domingo, 3 de julho de 2022

Guerra: Imperialismo nos valores arbitrários ocidentais versus soberania das nações

#Traduzido em português do Brasil

 Simon Chege Ndiritu | South Front

Biden e Johnson desviarão fundos das economias locais sem a aprovação das populações locais para armar a Ucrânia “democrática” enquanto o imperialismo derruba a fachada da democracia. À medida que a Rússia avança em Donbas, a OTAN continua a expandir o fornecimento de armas à Ucrânia. Enquanto isso, a inflação varia nas economias da OTAN, mas as nações da organização não fazem nenhum esforço para remediar a queda nos padrões de vida dos cidadãos, pois priorizam a guerra e as ameaças da OTAN.

Fundo

O final de junho e o início de julho de 2022 estão se tornando um período historicamente interessante. Houve uma rápida sucessão de reuniões dos imperialistas começando com o G7 seguido pela OTAN. A reunião do G7 torna-se interessante porque, das declarações para defender valores ocidentais indefinidos , a única conclusão foi uma sessão de fotos caprichosa com piadas sobre as fotos de montar a cavalo de peito nu de Putin. A reunião da OTAN terminou com mais ameaças contra a Rússia e tentativas de colocar a China, localizada no lado oposto do Atlântico Norte, como inimiga. Enquanto isso, em 30 de junho , as forças russas foram tão bem-sucedidas em torno de Lisichanks que pareciam muito cautelosas em anunciar seu progresso. Por exemplo, em 29 de junho, eles relataram controlar apenas 30% de Lisichasnks, enquanto as notícias da Sky incorporadas às forças ucranianas afirmavam que a cidade era uma conclusão inevitável. A partir de 2 de julho, as cidades ao redor de Severodonetsk- Lichisansk estavam caindo a uma taxa sem precedentes. Os russos estavam praticamente esmagando os oponentes, mesmo com custos notáveis ​​em homens e materiais. Contra este pano de fundo, os imperialistas prometeram ainda mais armas à Ucrânia, seguindo um estilo muito praticável. A OTAN começou fornecendo pequenas armas ocidentais em massa e progrediu em um padrão quase linear, aumentando a complexidade do armamento, mas reduzindo o número. Alguns aliados dos EUA alegaram estar sem estoque.

Valores Freudianos Deslizantes-Liberais Iguais à Corrupção

Encontrei uma comparação das opiniões da mídia ocidental antes e depois da operação especial. Em um artigo de 2015, o Guardian informou que a Ucrânia era o país mais corrupto da Europa, mas em 27 de fevereiro de 2022 , a mesma mídia relatou como lutar pela Ucrânia representa lutar pelos ideais liberais . Essa contradição externa constitui um lapso freudiano, pois ambos os artigos mostram ocidentais saqueando a Rússia e a Ucrânia. Minha audiência deve notar que entre os fatores que contribuíram para a corrupção da Ucrânia estão as atividades corruptas confessas de Joe Biden e o saque da Ucrânia por seu filho Hunter Biden. O Guardian convenientemente omitiu esses detalhes em seu artigo que descreve a corrupção perversa na Ucrânia.

O segundo artigo do Guardian descrito acima tinha um subtítulo “ Por muito tempo, os conservadores ficaram felizes em receber dinheiro russo e atacar os valores democráticos que agora afirmam ser caros ” . Assim, os Conservadores recebem dinheiro dos russos sem dar nenhum produto ou serviço em troca, mas continuam mantendo alguns valores caros. Quais seriam esses valores ? Nessas circunstâncias, os únicos valoresque o Reino Unido, a UE e a OTAN prezam são a corrupção e o imperialismo. Ambos os artigos mostram que a atual guerra travada pela UE e pela OTAN visa criar condições para saquear a Rússia, a Ucrânia, a China, o Irã e o sul global. Parte dos ideais liberais do Ocidente é a crença de que todos os recursos do resto do mundo (incluindo a Rússia) devem ser negociados de uma maneira que pague tributos ao Ocidente. É por isso que esta guerra não terminará em breve.

