segunda-feira, 23 de maio de 2022

AS PIRUETAS DOS MACACOS – Artur Queiroz

Artur Queiroz*, Luanda

“Se ganharmos vamos governar e acabar com os crioulos. Se perdermos, vamos dizer que houve fraude e tomamos o poder pela força”. Estou a citar Jonas Savimbi, quando na Jamba foi alertado para o perigo de a UNITA perder as eleições previstas no Acordo de Bicesse, que ele tinha acabado de assinar em Portugal. O líder do Galo Negro falava de peito feito porque os serviços secretos da África do Sul (já sem o regime de apartheid) já tinham criado as bases do Cuando Cubango onde foram escondidos os melhores militares do Galo Negro e as melhores armas. Leiam a reportagem que publiquei no Jornal de Angola em 31 de Maio de 2014, e envio com este texto.

Hoje é dia das citações. As relações entre a União Europeia (UE) e a Polónia, muito desgastadas e envenenadas, no início de Fevereiro de 2022 ficaram abaladíssimas porque a Comissão Europeia fez um ultimato ao governo de extrema-direita de Varsóvia: Ou cumprem a legislação comunitária ou ficam sem dinheiro! Depois a Comissão Europeia abriu um procedimento de infracção contra o governo do primeiro-ministro neonazi Mateusz Morawiecki, motivado por "sérias preocupações a respeito de afrontas aos princípios do Estado de Direito na Polónia, em especial sobre a autonomia e independência do Poder Judicial”.

Motivo deste procedimento: O Tribunal Constitucional da Polónia decidiu que a legislação da União Europeia não se sobrepõe à legislação polaca. O comissário europeu da Economia, Paolo Gentiloni, respondeu em nome da União Europeia afirmando textualmente: “O Tribunal Constitucional da Polónia já não responde às exigências de um tribunal independente e imparcial estabelecido pela lei, como exige o tratado da União Europeia” 

Mais uma maka entre Bruxelas e Varsóvia: A União Europeia obrigou a Polónia a pagar uma multa de 500 mil euros por dia, até encerrar a mina de Turów, perto da fronteira com a República Checa, por representar um risco ambiental e aumentar os níveis de poluição do ar e da água. O governo do extremista de direita Mateusz Morawiecki, recusa pagar, até hoje.

No dia 19 de Fevereiro, o primeiro-ministro da Polónia, Mateusz Morawiecki, e a presidente da Comissão Europeia, Úrsula von der Leyen, envolveram-se numa maka mundial. Nessa data, o Tribunal de Justiça da União Europeia condenou definitivamente a Polónia a perder os fundos europeus por “graves violações do Estado de Direito”. 

A presidente da Comissão Europeia apressou-se a dizer que “esta condenação prova que estamos no caminho certo. As reformas judiciais na Polónia acabaram coma independência do Poder Judicial no país”. Mateusz Morawiecki respondeu dizendo que não reconhece legitimidade ao tribunal europeu nem à Comissão Europeia. Cinco dias depois, em 24 de Fevereiro, a Polónia passou a ser a pátria da democracia e depósito de armas para a guerra da OTAN (ou NATO) contra a Federação Russa, por procuração passada à Ucrânia. 

A ministra das relações exteriores da Alemanha, Annalena Baerbock, saltou em defesa da sua dama e disse textualmente: “As violações do Estado de Direito na Polónia põem em causa a nossa coesão e a nossa credibilidade. O veredicto do Tribunal de Justiça da União Europeia que condena a Polónia protege e fortalece a nossa comunidade de valores, postos em causa por Varsóvia”. Isto é paleio de 19 de Fevevreiro, Depois de 24, a dona  Annalena Baerbock vai a Varsóvia e garante que está no altar da democracia.

António Costa, primeiro-ministro português, esteve ontem em Varsóvia, de namoro com o seu homólogo Mateusz Morawiec, líder do partido de extrema-direita, Lei e Justiça (PiS). Sendo ele socialista, garantiu aos jornalistas que ambos defendem os mesmos valores. Está explicado o socialismo do chefe do governo português. 

A Polónia pediu dinheiro à União Europeia para fazer um muro na fronteira com a Bielorrússia. Enquanto a réplica do Muro de Berlim não é erguida, os polacos gastaram milhões em arame farpado e laminado. Colocaram na sua fronteira com o vizinho do Norte homens armados até aos dentes e com cães façanhudos. Tudo para travar os emigrantes que fogem da Líbia, Síria, Iém3n e outros países destruídos pela OTAN (ou NATO). 

Já ninguém se lembra, mas no último Inverno morreram na fronteira entre a Polónia e a Bielorrússia mulheres e crianças refugiadas, à fome e com frio. Os guardas polacos atacaram os refugiados com gás lacrimogéneo e canhões de água. Os ricaços da União Europeia apoiaram Varsóvia na mortandade. Ontem António Costa garantiu 50 milhões de euros a Varsóvia, para ajudar a cuidar dos refugiados ucranianos. Cabelos loiros e olhos azuis, fizeram o milagre e a diferença entre a vida e a morte. A ultra democrática Úrsula von der Leyen considerou a vaga de refugiados do Médio Oriente na fronteira polaca com a Bielorrússia como “um ataque híbrido das autoridades de Minsk à União Europeia”.

