terça-feira, 21 de junho de 2022

Angola | A CONSTANTE NARRATIVA DA FRAUDE ANTECIPADA

Cândido Bessa* | Jornal de Angola | opinião

A medida que o dia 24 de Agosto se aproxima, intensifica-se a estratégia da vitimização e a narrativa da fraude antecipada. A postura não é nova.

O país encaminha-se para as quintas eleições da história e os discursos políticos da oposição repetem-se. O que já era rotina, desde que foi anunciado o dia das eleições, atingiu o pico na semana passada, com os líderes de cinco partidos a chamarem a imprensa (nacional e estrangeira) para dizer, entre outras coisas, que "Angola vive uma grave crise de legitimidade, credibilidade e confiança social…”. Dá para acreditar? Muitos órgãos de comunicação repetiram a frase. Televisões passaram imagens de quatro elementos, por sinal líderes políticos bem conhecidos, perfilados a ouvirem um quinto a repetir proposições do género.

Durante vários minutos, reclamaram de tudo, até da imprensa que cobria o evento. De propostas necessárias para tornar Angola num país melhor para se viver, nem uma linha. Declarações do género vão em contramão com o reconhecimento de várias entidades mundiais.

Um dia depois da exposição, o país foi aceite para integrar a Iniciativa de Transparência das Indústrias Extractivas (EITI), organismo responsável pela promoção de uma gestão transparente dos recursos de petróleo, gás e outros minerais. Num comunicado, a própria presidente da EITI refere: "ao aderir à iniciativa, Angola compromete-se em nada esconder no que se refere à divulgação de informações ao longo da cadeia de valor da indústria extractiva, desde como os direitos de extracção são concedidos, até como as receitas passam pelo Governo e beneficiam a população”.

Helen Clark destacou que Angola juntou-se à EITI numa conjuntura crítica e que a pandemia da Covid-19, a volatilidade contínua dos preços do petróleo e as preocupações com a segurança energética significam que a governança e a transparência precisam estar no centro das políticas energéticas do país.

Como segundo maior produtor em África e com uma economia fortemente dependente da produção de petróleo e gás, a decisão das autoridades angolanas de se juntar à Iniciativa de Transparência das Indústrias Extractivas, além de corajosa, mostra bem o compromisso assumido desde 2017, quando o actual Governo tomou posse.

Depois de vários anos de estagnação, a economia angolana começa a retomar o caminho do crescimento. Entidades como o Fundo Monetário Internacional (FMI), o Banco Mundial (BM), as agências de rating estimam um crescimento de 3 por cento, pouco acima das previsões do Governo.

O que o país mais precisa é de estabilidade para continuar a crescer. Seja quem for que vença as eleições de 24 de Agosto vai, certamente, encontrar um país mais bem preparado, para continuar a caminhada rumo ao desenvolvimento. Por isso, é preciso preservar a estabilidade alcançada. Todo o esforço deve centrar-se na elevação das nossas conquistas.

A economia depende de investimento nacional e privado e o investidor vive de expectativas sobre o que vai acontecer no futuro. É a lei do mercado. Angola não pode estar à margem, principalmente num momento crucial, que precisa, desesperadamente, atrair investimentos para gerar poupança interna e melhorar a vida da população.

A competição política não nos pode fazer esquecer que somos, primeiramente, angolanos. O político que não sabe ser primeiramente um cidadão não é para levar a sério. E para quem tem dúvidas em se situar no momento de escolher o político sério, o Nobel de Economia Paul Krugman dá uma dica interessante: "a melhor maneira de ajuizar o carácter de um candidato é olhar para o que ele realmente fez e para as medidas que propõe”.

*Director Adjunto

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