Ucrânia | A IDEOLOGIA DOS BANDERISTAS (NAZIS)

Thierry Meyssan*

Se Stepan Bandera (origem dos nazis banderistas-nacionalistas da Ucrânia) era um agente da Gestapo e não deixou mais do que memórias (positiva para alguns ) de massacres e das torturas que organizou, Dmytro Dontsov era —e continua a ser— o seu pensador de referência. Foi ele que inventou o racialismo ucraniano e idealizou como arma o fanatismo dos seus combatentes.

Se nos artigos precedentes apresentei a história do movimento banderista do período entre-guerras até ao dias de hoje, aqui quero falar da sua ideologia.

O seu intelectual de referência, ontem e hoje, é Dmytro Dontsov (1883-1973). Embora tenha morrido no Canadá e tenha sido sepultado nos Estados Unidos, as suas obras não foram traduzidas, mas os seus discípulos deram-nos a conhecê-las. Esta ausência nas livrarias de outros países explica por que é ignorado no estrangeiro. Ele foi, no entanto, após um longo período de ausência, um dos autores mais vendidos nos últimos anos na Ucrânia.

Alimentando-se, tal como os nazis, da sua interpretação de Nietzsche, Dmytro Dontsov apelava para o surgimento de um « homem novo » com « uma fé ardente e um coração de pedra » que não teria medo de destruir sem piedade os inimigos da Ucrânia. Pensador do « nacionalismo ucraniano integral », ele construiu uma filosofia em que tudo aquilo que é nacionalista é contra a Rússia e contra os Judeus.

Ele pensava criar um povo de elite, distante do « igualitarismo de escravos » da Revolução russa de Outubro e dos « ideais universais » da Revolução francesa.

Ele afirmava que o imaginário dos factos deve « alimentar-se da lenda da última batalha », da « negação daquilo que é » e da « imagem fascinante da catástrofe que trará o novo ». Os factos devem servir « uma ordem decisória » com uma « obediência atrevida ».

Segundo ele, o « nacionalismo ucraniano » caracteriza-se por :
 « a afirmação da vontade de viver, o poder da expansão » (ele promove « O direito das raças fortes em organizar os povos e as nações para fortalecer a cultura e a civilização existentes ») - « o desejo de combater e a consciência do seu extremo » (ele elogia a « violência criadora da minoria de iniciativa »).

As suas qualidades são :

 « o fanatismo » ;
 « a ausência de uma moral ».

O fanatismo liga-se ao carácter religioso da sua doutrina. Dontsov observa que é isso que torna os guerreiros invencíveis. É, pois, perfeitamente lógico que após a Guerra Mundial, Stepan Bandera e Yaroslav Stetsko tenham aceite trabalhar em Munique com a sociedade secreta dos Irmãos Muçulmanos ou que em 2007 os seus discípulos tenham conseguido formar uma Frente Anti-Russa com os jiadistas chechenos.

No inicio da sua obra, Dontsov não se inspirou no fascismo italiano ou no nacional-socialismo alemão, antes aparece marcado pelos mesmos raciocínios dos Ustashas croatas, da Guarda de Ferro romena, do Glinka eslovaco, do polaco (polonês-br) Oboz Narodowo-Radykalny.

Pelo contacto com os nazis, Dontsov começou a reivindicar uma geografia e uma história míticas. Os « verdadeiros Ucranianos » seriam de origem escandinava ou proto-germânica e descenderiam dos Varagianos, uma tribo viking da Suécia. Os seus ancestrais teriam fundado a cidade de Novgorod na Rússia e submetido os eslavos russos.