Agora cito Bram Frouws, presidente do Centro Misto de Migração, sobre a declaração da presidente da Comissão Europeia: “No momento em que Úrsula von der Leyen se refere aos refugiados como moeda de troca ou como armas, as pessoas passam a ser instrumentalizadas e retiramos-lhes a sua humanidade”. 

António Costa foi a Kiev falar com Zelensky que, segundo o primeiro-ministro português “é uma inspiração para todo o mundo”. Lá estão eles a reduzir o mundo ao quintalito da Europa e ao estado terrorista mais perigoso do mundo /(EUA). Costinha mostrou de uma forma exuberante que é ainda pior actor do que o presidente da Ucrânia, chefe de uma horda de nazis disfarçados de democratas. Mais uma vez, Costinha garantiu que os valores democráticos da Ucrânia são os dele. Tenho que citar o senhor Antony Blinken, secretário do Departamento de Estado, e a senhora Wendy Sherman, subsecretária, no relatório anual que assinaram, sobre os direitos humanos no mundo. Eis o que está escrito sobre o paraíso de Zelensky:

 “Na Ucrânia há execuções extrajudiciais e tortura (...) tratamento cruel de detidos por agentes da ordem, condições prisionais duras e ameaçadoras, detenções arbitrárias e problemas graves com a independência do Poder Judicial (...) Existe violência com base no género ou orientação sexual, antissemitismo, e contra pessoas com deficiência ou de grupos étnicos minoritários, bem como as piores formas de trabalho infantil (...) O Governo não tomou medidas adequadas para perseguir ou punir a maioria dos funcionários que cometeram abusos, resultando num clima de impunidade”.

António Costa está em casa e a ver-se ao espelho. Parabéns. Foi obrigado a ir ao castigo e lá teve que dizer umas barbaridades quando viu prédios esventrados e automóveis baleados. Mas o pior foi quando anunciou o convite de Zelensky para Marcelo Rebelo de Sousa visitar a Ucrânia. Grande amigo da onça! Costinha sabe que o presidente da República Portuguesa, numa altura em que o serviço militar era obrigatório e havia a guerra colonial, ficou no bem bom de Lisboa. Conseguiu mais e melhor do que os filhos da meia dúzia de famílias que mandava em Portugal e nos ditadores e serviço. Esses iam para as colónias mas ficavam no ar condicionado de Bissau, Luanda e Maputo. 

A regra era esta. No ano em que os mancebos (as mulheres não iam para a tropa) faziam 19 anos, eram obrigados a “dar o nome” e apresentarem-se à “inspecção militar”. Se fossem “apurados”, no ano em que faziam 20 anos iam marchar para as forças armadas. Se fossem estudantes universitários, podiam pedir adiamento da incorporação, para concluir a licenciatura. Marcelo Rebelo de Sousa, provavelmente por obra e graça do padrinho (ditador de turno) ou do papá, ministro do Ultramar, baldou-se da guerra colonial.

Mais uma citação. O general António Ferreira do Amaral, Capitão de Abril, sobre este episódio disse isto: “Marcelo Rebelo de Sousa devia estar no cumprimento do serviço militar obrigatório, mas tal não sucedeu, incumprindo a lei militar. A atitude moral é ainda mais condenável porque quem era o ministro do Ultramar nesse momento era o seu próprio pai, Baltasar Rebelo de Sousa.

O Presidente da República Portuguesa explicou que “estava a acabar os meus estudos naquela ocasião e a fazer o meu mestrado, na transição. Tinha prestado as provas de mestrado e ia ser chamado. Já sabia que era chamado em 1974 para prestar o serviço militar obrigatório. Prestei as provas no final de 1973 e já sabia que, se não tem havido o 25 de Abril, certamente prestaria o serviço militar obrigatório”.

Senhor presidente Marcelo! Quando concluiu a licenciatura, em 1971, tinha de ir cumprir o serviço militar obrigatório. Na época não existiam “adiamentos” para mestrados. Vossa excelência tinha de ir para a tropa em 1968, porque nasceu em 1948. Não foi. Tinha que ir em 1971, quando se licenciou. Não foi. Vou acreditar que o seu padrinho ou o seu papá conseguiram o milagre de o manter fora das fileiras até acabar o tal mestrado, concluído em 1973. Então na primeira incorporação de 1974, em Janeiro, tinha que ir para Mafra, fazer o curso de oficiais milicianos. Não foi. 

Quando Marcelo Rebelo de Sousa soube em Díli que tinha sido convidando pelo Nazilensly para visitar a Ucrânia, até gaguejou. Safou-se da guerra colonial e agora corre o risco de levar com um míssil russo na mona. Há dias em que um homem não pode sair de casa. Não vá, excelência, é muito perigoso! Mande o Silva da Assembleia Nacional. 

Um à parte. Em Portugal, qualquer Silva tem a confiança dos eleitores portugueses, até o Cavaco. Qualquer dia, se apresentarem um cachorro Silva às eleições, ele ganha com maioria absoluta. Eu quero ser Silva e refugiado ucraniano. Estou mesmo à rasca!

*Jornalista

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