sexta-feira, 16 de setembro de 2022

VARÍOLA DOS MACACOS: DE NOVO DESIGUALDADE E GANÂNCIA

Encefalite e confusão mental são alguns dos sintomas

A doença já circula desde 1970, mas não houve interesse comercial em erradicá-la. Agora, EUA e Europa concentram quase todos os tratamentos, enquanto África e América Latina padecem. Não aprendemos nada?

Gabriela Leite | Outras Palavras | Publicado em português do Brasil

O filme se repete. Uma doença eclode, países ricos correm na frente e estocam os medicamentos e vacinas disponíveis; farmacêuticas aproveitam para lucrar mais; o Sul Global adoece e fica sem perspectivas. É o que acontece com o surto de varíola dos macacos, que já atingiu mais de 100 países. A gravidade das enfermidades não é comparável. No entanto agora, em relação à mercantilização da saúde e às desigualdades globais, há ao menos dois agravantes muito emblemáticos, explicitados em matéria do jornal New York Times.

O primeiro é que a doença não apareceu agora. Ela circula em países da África Central desde os anos 1970. Mas ao menos desde 2017, cientistas da região começaram a acompanhar sua circulação para além de zonas rurais, especialmente após um surto na Nigéria. O alerta foi feito – mas a indústria farmacêutica, movida pelo lucro, não mostrou interesse em fazer pesquisas para produzir medicamentos ou vacinas.

Era questão de tempo até a varíola dos macacos se espalhar, como bem avisaram os pesquisadores africanos. Quando os Estados Unidos perceberam o risco para sua população, possuíam uma carta na manga: reservas de vacina contra varíola, feitas como parte de um projeto de biossegurança após os ataques de 11 de setembro de 2001.

Os EUA contribuíram com mais de um bilhão de dólares para o desenvolvimento da vacina pela empresa dinamarquesa Bavarian-Nordic. Jynneos, o imunizante produzido a partir desse investimento, é o mais eficaz e seguro contra a varíola comum. Sobre seu uso para a varíola dos macacos, há apenas estudos feitos com primatas não-humanos para provar sua eficácia. É o que tem para hoje.

Angola | A PALAVRA SÁBIA E O VENTO IMPARÁVEL – Artur Queiroz

Artur Queiroz*, Luanda

O senhor Pratas tinha uma carrinha Chevrolet cansadíssima que largava uma fumarada espessa, desde que passava as correntes na aldeia da Missão até ao barracão do clube. Era dono de uma máquina de projectar fitas, que montava no salão das festas. Nas noites de cinema, o motor da luz só era desligado quando aparecia a palavra fim. Projectava muitas vezes o mesmo filme. As más-línguas diziam que ele tinha dívida com o fornecedor e só lhe davam um filme novo quando ele pagasse os anteriores. Houve uma altura que mostrava sempre O Comboio Apitou Três Vezes, com o Gary Cooper e a Grace Kelly, mais tarde rainha.

Filmes dos irmãos Marx também eram muito repetidos. Mas ninguém se importava. Era rir até chorar por mais. O Groucho tinha uma piada que me marcou para toda a vida: “Jamais aceitarei fazer parte de um clube que me aceite como sócio”. O Adalberto da Costa Júnior também jura a pés juntos que jamais aceitará a democracia se os democratas o considerarem um democrata. Boa sorte. O ódio ao regime democrático é mesmo dele. Insanável. Mas também é um grande cómico. Tipo Cantinflas, o impagável Mário Moreno, mexicano, que arrebatou plateias quando o mundo do cinema era dominado pelos estúdios do estado terrorista mais perigoso do mundo, os EUA. E ele independente!

Também vos digo que todas as histórias vão acontecer, se é que não aconteceram já. Isso da imaginação é como o futuro, mal nasce, vira logo passado. Não tem tempo para existir. Quem existe e com uma grandeza esmagadora é a presidente do Tribunal Constitucional, veneranda conselheira Laurinda Cardoso. O seu discurso na investidura do Presidente João Lourenço é uma peça notável que me faz acreditar que nem tudo está podre no reino da Dinamarca. Logo a abrir, a magistrada lembrou que “todo o poder investido pelo Estado tem como contrapartida a responsabilidade pelo seu povo!”. Percebem? 

A afirmação deixou-me zonzo, estava mais è espera que sua excelência dissesse que se não fosse o Presidente João Lourenço, o mar corria para terra e os rios pariam bois em vez de bagres. Ainda não me tinha refeito da surpresa e levei com outra dose de dignidade e lucidez: “Senhor Presidente da República, será sua, em primeiro lugar, a responsabilidade de garantir a preservação e a manutenção do nosso contrato social”. 

