segunda-feira, 30 de janeiro de 2023

Angola | AFRICANOS ENFEITADOS COM PELE DE LEOPARDO – Artur Queiroz

Artur Queiroz*, Luanda

Na Academia Militar do Lobito acabou mais um curso de oficiais. A cerimónia de final do curso estava muito concorrida, sobretudo com familiares das e dos cadetes. Eu estava lá porque o meu afilhado era um dos garbosos finalistas. A meu lado um casal babado. O seu filhote estava começando uma carreira militar. Quando a formatura passou à nossa frente reparei que um cadete levava o passo trocado. Era o único. A senhora a meu lado disse embevecida ao marido: - O nosso filho é um génio. Vê como ele é o único com o passo certo!

Qualquer semelhança entre este episódio e a política externa do Presidente João Lourenço é pura coincidência. A União Africana está contra o “ocidente alargado”. Namíbia, África do Sul, Zimbabwe, Tanzânia, Moçambique, Botswana, para só falar dos países da região também não aceitam as manobras dos EUA e seu “ocidente alargado”. Face a este quadro, o Presidente João Lourenço decidiu marchar ao contrário. Só mesmo os protectorados e os estados genocidas (colonialistas) acompanham a condenação da Federação Russa. 

Quando alguém está com o passo trocado nada melhor do que ajudá-lo a acertar. Vou recuar ao dia 26 de Fevereiro de 1885, data em que terminaram os trabalhos da criminosa Conferência de Berlim, onde as potências coloniais e imperialistas ditaram o maior genocídio da História da Humanidade. Mais de mil mosaicos culturais e regiões milenares foram esmagados. Milhões de seres humanos vendidos, traficados, mortos.

Na conferência dos genocidas participaram Áustria, Hungria, Bélgica, Dinamarca, França, Alemanha, Grã Bretanha, Itália, Holanda, Portugal, Rússia, Espanha, Suécia, Noruega, Turquia e Estados Unidos da América. Dos participantes, França, Alemanha, Grã-Bretanha e Portugal ocupavam praticamente todo o continente africano. Estamos a falar do “ocidente alargado”. 

No final de um dos mais terríveis crimes contra a Humanidade o rei dos belgas, Leopoldo II, ficou com o Estado Livre do Congo (Congo Belga hoje República Democrática do Congo) como sua propriedade pessoal. A Grã-Bretanha abocanhou uma faixa que ia do Cabo da Boa Esperança, na África do Sul, até ao Egipto. Tomem nota dos países transformados em colónias britânicas: Egipto, Sudão, Uganda, Quénia, África do Sul, Zâmbia, Zimbabwe, Botsuana, Nigéria e Gana. Londres é uma das capitais do “ocidente alargado”.

A França foi contemplada com as terras ao sul do Saara, quase toda a África Ocidental, da Mauritânia ao Chade, mais o Gabão e a hoje República Popular do Congo. Paris é a capital elegante do “ocidente alargado” mas tem as vestes de alta-costura manchadas com o sangue de milhões de africanos. E os crimes continuam. Mas Burkina Faso e Mali já se libertaram dos assassinos neocolonialistas. 

Portugal ficou com Moçambique mais Angola com a sua “dependência” São Tomé e Príncipe. Mais tarde abocanhou a Guiné-Bissau. Cabo Verde nunca esteve em disputa. Era uma espécie de extensão do território insular com os arquipélagos da Madeira e dos Açores.

A Alemanha ficou com a África do Oeste, dominando efectivamente a Namíbia e Tanzânia. Para os alemães, o Sul de Angola era território a conquistar aos portugueses. Não vou dar pormenores do plano porque para isso tinha de referir o papel do rei Mandume. Não quero. 

Os genocidas mais modestos foram a Itália, que ficou com a Somália e uma parte da Etiópia, e a Espanha que ficou com a Guiné Equatorial. Esta colónia foi dote de uma princesa portuguesa que casou com o rei de Espanha. Toda a região insular da Guiné era colónia portuguesa e mudou de mãos como prenda da princesinha. Assim os genocidas tratavam África e os africanos. O “ocidente alargado” continua a agir assim. A ministra das relações exteriores da Alemanha acha que estamos todos ente o macaco e a onça ou a chita. 

Uma informação final. Quando começou a Conferência de Berlim, as potências coloniais dominavam 80 por cento de África. Quando o sinédrio dos genocidas terminou passou a cem por cento. Peço o favor de fazerem chegar este texto a sua excelência o Presidente João Lourenço. Isto não é opinião. São factos. O “ocidente alargado” é uma arma de extermínio usada por colonialistas, esclavagistas e genocidas reforçados por fantoches e traidores. E usam criminosamente os ucranianos contra a Federação Russa. 

O apoio de Angola ao estado terrorista mais perigoso do mundo (EUA) e seu “ocidente alargado” já deu resultado. O Presidente João Lourenço entregou a dignidade e a honra do Estado Angolano e em troca recebeu um chouriço. A NASA mandou 500 mil euros para apoiar o combate à seca no Sul de Angola. O mesmo que recebeu de indemnização uma senhora administradora da TAP em Portugal. Se não fosse tão trágico, dava para passar o fim-se-semana a rir.

Querem conhecer a verdadeira face do “ocidente alargado”? Um criado às ordens do George Soros e companhia ilimitada lançou um “livro” sobre o BANIF. Diz o rapaz, secundado pelo kaxiko Rafael Marques, que o banco de Horácio Roque, marido de Fátima Roque da UNITA, serviu para lavar dinheiro de milionários angolanos. E ventila lixo para cima do antigo PGR João Maria de Sousa, um homem honrado a quem Angola muito deve.  

O BANIF foi criado pelos karkamanos, apoiados por portugueses para financiar a subversão em Angola. Para lavar o dinheiro dos diamantes de sangue da UNITA. Para financiar as acções criminosas de Jonas Savimbi. Mas os criados do George Soros só atacam os milionários angolanos. Porque são concorrentes do dono. 

Querem conhecer a dimensão moral do “ocidente alargado”? Tropas israelitas foram ao campo de refugiados de Jenin, na Cisjordânia, e mataram dezenas de civis indefesos. Ninguém abriu o bico. No dia seguinte, um miúdo palestino de 13 anos disparou contra israelitas em Jerusalém. Os Media ocidentais, os governos das potências do “ocidente alargado” condenaram “o ataque terrorista”. Uma criança é terrorista. Militares armados até aos dentes que assassinam civis são justiceiros. 

Os ucranianos são ocidentais, como os franceses, britânicos, norte-americanos, portugueses, ou espanhóis. Os africanos são macacos ou, na melhor das hipóteses, leopardos que têm de ser amestrados para entrarem no circo do “ocidente alargado”.

* Jornalista

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