Luciano Rocha* | Jornal de Angola | opinião
O tempo entre o anúncio da composição dos novos parlamento e Executivo, bem como dos governadores provinciais é curto para tirar grandes ilações, embora uma ou outra frase, mesmo palavra, ouvida ou lida, possam entreabrir portas de esperança.
As primeiras expectativas de eventuais ventos de mudanças foram criadas, uma vez mais, por João Lourenço, quando, implícita ou explicitamente, referiu a necessidade de melhor comunicação, consciente de que a falta dela caracterizou os últimos tempos do anterior Governo, com resultados nefastos, designadamente para ele próprio, o partido a que preside, acima de tudo e todos, o país.
A alguns dos mais atentos ao que lhes é dado observar ao escutarem ou lerem as frases do reeleito Chefe de Estado e Executivo veio à memória o discurso que fez na tomada de posse do mandato anterior, que provocou onda de esperança renovada entre a esmagadora maioria dos angolanos. Foi, na altura, mais do que um toque do render da guarda. Constituiu o anúncio de novo renascer da alvorada tingida, durante excessivo período, pelo cinzento das noites cacimbentas e frias que atingem, principalmente, aqueles cujos salários - os que os tinham e recebiam - não permitiam "luxos”. de aquecedores, sequer atear fogueiras.
Verdade é que, por causas conhecidas, a esperança da nação angolana voltou a esmorecer. Umas vezes previsivelmente, pois conhecidas a tempo pelos exemplos vindos de fora, mas inevitáveis num país falho, em quantidade e qualidade, de serviços e servidores. Alguns exemplos? Desvalorização do petróleo - uma das riquezas da nossa desgraça -, logo, por arrastamento, da moeda; surgimento da Covi-19, com efeitos evidentes que se juntaram às do paludismo, atulhando cemitérios; instalação de unidades sanitárias, aquisição de fármacos e material para as tornar eficazes; crise económica e financeira que varreu o Globo de um extremo ao outro. A lista podia continuar, mas não cabia no espaço da crónica.
Todo aquele amontoado de desditas pode ter feiro abrandar o cerco aos responsáveis pelo desbaratamento da coisa pública, que o tomavam como deles, iniciado logo a seguir à primeira tomada de posse de João Lourenço como Chefe de Estado e do Executivo, quando a preocupação imediata era apanhar "os cacos”, que restavam da "grande farra”, para os tentar colar.
Aquela atitude surpreendente - coroada com as primeiras detenções pouco tempo após a posse de há cinco anos - redobrou a confiança do angolano comum em mudanças reais neste país adiado, que, contudo, parece terem abrandado ainda antes da Covid-19. Talvez por ter perdido o impacto da novidade, o que não tem de reflectir falta de investigação. Outra hipótese a considerar é a tal falta comunicação - ou deturpada, acrescentamos nós - na verdadeiro sentido significação, ventilada, agora, por João Lourenço . Causas à parte , ressurgiu a desvergonha, a destapar trunfos viciados de baralhos batoteiros dos mesmíssimos jogos, especialidades, em Angola e fora dela, da pequena burguesia impreparada e derivados incapazes de esconderem vaidades bacocas.
O momento que vivemos não é de euforias devido às perseverantes debilidades e causas que as mantêm, mas, outrossim, pelas que podem estar para vir. É que Angola, estranhamente ao que alguns demonstram, não é bolha isolada do Mundo, logo da turbulência que o sacode. Fossemos o país que já podíamos ser e as consequências do que aí vem não eram tão espinhosas. Mas, não somos e se a solução dispensa choros sobre "leite derramado”, jamais será procurar esconder verdades, enfeitá-las com ramos de bajulice. O combate à corrupção e nepotismo está acima de tudo, é umas das pedras dos alicerces da Verdade, que dispensa o culto de quem é medíocre.
As expectativas de mudanças recentemente lançadas reanimam expectativas, mas também receios fundamentados.
*Jornalista
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