A CIMEIRA DO DESESPERO E DO TERROR

A Cimeira da NATO em Madrid teve o que é de esperar dos que ainda se julgam donos do mundo para ditar aos súbditos na Terra como vai funcionar a «ordem internacional baseada em regras». Não disfarçaram, porém, um alarmado desespero.

José Goulão* | AbrilAbril | opinião

Foi um desfile de arrogância, ameaças, irresponsabilidade, insensibilidade para com as pessoas, alto risco para o planeta – de terror. A Cimeira da NATO em Madrid teve tudo o que é de esperar dos donos do mundo (ou que, pelo menos, ainda se julgam como tal) para ditarem aos súbditos na Terra como vai funcionar a partir de agora, mas sempre sob chuvas de balas e de mísseis, a «ordem internacional baseada em regras». A peça e a encenação, com fausto aristocrático – e repercussões mentais a condizer – servidas por uma oligarquia globalista recolhida numa bolha virtual mais e mais instável, não disfarçaram, porém, um alarmado desespero, maleita que afecta seriamente a organização expansionista pela primeira vez na sua história.

Além desse desespero, e apesar da parafernália de estruturas e meios exibidos para dar ao evento as tonalidades dramáticas de tropas em campanha, a Cimeira da NATO padeceu também de um comprometedor anacronismo, afinal mais uma expressão da teimosia negacionista com que encara as transformações em curso num mundo onde são cada vez mais frequentes (e eficazes) os sinais de irreverência, distanciamento e afirmação soberana. Estas tendências manifestam-se principalmente no interior da esmagadora fracção de mais de 85% do planeta, que tem estado submetida, em maior ou menor grau, à arbitrariedade colonial e imperial – a tal «ordem baseada em regras» usada para subverter o direito internacional e o conceito básico e elementar de igualdade entre países e povos.

As «regras» são, afinal, os «nossos valores partilhados», a «democracia liberal» e outras muletas de oratória esvaziadas de conteúdo e transformadas em ferramentas de propaganda que servem essencialmente para cultivar o medo inibidor e o primado da violência militar à escala global. Daí que as tais «regras», «valores» e «democracia» se tenham fundido num único conceito económico e político, o neoliberalismo selvagem, e numa exclusiva actividade, a da guerra, que o chamado «mundo ocidental» – menos de 15% do planeta – manipula agora desesperadamente, de maneira perigosa e suicida, para travar as transformações internacionais que, por linhas direitas e linhas tortas, já estão a fazer o seu caminho.

Angola | O CORONEL REFORMADO DA HONRA – Artur Queiroz

Artur Queiroz*, Luanda

Matadi Daniel diz que é coronel, está reformado e apresenta-se como médico “especialista em doenças renais”. Os verdadeiros apresentam-se como nefrologistas. Este saiu da quinta dos animais, criada por Orwell. É o exemplo acabado do triunfo dos porcos. O porcalhão escreveu um artigo de opinião no Novo Jornal (uma kibanga de gado porcino) onde expõe as doenças de José Eduardo dos Santos e garante que no doente “é notório o seu fácies hipocrático ou também designado fácies cadavérico”. Depois dita para a página da kibanga como se apresenta fisicamente o enfermo.

O “médico” viola de uma forma grave a intimidade da vida privada de um cidadão e concretamente a sua esfera pessoal. Não passa de um carniceiro, um porco sujo, um canalha. Se a Ordem dos Médicos existe, o coronel reformado da honra é imediatamente expulso, porque não tem condições éticas para exercer a profissão. 

Mais grave é possível. O coronel reformado da honra, Matadi Daniel, traiu o seu código profissional até este ponto: “No Centro Médico Teknon de Barcelona, uma consulta de clínica geral custa a módica quantia de 520 euros e um internamento diário na Unidade de Cuidados Intensivos, custa entre os 7500 e os 8000 euros”. 

