Martinho Júnior, Luanda
Os eventos em torno da Ucrânia trouxeram à tona o impulso implícito dos Estados Unidos para abandonar as tentativas de reforçar sua posição global com meios legítimos e adotar métodos ilegítimos para garantir seu domínio.
Qualquer coisa serve.
Mecanismos e instituições outrora reverenciados que foram criados pelo Ocidente liderado pelos EUA foram descartados (e não por causa do que estamos vendo na Ucrânia).
Livre mercado, concorrência justa, livre iniciativa, inviolabilidade da propriedade e presunção de inocência, em uma palavra, tudo em que o modelo de globalização ocidental se baseava desmoronou da noite para o dia. Sanções foram impostas à Rússia e outros países censuráveis que não cumprem esses princípios e mecanismos. Claramente, as sanções podem ser impostas a qualquer momento a qualquer país que, de uma forma ou de outra, se recuse a seguir as ordens americanas sem pensar.
A União Européia foi completamente subsumida por essa ditadura dos EUA (não vale a pena discutir isso muito). A assinatura da Declaração Conjunta sobre a Cooperação UE-NATO, a 10 de janeiro, foi o ponto alto deste processo, algo que se arrasta há vários anos. – https://www.mid.ru/ru/foreign_policy/news/1848395/?lang=en
A ILUSÃO IMPERIALISTA DO PODER PELA FORÇA DAS ARMAS PRODUZIDAS PELAS CORPORAÇÕES DA INDÚSTRIA DO ARMAMENTO.
A superioridade militar da Federação Russa em qualquer teatro de operações deriva de conceitos de raiz que respondem à necessidade de sobrevivência da própria Federação em função dos desafios decorrentes da implosão da União Soviética.
Ideologia, ciência, capacidade industrial e tecnológica, economia, finanças, sociedade, tudo se conjuga na direcção da maturação perante desafios, riscos e a necessidade de segurança vital garante da sobrevivência da Federação.
Esse modo de fazer viver a Rússia, é uma experiência exemplar que advém do passado, algo que tem a ver com o peso da grande batalha de Stalinegrado, (actual Volgogrado): se foi lá que foi feita a contensão das forças de Hitler, foi a partir de lá que se passou à contra ofensiva que só parou com a tomada de Berlim!
Isso quer dizer que a refinação dos conceitos em função das experiências históricas é a pedra filosofal com vista à eclosão duma ampla e aturada maturação, passo a passo, prova a prova, aproveitando muito do que foi produzido antes como base para melhor se poder avançar tecnológica e operativamente, ao mesmo tempo que se vão introduzindo capacidades inovadoras em outros tantos sectores só possíveis graças a uma intensa força de investigação e vontade de existir para vencer!
Alguns conflitos que envolveram as forças russas pavimentam as últimas décadas desse caminho pejado de experiências que se foram cientificando ainda mais desde o início dos anos 90 no século XX e entre eles avultam os conflitos localizados na Chechénia, na Geórgia e na Síria, (que implicaram intervenções das Forças Armadas da Federação, ainda que limitadas a “guerras híbridas”)!…
Em paralelo, os acontecimentos sucessivos nos Balcãs (pondo fim à Jugoslávia), no Afeganistão, no Iraque, na Palestina, na Líbia, no Sahara e no Sahel, são outras lições que a Federação Russa recebeu sobre o comportamento operativo do bloco “ocidental” da hegemonia unipolar e de suas consequências, no que diz respeito ao seu expansivo carácter bárbaro, arrogante e colonial.
A maturação do esforço inteligente e militar russo implicou na completa reformulação de sua indústria militar e tecnologia, cientificando o conhecimento e a rica experiência, o poder de raiz que projecta as aptidões de vastos sistemas de armas que se podem combinar e conjugar no campo de batalha produzindo as mais mortíferas opções, muitas delas de relativamente baixo custo!
A combinação e a conjugação de sistemas de armas, tão versáteis que permitem aplicar as mais variadas ementas, confere logo à partida uma vasta vantagem sobre os impulsos “ocidentais”, transversalmente sacrificados aos caprichos das corporações de armamento cujo fim maior é vender armas de alto custo, onde quer que seja a nas maiores quantidades possíveis, sem obedecer às necessidades contemporâneas de combinação e conjugação de sistemas, única forma de criar supremacia operacional nos modernos campos de batalha como acontece na Ucrânia, como aconteceu em Stalinegrado e desde ela até ao fim da IIª Guerra Mundial.
