O verso e o reverso predominam
Agora por Expresso: Avisando que também no Expresso – como em tantos outros jornais e revistas – não há almoços grátis, deparámos com um texto sobre uma “conversa” com um jornalista russo que para muitos declara o impensável. Chamamos a vossa atenção para isso. Lá vai um excerto (de borla) e só depois esbarramos no Curto do Expresso. Vale sempre o trabalho de saber ler nas entrelinhas e até perscrutar o que nem referem. Pensar e dividir as “águas” é muito importante. Amanhem-se e meditem naquilo que diz o tal jornalista russo, incluindo nas entrelinhas e no que omite por falta de tempo e de espaço. Para além de tudo isto lembrem-se que mal sobrevivemos por entre guerras que nunca nos dão paz. É a isto que chamam vida?
Boa semana para todos é o que desejamos mas... Parece impossível vir a ser realidade. - (PG)
GUERRA NA UCRÂNIA
"Converso com mães de soldados que morreram e elas apoiam Putin. Têm raiva, mas é dos ucranianos": o relato de um jornalista na Rússia
O jornalista russo Vladimir Sevrinovsky encontrava-se em Moscovo - a sua cidade natal - quando aceitou falar com o Expresso por videochamada. Em poucas horas, partiria para o Daguestão, onde as ruas começam a ser palco de manifestações acesas contra a mobilização parcial determinada pelo Kremlin. Nesta entrevista, Vladimir Sevrinovsky explica o que leva os voluntários para a guerra: nas regiões mais pobres, e com mais baixas registadas, a motivação é sobretudo poder pagar os empréstimos (L€R AQUI)
Há uma hora - Catarina Maldonado Vasconcelos
A guerra fora do campo de batalha
Raquel Moleiro | Expresso (curto)
Bom dia
Antes de mais, um pedido: o Expresso está a recolher a opinião dos seus
leitores, para entender melhor as suas necessidades, valores e preferências. Se
puder, ajude-nos e responda a este questionário, entrando por aqui. Obrigada.
Agora a atualidade. Mesmo passados 217 dias desde o início da guerra da Ucrânia, a invasão russa ainda abre noticiários,
já não tanto com os avanços e recuos na frente de batalha mas com as manobras
políticas com que Moscovo tenta reforçar o seu poder nas províncias
ocupadas e no braço de força com as potências internacionais que apoiam
Zelensky. Como se as recentes derrotas no terreno, com a perda de cidades
importantes e a necessidade da mobilização de reservistas, tivesse levado Putin
a uma urgência de legitimar o que já fora conquistado e, por arrasto,
a sua liderança.
Os referendos à integração na Federação Russa das regiões ucranianas
de Donetsk, Lugansk, Zaporíjia e Kherson terminaram ontem, e logo os resultados
provisórios foram divulgados pelo Kremlin: 97% dos habitantes concordam. 0% de
surpresa. O anúncio oficial da anexação deverá ser feito pelo líder russo, na
próxima sexta-feira, no discurso à Nação agendado no Parlamento. Não é difícil
de imaginar o tom vitorioso, apesar de só Putin reconhecer a legitimidade
das votações.
Numa declaração por videoconferência ao Conselho de Segurança das Nações Unidas
(ONU), o presidente ucraniano garante que os eleitores “foram forçados a votar
sob a mira de armas” e que os resultados “foram escritos com antecedência”. “A
anexação dos territórios é a violação mais brutal da Carta das Nações Unidas”,
disse. E não falta quem concorde com ele. A subsecretária-geral para Assuntos
Políticos e de Consolidação da Paz da ONU, Rosemary DiCarlo, afirmou já que tal
consulta “não pode ser chamada de expressão genuína da vontade popular”. O
secretário-geral da NATO, Jens Stoltenberg, chamou-lhes “referendos fictícios”,
“ilegais”, “violação flagrante do direito internacional” e reiterou a Kiev o
apoio dos aliados ao direito à autodefesa da Ucrânia. Em Portugal, o ministro
dos Negócios Estrangeiros, João Gomes Cravinho, alinhou pelo mesmo tom. “[Os
referendos] não têm nenhum valor. Estes resultados não serão reconhecidos
por ninguém”.