Primeiro veio um ministro dizer que vai pagar a conta. Depois vem o Matadi sem honra dizer quanto custa. E aproveita a embalagem para dizer que José Eduardo dos Santos “está com o fácies hipocrático ou cadavérico”. Portanto, calma, muita calma, a conta nem vai ser muito grande. Podem chamar a malta toda para a kibanga e comemorar. É o triunfo retumbante dos porcos.

Angola: "CÓDIGO PENAL É ARMA DE ARREMESSO CONTRA JORNALISTAS"

Teixeira Cândido, secretário-geral do Sindicato dos Jornalistas Angolanos, alerta que a "criminalização da atividade jornalística continua" no país. E diz que os "receios são muitos" em relação às eleições de agosto.

O Código Penal em Angola está a ser usado para criminalizar jornalistas? Um artigo publicado na quinta-feira (30.06) pelo Comité de Proteção aos Jornalistas menciona os casos de três jornalistas angolanos que estão a responder a processos por alegada difamação contra membros do Governo. São eles Escrivão José, Óscar Constantino e Fernando Caetano.

"Estes casos de difamação criminal contra jornalistas em Angola mostram que políticos e figuras poderosas estão a tirar partido das leis da era colonial para criminalizar o jornalismo", afirmou Angela Quintal, coordenadora do programa para África do Comité de Proteção dos Jornalistas, em Joanesburgo, na África do Sul.

Um exemplo é aquilo que jornalistas tecnicamente chamam de "follow-up", que é dar seguimento a um tema, algo que pode ser considerado como "perseguição", de acordo com o atual Código Penal do país. É o que explica o secretário-geral do Sindicato dos Jornalistas Angolanos, Teixeira Cândido. A DW África falou com ele.

Angola | Piratas Atacam Noticiários à Vista Desarmada – Artur Queiroz

Artur Queiroz*, Luanda

A Luna Queiroz está ao meu lado. Faz desenhos estendida no chão e com uma mão amparando a cabeça. Dispara perguntas de minuto a minuto. É uma assanhada do Catambor. Filha do Eurico, neta do repórter Artur e bisneta do poeta Geraldo Bessa Victor. A avó paterna é a pintora Helena Justino, que mostrou as suas primeiras telas no Salão de Arte Moderna de Luanda, nos anos 60. Foi discípula do mestre Cruzeiro Seixas. Estava eu burilando um parágrafo e ela disparou: Sabias que vou votar no MPLA? Olhei para aquela amostra de gente com seis anos e pedi-lhe para não votar. Porque os sicários da UNITA aproveitam a oportunidade para provar que afinal houve mesmo fraude eleitoral. Levei com mais 50 perguntas em cima.

Hoje é a sério. O noticiário das 13 horas da TPA foi abaixo. O som totalmente dessincronizado da imagem. Entrada cinco minutos depois da hora. Corte alguns minutos depois. Pedido de desculpas pela interrupção devido a problemas técnicos. Uma desgraça. Fui saber o que está a acontecer. E o resultado da minha reportagem não é bom. Pelo contrário, é preocupantemente mau. Tomem nota. Um grupo de piratas informáticos, recrutado em Lisboa, está a atacar a TPA. O próximo alvo vai ser a paginação electrónica do Jornal de Angola e a sua edição on-line.

Até agora não consegui reconfirmar (só tenho a confirmação e isso não chega) quem em Angola está implicado nos ataques. Nem isso interessa aos jornalistas, já que se trata de um caso de polícia. E muito sério. Tem que ser levado a sério. A Comissão Nacional Eleitoral dispõe dos mais avançados sistemas do mundo. Mas é vulnerável à pirataria informática. Todo o cuidado é pouco. Que não se repitam os ataques à TPA. Não se esqueçam que Abel Chivukuvuku tem um curso superior de terrorismo e na direcção da UNITA há muitos peritos em agitação e guerrilha urbana.