Se alguém precisar de uma explicação, eu explico, com todo o gosto. Deixem-se lá de enxamear as instituições do Estado com medíocres e acomodados, porque há um contrato social para cumprir. O pessoal do poder pode ser indigente mental. Mas tem o dever de combater a pobreza até à sua extinção. Como os rapazes da minha geração e das gerações seguintes combateram o colonialismo, os invasores estrangeiros e esmagaram o regime racista de Pretória.

Angola | "Estes cinco anos são uma espécie de tudo ou nada para João Lourenço"

Analista considera que novo mandato de João Lourenço como Presidente é a derradeira oportunidade para a "democratização" de Angola. E alerta para "enorme incógnita" face a novo posicionamento sobre a guerra na Ucrânia.

João Lourenço assumiu esta quinta-feira (15.09) oficialmente o segundo e último mandato como Presidente de Angola. No discurso de tomada de posse, o chefe de Estado prometeu dedicar "todas" as suas "forças e atenção à busca permanente das melhores soluções para os principais problemas do país", com mais hospitais, mais estradas, mais escolas e mais emprego.

Na cerimónia de investidura, o líder afirmou que vai dar continuidade aos projetos e programas iniciados na anterior legislatura, incluindo o combate à corrupção.

Em entrevista à DW África, a jornalista Ana Maria Simões diz que os próximos cinco anos serão derradeiros para o Presidente.

“VAI TRABALHAR, MALANDRO!”: AS PRISÕES EM PORTUGAL

Portugal é um dos países mais seguros do mundo, mas há 60 anos que a sua população prisional não para de subir. Em 1974 eram dois mil reclusos, hoje são mais de 14 mil. Os reclusos vivem como zombies entre quatro paredes, como consumidores de drogas ilícitas e/ou com psicotrópicos servidos indiscriminadamente pelo Estado.

António Pedro Dores* | Setenta e Quatro

A invisibilidade das prisões é socialmente produzida a par da boa consciência com que as sociedades modernas se negam a reconhecer o uso de sacrifícios humanos organizados pelos Estados. Mesmo as ciências sociais descrevem as desigualdades sociais como resultantes de diferenças de capacidades, méritos, oportunidades individuais, sem reconhecerem a existência de muitas pessoas cujas vidas são inqualificáveis nas classificações das profissões, cujos destinos são reconhecidos tecnicamente desde a infância sob a designação de pré-delinquência.

Pensar em prisões produz inconscientemente uma dualidade de critérios que coexistem, mas são contraditórios entre si. Os presos ora são vistos como criminosos inatos, ora como pessoas alienadas a que a sociedade deve mais oportunidades. As teorias jurídicas e sociais reconhecem haver estigmas que marcam quem passa pela prisão ou tenha familiares presos, mas para evitar contribuir para isso pensam como se as decisões policiais e judiciais não tivessem efeitos. Como se as desigualdades sociais fossem meramente económicas e sociais e não judiciais.

Esta segunda parte do artigo refere-se aos padecimentos sacrificiais, enquadrados legalmente e à margem da lei, que fazem o quotidiano das prisões em Portugal e que destroem a moral e as vidas de quem lá vive.  

Entre dois mil  presos, em 1974, e 14.600 presos, em 1998, assim evoluiu o número de presos em Portugal nos últimos 60 anos (Pordata consultado a 2.7.2022). 

Com a Guerra Colonial (1961-1974), a mobilização militar dos mancebos corresponde a uma queda sustentada do número de presos. Só em meados dos anos 1980 é que o número de presos volta a ser o que fora em 1960. O ano da Revolução dos Cravos, 1974, corresponde a um fim de ciclo de redução sustentada do número de presos e inaugura o seu aumento persistente. 

Portugal regista pior agravamento nas condições de vida das famílias na UE

Em 2021, Portugal subiu de 13.º para 8.º na lista de países europeus com maior risco de pobreza ou exclusão social. O aumento de 2,4 pontos percentuais representa o pior agravamento nas condições de vida das famílias a nível europeu.