O balancear da correlação de forças na Ucrânia é desfavorável aos expedientes do Pentágono e da NATO cristalizados em função do poder das corporações armamentistas!
O esforço do Pentágono e da NATO autolimitou-se conceptualmente desde sua raiz, por via das imposições das corporações do armamento que são seu sustentáculo (realce-se a Lockheed e a Raitheon) e cujos lobbies suportam aliás a administração “straussiana” de Joe Biden.
Autolimitou-se também por causa da mesquinhez mental neocolonial, própria do carácter do “hegemon ocidental”, sabendo que Churchil houve só um e não há mais génio da lâmpada como ele enquanto recurso “in extremis”!
São capazes de produzir muitas aventuras, com todo o tipo de quinquilharias militares, mas terão imensas dificuldades em fazer frente a inimigos bem organizados, historicamente organizados e experientes, com uma logística eficiente, com sistemas bem combinados e conjugados saturando as frentes de combate, com capacidades reflexivas que se estendem desde a leitura das experiências em combate até aos cérebros científicos, industriais e tecnológicos na rectaguarda, com geoestratégias de largo espectro e alcance!...
A Rússia está mesmo a ensaiar, ainda que de forma contida e limitada, outra Grande Guerra Pátria, algo que nada tem a ver com o carácter aventureiro dos que apenas pretendem lutar até ao último ucraniano, ou polonês, vendendo o máximo de material produzido pelas corporações do armamento com o objectivo explícito de “desgastar” o poder russo… que ilusão!
O “ocidente” desesperado ilude-se a si próprio quando se vocaciona por essa trilha neonazi que vai determinar a sua própria degradação até à exaustão e, com ela criar a libertação dos seus povos do jugo de tão mesquinhas quão hipócritas oligarquias!
Decerto que a tendência será para cada vez mais iniciativas aceitarem a multilateralidade como sua própria libertação, pois de ilusão em ilusão, a hegemonia unipolar determinou seu próprio beco sem saída e o nazismo como recurso extremo é já uma colossal derrota mental e histórica!
STALINEGRADO HÁ 80 ANOS, DONBASS HOJE.
A batalha de Stalinegrado foi um ponto de viragem duma União Soviética que, sob pressão e a quente, conseguiu reorganizar-se em termos científicos, industriais e tecnológicos a leste dos Urais, longe do alcance das armas da poderosa agressão nazi e até dos olhos dos aliados da ocasião.
A URSS tirava partido da profundidade asiática do seu território para, num esforço gigantesco “de rectaguarda”, encontrar energia e forças capazes de vencer nas frentes o desafio nazi que a havia invadido com meios poderosos produzidos desde a década anterior na Alemanha e na Itália, na Ásia Ocidental, buscando vingar-se das derrotas sofridas na Iª Guerra Mundial…
À época esse foi um desnorte da mesma oligarquia disposta a tudo, inclusive ao estúpido sacrifício, inglório e inútil do seu próprio povo, imagem de marca dos nazis e dos fascistas de ontem, de hoje e de sempre!...
… Em Donbass, a Stalinegrado de nossos dias, algo similar acontece com uma diferença: a Federação Russa pode dar oportunidade, se assim o entender, a outros asiáticos orientais, do centro, do ocidente e do sul, assim como a todo o Sul Global a se juntarem articuladamente ali e em todos os continentes, não só para defenderem a multilateralidade, mas também para libertarem em definitivo a Ásia Ocidental em sintonia com os seus próprios povos!
A Rússia entende não dar essa oportunidade nas frentes de batalha, mas não pode impedir, pelo contrário, a existência desse sentimento crescente que se torna também numa opção legítima e justa!
Há reflexos disso na Organização das Nações Unidas a cada ano que passa e apesar da influência dos Estados Unidos no foral de Nova-York e sobre seus vassalos-reféns!