Em 1992, Savimbi decidiu ocupar militarmente quase todo o país para depois fazer um ultimato ao governo legítimo: Ou se rendem ou morrem! Nas eleições de 24 de Agosto vai ser muito diferente. O recrutamento de Chivukuvuku pela direcção da UNITA dá sinais inquietantes. A próxima derrota do Galo Negro, desta vez, pode ser seguida de acções armadas nas principais cidades. Não necessitam de tanta tropa nem tantas armas como em 1992. Abram os olhos. Jikulumessu!

(Nesta parte a Luna mostrou-me o desenho de um cão deitado ao lado de um barbudo que sou eu enquanto velha árvore carcomida)

AMBIENTE DE CHUMBO

Manuel Carvalho Da Silva* Jornal de Notícias | opinião

Em várias escalas as nuvens escuras adensam-se e na sua composição estão elementos pesados. Vemos isso no prosseguimento da guerra na Ucrânia e nas cortinas de fumo construídas a partir dela, que servem, nomeadamente, para esconder massacres sobre povos que lutam pela sobrevivência, como aconteceu em Melilla. Na Cimeira do G7 na Alemanha e na Cimeira da NATO em Madrid, a palavra paz foi utilizada apenas para ser classificada como uma cedência. Dizem-nos que é preciso assegurar a "nossa" vitória na guerra e aniquilar o inimigo antes de falar de paz. O sofrimento dos povos não conta. É exatamente a mesmo lógica que se identifica em Putin.

Em Madrid, a Organização do Tratado Atlântico Norte (NATO), estrutura militar de defesa somente no plano teórico, tornou-se mais instrumento dos Estados Unidos da América na sua luta pelo direito exclusivo a liderar o Mundo e a ser império. Por isso fizeram a expansão global da Aliança para todos os mares circundantes e interiores da Europa, para as fronteiras com a Ásia, para os oceanos Índico e Pacífico. Estes governantes do "Ocidente" e seus acólitos pensarão, como na Idade Média, que todos os outros povos são seres menores e estúpidos?

A existência de um inimigo devidamente catalogado é a argamassa da unidade dos países da Aliança, independentemente de terem regimes democráticos, autocráticos ou ditaduras. O entusiasmo patético de políticos medíocres, por já terem inimigo para poderem brincar às guerras, assusta. A China entra na calha para receber o qualificativo, não por ser uma ameaça militar, mas sim por ter força económica e política. Na luta interimperialista que hoje se vive é necessário afirmar os valores e as culturas das nossas sociedades, confrontá-los com os de outras, mas com respeito recíproco. Sem isso será o desastre.

Os governantes dos países economicamente mais poderosos, substituíram as respostas aos problemas económicos e sociais com que nos deparamos, pelo reforço da economia financeirizada e de guerra. As ajudas aos países pobres para melhorarem condições de vida dos povos e criarem emprego não existem. São substituídas por pagamento a poderes corruptos - de países de fronteira no Norte de África, do leste e sudeste da Europa, das Américas - para travarem os movimentos migratórios, reprimindo sem dó nem piedade. Os problemas do ambiente não têm resposta e regride-se nas condições para as transições energéticas.

A Cimeira dos Oceanos em Lisboa devia ser um acontecimento mundial de grande relevo, mas foi ignorada ou secundarizada pelos governos dos países que podiam influenciar as mudanças indispensáveis. Simultaneamente, o Fórum dos Governadores dos Bancos Centrais, realizado em Sintra, mostra-nos que, mais uma vez, lhes é entregue, erradamente, a missão de tratarem do combate à inflação. Os governos não assumem políticas sustentadas na economia real e focadas na resposta aos problemas das pessoas. Desenha-se a continuação de ajudas na compra de dívida pública, acompanhada de novos memorandos com exigência de desvalorização salarial (já em curso) e de contenção na despesa pública.

No plano nacional, ocorreu o episódio do temos, não temos, novo aeroporto na região de Lisboa. O Partido Socialista parece não conseguir tratar-se da bebedeira que apanhou com a maioria absoluta. A ação governativa vai dando sinais desse estado e a atração do primeiro-ministro por uma governação nos interstícios das manobras políticas internacionais não ajuda a resolver problemas. Curem-se rápido.

