Inês Cardoso | TSF | opinião
O FMI reviu em alta as previsões para a Zona Euro, a inflação abrandou pelo terceiro mês consecutivo e, vistas com a secura dos números, as notícias poderiam permitir injetar algum otimismo no arranque de um ano do qual coletivamente esperamos pouco de positivo. Nas suas contas, contudo, os portugueses continuam esmagados pela subida de preços e pela fatura cada vez mais pesada na habitação.
Há, a somar aos temas concretos do dia a dia, uma questão de perceção que nos condiciona. O estado de um país mede-se de muitas formas, mas acontece frequentemente haver desalinhamento entre indicadores estatísticos e o sentimento comum dos cidadãos. Seja por razões objetivas, seja porque determinadas narrativas e sentimentos se vão instalando e condicionando a própria leitura da realidade.
O clima de casos e casinhos, com descrédito da classe política e falta de confiança nos órgãos de decisão, contribui para a sensação de paralisia e incapacidade de promover o real desenvolvimento do país. A juntar à crise política, há debilidades graves em serviços públicos que nos fazem recear pelo futuro. O que se passa na educação é o expoente disso mesmo.
É fácil perceber os argumentos dos professores e as suas reivindicações. A estabilidade e a valorização salarial são condições de base para que os jovens queiram continuar a olhar para a carreira docente. Não teremos escola de qualidade sem professores qualificados, motivados e que se sintam reconhecidos por alunos, pela comunidade e pela tutela. Desbloquear o impasse negocial é apenas o primeiro passo num caminho de recuperação da profissão que se antevê longo e que terá consequências pesadas se não for bem-sucedido.
Não basta António Costa assegurar que se sente "muito bem" para cumprir a legislatura até ao fim, como de nada serve à Oposição uma crítica ruidosa mas sem apresentação de alternativas. O país real padece de falta de ânimo. Problema que se combate com políticas transformadoras, soluções ambiciosas, foco nos serviços públicos, intervenção na habitação e nas emergências sociais, uso inteligente dos fundos europeus, atenção aos problemas das empresas. Com mais ação e menos autofagia partidária. O país agradece.
Ler
Triplo corte das pensões dos reformados da Segurança Social e aposentados da CGA
Sem comentários:
Enviar um comentário