Esse é o significado maior dos acontecimentos correntes que incidem na Ucrânia mas também noutras partes do mundo (América e África), quando a mesquinhez e a arrogância da aristocracia financeira transatlântica dos Estados Unidos está a obrigar até os seus vassalos a um “diktat” que se tornou colonial e cruza todas as linhas vermelhas sobre a Rússia, sobre a China e sobre todo o Sul Global!
Consta que drones provenientes do Irão têm sido utilizados em defesa de Donbass e na libertação da Ucrânia e da Ásia Ocidental, mas provavelmente outras tecnologias avançadas de outros estados asiáticos se podem vir a juntar, porque o “hegemon” prolonga a guerra ao invés de se apressar em busca de consensos alargados que visem a paz!
Em Stalinegrado os nazis foram parados e das ruinas fumegantes da cidade e das regiões envolventes partiram as forças de resposta que cercaram o exército de von Paulus, partindo a espinha da Wehrmacht e escancarando as portas de Berlim!
Parar, cercar e vencer, é essa a lição, o que exige superioridade quase no absoluto que a Rússia hoje também pode realizar escalada a escalada!
No Donbass repete-se a história, com outras tecnologias que antes não existiam: parar a agressão nazi dos Banderas reinventados com as “redes stay behind” e com as “revoluções coloridas” acicatadas pelos nazis “straussianos” do império, cercar as forças inimigas e parar onde for preciso para libertar Ucrânia e toda a Ásia Ocidental deliberadamente aboli o termo “Europa” assim como aboli a América dos Estados Unidos)!
A mesquinhez e a hipocrisia têm de ser remetidas à sua pequenez mental, de natureza feudal, colonial e neocolonial, em qualquer caso “exclusiva” e exclusivista!
Antes como agora o movimento de agressão partiu de forma programada da Ásia Ocidental (desde o início da década de 90 do século passado), sem respeitar a segurança vital comum e invadindo as fronteiras dos eslavos da Ásia Oriental, do Norte, do Ocidente, os que compõem o espectro colector da multifacética cultura russa!
Ao invés de admirarem a capacidade de inter-relacionamento que existe entre comunidades, nações, povos e culturas no interior da Federação Russa, um exemplo para toda a humanidade numa base de lógica com sentido de vida, querem impor a violência própria de caos, de terrorismo e de desagregação, conforme à sua mesquinhez, egoísmo e exclusividade!
Neste momento no Donbass as forças da libertação estão a fazer pequenos movimentos de cerco e aniquilamento às fortalezas que os nazis criaram desde 2014, uma a uma – Mariupol, Severodonetsk, Ugledar, Soledar, Adviivka, Artemovsk, Seversk… é apenas o movimento da paragem e retoma (limitada) dos territórios de Lugansk, de Donetsk, de Zaporizhzhia e de Kerson, em jeito dum êmbolo que se move em direcção ao oeste…
Outras mais fortalezas se lhes seguirão nessa direcção oeste, ainda que injectem armamento de escalada em escalada!
A área de operações está limitada ainda, embora a frente seja considerável, mas a ordem tática é destruir o frenesim nazi dos Banderas da Ásia Ocidental que ousaram a agressão sobre o Donbass iludindo-se com o evasivo poderio de seus mentores coloniais que os reduzem a fantoches e a “carne para canhão”!
A propósito registe-se o que diz Putin: “inacreditável, mas é verdade – estamos mais uma vez ameaçados com tanques Leopard alemães, com cruzes no casco. E mais uma vez buscando lutar contra a Rússia na Ucrânia com a ajuda dos seguidores de Hitler, os banderitas”…
Depois complementa, avisando do braço longo multilateral: “aqueles que procuram derrotar a Rússia no campo de batalha aparentemente não percebem que uma guerra moderna com a Rússia seria totalmente diferente para eles. Não estamos enviando nossos tanques para suas fronteiras. No entanto, temos algo com o que responder, e não se limitaria apenas ao uso de armaduras, todos devem perceber isso”!
Essas são palavras proferidos em Volgogrado, no acto comemorativo e de memória relativo à vitória de há 80 anos em Stalinegrado!