No ano passado, 95,4 milhões de pessoas na União Europeia, o equivalente a 21,7% da população, estavam em risco de pobreza ou exclusão social, ou seja, viviam em agregados familiares com pelo menos um dos três riscos de pobreza e exclusão social (risco de pobreza, privação social e/ou viver num agregado familiar com intensidade de trabalho muito baixa). Face a 2020, registou-se um aumento de 0,1%. De acordo com o Eurostat(link is external), cerca de 5,9 milhões de pessoas (1,3% da população total) viviam em agregados familiares que enfrentam simultaneamente os três riscos de pobreza e exclusão social. Em 2021, 73,7 milhões de pessoas na UE estavam em risco de pobreza, enquanto 27 milhões estavam gravemente desfavorecidas material e socialmente e 29,3 milhões viviam num agregado familiar com baixa intensidade de trabalho.

As percentagens mais elevadas de pessoas em risco de pobreza ou exclusão social foram registadas na Roménia (34%), Bulgária (32%), Grécia e Espanha (ambos 28%). E as percentagens mais baixas de pessoas em risco de pobreza ou exclusão social foram registadas na República Checa (11%), Eslovénia (13%) e Finlândia (14%). Já Portugal subiu de 13.º para 8.º, com 22,4% de pessoas em risco de pobreza ou exclusão social (20% em 2020), acima da média da UE. Conforme sublinha o jornal (link is external)Público(link is external), o aumento de 2,4 pontos percentuais representa o pior agravamento nas condições de vida das famílias a nível europeu.

O Inquérito ao Rendimento e Condições de Vida do Instituto Nacional de Estatística (INE), divulgado em dezembro de 2021, e referente aos rendimentos do ano anterior, já revelava que o primeiro ano da pandemia fez 228 mil novos pobres e que 18,4% da população estava já abaixo da linha de pobreza, o que representa um aumento de 2,2 pontos percentuais face a 2019. Já o número de trabalhadores pobres tinha subido de 9,6% para 11,2%.

Esquerda.net | Imagem: Paulete Matos

Portugal | 999


Henrique Monteiro | Henricartoon

Mudançazinhas e apoiozinhos em Portugal. O mundo a rebentar pelas costuras

ACORDAR NEGRO

O Curto do Expresso vai encontrar-se com quem quiser um pouco mais em baixo. Agora nós, a dizer que o título não é do PG mas sim demonstrado pela realidade que o pespega bem à nossa frente. Perante as evidências testemunhamos que os políticos andam à nora para combater o caos instalado planetáriamente. Visto isso, sabemos e vimos que quem se está a lixar é o mexilhão. São milhares de milhões deles – mexilhões ou povinhos – a perecer no imbróglio que as ganâncias e egoísmos humanos das elites e dos próprios ‘perrapados’ plebeus evidência. É o salve-se quem puder que avança em ritmo acelerado. 

Na atualidade existem muitos mais doutores e sábios que antes, menos analfabetos, mais letrados e captadores do chamado conhecimento, alegadamente mais sabedoria… Mas o resultado está à vista: cada um olha obstinadamente para o seu umbigo. Este caos, prenúncio da hecatombe, está à vista. Resta resistirmos até perecermos, antecipando a sapiência de que isso nada resolverá enquanto não nascer o Homem/Mulher Novos, embrião de uma nova e de facto sociedade humana em que o importante a preservar é o coletivo e não a individualidade.

O Curto aqui está, a seguir. Uma mostra em montras e expositores cada vez mais radicais no rumo da desumanidade cúmplice da extinção. Vamos lá a isso e dar ainda mais continuidade no cumprimento do plano não se sabe de quem, porque já estamos todos nós embrenhados nesses comportamentos…

Desculpem qualquer coisinha menos agradável.  O que é facto é que o sol quando nasce não é para todos - só para alguns, ao contrário do que a ilusão nos leva a afirmar contrariando a mente. (MM/PG)

O que aí vem no crédito à habitação. As mudanças na Saúde. E o regresso às aulas - os meus destaques do Expresso

Martim Silva | Expresso

Bom dia

Seja bem-vindo ao seu Expresso Curto desta sexta-feira, em que tem nas bancas mais uma edição semanal do jornal.

A situação no crédito à habitação, com a subida dos juros e o aperto nas prestações mensais, as mudanças na saúde, com um novo ministro e um novo CEO, o estado (obsoleto) da Administração Pública, a abertura do ano letivo (e a falta de professores e residências universitárias), mas também a guerra na Ucrânia e a sucessão real no Reino Unido - eis alguns dos pratos fortes desta edição.

