quarta-feira, 27 de julho de 2022

HABEMUS ACORDO. E GÁS? -- um Curto sem 'espinhas' e simplesmente gazeante

Por que se desperdiça tanto gás-pum no Ocidente?

Cristina Figueiredo | Expresso (curto)

Hoje os russos fecham mais um bocadinho a torneira do gasoduto Nordstream 1 e os fluxos de gás para a Alemanha (que, em face da crise, já reequaciona o nuclear) vão descer para 20% (desde junho que já só estavam a 40%). Coincidência que seja exatamente um dia após 26 dos 27 países da União Europeia terem chegado a um acordo para a redução do consumo de gás no continente até 15%? O Kremlin assegura que sim, diz que o corte no fornecimento se deve única e exclusivamente ao facto de o Canadá não devolver uma turbina do gasoduto (que foi para reparação naquele país), no âmbito da aplicação das sanções contra a Rússia pela invasão da Ucrânia. Mas ninguém acredita, a começar nos mercados: ontem os preços do gás subiram 20% e os preços da eletricidade, em consequência disso, também vão continuar a aumentar; já o euro voltou a cair face ao dólar. O FMI está pessimista para 2023: fala em estagnação, se não mesmo contração, da zona euro (e num dos piores crescimentos económicos mundiais desde 1980).

Neste contexto, a única boa notícia (e já não é pouco) é mesmo a Europa ter conseguido manter-se unida e responder ao uso do gás como arma diplomática por parte de Moscovo com um acordo a 26 (a Hungria ficou de fora) para um plano de poupança de gás (e consequente aceleração da libertação da dependência energética da Rússia) até à primavera de 2023. Algo que só foi possível porque as exceções (mais que muitas) permitem acomodar praticamente todas as reivindicações dos Estados-membros, a começar por Portugal e Espanha que na semana passada se prestaram ao (triste) papel de aparecer como pouco solidários, vingativos até (de tomadas de posição dos frugais durante a crise das dívidas soberanas), em relação aos países do Norte. Para compreender a "evolução" nacional é revisitar as razões para o inicial rotundo não e os argumentos, menos de uma semana depois, para o completo sim. Perdeu-se uma boa oportunidade, como se costuma dizer, para estar calado.

OUTRAS NOTÍCIAS, CÁ DENTRO...

Registou-se um excedente orçamental nos primeiros seis meses do ano: um saldo positivo de 1.113 milhões de euros, mais 8.429 do que no mesmo período em 2021, consequência, segundo o ministério das Finanças, do dinamismo da atividade económica e do mercado de trabalho. Seria motivo para festejar não fosse esse um resultado que pouco tem de estrutural: compara com a estagnação provocada pela pandemia e não leva ainda em conta o impacto da guerra da Ucrânia na economia do país.

Após mais de sete horas de reunião com o Governo, os sindicatos dos médicos conseguiram uma primeira vitória: incluir a grelha salarial dos profissionais do SNS nas negociações, dez anos depois dela ter sido discutida pela última vez.

O PSD e o aeroporto. Luís Montenegro confirma que o PSD está a ouvir personalidades e instituições sobre a futura solução para o novo aeroporto, mas desafia o Governo a avançar já com obras no atual aeroporto de Lisboa. O líder social-democrata reconheceu que vai colaborar com o Governo no processo para a tomada de decisão mas recusou-se a ceder ao que diz serem pressões para que o PSD resolva em pouco tempo o que o Executivo de António Costa foi incapaz de solucionar nos sete anos que já leva em S.Bento.

Desperdício do Estado ou, melhor dizendo, displicência do Estado. O Tribunal de Contas concluiu que a secretaria geral da Educação e da Ciência pagou indevidamente cerca de 1,3 milhões de euros por serviços de conectividade que nunca usou com computadores que já deveriam ter sido atribuídos a alunos carenciados e que ainda não o foram sequer ou foram bem mais tarde do que era suposto.

