quinta-feira, 18 de agosto de 2022

Angola | O BAIRRO KILAMBA E A MAYOMBOLA -- Artur Queiroz

Artur Queiroz*, Luanda

Os accionistas da Sociedade Civil em consórcio com a UNITA mereceram três segundos de atenção do cabeça de lista do MPLA, João Lourenço. Tempo precioso perdido. Mas justificado. Eles andam desde o início da campanha preocupados com o voto dos mortos. Alguém por piedade, obra de misericórdia, tinha que lhes explicar que os mortos não votam. Nem voltam da Mayombola, vivos mas frios como pele de osga, olhos baços e mortiços como o criminoso de guerra Jonas Savimbi quando teve o encontro fatal com o longo braço da Lei.

Os mortos morrem mesmo. Mas os sicários têm medo que voltem, votem e lhes apresentem contas. Se os milhares de angolanos mortos pela UNITA durante a guerra colonial, em sociedade com as tropas de ocupação, ressuscitarem, de certeza que vão ajustar contas com os seus matadores. 

Se os milhares de angolanos mortos pela UNITA durante a transição, em 1974, quando Savimbi alugou o movimento e as armas os independentistas brancos ressuscitarem, o ajuste de contas vai ser terrível. Não fica um para amostra.

Se os milhares de angolanos mortos pela UNITA por conta dos racistas de Pretória ressuscitarem, o ajuste de contas vai ser descomunal. Nem um fica para contar como foi. Vão, finalmente, ter o destino merecido. Angola deve ser o único país do mundo onde os assassinos se sentam nas cadeiras do Poder como pessoas de bem e ainda reclamam!

Se os milhares de angolanos mortos pelos sicários da UNITA, por selvajaria de Jonas Savimbi, na Jamba, todas e todos militantes do Galo Negro ressuscitarem, o Abel Chivukuvuku volta a pedir socorro ao Executivo e esconde-se num quartel das FAA até a mortandade voltar para as sepulturas. 

Não, accionistas da Sociedade Civil em consórcio com a UNITA, os mortos não votam. Nem regressam da Mayombola, o mundo dos eternos defuntos, desterro de pobres escravos condenados a escavar montanhas até à raiz da eternidade. Da morte não regressa ninguém, mesmo quando o Sol se extinguir e raiar a última aurora na imensidão da Mayombola. Estou a exagerar. Eu voltei. E na réstia do último clarão estava a minha amada. Deu-me um beijo e desde então, nunca mais morri. Magia! Magia! 

Os mortos não votam. E se votassem era no MPLA. Sem necessidade nenhuma, porque os vivos chegam e sobram para darem a maior tareia eleitoral de que há memória, aos accionistas da Sociedade Civil em consórcio com a UNITA. 

Tristezas não pagam dívidas e os mortos não falam, não votam nem se vingam dos matadores do Galo Negro. Mas isso não significa que não tenhamos de estar vigilantes. Um amigo do peito criticou-me porque, segundo ele, estou a tratar a UNITA como se fosse a mesma que se aliou aos colonialistas e disparou contra o Povo Angolano para impedir a Independência Nacional. Ou ainda é a mesma que Jonas Savimbi alugou ao regime racista de Pretória. A das fogueiras da Jamba onde foram queimadas vivas, as elites femininas do movimento. Ou a mesma da rebelião que terminou em Fevereiro de 2002.

Meu caro camarada. Lamento muito desiludir-te mas a UNITA de hoje é ainda pior. Porque se aliou aos mais perigosos gangues das nossas grandes cidades. É o abrigo dos maiores bandidos de Luanda. Tudo quanto é marginal, alinha na tropa de choque do Galo Negro. Mas além dos bandidos armados¸ saqueadores, ladrões, salteadores à mão armada, desordeiros, vândalos, também é refúgio do pior banditismo de colarinho branco, como é exemplo gritante, o filho do Gentil Viana. Ao inimigo nem um palmo de terra. Vigilância camaradas. Não podemos ser surpreendidos como em 1992. À primeira quem quer cai, à segunda só cai quem é burro, mesmo que fale como gente.

Quando há dúvidas, nada melhor do que visitar a História. Os guerrilheiros do MPLA tinham as suas posições consolidadas na Frente Leste e a direcção do movimento decidiu levar a guerrilha ao Planalto de Malanje. Porque uma vez criadas bases nessa província, tinham Luanda à vista, usando o caminho-de-ferro. Era uma forma de reforçar a isolada I Região. Jonas Savimbi e a sua associação de malfeitores ajudaram os colonialistas a impedir essa vitória. Perguntem ao General Ndalu, ele explica os pormenores.

A direcção do MPLA decidiu levar a guerrilha ao Planalto Central para aí criar bases sólidas e abrir uma frente para o mar. O comboio era o instrumento ideal para as forças da guerrilha chegarem ao Lobito. Os colonialistas impediram a operação com a ajuda da UNITA, que disponibilizou aos Flechas da PIDE os seus dois melhores comandantes: Os majores Pedro e Sachilombo, fundadores do movimento e membros do grupo inicial que fez treino militar na República Popular da China. A UNITA aliou-se aos independentistas brancos para impedir o processo de descolonização. Debandada geral em 1974 e 1975.

Assim ficámos sem gente até para conduzir táxis e camiões. Pesar um quilo de fuba nas cantinas. O Galo Negro atrasou o desenvolvimento de Angola mais de cem anos. Agora, em consórcio com os accionistas da Sociedade Civil, quer impedir a recuperação do tempo perdido. Vão receber nas urnas de voto a resposta que merecem: Tareia eleitoral como nunca se viu.

A RTP mandou uma empregada da limpeza para “cobrir” as eleições. A rapariga só fala de fome, fome, fome. Ó filha daqui não levas nada. Para ti, o que queres, está murcho. A TVI/CNN Portugal mandou um rapaz descabeçado que fala na República Popular de Angola. Hoje foi à Centralidade do Kilamba e disse que “estou aqui no bairro Kilamba”

Ninguém lhe explicou que Angola é o único país do mundo que em plena guerra de agressão estrangeira, além de defender a Soberania e a Integridade Territorial , os governos do MPLA lançaram a Reconstrução Nacional. Construíram novas cidades. U:ma delas é a Centralidade do Kilamba. Para o rapazola perceber, digo-lhe que em Portugal, só Lisboa tem mais habitantes do que aquele “bairro”. Uma cidade nova, construída de raiz, com todas as infra-estruturas. Fui informado que tem hoje 250 mil habitantes. A segunda cidade portuguesa, o Porto, tem 215 mil! Mandam-nos uma empregada da limpeza e um analfabeto “cobrir” eleições. Falta de respeito!

*Jornalista

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