terça-feira, 9 de agosto de 2022

Angola | AS LIÇÕES DA HISTÓRIA EM TEMPO DE ELEIÇÕES – Artur Queiroz

Artur Queiroz*, Luanda

 A História Contemporânea de Angola está mal estudada, maltratada e sobretudo falsificada. Alguns historiadores pegam num átomo da realidade angolana e massacram-no até ele jurar arrepender-se e nunca mais voltar a pecar. Alguns são honestos e os seus trabalhos valiosos. Outros usam os factos históricos como arma de arremesso contra quem não simpatizam ou mesmo odeiam abertamente. O que aconteceu em Angola durante o século XX e sobretudo depois da década de 40 não foi ainda estudado de uma forma sistemática. Seria muito importante que fosse. 

Os angolanos e o mundo precisam de saber o que fomos e quanto fizemos, pelo menos desde a Guerra dos Dembos até aos nossos dias. O 4 de Fevereiro tem de ser estudado como a nossa Matriz Revolucionária e não apenas como uma revolta de 200 patriotas armados de paus e catanas. É muitíssimo mais e só por incompetência, negligência ou má-fé esse acontecimento sublime da nossa História pode ser reduzido a folclore.

O vazio existente permite o aparecimento de todos os oportunismos e falsificações, situação desastrosa para a afirmação dos angolanos como um Povo, que em menos de meio século destruiu o império colonial português e derrotou o regime racista de Pretória. Ninguém fez mais pela honra da Humanidade e pela dignidade dos seres humanos do que o Povo Angolano sob a liderança do MPLA. 

As potências coloniais viverão para sempre com a mancha ignominiosa do colonialismo e do esclavagismo. São os países que ocuparam e submeteram povos livres em África, na Ásia e nas Américas. Venderam seres humanos como se fossem animais de açougue. Cometeram genocídios dos quais nunca mais o Homem se libertará. Destruíram culturas e modelos sociais que roçavam a perfeição. Espezinharam a liberdade com uma ferocidade inaudita.

O racismo é uma arma poderosa ao serviço das antigas e actuais potências coloniais. Tem no regime de apartheid a sua forma de governação. Sempre existiu nas colónias de todas as latitudes. Nos EUA, país que nasceu com os valores da Revolução Francesa, existiu esse regime odioso até aos anos 60. Depois ficou de pé o modelo da África do Sul, como amostra e ao mesmo tempo ameaça permanente para todo o continente africano. 

Os angolanos derrubaram-no depois de uma guerra particularmente sangrenta e destrutiva, que começou em 1975 e terminou em 2002, ano em que Jonas Savimbi acabou a sua longa carreira de genocida.

Na década de 50 nasceu o MPLA, fruto da fusão de várias organizações nacionalistas tradicionais. Até Setembro de 1974, conduziu a luta armada de libertação nacional. Venceu todos os obstáculos militares: Tropas portuguesas, tropas da FNLA, tropas da UNITA e as unidades especiais constituídas por angolanos que abandonaram a guerrilha, os TE, GE e Flechas, estes últimos criados pela PIDE/DGS e alimentados pela UNITA, quando Savimbi alugou as suas armas ao regime colonialista português. 

O MPLA, fruto das suas retumbantes vitórias na Frente Norte e na Frente Leste, tornou-se naturalmente a vanguarda revolucionária do Povo Angolano. Em finais dos anos 60, a FNLA estava definhada e quase morta. A UNITA alugou as armas aos colonialistas até ao 25 de Abril de 1974 e ao regime racista de Pretória, depois da Independência Nacional. A coerência do MPLA deu frutos. Nunca uma organização política teve tanto apoio popular. 

O caminho vitorioso do movimento tinha de ser travado a todo o custo, pelas grandes potências. E no percurso surgiram dissidências, deserções, golpes mais ou menos armados, enxurradas de mentiras e calúnias contra a direcção e o seu programa revolucionário. 

Agostinho Neto, o líder do MPLA que desenvolveu a luta armada até à vitória final, tantos anos depois da sua morte continua a ser vítima de calúnias soezes e mentiras chanceladas por filhotes do colonialismo ou os amargurados da queda do império que ia do Minho a Timor. Salazaristas ressabiados, racistas disfarçados de historiadores e órfãos dos bons velhos tempos coloniais deitam mão a todos os truques baixos e todas as trapaças, para denegrirem a figura do primeiro Presidente de Angola.

A UNITA tem o cordão umbilical ligado aos generais do fascismo e ao ditador Marcelo Caetano. Depois cresceu à sombra do apartheid. Apesar de a sua direcção ter furado o bloqueio da comunidade internacional ao regime de Pretória, o movimento existe. Nzau Puna um dia disse-me que o problema de Savimbi eram as bebedeiras e a droga. Seria. Mas o que Jorge Valentim e Bela Malaquias descrevem nas suas obras históricas e literárias, merece uma reflexão séria sobre a UNITA na sua essência, hoje que se afirma “alternância” de poder. 

O eleitorado tem que saber esta verdade nua e crua: O partido liderado por Adalberto da Costa Júnior oferece aos angolanos, como alternativa política, o regresso do colonialismo, a instauração do regime de apartheid a todas e todos que não sejam do Galo Negro, o regresso da guerra sem quartel, a morte, a destruição, o roubos generalizado dos diamantes de sangue, a transformação de Angola num supermercado de ladrões de diamantes, traficantes de drogas duras e de marfim, como faziam na Jamba.

A escolha é fácil de fazer. Foi fácil em 1975, quando um povo inteiro se colocou ao lado do MPLA e sob a sua bandeira lutou contra os exércitos invasores. Hoje é ainda mais fácil. Temos milhões de jovens conscientes, politizados, formados, prontos para atirar com os traidores e oportunistas para o caixote do lixo da História Contemporânea de Angola. 

A Juventude Angolana está decidida a dar uma lição eleitoral aos falsificadores, aos que viraram as armas contra a Independência Nacional. Aos que trocaram a soberania e a integridade territorial por um punhado de dólares e de rands.  

Se ninguém estragar o que está feito, os accionistas da Sociedade Civil em consórcio com a UNITA vão levar a maior tareia eleitoral de que há memória, desde que existem eleições e partidos no mundo. Em 24 de Agosto, as angolanas e os angolanos vão dar mais uma grande lição de dignidade e amor à democracia. Esperem para ver.   

*Jornalista

1 comentário:

Anónimo disse...

Esperem para ver!
Boa tarde Sr. Queiroz, espero que estejas a gozar de boa saúde.
Esperem para ver:
- Fome
- Pobreza
- Má qualidade de ensino
- Saúde péssima
- Corrupção institucionalizada
Em fim... Com o MPLA no poder é isso que vamos continuar a ver porque a história que nos foi contada é um tremendo fiasco do regime e nós jovens vamos mostrar que estamos dispostos a fazer o que os mais velhos não foram capazes de fazer tirar o MPLA do poder e depois construir uma Angola para todos, porque ainda não é.
É daqueles como o Sr. que corrobora com as injustiças dos governantes, os egoístas, apáticos com o sofrimento do povo.

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