Mas Putin avança, surdo a tudo. O crescimento territorial da Rússia alimenta a
ideia de vitória que tanto precisa de passar ao seu povo, em polvorosa com a
mobilização de reservistas. Multiplicam-se manifestações –
principalmente de mulheres, mães e esposas -, a destruição de postos de recrutamento
e as fugas de milhares de jovens já convocados ou em risco de
integrar a lista dos 300 mil, a caminho da Finlândia, Mongólia, Cazaquistão,
Geórgia, Arménia, Bielorrússia, Uzbequistão, Letónia, Lituânia, Estónia,
Polónia, Azerbaijão e Sérvia. Há filas de dias nas estradas até às
fronteiras, a lembrar a saída dos ucranianos em fevereiro, aquando da
invasão. Agora a guerra chegou também à porta dos invasores.
Os voos diretos de Moscovo para Istambul, Yerevan, Toshkent e Baku, as capitais
dos países que permitem aos russos a entrada sem visto, esgotaram-se para a
semana seguinte ao anúncio. Fala-se em cerca de 200 mil
Mas mais do que alimentar o ego de um ditador, a anexação oficial dos
territórios ucranianos tem outro efeito perverso. Tornam-se Rússia. E qualquer
ofensiva ou tentativa de recuperação por parte das tropas de Kiev será visto
como um ataque à Pátria. E aqui entra a ameaça nuclear. Ainda ontem,
Dmitri Medvedev, vice-presidente do Conselho de Segurança da Rússia,
justificava o direito ao uso de armas nucleares, se necessário: “Se nós ou os
nossos aliados formos atacados com esse tipo de armas. Ou se a agressão com o
uso de armas convencionais ameaça a própria existência do nosso Estado”.
O Reino Unido e os Países Baixos responderam com mais sanções contra os
russos, os EUA estão dispostos a tomar idêntica medida se a anexação se
concretizar e a UE está já a trabalhar num sétimo pacote sancionatório. Mas a
atenção dos aliados está desde ontem também focada no Báltico, onde se suspeita
de sabotagem na origem das fugas de gás do gasoduto Nord Stream. As autoridades alemãs,
dinamarquesas e suecas estão a investigar a origem das explosões nos locais.
“Qualquer interrupção deliberada da infraestrutura energética europeia ativa é
inaceitável e levará à resposta mais forte possível”, anunciou Ursula von der
Leyen. Tão depressa não haverá Paz.
OUTRAS NOTÍCIAS
O Governo lança esta quarta-feira o projeto da nova linha férrea de alta velocidade
Porto-Lisboa, que pretende ligar as duas cidades em 1h15 sem paragens. Mas só
em 2030, se o calendário de obra for cumprido.
O futuro aeroporto de Lisboa também deu mais um passo em frente, mas
ainda não foi desta que se decidiu a localização – só no final de 2023. “Quem esperou 50 anos, espera mais um”, justificou António
Costa. Amanhã, em Conselho de ministros, será aprovado o conjunto inicial de
diplomas necessários para iniciar o processo e que impedem, por exemplo, o veto
dos municípios sobre aeródromos de interesse nacional. Para já avançam as
autorizações para que a ANA arranque com as obras na Portela, as mesmas
que José Luís Arnaut acusa o ex-ministro das Finanças,
João Leão, de ter bloqueado.
O Ministério da Educação está a adjudicar 7500 juntas médicas para
vigiar “alguns padrões de baixa relativamente irregulares” de professores,
anunciou o ministro João Costa. Por semana chegam cerca de mil pedidos para a
colocação de docentes para substituir baixas médicas. Fenprof estima que haja
mais de 100 mil alunos sem todos os professores atribuídos.
Acordo de Rendimentos chega esta quarta-feira aos parceiros sociais. Saiba aqui o que une e o que separa patrões, sindicatos e
Governo.
A crise energética antecipa um Natal a meia luz. O plano de poupança de energia ontem publicado em Diário
da República prevê que iluminação festiva só funcione entre as 18h e a
meia-noite. Entre outras medidas, é também recomendada a adoção do
teletrabalho, quando viável, e a redução da velocidade máxima nas
estradas para
Governo espanhol “interrompeu transferência” de água do rio Douro para
Portugal e considera que nalgumas bacias hidrográficas vai ser “complicado cumprir integralmente o Acordo de
Albufeira”.
