sexta-feira, 3 de fevereiro de 2023

O ESCLAVAGISMO DA ERA MODERNA

Sérgio Oliveira* | Dependências

Hoje decidi escrever sobre um dos mais negros negócios da história da humanidade: o negócio da escravidão humana. Normalmente fundado em idiotices de supremacia branca que o sustentaram durante séculos, infelizmente, ainda permanecem vivas e alimentadas pelo ódio de alguns ignorantes e salafrários, vendedores de conspirações, mentiras, que arrastam atrás de si alguns mentecaptos idiotas, sedentos de poder desumano e xenófobo. E tudo ou quase tudo sustentado pelo adormecimento de uma sociedade torpe, cujo silêncio e indiferença compactuam com os maiores atos de covardia e vilipendiação a que vamos assistindo do alto da nossa poltrona… O comércio de escravos foi e, infelizmente, ainda é um grande negócio, sustentado por grandes grupos mafiosos, que alimentam algumas débeis economias, que julgava banido da nossa sociedade. A escravatura é dos crimes mais hediondos da humanidade e os seus autores modernizaram e adaptaram--se às novas formas de escravidão humana. Hitler e os seus seguidores foram responsáveis pelo holocausto que assassinou milhões de pessoas, judeus, ciganos e outras minorias que eles não consideravam humanas, marcados com ferro em brasa, para serem enviados para a fogueira, e outros que serviram de cobaias para experiências médicas, para não falar das mais torpes e horrorizadas torturas aos prisioneiros de guerra.  Hoje, a escravatura moderna apresenta outras formas de organização. Criou organizações terroristas, mafiosas e especuladoras dos direitos humanos, especializou-se e o esclavagismo passou a um ser um serviço que trafica internacionalmente “carne humana” a troco de algo a que gregos e romanos chamaram moeda. São milhões as vítimas destas perigosas organizações, que atuam impunemente no mundo da servidão, traficando e explorando homens, mulheres e crianças, que vivem num submundo e em países aprisionados pela corrupção, para servirem em trabalhos forçados e de exploração sexual e até para transformarem crianças soldados nos teatros de guerra que vamos alimentando. Em última instância, e em contornos que até já nem sequer questionamos, apoderam-se dos nossos recursos, da nossa força produtiva, da nossa contribuição, dos nossos impostos.

É este o mundo negro da nossa história, que vive no século das “amplas liberdades”, onde as oligarquias dominam as democracias, e se alimentam do vil metal que continua a exportar a escravidão no mundo. Quantos, do nosso povo, criticavam o merceeiro que, no final do mês, apresentava na sebenta de papel mata borrão contas inflacionadas face ao que parecia ter sido encomendado? E quantos, do nosso povo, criticam hoje os juros cobrados por instituições financeiras que, ao final do mês, inflacionam e de que maneira, aquilo de que verdadeiramente beneficiámos? E ainda vão aos nossos impostos porque esses juros exorbitantes não chegam… Não será também essa uma forma de escravatura, que a democracia económica implementou, assim como a nossa complacência e indiferença? Ao longo da nossa história, vivemos dos descobrimentos, de conquistas territoriais, já passámos o cabo das tormentas, brincámos com os velhos do restelo, calámos as armas que os barões assinalaram para dar mais mundo ao mundo, trocámos o pelourinho pelos escravos, demos a volta aos espanhóis e combatemos os piratas, mas não sabemos distinguir o bem do mal e queremos continuar nas nossas descobertas por outros seres que possamos tornar nossos. E também é verdade que a grandeza histórica que exaltamos e que teve o seu mérito foi igualmente construída de práticas que nos deveriam envergonhar. Quantos atropelos, quantos arbítrios vilipendiados, quantas invasões… e quanto haveria ainda por descobrir se fôssemos mais honestos… Será a procura de novos escravos que nos leva até Marte? Confesso que não sei! Mas sei que as guerras vão continuar, que continuaremos a alimentar o tráfico e rebaixamento de vidas e a viver num mundo cada vez mais desequilibrado, onde os ricos estão cada vez mais ricos e podem comprar mais escravos, e os pobres estão cada vez mais pobres e, por isso, emigram para a escravatura democrática e livre, aumentando ainda mais o fosso que desequilibra o mundo, onde existem, 2.095 bilionários com uma fortuna avaliada em mais de 8 triliões de dólares e mais de 820 milhões de pessoas a passar fome no mundo..

*Sérgio Oliveira, director – em Dependências (PDF)

QUE FORÇA É ESSA AMIGO, do album "Os Sobreviventes" - Sérgio Godinho, 1971 - Youtube

Sem comentários:

Mais lidas da semana