Artur Queiroz*, Luanda
A hora é dos analistas, activistas, arrivistas e escritores analfabetos. Todos juntos avançaram para a primeira linha enquanto Adalberto da Costa Júnior tenta salvar a pele. Tem os velhos assassinos da Jamba de moca afiada para lhe cobrarem a estrondosa derrota eleitoral. Alguns frentistas fazem por merecer os dinheiros ensanguentados dos diamantes e ao mesmo tempo piscam o olho ao MPLA e seu líder. Querem entrar no comboio da boa vida e mordomias, que só termina a marcha daqui a cinco anos. Outros fingem uma independência que só têm desde que foram afastados dos tachos prodigamente ofertados pelo partido maioritário.
Todos, sem excepção, querem colher frutos suculentos e muito dinheiro, durante a legislatura, ainda que alguns se apresentem como críticos. Este esquema não saiu dos membros da direcção da UNITA. Com que roupa bolavam um esquema que exige cabeça, tronco e membros? Não têm. Todos vão nus de tudo, menos da pele do oportunismo e da traição. Vamos por partes. Os donos são outros, alguns bem conhecidos.
O condecorado Rafael Marques tem a agência noticiosa portuguesa Lusa a seus pés. Portanto, já se sabe com que roupa o rapaz se veste. A sua última intervenção é hilariante e ao mesmo tempo desprezível. Disse ele no megafone português, ao serviço da UNITA, que “Angola precisa de uma política externa clara sobre grandes temas como a guerra na Ucrânia”. Primeiro. A tal guerra da OTAN (ou NATO), União Europeia, Reino Unido e EUA por procuração passada ao governo da Ucrânia não é um grande tema. Apenas mais uma agressão como tantas outras, desde a II Guerra Mundial, pelos senhores do mundo.
Segundo. A política externa de Angola é claríssima, desde o primeiro instante da Independência Nacional. Boas relações com todos os países do mundo, inclusive com a antiga potência colonial. As grandes potências ocidentais, com os EUA à cabeça, é que recusaram essas relações. Porque apoiaram as tropas invasoras do Zaire e da África do Sul, na tentativa de impedirem a Independência Nacional. E depois de 11 de Novembro de 1975, fizeram tudo para destruir pela força das armas a soberania nacional e a integridade territorial.
Apesar de se comportarem como invasores e agressores, Agostinho Neto falou com o ditador Mobutu. Depois mandou os comandantes Xyetu, Iko Carreira, Eurico Gonçalves e Bakalof ao Lubango, negociar a paz com Pik Botha, ministro das relações exteriores da África do Sul, e Maguns Malan, ministro da Defesa, ambos mandatados peplo presidente PW Botha. Uma tentativa frustrada de ter boas relações com todos os países do mundo, até com os racistas de Pretória, desde que eles acabassem com a ocupação ilegal da Namíbia e respeitassem os direitos da maioria negra.
Angola nunca abdicou de estabelecer boas relações com todos os países do mundo. Desde os primórdios da Independência Nacional, até hoje. É à luz desta doutrina que devemos interpretar o apelo do Presidente João Lourenço à Federação Russa, para pôr fim à guerra. Um país amigo, pede a outro país amigo que mande calar as armas, apesar de a Ucrânia ter municiado e armado a UNITA entre 1992 e 2000. Angola é um país pacífico. E João Lourenço foi classificado pelos seus pares regionais, como um campeão da paz.
O condecorado da UNITA e criado do George Soros (sabe-se lá de quem mais) diz que o gesto do Presidente da República “foi um improviso”. Se a oposição só tem este pateta para enfrentar o MPLA, está vista a sua indigência.
Segundo a agência Lusa, Rafael Marques afirmou que a referência do Chefe de Estado à guerra na Ucrânia no seu discurso de tomada de posse, em 15 de setembro, “foi uma nota de improviso por pressão americana ou por outros interesses que se conjugam e não um fio condutor da política externa angolana”. Esta parte é mais grave. Ele acha que Angola tem de se colocar debaixo da pata dos EUA e o Presidente da República deve ser um criado às ordens de Washington. É assim que eles vivem e não concebem que haja quem saiba viver entre as fronteiras da honra e da dignidade.
O soldado motorista do RI20, Jacques dos Santos, agora é apresentado como escritor e analista. Promoção garantida pelos sicários do Galo Negro. O papel dele é igual ao do Marcolino Moco mas um pouco mais obtuso, quase a roçar o ortorrômbico. A Deutsch Welle (DW), outro órgão oficial da UNITA, entrevistou-o e ele disse coisas que se não revelassem um cretino esférico, que mete pena, davam para rir à ganância.
O nosso soldadinho afirma que o MPLA teve uma derrota copiosa em Luanda, nas eleições de 24 de Agosto. Esqueçam os votos expressos, almas danadas. Olhem apenas para os efeitos práticos: A UNITA em consórcio com todos elegeu três deputados e o MPLA sozinho elegeu dois. Mas se quiserem olhar para os votos, nunca se esqueçam que na abstenção, nulos e brancos estão milhões de votantes no MPLA. Quando for preciso, eles respondem presente e jamais permitirão que o soldadinho motorista do RI20 suba além das botas.