O Juiz Pedro Correia vai manter-se à frente da instrução do caso BES e
será ele a decidir quem vai ou não a julgamento. O Supremo Tribunal de
Justiça recusou “liminarmente” o pedido do advogado Tiago Rodrigues Bastos, que
representa dois arguidos, e nem analisou o requerimento. As inquirições das testemunhas foram entretanto adiadas um
mês, a pedido do juiz, o que pode levar à prescrição dos crimes de dois
arguidos.
Esta quarta-feira, Manuel Vicente, ex-vice presidente de Angola, deixa
de estar abrangido pela imunidade para titulares de cargos públicos, que durou
cinco anos. Agora a PGR angolana terá de tomar uma decisão legal sobre
as acusações que impendem sobre o antigo governante, nomeadamente enquanto
arguido na Operação Fizz em Portugal, mas também como implicado em “um terço”
da acusação no caso dos negócios dos generais angolanos ‘Kopelipa’ e ‘Dino’ com
empresários chineses.
A quatro dias das eleições brasileiras, as sondagens dão vitória a Lula da
Silva. Em Portugal, há 80 mil eleitores recenseados para votar. Os mais ricos
votam mais Bolsonaro. Os mais modestos votam contra o atual presidente, sejam
ou não petistas. Até à boca das urnas, o Expresso dá voz a uns e outros, na primeira pessoa.
O furacão Ian está cada vez mais forte, atingiu o nível 3 e pode já ter
subido até ao 4 (de 5) quando chegar hoje à Flórida, nos Estados Unidos,
agigantado pelas águas quentes do Golfo do México. Antes passou pela costa norte de Cuba, com ventos de
Após a vitória da extrema-direita nas legislativas de Itália, a velha
guarda da Liga Norte “pede a cabeça” de Matteo Salvini, o populista que chegou a vice-primeiro-ministro. Política à parte, o país aplaude
em uníssono a italiana Samantha Cristoforetti que esta quarta-feira
se torna a primeira astronauta europeia a assumir o comando da
Estação Espacial Internacional.
Em Espanha, como em Portugal, a violência doméstica também mata. Em 24 horas, duas mulheres foram assassinadas pelos maridos,
que depois se suicidaram. Um crime ocorreu em Benidorm, outro
No futebol, Portugal perdeu com a Espanha por 0-1, em Braga, e está fora da fase final da Liga das Nações. Tal como há um
ano, contra a Sérvia, Portugal só precisava de um empate. Tal como há um ano,
não aproveitou.
FRASES
“A inflação vai ser mais elevada e menos temporária do que esperávamos há um
ano”.
Mário Centeno, Governador do Banco de Portugal (BdP), durante o discurso de
encerramento da conferência ‘O impacto da nova ordem mundial na economia
europeia’ no CCB.
“SIRESP não teve falhas nos dois grandes incêndios do verão, apenas
constrangimentos”
José Luís Carneiro, ministro da Administração Interna, durante a audição no
Paramento
“Não é uma ameaça, muito menos um aviso, é uma previsão. Ou uma destas na
testa. A vossa escolha é fácil. Não vamos gastar mais munições com envelopes”
Mensagem acompanhada de uma bala, dentro de um envelope, recebida pelo
presidente da Câmara da Póvoa de Varzim, pelo vice-presidente e pelo presidente
da Assembleia Municipal. Ocorrência estará ligada à demolição da Praça de Touros, iniciada segunda-feira.
“Saber que morreram mais de mil pessoas em Portugal devido às ondas de calor é
de partir o coração”
David R. Boyd, relator especial da ONU para os Direitos Humanos e o Ambiente,
em entrevista ao Expresso
“O sangue dos uigures não devia tornar a China economicamente forte”
Rushan Abbas, ativista norte-americana uigur, durante uma visita a
Portugal
“Agora os meus (4) filhos poderão ter uma vida mais digna”
Carmen Torres, mulher de um médico argentino que morreu de covid a combater a
pandemia num hospital de Barcelona. Espanha concedeu-lhe a nacionalidade, como agradecimento.
