quarta-feira, 5 de outubro de 2022

Angola | MEMÓRIA DOS CONSELHOS DE REDAÇÃO – Artur Queiroz

Artur Queiroz*, Luanda

Ismael Mateus quer uma polícia de “várias entidades” dentro dos Media. As direcções devem passar pelo crivo dessas forças policiais. E acha que os Conselhos de Redacção só devem meter-se na nomeação das chefias. Mas eles nasceram para representarem os jornalistas, que os elegem, em três situações: Zelarem pelo cumprimento escrupuloso do Estatuto Editorial, darem parecer sobre a nomeação da Direcção e garantirem o respeito pelos preceitos éticos e deontológicos. 

Em vários países das chamadas “democracias representativas” foram desferidos violentos ataques contra os Conselhos de Redacção. O primeiro foi este: O seu parecer sobre a nomeação da Direcção é meramente formal, nunca vinculativo. Jornalistas combativos e honrados, eleitos pelos seus pares, levaram aos Tribunais esta questão em vários países. E ganharam! Vários Acórdãos definem que o parecer do Conselho de Redacção sobre os membros da Direcção dos Media é vinculativo. O patrão era obrigado a indicar outros nomes se o parecer fosse negativo. 

Aconselho vivamente que Ismael Mateus ou outros interessados consultem o Acórdão do Tribunal da Relação do Porto sobre o parecer negativo do Conselho de Redacção à direcção do Jornal de Notícias (na época o maior jornal português) nomeada pela entidade patronal. A Justiça decidiu: o parecer é vinculativo! E fez jurisprudência. Os patrões, com o senhor Murdoch à frente, cortaram o mal pela raiz e extinguiram os órgãos representativos dos jornalistas. Como? Correram com todos os profissionais das Redacções e só lá ficaram as moças e moços de recados. Quando lhes falam em Conselho da Redacção puxam logo da pistola. Ismael Mateus quer criar uma espécie de polícia dos véus islâmicos, armada com o chicote da censura. É impossível descer tão baixo.

Aqui anuncio que os jornalistas Artur, Orlando, Teixeira e Queiroz vão responder ao ataque descabelado do Ismael Mateus à independência dos jornalistas e seus órgãos representativos. Mas é um truque. Porque Artur Orlando Teixeira Queiroz sou apenas eu. Segui o truque dos EUA quando anunciaram que vão responder ao míssil disparado pela Coreia do Norte, que sobrevoou o Japão e aterrou no oceano Índico. A notícia saiu assim: EUA, Coreia do Sul e Japão anunciaram que vão dar resposta a Pyongyang. Acontece que Japão e Coreia do Sul são bases militares norte-americanas e meras colónias do estado terrorista mais perigoso do mundo. Tal como a Alemanha, motor da União Europeia. 

As eleições no Brasil mostraram que as democracias ditas representativas com economia de mercado estão rendidas à extrema-direita. As sondagens andaram meses a dar Lula da Silva à frente, com 45 a 48 por cento das intenções de voto. Na parte final, algumas pesquisas davam 50/51 com uma margem de erro de mais dois ou menos dois. Portanto, acertaram em cheio. Lula teve mais de 48,5 por cento. Os “democratas” da extrema-direita rendidos ao banditismo mediático agora dizem que “erraram rotundamente” porque afinal Bolsonaro teve 45 por cento e ninguém lhe dava mais de 38-40 por cento. Mentira. Ninguém errou. O problema é que as pessoas inquiridas tinham vergonha de declarar o seu voto ao Hitler tropical.

A confusão que por aí vai. Tudo a tentar convencer o eleitorado brasileiro de que Bolsonaro vale muito mais do que se pensa e, portanto, o melhor é todas e todos votarem nele na segunda volta! A civilização ocidental, finalmente, assume a sua condição extremista, assassina das liberdades, colonialista, belicista. Em Angola impõe-nos a UNITA. Até quando vamos tolerar tão grave e perigosa ingerência?

Os EUA são a luz do mundo, a fonte do bem sideral. O estado terrorista mais perigoso do mundo é tão bonzinho que triplicou o aumento das taxas de juro nos empréstimos aos “países pobres”. Agora já sabem quem está a pagar a guerra contra a Federação Russa por procuração passada à Ucrânia. Mas uma desgraça nunca vem só. É como em Angola. Tínhamos a UNITA e de repente, os sicários do Gale Negro receberam o reforço do terrorista de papel passado Chivukuvuku e dos senis do Bloco Democrático. Lá fora é assim. Os pobres pagam os juros mais caros três a dez vezes, depende dos agiotas. Os preços subiram, no mínimo, 60 por cento e a inflação em alguns países (como o Reino Unido) já vai acima de 15 por cento. 

Em Angola, o crescimento económico caminha para os quatro por cento quando no “mundo ocidental” está tudo estagnado ou em recessão. O Banco Nacional de Angola vai cortar na taxa de juro entre 50 a 100 pontos. Isto significa que a taxa de referência fica em 19,5 por cento, a primeira descida desde 2019.   

No Reino Unido, a inflação em Dezembro vai ser superior à de Angola. O primeiro-ministro, comissário político dos nazis de Kiev, foi à vida. A sua ministra das relações exteriores, guindada ao posto, causou uma “tempestade financeira” tão grande que se o banco central não tivesse actuado de emergência, a libra esterlina hoje estava mais fraca do que a moeda do Burkina Faso. Um aviso ao senhor Macron: O franco CFA vai desaparecer. O colonialismo francês está a desmoronar-se naquele país e vai acabar noutras colónias francesas.

Por isso, a mentalidade colonialista de servos como Rafael Marques, Jacques dos Santos ou Ismael Mateus está fora de moda. Assim não vão encher o bornal nem a pança. As desgraças que anunciam para Angola não vão acontecer. Mas os seus donos podem ser afogados em gritos de revolta, do Magrebe à Cidade do Cabo, na América Latina, na Ásia, em todo o mundo. E lá se vai o roubo com laivos de latrocínio.

A propósito. O capitalismo, nome simplificado da economia de mercado, é uma maquineta que só funciona com os seguintes combustíveis, todos ao mesmo tempo no depósito: Exploração de quem trabalha, corrupção e roubo. Se falta um deles, a máquina não funciona. Fica bem repetirem até à náusea essa treta do combate à corrupção. Mas aceitem um conselho de amigo: Esqueçam os malabarismos e trabalhem para o Povo Angolano com competência e patriotismo. Se querem mesmo acabar com a corrupção, informem que vamos voltar à democracia popular e ao socialismo. Aí os corruptos são encostados à parede. Os ladrões igualmente. Os exploradores são banidos e o melhor que lhes pode acontecer é irem para o Bentiaba. Eu não quero isso. Sou contra a pena de morte. Irredutivelmente.

*Jornalista

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