O “escritor” tem este percurso: soldado motorista. Amanuense numa seguradora. Lambe botas dos colonialistas seus donos. Independência Nacional e debandada dos portugueses. Jacques dos Santos foi nomeado, pelo MPLA, para a direcção da companhia de seguros. Ainda bem. O problema é que ele nunca deixou de ser soldado motorista. Nunca quis aprender mais. Andou pela universidade do Catambor e de lá saiu analfabeto confirmado nos tachos oficiais.
Multipartidarismo. O oportunista ganhou um lugar de deputado. Queria lá ficar eternamente mas nas eleições de 2007 foi corrido. Deram-lhe o Cine Teatro Nacional e ele fez por lá umas farras e fantasias de carnaval. Recebeu mundos e fundos e nada. Apenas uns livrecos de outros analfabetos como ele. Chá de Caxinde milionário. Corrupção. Pelos vistos agora tiraram-lhe os tachos e ele morde as mãos de quem lhe deu de comer, como um mabeco raivoso.
Segundo os alemães ao serviço da UNITA (DW) Jacques dos Santos “recomenda o recurso ao diálogo para aproximar as forças políticas em torno daquilo que são as ideias correctas dos interesses da nação angolana”. Também diz que “entrámos num regime praticamente autocrático” E mais: "A corrupção mantém-se vibrante e firme nos seus desígnios”. Pode ser que sim, mas Chá de Caxinde milionário acabou. Pelo menos um corrupto teve de pedir exílio à UNITA. Que o levem para a Jamba, depressa. Urgentemente.
A parte mais hilariante é esta: “O partido no poder parece ter um medo incrível das já anunciadas eleições autárquicas, porque sabe que vai perder terreno”. O analista é vesgo. Zarolho. Alguém lhe meteu na cabeça que nas eleições para o Poder Local o MPLA vai perder! Mas que dados têm estes arrivistas descabeçados? Tomem nota.
Se o país partir mesmo para as eleições autárquicas, o MPLA vai esmagar a concorrência, em todas as províncias. Porque as populações só conhecem os seus militantes e activistas. Porque ao longo de décadas apenas o MPLA se interessou pelas suas vidas. Resolveu os seus problemas. Nenhum partido da oposição tem qualquer experiência de Poder Local. Nenhum esteve presente nas horas difíceis. Salvo a UNITA que quando aparecia era para roubar, raptar, destruir e matar.
E em Luanda como vai ser, quando forem marcadas as eleições para o Poder Local? Os 55 por cento da abstenção mais os votos brancos e nulos vão dar uma tareia eleitoral à UNITA em consórcio com os accionistas da sociedade civil. Uma tareia das antigas! Tal como levaram grandes tareias nas sucessivas eleições gerais. E nunca se esqueçam, também levaram tareias militares memoráveis. O soldado motorista do RI20 com que roupa vai entrar nesta disputa? Pobre diabo!
O analista, professor, jornalista e conselheiro, Ismael Mateus, é um nadinha mais arrogante e convencido do que o escritor analfabeto Jacques dos Santos. Já se esqueceu que lhe deram milhões para fazer um jornal em Benguela, torrou a massa e aquilo acabou alguns meses depois por indecente e má figura. Mas fala de comunicação social como se fosse um perito na matéria. Este ainda acredita que em terra de cegos, quem tem um olho é rei. Ledo engano de alma. Quem tem um olho é apenas zarolho, esteja onde estiver. O sujeito está profundamente equivocado. Ou então pensa mesmo que assim vai conseguir um tacho.
Ismael Mateus ataca violentamente a comunicação social, particularmente os Media do sector empresarial do Estado. Escreve isto: “Terminadas as eleições, o grande impacto sobre a comunicação social foi a descredibilização total do trabalho jornalístico. Nada mais resta senão uma reforma profunda da comunicação social”. E acha que a solução para os males, é “autonomia editorial do director de informação”.
Com que roupa se veste pra conseguir a tal autonomia editorial? “A indicação de um director de informação (DI) e de um chefe de redacção também devem passar pelo crivo de outras entidades e não apenas do seu conselho de administração. Um DI deveria ser escolhido depois de ter o aval da ERCA, tal como o chefe de redacção deve ter o aval do seu conselho de redacção”. Estes debutantes cometem sempre os mesmos erros. Escrevem do que não sabem e depois dá merda. O patrão nomeia. O Conselho de Redacção aprova. O resto é conversa.
O inteligente conselheiro, analista, professor e director só fala em Conselho de Redacção para avalizar o chefe de Redacção de um órgão de comunicação social. Pois é menino. Os Conselhos de Redacção nasceram para dar parecer vinculativo aos directores e apenas a estes. O chefe de Redacção é um homem ou mulher da sua confiança, não precisa de ser votado. O problema é que os Conselhos de Redacção desapareceram nos anos 90, nos países ocidentais e nunca mais ninguém os viu. Por isso, não existe autonomia editorial nem de qualquer outra espécie nos Media. O patrão manda e comanda. Já não existem Conselhos de Redacção defendendo os valores e princípios do Jornalismo. Nem sequer há delegados sindicais. Em Angola o Sindicato dos Jornalistas é uma mera correia de transmissão da UNITA.
*Jornalista
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