terça-feira, 27 de dezembro de 2022

A SENHORA ALEXANDRA MEIO MILHÃO DA LUSITÂNIA FAMINTA

Expresso Curto de hoje, rescaldo do Natal. O artífice é Miguel Prado, autor de prosa, um achado e um tesouro emprestado ao título. Que sim, concorda o povoléu faminto da Lusitânia. Nós também queremos, dizem os portuguesitos a olhar para a senhora Alexandra Meio Milhão das faldas PSD/PS. Ela nada fez de mal, só recebeu uma indemnização de meio milhão de euros porque sim. Porque é uma sortuda, porque faz parte das elites deste Portugal vigarizado.

O senhor Costa, primeiro-ministro de Portugal, com uma maioria sólida que lhe garante o poder para tramar os plebeus quilhados e muito mal pagos anda a distribuir fortunas da riqueza nacional pelos seus e a proporcionar esmolas aos pagantes compulsivos que são os milhões de portugueses. Vergonha? Não. Isso não cabe no sapatinho de Natal de Costa, descaramento e desplante sim. E ele até incha, tal é o garbo por tramar tantos durante mais uns quantos anos...

Não pomos mais na escrita neste interim ao Curto. O artífice Prado passa a fazê-lo... Contido, contido... Nem refere vigaristas, oportunistas, ladrões, adeptos da opacidade e, quem sabe, talvez um breve e muito ligeira corrupção por "luvas". Calha bem. Vem aí o frio e as luvas sempre protegem as mãozinhas. Pois. Passem ao Curto e aquilo que trata sobre a senhora meio milhão, felizarda e descarada.

Até amanhã. Saúde. Saúde? O que é que é isso?

MM | PG

Mais que um achado, um tesouro

Miguel Prado, jornalista | Expresso (curto)

Bom dia.

Não é novela sul-americana, nem conto de Natal. É qualquer coisa ali pelo meio. Uma experiente gestora sai de uma companhia estatal em fevereiro, assegura uma indemnização de meio milhão de euros, ingressa em julho na presidência de outra companhia estatal, de onde sai em dezembro para a Secretaria de Estado do Tesouro. Mas o que em fevereiro era comunicado ao mercado como uma renúncia transformou-se numa saída forçada, e os ministros das Finanças e das Infraestruturas, que deviam saber de tudo, parecem não saber de nada, e pedem agora à TAP que esclareça afinal como saiu Alexandra Reis. A história é mais que um achado, é mesmo um tesouro, como a pasta (a governativa e a outra) da agora secretária de Estado.

Para polémica de fim de ano não está mal. O Presidente da República voltou esta segunda-feira ao caso. Depois de no domingo ter amenizado o problema, notando que “a lei permite isto”, Marcelo Rebelo de Sousa adotou outro tom, convidando a secretária de Estado do Tesouro a refletir sobre se tem condições para continuar no Governo. “Quem tem que tomar uma iniciativa é a própria”, afirmou o chefe de Estado. “Para o Presidente da República é importante o esclarecimento do que se passou, porque o Presidente da República nomeou-a”, acrescentou Marcelo.

Alexandra Reis alega, em sua defesa, que o meio milhão de euros de indemnização foi acordado no estrito “cumprimento da lei”, já que a cessação de funções nas empresas da TAP e a revogação do contrato de trabalho foram “ambas solicitadas pela TAP”. Uma versão conflituante com a da TAP, que em fevereiro comunicava à CMVM a decisão da gestora de apresentar a sua renúncia ao cargo que tinha na administração da companhia aérea. Saiu pelo seu pé? Ou teve um empurrão? É a questão de meio milhão de euros.

Perante isto, o primeiro-ministro tem mais um embaraço político para resolver, enquanto os partidos da oposição exigem explicações. O Bloco de Esquerda quer ouvir no Parlamento a secretária de Estado do Tesouro e a presidente da TAP. O Chega também. Mas o vice-presidente do PSD Miguel Pinto Luz quer esclarecimentos de António Costa sobre este caso. “Tem de vir ele, é o líder deste Governo, deste empobrecimento permanente dos portugueses, deste desgoverno”, disse à TSF.

Alexandra Reis, que, depois de ter passado pelas telecomunicações, entre 1998 e 2010, esteve meia dúzia de anos na REN, como diretora de compras, conta ainda no currículo com cerca de ano e meio na empresa de jatos privados Netjets, antes de em setembro de 2017 ingressar na TAP. Como lhe contamos aqui, viria a trabalhar na TAP com Stéphanie Silva, a diretora jurídica da companhia aérea, que anunciou a sua saída da empresa quando o seu marido, Fernando Medina, tomou posse como ministro das Finanças. É agora a Medina que reportará Alexandra Reis, recém-empossada secretária de Estado. Novamente: a história é mesmo um tesouro.

