino do pé, que lhe foi amputado à nascença.

“A FPU não precisa de ser legalizada. É apenas o nome que damos a esta iniciativa política”, explica Muata Sebastião. Portanto, a esquina é apenas um nome, uma iniciativa, um semba, uma rebita, um assalto à mão armada, um óbito de almas danadas, uma vigarice sem nome. Diz o Sebastião: “A Frente Patriótica Unida não tem trabalhado como um ente jurídico. O Bloco Democrático, o projeto político PRA-JA Servir Angola e algumas figuras da sociedade civil vão participar nas eleições de Agosto, incorporados na lista da UNITA. É desta forma que vamos participar no pleito que se avizinha.”

Eu já tinha alertado que os savimbistas não querem eleições, por isso já gritam que há fraude e ainda ninguém foi votou. Mas eles têm razão. Há mesmo fraude. O que chamar a esta vigarice da Frente Patriótica Unida? Anunciam a coligação e depois não a legalizam! Mais fraudulento ainda: O Filomeno Vieira Lopes, em 1974/1975 era maoista de faca na boca. Quem não alinhasse na cartilha deles, era burguês desprezível e traidor. O que eu aturei a esses camaradas! Como sou anarquista, punham-me abaixo de cão. E só não me mandaram para o campo de reeducação do Bentiaba porque precisavam de mim, para os noticiários da Rádio.

Em 2022, estou a cair da tripeça mas no mesmo sítio de sempre. E vejo, espantado, o Filomeno candidatar-se a deputado nas listas da UNITA, o partido da PIDE e dos racistas de Pretória. Desde que vi uma bicicleta andar de porco, já nada me espanta.

*Jornalista

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