A injecção de mais armamento “ocidental” vai aquecer ainda mais as águas em ebulição que se atiçam dentro do caldeirão do Donbass, mas à medida que os pequenos baluartes sorvedores de recursos, forem cercados, destruídos e tomados ainda que em escombros, o momento do movimento do contra-ataque maior desenha-se no horizonte além do êmbolo, numa profundidade geoestratégica que ainda está por melhor inventariar e definir!
Se um dia esse movimento de contra-ataque houver, é sequência directa e lógica da tomada dos baluartes nazis em território do Donbass, esgotando as suas forças e recursos!
É tempo das condições de vida dos asiáticos ocidentais continuar a desgastar-se e a agravar-se, é o momento da eclosão de sucessivas vagas de greves dos que já estão a sofrer as consequências do nazismo protagonizado pelas próprias oligarquias que os governam de forma tão arrogante, mesquinha e hipócrita!
Vão apenas no primeiro dos invernos, mas podem vir a sofrer vários mais nos próximos anos, com as condições a degradarem-se de forma mais acelerada a partir do segundo!
Outras mais resistências intestinas surgirão na Ásia Ocidental, porque a injecção de armamentos vai provocar a mobilização de recursos humanos para além da Ucrânia e da Polónia, “carne para canhão” ingloriamente sacrificada no caldeirão em ebulição dum Donbass que reedita hoje uma Stalinegrado por fim tornada multilateral!
A luta pela multilateralidade, a partir da Stalinegrado que também constitui o Donbass, abrange pouco a pouco toda a humanidade!
A luta continua!
Círculo
OS SONS QUE NOS SOCORREM – Esta intervenção foi feita tendo por fundo “OS BARQUEIROS DO VOLGA” – https://www.youtube.com/watch?v=IsCijkchAgQ; O EXÉRCITO VERMELHO É O MAIS FORTE – https://www.youtube.com/watch?v=Ma0HWG3pQTU; O MELHOR DA MÚSICA POPULAR RUSSA – IVAN REBROFF – https://www.youtube.com/watch?v=0dHsirjbPIA.
A consultar:
. Batalha de Stalinegrado – https://www.history.com/topics/world-war-ii/battle-of-stalingrad;
. Batalha de Kursk – https://www.history.com/topics/world-war-ii/battle-of-kursk;
. Os 80 anos da Batalha de Stalingrado: a grande vitória soviética que o Ocidente tentou apagar – https://sputniknewsbrasil.com.br/20230202/os-80-anos-da-batalha-de-stalingrado-a-grande-vitoria-sovietica-que-o-ocidente-tentou-apagar-27268979.html;
. Putin emite alerta ao Ocidente em evento em Stalingrado – https://swentr.site/russia/570872-putin-response-to-threats/;
. “Vitória” russa em Mariupol transforma sonhos da cidade em escombros – https://www.defesanet.com.br/armas/noticia/44347/vitoria-russa-em-mariupol-transforma-sonhos-da-cidade-em-escombros/<.
. Batalha de Seeverodonetsk – https://pt.wikipedia.org/wiki/Batalha_de_Severodonetsk;
. Rússia diz que concluiu conquista da cidade ucraniana de Soledar... Leia mais em https://www.cartacapital.com.br/mundo/russia-diz-que-concluiu-conquista-da-cidade-ucraniana-de-soledar/;
. A Rússia se prepara para aprisionar Vugledar enquanto as forças ucranianas perdem a primeira linha de defesa – https://port.pravda.ru/news/mundo/57485-vuhledar_ukrainian_forces/;
. CÍRCULOS PERIGOSOS NA LINHA DE FRENTE DO DONBASS – https://southfront.org/dangerous-circles-on-donbass-front-line/;
. Entrevista do Ministro das Relações Exteriores da Federação Russa Sergey Lavrov ao canal de TV Rossiya 24 e à agência RIA Novosti, Moscou, 2 de fevereiro de 2023 – https://www.mid.ru/ru/foreign_policy/news/1852042/.
Do imediatamente anterior de Martinho Júnior:
. ÁSIA, O SUPERCONTINENTE DA MUDANÇA DE PARADIGMA – https://paginaglobal.blogspot.com/2023/02/asia-o-supercontinente-da-mudanca-de.html; https://frenteantiimperialista.org/asia-el-supercontinente-del-cambio-de-paradigma-martinho-junior/
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