Mas primeiro, chamo-lhe a atenção para a distribuição, gratuita, com o seu jornal do primeiro Expresso Ser: o primeiro manual para ser sustentável. Aqui encontra sugestões para poupar o ambiente e a carteira na alimentação, na energia, etc. Muito útil nesta altura, certamente. Porque há pequenos gestoes e acções que podem ajudar a mudar a nossa vida e a vida do nosso planeta.

Vamos aos meus destaques, começando pelo Primeiro Caderno:

Reformista à força
Obrigado a gerir um ciclo de austeridade, o primeiro-ministro que se irrita com a ideia de reformas estruturais pondera até onde levar a maioria absoluta. Saúde é, para já, a reforma em marcha

Costa reforça Governo para acalmar PS

Marcelo satisfeito com mudanças na Saúde
Novo ministro trabalhou desde julho no Estatuto do SNS. Saída de Temido considerada inevitável em Belém

O desespero na procura de quarto
Os preços sobem, a oferta diminui e as ajudas do Estado que chegam a poucos não cobrem a renda nas cidades mais caras

Falta de docentes ameaça privados
Colégios sentem cada vez mais dificuldades de contratação e estão preocupados com fuga de professores para o ensino público

Administração Pública. Um Estado a cair aos bocados
Máquina da Administração Pública está cada vez mais velha e lenta. Instalações degradadas e atrasos tecnológicos afetam a saúde dos funcionários
dos
Carlos Alexandre iliba Benfica
No despacho em que leva a julgamento os três arguidos que divulgaram o correio eletrónico, o juiz diz que não há crime no seu conteúdo

Há elementos de gangues entre os imigrantes timorenses em Portugal
Tatuagens ‘denunciaram’ membros de grupos violentos de artes marciais. Autoridades investigam

Rei E ai de quem discordar
Há pouco espaço para a crítica num país unido pelo luto. Detenções de manifestantes pacíficos põem em causa liberdade de expressão (reportagem de Pedro Cordeiro em Londres)

Guerra na Ucrânia. Conquista de Kherson ainda vem longe
Reconquista de Kharkiv impressionou o mundo, mas recuperar terras a sul é esforço a longo prazo

O papel da espionagem americana na Ucrânia
Veteranos da CIA, do Pentágono e do Departamento de Estado comentam para o Expresso o auxílio da secreta dos EUA ao aliado do Leste

Agora, a vez dos pratos fortes do caderno de Economia desta semana:

Prestações do crédito à habitação vão aumentar até 59%
Aumento da Euribor vai provocar uma rápida subida do custo mensal dos empréstimos. Dívidas a 10 anos terão agravamento de 25% até ao próximo verão, mas nos prazos de 30 anos o salto é mais do dobro

Revisão de spreads reduz pressão

“QUEREMOS EVITAR UMA SITUAÇÃO SEMELHANTE À da DÉCADA DE 70”
Vice-presidente do BCE considera fundamental travar inflação. E elogia a política orçamental portuguesa

Quem são os candidatos a comprar a TAP?
Lufthansa, Air France/KLM e IAG veem a TAP como meio para crescer e ocupar espaço

IRS ‘ameaça’ ficar com 100% do apoio de meia pensão
Pensionistas com valores próximos do salário mínimo (€705) podem ter de devolver ao Estado a totalidade do aumento

LOJAS HISTÓRICAS A DESAPARECER.
Na Baixa de Lisboa há 60 lojas com história fechadas e outras mudaram de ramo

Travão nas rendas ‘assusta’ comerciantes

Na Revista, há vários pontos de interesse:

O fim de uma era. A rainha está morta; viva o rei. Após um reinado que durou sete décadas, o que será o Reino Unido sem Isabel II

O doce perigo de Meloni
Herdeira do fascismo, aliada de Salvini e Berlusconi, quem é Giorgia Meloni, que será provavelmente a primeira-ministra de Itália?

O dia em que enterrámos a nossa esperança
Foi há um ano que os talibãs tomaram o controlo de Cabul e mudaram a vida de milhões de afegãos. Refugiada em Portugal, uma jornalista conta como as mulheres desafiam o regime para manterem as suas vidas

Entrevista a Anne Applebaum: "Se queremos paz e estabilidade temos de estar preparados para nos defendermos”
É uma das vozes mais solicitadas para analisar as mudanças políticas do presente. O profundo conhecimento que tem do Leste europeu e da mentalidade nascida do sentimento de perda pós-soviética já lhe valeram o rótulo de “sovietologista”. Especialista em Estados autoritários, avisa que se acredite no que Orbán diz porque é o que vai mesmo fazer. Tal como dissera que Putin já desde 2007 revelava as suas intenções.

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