Filipa Roseta, vereadora da Habitação, criticou no passado a "orgia de abusos na Parque Escolar" permitida pelas exceções permanentes às regras da contratação para obras públicas, mas hoje, como administradora da sociedade de requalificação urbana da Câmara, "aproveita exceção dada para a Jornada Mundial da Juventude para fazer ajustes diretos atrás de ajustes diretos", condena Daniel Oliveira.
Daniel Oliveira* | TSF | opinião
No seu espaço habitual de opinião na antena da TSF, Daniel Oliveira lembra que "Carlos Moedas disse que poderia ter adjudicado o famoso palco diretamente um construtor, mas não o fez. Consultou várias empresas, mas até ontem adiava tornar públicos os resultados dessa consulta."
Acabou por escolher a Mota-Engil, "empresa que sempre manteve boas relações com o poder político e que contratou sem concurso, graças ao tipo de execução que a vereadora tinha criticado no passado." Isto argumentando que a empresa "mais careira" pedia 18 milhões de euros para construir o altar-palco, concluindo que poupou muito.
"Prefiro a velha anedota do tipo que, substituindo os transportes pela corrida, em vez de correr atrás de um elétrico corria atrás de um táxi, que sempre poupava mais", ironiza Daniel Oliveira.
O jornalista analisa os projetos que ficaram para trás: o primeiro era "amovível e baseado em contentores, aproveitando o cenário portuário e tendo como mote a sustentabilidade, seguindo os requisitos do Vaticano e as medidas de segurança. Custava um milhão e meio de euros".
A segunda proposta era semelhante ao atual projeto do palco, mas a pala cobria apenas o altar onde ficava o Papa. Custaria três milhões de euros.
Na procura de "um projeto distintivo", optou-se por aumentar o tamanho da pala, obrigando à construção de fundações e, consequentemente, fazendo o preço disparar: cinco milhões e meio de euros.
"Fazendo o que melhor sabe, Carlos Moedas começou por atirar as responsabilidades para longe: quem lhe deu as especificações foi a Igreja Católica", justificou. Mas "como o dinheiro é dos contribuintes de Lisboa, não é da Igreja, ainda devem ser os vereadores eleitos por católicos, muçulmanos, judeus, protestantes, hindus, agnósticos ou ateus a decidirem até onde bancam a festa".
Além disso, aponta Daniel Oliveira, o Vaticano apenas pedia que o Papa não ficasse ao sol, mas não incluía a proteção de 300 bispos "na sombra mais cara da História".
"Desta vez não podemos ficar pela velha tática que a culpa é de todos e, por isso, não é de ninguém", condena o comentador, frisando que Carlos Moedas "teve uma guerra com o Governo para saber quem pagava o quê".
"O Estado central acabou por ficar com os ecrãs de vídeo espalhados pelo recinto e as casas de banho, e baixou para metade os preços que vinham inflacionados da câmara", enquanto a decisão de mudar o projeto para incluir a pala gigante - "uma megalomania nunca vista noutra Jornada Mundial da Juventude que atirou o preço para a estratosfera" - coube à autarquia.
Quanto ao derradeiro argumento de que o altar terá utilização futura, Daniel Oliveira levanta a dúvida: "Que raio de utilização posterior terá um palco de cinco mil metros quadrados onde cabem duas mil pessoas?" "Basta ver o desenho, com as suas enormes rampas e a estrutura de altar, para perceber a aldrabice."
Manuela Ferreira Leite mostrou-se "muito incomodada por convidarmos o Papa para jantar em nossa casa e andarmos a discutir sobre servimos carapau ou lagosta" e "Maria João Avillez explicou que não se podia receber o Santo Padre em cima de contentores." É esta "direita militante, sempre com o despesismo socialista na boca, que, há 10 anos, defendeu que o investimento público e salários decentes correspondiam a vivemos acima das nossas possibilidades. Para o povo tinha que ser carapau, até porque é preciso poupar para a lagosta das visitas", condena o comentador.
Além de tudo isto, "esta despesa é um insulto ao Papa, que tem dado um exemplo de humildade e modéstia", considera Daniel Oliveira. "O Papa dos pobres não merece este exibicionismo bacoco."
Texto: Carolina Rico
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