Rafael Barbosa* | Jornal de Notícias | opinião
Recorde-se o filme dos
acontecimentos: primeiro, André Ventura expôs as suas teorias xenófobas no
Parlamento; depois, Augusto Santos Silva decidiu que, mais importante do que
manter a imparcialidade do cargo de presidente da Assembleia da República, era contrariar
ele próprio o populismo histriónico; e esse foi o pretexto para o número
circense
Recorde-se o que disse Ventura, enquanto se discutia uma proposta de alteração à Lei dos Estrangeiros: "Já temos tantos e de tantas etnias, que nós não podemos dizer a mais para virem porque já estamos a pagar demais. E às vezes os portugueses perguntam-se porque é que pagamos tantos impostos. E há uma resposta tão fácil para isso: pagamos tantos impostos porque andamos a sustentar os que cá estão e não querem fazer nada; os que querem vir e não querem fazer nada; e ainda os que querem vir ilegalmente e viver à nossa custa".
Contraponham-se os factos à mentira (ou ignorância), mas apenas relativamente aos que já cá estão (o que pensam fazer os que estão para vir, de forma legal ou ilegal, deixemos para o Zandinga da política portuguesa): segundo dados de 2020, os imigrantes entregaram 1075 milhões de euros à Segurança Social. E receberam em subsídios 273 milhões de euros. Ou seja, o saldo foi positivo em 802 milhões de euros. Dito de outra forma, no caso da população imigrante havia 64 contribuintes por cada cem residentes. É pouco? No caso dos cidadãos portugueses, eram 45. No que diz respeito a beneficiários, havia 52 em cada cem imigrantes. Demasiados? No caso dos portugueses eram 83.
A verdade é tão esclarecedora que apetece perguntar sobre quem acrescenta mais valor ao país: um grupo de 12 imigrantes nepaleses, ou brasileiros, ou marroquinos, ou ucranianos, gente que dá lucro à Segurança Social e ao Estado; ou um grupo de 12 deputados do Chega, que, afinal (e para usar o mesmo tipo de retórica de café que os próprios aperfeiçoaram), vivem à conta dos contribuintes e dão prejuízo ao Estado?
*Diretor-adjunto
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