Prosseguem as bolas batidas do fundo do court entre Augusto Santos Silva e André Ventura. A segunda figura do Estado confessou-se cheia de dúvidas sobre o projeto de resolução do Chega que recomenda uma censura à sua atuação enquanto presidente da Assembleia da República e pediu um parecer à Comissão de Assuntos Constutucionais. O partido de Ventura logo emitiu um comunicado a considerar-se surpreendido e estupefacto com o que considera ser "os tiques ditatoriais" de alguém que "não tem condições de continuar como segunda figura do Estado". E assim vamos, a brincar... com coisas sérias.

O Benfica venceu a edição 2022 da Eusébio Cup, derrotando o Newcastle por 3-2. A Tribuna Expresso faz o resumo do que se passou ontem à noite no estádio da Luz aqui. Um bom incentivo para o clube português se focar na 3ª eliminatória da Liga dos Campeões, onde enfrentará os dinamarqueses do Midtjylland: a primeira mão é já na próxima semana (a 2 de agosto).

... E LÁ FORA

Um ano e meio depois de ter deixado a Casa Branca Donald Trump voltou a discursar em Washington D.C. Foi esta terça-feira, num encontro do Partido Republicano. O antecessor de Joe Biden quase que formalizou a recandidatura (nas presidenciais de 2024). Quase: sempre foi dizendo que seria uma "grande honra" voltar a candidatar-se e que o país "estará condenado" se o não fizer, mas ainda não foi desta - ao que não será alheio o facto de não pararem de sair notícias sobre a investigação que o Departamento de Justiça norte-americano está a fazer ao envolvimento de Trump na invasão ao Capitólio de 6 de janeiro do ano passado.

No Reino Unido, ficou a meio o segundo debate televisivo entre os dois candidatos à sucessão de Boris Johnson à frente do Partido Conservador (e da chefia do Governo), interrompido depois da moderadora ter desmaiado. Ia acesa a troca de argumentos entre Liz Tuss e Rishi Sunak sobre o Serviço Nacional de Saúde e os impostos quando Kate McCann colapsou em direto. O debate não recomeçou.

Os incêndios não grassam só em território nacional. Há centenas de bombeiros a combater fogos na Alemanha Oriental, na República Checa, em França e Espanha.

Quo vadis Ronaldo? O futuro de Cristiano Ronaldo permanece uma incógnita. Ontem soube-se que o jogador estava em Manchester, acompanhado do seu empresário, para discutir a sua permanência no United. Mas, segundo a SIC, nem o ascendente de Alex Ferguson sobre Ronaldo foi suficiente para o convencer a ficar na equipa.

FRASES

"[O PSD não tem] nenhum problema em ajudar o Governo a governar”
Luís Montenegro

"A minha voz não é a tua voz, Pedro Abrunhosa... Aliás, tu nunca tiveste voz"
São José Lapa, atriz, distanciando-se das críticas do cantor a Vladimir Putin

"Se eu não [me candidato] a nossa nação está condenada a tornar-se outra Venezuela, outra União Soviética"
Donald Trump, discursando em Washington pela primeira vez desde que deixou a Casa Branca, quase quase a anunciar nova candidatura à presidência dos EUA

PODCASTS A NÃO PERDER
(sugestões da equipa multimédia do Expresso)

O “banho de realidade” de Montenegro e o “banho de ética” de Santos Silva O novo líder do PSD foi a São Bento e levava um desafio: queria dar um "banho de realidade" a António Costa. Mas saiu sem palavra e Costa pintou o encontro de cor de rosa. Já Santos Silva quis dar um "banho de ética" ao Chega e acabou a pré-anunciar uma candidatura presidencial. Onde é que isto vai levar depois das férias? Oiça o último episódio do Comissão Política, que regressa no fim do Verão

É possível cortar 15% no consumo de gás? Para responder aos problemas de abastecimento de gás natural causados pela invasão da Ucrânia pela Rússia, a Comissão Europeia avançou com um plano de redução de 15% do consumo, que contou de início com a oposição de Portugal devido à seca e à reduzida produção de eletricidade de origem hídrica. Oiça a análise às implicações dessa medida neste episódio do Money Money Money.

