quinta-feira, 29 de setembro de 2022

A Organização de Cooperação de Xangai satisfaz a aspiração de cooperação global

Martinho Júnior, Luanda

QUANDO A CONFIANÇA É A INTELIGÊNCIA DOS BURROS…

… HÁ QUE ACABAR COM A ONU, PORQUE ESTÁ CONTAMINADA PELA HEGEMONIA UNIPOLAR E POR ISSO NÃO MAIS RESPONDE PELA SUA PRÓPRIA CARTA.

NÓS, OS POVOS DAS NAÇÕES UNIDAS, DECIDIDOS: 

A preservar as gerações vindouras do flagelo da guerra que por duas vezes, no espaço de uma vida humana, trouxe sofrimentos indizíveis à humanidade; 

A reafirmar a nossa fé nos direitos fundamentais do homem, na dignidade e no valor da pessoa humana, na igualdade de direitos dos homens e das mulheres, assim como das nações, grandes e pequenas; 

A estabelecer as condições necessárias à manutenção da justiça e do respeito das obrigações decorrentes de tratados e de outras fontes do direito internacional; 

A promover o progresso social e melhores condições de vida dentro de um conceito mais amplo de liberdade…

Carta das Nações Unidas – https://iusgentium.ufsc.br/wp-content/uploads/2016/08/CARTA-DA-ONU.pdf

O “HEGEMON” AMARRA CADA VEZ MAIS CURTO A PRÓPRIA ONU

A cada Assembleia Geral da ONU anual fica espelhado quanto o “espírito competitivo” contaminou a Organização das Nações Unidas, pondo em causa a sua própria Carta!

O domínio da hegemonia unipolar subverte e reinterpreta em função de interesses, de conveniências e de regras que satisfazem exclusivamente a tentativa de perpetuar o domínio de 1% sobre o resto da humanidade.

Agora que a Organização de Cooperação de Xangai ganha um novo vigor dialético, precisamente por causa do que o “espírito competitivo” em si encerra nos termos das cargas de egoísmo, exclusivismo e elitismo, em prol do domínio que se distende não só mas também pelo “soft power” pungente dum “ocidente” alienado “anglo-saxonicamente” do resto da humanidade, a obsolescência da ONU fica nua aos olhos Não-Alinhados de todo o Sul Global e da consciência dos povos europeus quando se apercebem o que os está a arrastar para um abismo compulsivo que afinal é além do mais, com toda a irracionalidade, contra a vida tal e qual a conhecemos!

Salazar e Caetano por exemplo, em seu tempo não conseguiram entender que os poderes que determinaram o fim do “Mapa-Côr-de-Rosa” (fim esse que influenciou o nascimento da república em Portugal, com a tragédia da monarquia), eram os mesmos poderes favoráveis ao fim do colonialismo a fim de filtrarem as independências segundo pressupostos económicos e financeiros de natureza neocolonial que aliás se esbatem hoje na ONU em função do peso do “hegemon”!

A situação agravou-se com o síndroma do golpe EuroMaidan na Ucrânia, o cúmulo do cinismo e da hipocrisia irresponsável e irracional do “ocidente” na exclusão russofóbica e na tentativa de criar um “apartheid global”, a acrescentar a tantas provas de irracionalidade ao fabricar tanta injustiça histórica!

Qualquer que seja os parâmetros de abordagem à essência do desvirtuamento da ONU, em relação à sua própria Carta, a única conclusão possível é radiográfica, por que nos dá a dimensão do quanto a ONU se tornou visceralmente obsoleta, manipulada e até malparada.

No fundo já mais nada pode ser como de costume!

Quantas Assembleias-Gerais anuais vão ser ainda necessárias para se dar a ruptura legítima e digna que já é possível e premente em nossos dias?

A COOPERAÇÃO, A SOLIDARIEDADE E O SOCIALISMO, DIGNIFICAM, ÉTICA E MORALMENTE, A LUTA CONTRA O SUBDESENVOLVIMENTO

O Sul Global, de facto herdeiro sequencial da escravatura, do colonialismo e da arrogância antropológica-cultural de séculos, a arrogância incapaz de descolonização mental, constata hoje que a liberdade responsável e coerente, a independência e a soberania, não mais se poderá confinar ao fim do colonialismo, face aos pressupostos da equação da hegemonia unipolar!

