Dupond ganhou a Dupont. Entre os dois delfins do passismo, Luís Montenegro levou a melhor. Com 72,5% dos votos, antevê-se um acentuar do discurso populista da direita, ancorado no neo-liberalismo.
AbrilAbril | editorial
Naquelas que foram as eleições directas menos participadas da história do PSD (26 946 votantes num universo de 44 628 militantes com as quotas em dia), os eleitores não tiveram dúvidas: entre o antigo líder da bancada parlamentar do passismo Luís Montenegro e o antigo Ministro do Ambiente, Ordenamento do Território e Energia do passismo, Jorge Moreira da Silva, o PSD escolheu o passismo.
O discurso de vitória do novo presidente social-democrata reflecte, aliás, a herança desse passado. Tal como Pedro Passos Coelho, enquanto não fez o exacto oposto, Luís Montenegro comprometeu-se com a luta contra o empobrecimento, em defesa daqueles que não têm acesso ao SNS, dos que trabalham e auferem reformas e pensões demasiado baixas. Este PSD será «a voz dos que recebem menos». Onde é que nós já ouvimos isto?
As promessas do passismo, de aumento das pensões e dos salários mais baixos, levou-as o vento, assim que o Governo PSD/CDS-PP se instalou para cumprir o mandato da troika, entre 2011 e 2015. Luís Montenegro já era, nessa altura, um dos mais entusiásticos promotores da política de delapidação de rendimentos: «a vida das pessoas não está melhor, mas o país está muito melhor», assumiu em 2014.
Gato escondido... ou um projecto político neo-liberal oculto atrás de uma série de narrativas (a luta contra um hipotético socialismo instalado na nossa sociedade) que, fora dos círculos mais conservadores e reaccionários, pouco ou nada reflectem a realidade portuguesa.
Montenegro garante que o PSD será, agora, «a formação alternativa política ao socialismo que nos tem governado e desgovernado nos últimos anos», «o príncipio, do fim, da hegemonia do Partido Socialista em Portugal», assumindo, desde logo, que o único projecto, aquele que verdadeiramente o motiva, é recuperar o poder, para dar seguimento ao projecto que o PSD nunca conseguiu abandonar.
«Não vamos ser cúmplices nem condescendentes com este caminho de empobrecimento», afirmou Montenegro, apenas um dia depois de o PS (com a abstenção do Livre e PAN) fazer aprovar um orçamento que confirma a perda de rendimentos de grande parte da população.
O caminho do PSD será, certamente, outro, principalmento num momento em que precisa de ressalvar os muitos problemas sociais que se vão adensar nos próximos tempos, mas o destino é o mesmo. O rumo está, aliás, patente na proposta de revisão constitucional apresentada há semanas pelos deputados sociais-democratas.
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