O Governo do Chade reprimiu a oposição, suspendendo sete partidos políticos, e revistou escritórios de uma força partidária, um dia depois de protestos sem precedentes em todo o país terem causado mais de 60 mortos.
O proeminente líder da oposição Succes Masra escreveu na rede social Twitter que a sede nacional do seu partido Les Transformateurs estava "a ser saqueada pelas forças de segurança que forçaram a sua entrada".
"Depois de terem alvejado 70 pessoas, detido, ferido e torturado mais de 1.000 outras, estão agora a atacar edifícios e documentos", escreveu.
O partido de Masra foi o primeiro de sete suspensos pelo Governo do Chade, por um período de três meses. O decreto abrange todas as atividades políticas a nível nacional.
Manifestação sangrenta
Manifestantes na capital, N'Djamena, e várias outras cidades tomaram as ruas na quinta-feira (20.10) para protestar contra o líder interino Mahamat Idriss Deby, prolongando o seu tempo no poder por mais dois anos.
Deby tornou-se chefe de um governo de transição quando o seu pai, o antigo presidente Idriss Deby Itno, morreu em abril de 2021, após mais de 30 anos no poder.
Mahamat Idriss Deby concordou inicialmente com uma transição de 18 meses, um mandato que teria terminado na quinta-feira. No entanto, o Governo anunciou recentemente que Mahamat Deby permaneceria no poder mais dois anos, o que provocou os protestos.
Depois de utilizarem gás lacrimogéneo, as forças de segurança dispararam munições reais contra os manifestantes em N'Djamena, de acordo com testemunhas. Um porta-voz do Governo confirmou 30 mortos, embora os ativistas tenham avançado um número mais alto.
Na segunda maior cidade do país, Moundou, um funcionário da morgue, falando sob anonimato, disse que deram entrada 32 mortos, na sequência de um protesto semelhante.
O primeiro-ministro, Saleh Kebzabo, defendeu mais tarde o uso da força por parte do Governo, dizendo aos repórteres que a agitação era "uma tentativa de golpe de Estado".
A resposta mortífera atraiu rápidas repreensões da França, dos Estados Unidos da América e de outros países. O presidente da Comissão da União Africana (UA), Moussa Faki Mahamat, condenou veementemente "a repressão das manifestações".
"Apelo às partes para que respeitem a vida humana e a propriedade e favoreçam meios pacíficos para ultrapassar a crise", escreveu.
EUA condena violência
Por seu lado, o Departamento de Estado norte-americano condenou "a violência no Chade, envolvendo confrontos entre forças de segurança e manifestantes que protestam contra a extensão do período de transição original de 18 meses” do país, que expirou quinta-feira.
"Estamos profundamente preocupados com os relatos de baixas e exortamos todas as partes a desanuviar a situação e a exercer contenção. Exortamos a que os responsáveis pela violência sejam responsabilizados”, adiantou.
Já hoje, o exército chadiano utilizou gás lacrimogéneo durante a manhã para dispersar novas tentativas de comícios na capital do país, apesar de um recolher obrigatório entre as 18:00 e as 06:00, declarado pelas autoridades em resposta às manifestações.
O portal de notícias Al Wihda confirmou que os militares atuaram nos bairros Habena e Kamnda, onde dispararam gás lacrimogéneo por volta das 05:30 locais, causando pânico entre os residentes a caminho do trabalho.
Deutsche Welle Lusa
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