Com o fim do colonialismo os estados emanados da vontade dos povos no Sul Global, arcaram com o ónus da sua administração, dos seus instrumentos de poder, do seu entrosamento identitário com as culturas de nações (e dos povos) que, quantas delas (as nações), são resultado de artifícios de outros, como o caso do continente africanos ainda hoje preso por definição ao “diktat” da partilha inerente à Conferência de Berlim…

Os que ficaram com as rédeas do domínio desde os tempos da Revolução Industrial, impõem tudo o mais, desde as regras de relacionamento económico e financeiro, até aos ambientes sociopolíticos de seu (ilegítimo) interesse e por isso alimentam a “competividade” de sua exclusividade enquanto conveniência egoísta, evitando a cooperação que é um atributo para todos, em especial quando houver motivação também de solidariedade, respeito no relacionamento e coerência na luta comum apta a vencer o subdesenvolvimento e trilhas caminhos de desenvolvimento sustentável…

Esse tem sido também o “pecado original” da Commonwealth, por mais aliciantes que dissemine o espectro “soft power” anglo-saxónico!

O neocolonialismo não sendo pois “letra morta” é a cultura sociopolítica e económica que actualmente está também no sangue venoso da ONU, numa altura em que irrompe, em que emerge, o sangue arterial da Organização de Cooperação de Xangai, cultora de diálogo e de busca incessante de consensos!

A CONFIANÇA É A INTELIGÊNCIA DOS BURROS

Agora é não só possível ganhar-se consciência sobre as razões profundas da armadilha neocolonialista eminentemente anglo-saxónica com a qual há que romper com dignidade, ou não estejamos em pleno século XXI, quando os balanços e as avaliações de largo espectro se tornam mais profícuas que antes, num momento em que o próprio planeta, em função do que se incrementou com a Revolução Industrial, se está a tornar cada vez mais exangue e impróprio para a vida tal e qual a conhecemos!

Com todos os alertas em estilo “show off” que têm sido feitos, a ONU não mais satisfaz, por causa de suas práticas indexadas ao domínio da hegemonia unipolar, que contrastam dialeticamente com as práticas dos que já estão a realizar, num ambiente Não-Alinhado, o “espírito de Xangai”!

Então a confiança depositada na ONU esvai-se perante um exercício que evita ou subverte o diálogo, evita ou subverte a busca incessante de consensos, evita ou subverte abordar as amplas necessidades de se construir uma humanidade apta a tratar da segurança vital comum, por respeito à vida e à Mãe Terra, desiderato que obriga ao fim do neocolonialismo!

Em África, por exemplo, a construção da Grande Barragem do Renascimento Etíope (GERD) no Nilo Azul, carece de diálogo constante em busca de consensos, pelo menos entre a Etiópia, o Sudão e o Egipto, tal o tipo de entendimentos, conhecimentos e cooperação que o projecto e a exploração da barragem, obrigam.

O que tem sido feito para o concerto do diálogo tem demonstrado inoperância e isso é fruto da mentalidade neocolonial que advém do passado próximo, inerente à própria ONU!

A confiança na ONU, quando emerge uma organização aberta à cooperação e a evitar a competividade, é a inteligência dos burros e se, colocando de lado os acordos dos tempos coloniais, os interessados se sentassem, conversassem a acertassem as agulhas entre si, provavelmente nunca teria existido a rebelião no Tigre, na escala em que ela acontece!

Então porquê apostar-se mais nos critérios da ONU e não partir para o reencontro com aqueles que estão dispostos a dignificar a humanidade no que lhe é cultural e sociopoliticamente mais legítimo, identificando todos os povos na via da lógica com sentido de vida que a ONU está cada vez mais incapaz de trilhar?

Nem os deuses podem mais estar loucos!

Círculo 4F, Martinho Júnior, 24 de Setembro de 2022

Duas imagens sobre a construção da Grande Barragem do Renascimento Etíope, recolhida entre as cartas e as imagens disponíveis no Google Earth.

Alguns textos para consultar:

. A intrincada luta pela África: o legado da União Soviética versus o colonialismo ocidental – https://www.middleeastmonitor.com/20220806-the-intricate-fight-for-africa-the-legacy-of-the-soviet-union-vs-western-colonialism/;  

. A África está testemunhando uma nova guerra fria à medida que o conflito na Ucrânia se arrasta? – https://www.middleeastmonitor.com/20220908-is-africa-witnessing-a-new-cold-war-as-the-ukraine-conflict-drags-on/;  

. Último discurso de Putin resumiu concisamente o estado do jogo estratégico na Ucrânia – https://paginaglobal.blogspot.com/2022/09/ultimo-discurso-de-putin-resumiu.html

. Organização para Cooperação de Xangai expande adesão e apelo internacional – https://paginaglobal.blogspot.com/2022/09/organizacao-para-cooperacao-de-xangai.html

. GERD – Etiópia – https://www.hidasse.gov.et/;

. VISÃO DAS BARRAGENS DE ÁFRICA – DW – https://www.dw.com/pt-002/as-maiores-barragens-de-%C3%A1frica/g-37932892;

. Egito, Etiópia e Sudão chegam a acordo final sobre o enchimento de Renaissance Dam – https://www.monitordooriente.com/20200216-egito-etiopia-e-sudao-chegam-a-acordo-final-sobre-o-enchimento-de-renaissance-dam/.

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