Não obstante poder ser discutida no plano moral (que vale o que vale), a sucessão de acontecimentos merece ser debatida do ponto de vista legal. O acordo de cavalheiros entre Alexandra Reis e a TAP (o que aparenta ser uma demissão comunicada publicamente como renúncia) dá ou não direito a indemnização? Se sim, em que termos? A indemnização deve ou não ser limitada pelo tempo que a gestora pública esteve sem trabalho? Mas após resolvidas as questões jurídicas, sobram as responsabilidades políticas: se Alexandra Reis era suficientemente competente para ser nomeada presidente da NAV (e mais tarde secretária de Estado do Tesouro), por que aceitou a tutela que a TAP a afastasse? E como explicar o custo dessa opção numa empresa fustigada por uma reestruturação, com elevados sacrifícios para o seu quadro de pessoal, por um lado, e para os contribuintes portugueses, por outro? Se a tutela não sabia, não devia saber? “A ser verdade que a Secretária de Estado do Tesouro foi de facto despedida, não vejo um problema ético na decisão em manter essa indemnização (como qualquer trabalhador despedido). Mas vejo um problema de julgamento e avaliação política em quem, nessas condições, a convidou para os cargos seguintes”, comentou o antigo ministro Adjunto Miguel Poiares Maduro, no seu perfil no Twitter.

OUTRAS NOTÍCIAS

António Mega Ferreira. Jornalista, escritor, gestor cultural, morreu esta segunda-feira. “Uma das figuras mais dinâmicas da cultura portuguesa do último meio século”, comentou o Presidente da República. Pode reler aqui a entrevista que Mega Ferreira deu ao Expresso em 2017, em que afirmou que a posteridade lhe é “completamente indiferente”. E aqui fazemos a biografia literária do autor.

Saúde. Há cinco blocos de parto que vão estar encerrados entre 30 de dezembro e 2 de janeiro, mas há também 221 centros de saúde que vão estar abertos no sábado e 180 no domingo. Mas além de tomar nota do atendimento que o SNS dará nos próximos dias, não deixe de ver esta incrível reportagem sobre Rodrigo, o menino que superou tudo o que a vida lhe pôs à frente.

Angola. O Supremo Tribunal de Angola autorizou o arresto preventivo de bens da empresária Isabel dos Santos no valor de mil milhões de dólares, a pedido do Ministério Público.

Economia. Na nossa rubrica multimedia “Economia dia a dia” trazemos-lhe esta semana um resumo sobre os temas que marcaram o ano. No episódio desta segunda-feira recordamos o disparo da inflação. Pode ver aqui.

Energia. Com mais vento e sobretudo mais chuva, o sistema elétrico nacional alcançou em dezembro o valor mais alto em quase dois anos de exportações para Espanha. Mostramos-lhe aqui os números em detalhe.

EUA. Ao final do dia de segunda-feira a tempestade Elliot já tinha provocado mais de 50 mortes. A governadora do Estado de Nova Iorque pediu ao governo norte-americano a declaração de catástrofe.

Guerra. Continuamos a acompanhar minuto a minuto no nosso site o essencial da guerra na Ucrânia. E nesta entrevista ao Expresso o investigador Peter Layton explica o potencial da tecnologia e da inovação no teatro de operações.

FRASES

“Tivemos algumas notícias encorajadoras sobre a inflação. Ainda há motivos de preocupação, e as notícias não são suficientemente sólidas para abrirmos garrafas de champanhe. Mas, dada a época, vou permitir-me pelo menos um ou dois copos de eggnog”

Paul Krugman, economista, no New York Times

“Uma thread épica!”

Elon Musk, dono do Twitter, em resposta a uma sequência de tweets do antigo primeiro-ministro russo Dmitry Medvedev, em que este fez um conjunto de previsões para 2023, incluindo o petróleo a 150 dólares, o colapso da União Europeia e a ocupação da Ucrânia pela Polónia e Hungria

“As epidemias não vão parar, vão acontecer, e, por isso, é de toda a importância chamara a atenção para os governos prepararem mecanismos de monitorização”

Francisco George, antigo diretor-geral da Saúde, a propósito do Dia Internacional da Preparação para Epidemias

PODCASTS A NÃO PERDER

Comissão Política a fechar 2022: o país entre Costa Humpty Dumpty e um Marcelo de Teflon António Costa deixou uma mensagem de Natal no sapatinho com a palavra “confiança”, mas levantou muito ceticismo. Marcelo acabou o ano a falar a toda a hora, contentando os portugueses que acham que não fala demais. E com Costa e Marcelo em alta, que confiança têm os comentadores da bolha? Oiça o balanço do ano no podcast Comissão Política

Sílvia Floresta: “O veganismo é um mito. As árvores comem carne” Considerada uma das maiores especialistas do país em permacultura, fundadora do projeto de educação ambiental “Permacultura nas Escolas”, trabalho que desenvolve desde 2008 com as Câmaras municipais de Lisboa, Almada, Sines, Mafra, Fundão, e Sintra, Sílvia Floresta é a convidada desta semana no podcast As Mulheres Não Existem

STOP, o grito dos professores que ameaça parar o ensino público Os sindicatos dos professores ameaçam endurecer as formas de protesto no próximo ano. As greves vão multiplicar-se já em Janeiro e os sindicatos prometem realizar uma grande manifestação em Lisboa já no mês de Fevereiro. Neste Expresso da Manhã oiça a análise de Isabel Leiria, jornalista do Expresso que acompanha as questões de Educação

E porque este é o último Expresso Curto que assino este ano, deixo-lhe os meus sinceros desejos de que tenha em 2023 um ano melhor, repleto de saúde, prosperidade e muita energia. Espero que continue a contar connosco como também nós contamos consigo nesta caminhada de valorização do jornalismo. Se ainda não é assinante do Expresso, pode ver aqui as opções para passar a ser. Siga-nos também na Tribuna, na Blitz e no Boa Cama Boa Mesa. Boas leituras e um excelente final de ano!

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