* Investigador e professor universitário

Portugal | VOO RASTEIRO

Joana Amaral Dias* | Diário de Notícias | opinião

Ora vejam o que escrevi num jornal, em Janeiro de 2019: "Décadas a discutir um novo aeroporto e, de repente, está decidido, é no Montijo. Mais do que tempo para tomar uma opção fundamentada, mas qual quê. Portugal no seu melhor. Empurrou-se com a barriga, deixou-se a Portela rebentar pela costuras e, quando a solução passou de necessária a emergência, decide-se com os pés e em cima do joelho. Montijo e pronto." Credo. Afinal, nessa altura não houve decisão alguma (entretanto veio a covid e os aviões sumiram) mas a história repetiu-se mais de três anos depois, agora com Pedro Nuno Santos. Isto quando se junta a guerra pela sucessão no PS com tantos interesses que tentam abocanhar o lombo de uma obra colossal, é o diabo. Fora isso, eis o melhor retrato lusitano: a coisa custa a descolar, não levanta voo, parece que estamos sempre no mesmo sítio, em constante ladainha, lenga-lenga. Lembra aquele velhinho filme O Feitiço do Tempo com um Bill Murray novinho. Permanentemente discutimos os excessos de burocracia, o serviço nacional de saúde e as urgências, os incêndios, o crescimento anémico, a corrupção e, claro, o aeroporto da capital.

Este impasse remonta a 1969 (ainda é mais velhote), quando começaram a ser equacionadas localizações, de Rio Frio à Ota. Em 2007, comparou-se esta com Alcochete e o então ministro afirmava "Margem Sul jamais" porque seria "faraónico onde não há gente, escolas, hospitais, indústria, comércio". Mesmo? O governo PS mudou e, em 2019, passou a achar o Montijo mais barato e mais eficiente. Mas por comparação a quê?! Para ser séria, essa afirmação obrigaria a uma avaliação estratégica que confrontasse hipóteses distintas em segurança, ambiente, economia. "Assim, como sempre, tratou-se apenas de mais uma genuflexão a um grupo económico estrangeiro, numa decisão opaca tomada à Czar com o respectivo pivot -- o ministro Pedro Marques -- bem recompensado, ascendendo a estrela e podendo ser cabeça de lista nas europeias". Lembram-se?

Ota, Alverca, Sintra, tanta geografia depois, e o certo é que os governantes tão useiros e vezeiros a patrocinar chorudos pareceres, ainda não encontraram uma equipa técnico-científica que sustente uma opção definitiva. Também Beja, infelizmente, não parece ser escolha porque embora tenha parte do investimento realizado, baixo impacto ambiental, promessa de desenvolvimento do interior e do comboio, é muito longe de Lisboa, não serve milhões de portugueses e é estrategicamente errada.

Portanto, das duas uma - ou a Portela é mesmo um aeroporto complexo, sobrelotado, ter este nível de pressão no tráfego aéreo no centro de uma capital é uma roleta russa diária, e logo há que avançar. Ou tudo isso é balela e não necessitamos de mais nenhum aeroporto em Lisboa. Mas em avançando, é necessário satisfazer quer as piranhas de Alcochete quer os abutres do Montijo? Meio século depois, a conclusão a que chegam é ambos? Enfim, confirma-se que entre pontes e pistas, em Portugal não vinga a defesa do bem comum mas apenas a protecção e promoção dos interesses particulares.

Diz a história de Viriato que Roma não paga a traidores. Mas, definitivamente, Portugal paga bem aos seus próprios vendedores.

*Psicóloga clínica.

Escreve de acordo com a antiga ortografia

Portugal | MONTIJO AVANÇA


Jenrique Monteiro | Henricartoon

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