segunda-feira, 24 de outubro de 2022

PAÍSES RICOS TRAPACEIAM O FINANCIAMENTO CLIMÁTICO

OXFORD, Reino Unido – A maioria dos países ricos usa práticas contábeis enganosas e desonestas para exagerar o financiamento climático que fornecem aos países em desenvolvimento, de acordo com pesquisa da coalizão internacional anti-pobreza - Oxfam

#Traduzido em português do Brasil

IPS -- Nafkote Dabi, diretor de política de mudanças climáticas da Oxfam International, disse: “As contribuições dos países ricos não apenas permanecem bem abaixo da meta, mas também são enganosas ao contabilizar as finanças climáticas de uma maneira que não é correta nem adequada”.

Esses países "estão superestimando sua própria generosidade e pintando um quadro muito róseo, enquanto ocultam a quantia que realmente vai para os países pobres", acrescentou Dabi.

Em 2020, de acordo com a pesquisa da Oxfam, o valor real do financiamento climático fornecido aos países em desenvolvimento ficou entre US$ 21 bilhões e US$ 24,5 bilhões, em comparação com os US$ 68,3 bilhões que os países ricos relataram fornecer em 2020. conceito de financiamento público.

Juntamente com o financiamento privado, o financiamento total mobilizado foi proclamado em 83,3 mil milhões de dólares, com uma sobrestimação que pode chegar aos 225%, segundo o estudo.

A meta de financiamento climático global está fixada em 100 bilhões de dólares por ano e é um dos temas que serão avaliados na 27ª Conferência das Partes das Nações Unidas (COP27) sobre mudanças climáticas, que reunirá 197 países e outros membros de 6 a 18 de novembro na cidade egípcia de Sharm el Sheikh.

Dabi afirmou que “o atual mecanismo global de financiamento climático é como um trem quebrado que corre o risco de nos levar a um destino de proporções catastróficas. Empréstimos excessivos estão endividando os países pobres, que já estão lutando para lidar com os impactos das mudanças climáticas."

“Muito financiamento está sendo declarado de forma duvidosa e desonesta. Como resultado, os países mais vulneráveis ​​continuam despreparados para enfrentar a violência da crise climática”, acrescentou o chefe da coalizão.

“O atual mecanismo global de financiamento climático é como um trem quebrado que corre o risco de nos levar a um destino de proporções catastróficas. O empréstimo excessivo está endividando os países pobres, que já estão lutando para lidar com os impactos das mudanças climáticas” – Nafkote Dabi.

A investigação mostrou que instrumentos como empréstimos são reportados pelo valor de face, ignorando o pagamento de financiamentos, entre outros fatores.

Muitas vezes, os projetos financiados têm menos foco climático do que o declarado, portanto, o valor líquido do apoio que vai especificamente para a ação climática provavelmente será muito menor do que os números de financiamento climático declarados sugerem.

Hoje, os empréstimos dominam mais de 70% da provisão pública de financiamento climático (US$ 48,6 bilhões), alimentando a crise da dívida que os países em desenvolvimento enfrentam.

Para Dabi, “forçar os países pobres a pagar empréstimos para lidar com a crise climática para a qual mal contribuíram é profundamente injusto”.

“Em vez de apoiar os países que enfrentam secas, ciclones e inundações, os países ricos estão minando sua capacidade de lidar com choques futuros, além de aprofundar seus níveis de pobreza”, acrescenta Dabi.

Recordou que o pagamento da dívida externa dos países menos desenvolvidos ascendeu a 31 mil milhões de dólares em 2020.

Por exemplo, o Senegal, que está no terço inferior dos países mais vulneráveis ​​do mundo às mudanças climáticas, recebeu 85% de seu financiamento climático na forma de dívida, com apenas 29% como empréstimos não concessionais.

Isso apesar de apresentar um risco moderado de cair em uma crise de dívida e o fato de sua dívida representar 62,4% gerenciáveis ​​de sua renda nacional bruta.

A superestimação do financiamento também atingiria entidades multilaterais, como o Banco Mundial, cujos relatórios de financiamento climático "não permitem que os supostos níveis sejam verificados de forma independente, de modo que pode haver uma discrepância de até 40%" ao examinar, por exemplo, os dados de 2020.

Uma tese central da Oxfam é que, se os países desenvolvidos honrarem seu compromisso de mobilizar US$ 100 bilhões por ano e realmente resolverem seus erros contábeis de finanças climáticas, uma catástrofe climática em larga escala poderá ser evitada.

“Ao manipular o sistema, eles só garantirão que são os países pobres, que menos contribuíram para a crise climática, que acabam pagando”, disse Dabi.

Ele insistiu que “um sistema financeiro climático baseado principalmente em empréstimos só agrava o problema. Os países ricos, especialmente aqueles que mais poluem, têm a responsabilidade moral de oferecer formas alternativas de financiamento climático, especialmente subsídios.”

Para a Oxfam, nas negociações da COP27, “os países ricos devem se comprometer urgentemente a aumentar o financiamento para países vulneráveis ​​para adaptação às mudanças climáticas por meio de subsídios, bem como melhorar suas práticas falhas de relatórios”.

IPS - AE/HM

Imagem: Mulheres pegam água de um caminhão na região de Saint Louis, no Senegal, atingida pela seca como outras regiões da África. Esses países recebem financiamento de nações desenvolvidas para a mitigação das mudanças climáticas, mas devem reembolsá-lo de uma forma que os deixe sem recursos para melhorar sua ação climática. Foto: Vincent Tremeau/BM

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