Polónia. "Este é um momento decisivo da História e os polacos estão do lado moralmente correto" Um dos mais martirizados países europeus, sucessivamente dividido, invadido e espezinhado em guerras ao longo da História. Um dos mais importantes países do Leste europeu e atualmente perfeitamente integrado na União Europeia e na NATO. E um dos países que mais rapidamente, e de forma mais assertiva, se colocou ao lado da Ucrânia nesta guerra. O que está a acontecer na Polónia e porque é relevante falarmos dela? Uma conversa com o especialista em assuntos internacionais Henrique Burnay no podcast Bloco de Leste.

O QUE ANDO A LER (E A VER)

Gosto sempre de levar para as férias um "calhamaço" de 600 páginas (ou mais) que faço questão de ler na primeira semana, mas desta vez fui frugal na ambição e meti na mala apenas O Retorno, de Dulce Maria Cardoso. O romance é de 2011 (ganhou o Prémio Especial da Crítica e foi livro desse ano para o Público e para o Expresso), já várias pessoas mo tinham elogiado mas eu, que fiquei fã da escritora com Eliete (de 2018), fui adiando a leitura até este julho, como quem guarda um chocolate de que se gosta muito para o saborear com vagar. A espera valeu a pena: li a edição da Tinta-da-China que celebra os 10 anos da obra e confirmei que é o belo livro (por fora e, sobretudo, por dentro) que me tinham dito que era. Trata-se de um retrato tão duro quanto sensível de um tema caro à escritora (que o viveu na pele): o regresso ao país, no pós-25 de abril, daqueles a que se convencionou chamar, sem consciência da crueldade encerrada no particípio, "retornados" das colónias. Não vivi essa experiência, mas a minha melhor amiga de infância era uma "retornada". Hoje, graças a Dulce Maria Cardoso, compreendo de outra maneira o quão difícil terão sido esses anos para ela (e para a sua família).

"Antes de Elvis não havia nada", disse John Lennon e o filme de Baz Luhrmann (ainda nos cinemas) sobre o Rei do Rock'n Roll ajuda a perceber por que é que o Beatle pensava isso e com razão, passe o exagero da afirmação. A história não é propriamente justa para com a primeira superstar musical digna desse nome, de quem nos lembramos mais como o precocemente envelhecido e insuflado cantor dos anos 70 em Las Vegas que se vestia de forma kitsch, do que como o jovem branco de voz inigualável que chocou a América conservadora dos anos 50 por cantar (e dançar) como um negro. Luhrmann tenta repor essa justiça, ainda que a sua maneira de contar a história se foque sobretudo no empresário Tom Parker (magnificamente encarnado por Tom Hanks) e no domínio que este exerceu, ao que parece de forma doentia, sobre o cantor. Dá vontade de saber mais: Elvis, de Rees Quinn (só existe em e-book), ajuda, mas sabe a pouco (li-o em meia dúzia de horas). Assim, em vez de dar uma sugestão, deixo a pergunta: alguém sugere uma boa biografia de Elvis Presley?

Por fim, a não perder: Wakefield, uma série britânica de 2021, em 8 episódios. Foi transmitida pela primeira vez no início do ano, está agora a ser repetida na RTP2 (o próximo episódio passa às 0h15 de 2 de agosto). A ação situa-se num hospício em Inglaterra e a personagem principal é um enfermeiro com uma vocação enternecedora para compreender os seus pacientes, até que ele próprio começa a duvidar da sua sanidade mental. Já diz o ditado que "de médico e de louco..."

E o Curto fica por aqui. Tenha um dia bom e, se for o caso, boas férias!

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