SUGESTÕES DE PODCASTS
Que
fazer quando o alarme dispara? Ooommm, nada de alarmismos. Gelo nos pulsos
e avisos avulsos nesta reunião do podcast da Comissão Política, com Vítor
Matos, Eunice Lourenço, Rita Dinis e Hélder Gomes
O
VAR que falava outra língua e o penálti “por instinto” de Ronaldo. Como
ainda existem países sem vídeo-árbitro, a UEFA aproveita a presença de algum
árbitro em Nyon, na sua sede, para trabalhar e fazer “alguns jogos seguidos”,
explica Duarte Gomes em A Culpa é do Árbitro
Marcelo
anda nervoso com as contas públicas. Tem razões para isso? Como estão as
contas e que caminho devemos seguir? Paulo Baldaia conversa com Miguel Lebre de
Freitas, professor da Nova SBE, no Expresso da Manhã
O QUE ANDO A LER
Diário de Um Sem-Abrigo, de Jorge Costa (Oficina do Livro)
Não é raro ler obras de autores que já morreram, principalmente os clássicos. E
não se pensa nisso ao avançar pelas páginas. Mas o livro de Jorge Costa,
autobiográfico, de experiência feita, dói mais – porque dói mesmo - sabendo que
ele já não está cá, que podia ter sido tão mais do que foi, ter tido uma vida
melhor, menos calejada. Quando finalmente entrara nos eixos da humanidade,
o cancro levou-o. Aos 55 anos.
Jorge Costa foi sem-abrigo durante 8 meses. A empresa onde era técnico
administrativo abriu falência, sem indeminização, e precipitou, três anos
depois, a sua queda na rua. Em fevereiro deste ano, pouco depois de ter
arranjado novamente um teto, através do projeto ‘housing first’, começou a
escrever no jornal digital ‘A mensagem’ - exclusivamente dedicado à cidade de
Lisboa - crónicas mensais sobre a sua experiência de sobrevivente “no
nível de existência mais baixo”. Os 14 textos deram depois origem ao livro póstumo.
A vida empacotada numa mala e uma mochila. O medo do primeiro dia. O ataque de
choro na casa de banho da Gare do Oriente. A prostituição. O amigo Zé que o
ensinou a pedir, porque ele tinha “cara de panda”. A morte de quem se gosta. A
dor do olhar de pena dos outros. A dor da dureza do chão. As leis da rua. O
wifi grátis da carris. A chuva fria. O conforto do vinho. As filas da fome. A
revolta da fome. A comida dos contentores de lixo. Frango assado e cerveja de
litro no Natal. Cabelo e barba no Sr. António. Os sonhos por coisas pequeninas:
uma casa de banho, vizinhos a desejar ‘bom dia’, caminhar de cabeça erguida. O
assalto ao nada que tinha. Ele próprio a aprender a roubar. A vergonha que
se perde, a dignidade que se esvai, a frieza que se ganha.
E tudo contado de uma forma tão crua e humana e sentida e bem escrita que é
impossível parar de ler.
Já escrevi algumas reportagens sobre sem-abrigo, ouvi muitas histórias, quase
sempre contadas à pressa e despidas de grandes emoções. Como explica o Jorge,
quem mostra fraqueza na rua dá-se mal. Mas neste livro ele não se poupa aos sentimentos.
Faz-nos sentir o aperto. Até que chegou a casa nova. O voltar a ter. A
ser. Uma chave dele, uma porta que se abre. Sofá, cama, televisão,
frigorífico, sanita.
Jorge morreu no IPO de Lisboa a 20 de abril de 2022, 11 meses depois de voltar
a ter um teto. A Câmara de Lisboa emitiu um voto de pesar. O humorista e
radialista Nuno Markl, que era fã das crónicas e se tornou seu amigo, está
a preparar um filme sobre os seus dias na rua. É também ele, que juntamente com
Marcelo Rebelo de Sousa, assina o prefácio do livro, lançado no Centro de
Alojamento de Emergência de Santa Bárbara, em Arroios.
Por hoje é tudo. Tenha uma ótima quarta-feira. A atualidade segue aqui.
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