quarta-feira, 1 de fevereiro de 2023

É com Moedas mas não são esmolas: JMJ não deixará ninguém no purgatório

João Miguel Salvador, jornalista | Expresso (curto)

Olá,
E obrigado por começar o dia connosco.


Quando o projeto de um altar-palco foi apresentado, nunca se pensou que a polémica em torno do mesmo pudesse tornar-se maior do que a própria obra. Mas a verdade é que cresceu ao ponto de se agigantar, mesmo perante um investimento de 4 milhões e 240 mil euros. Foi mesmo esta proposta mais barata, apresentada pela Mota Engil, que venceu por apenas 11 mil euros a segunda proposta mais baixa. Custará menos de metade do que foi proposto por uma empresa de eventos, que se propôs colocar o sumo-pontífice sobre um altar de €8,5 milhões, na Jornada Mundial da Juventude (JMJ) marcada para agosto.

Seria, ainda assim, apenas uma pequena parte de todo o dinheiro investido na JMJ. De acordo com as estimativas mais recentes da Igreja Católica, do Governo e dos municípios de Lisboa e Loures, a realização do maior evento católico em Lisboa, no início de agosto, terá um custo de pelo menos 155 milhões de euros.

No caso de Lisboa, a maior parte do dinheiro (21,5 milhões de euros) será destinada ao Parque Urbano Tejo-Trancão, numa intervenção composta por rubricas tão distintas como as obras de reabilitação no aterro sanitário de Beirolas (orçamentadas em 7,1 milhões de euros), o polémico altar-palco de grandes dimensões (que custará 4,24 milhões de euros, aos quais acresce IVA e os custos das fundações), uma ponte pedonal sobre o rio Trancão (4,2 milhões de euros), assim como saneamento, abastecimento de água e eletricidade (3,3 milhões de euros).

O PS, que desmentiu Moedas depois de o presidente da Câmara ter acusado o partido dos atrasos e ter começado do zero, dá-lhe agora a mão - viabilizando um empréstimo de 15 milhões para as obras - , mas não o faz sem marcar a sua posição sobre o tema e atirar diretamente contra o edil: “Este é o preço da ineficácia de Carlos Moedas e do seu executivo: é mais um valor que temos de pagar pela ineficácia da gestão”, disse ao Expresso o líder do PS na Assembleia, Manuel Portugal Lage. Os 15,3 milhões de euros servirão para “financiar investimentos emergentes”, pelo que a construção de estruturas como palcos, altares ou altares-palco não poderá ter acesso a esta parte do financiamento.

A fatura só chegará no fim, mas a conta já vai longa e no rol já há algo escrito a caneta permanente: os custos puseram fim ao consenso alargado que existia em torno da JMJ.

Só que os custos não se medirão apenas em euros. É que a Câmara de Lisboa assumiu a coordenação da Jornada Mundial da Juventude com a Igreja, excluindo o coordenador escolhido pelo governo. “Não aceitamos mais pretensos coordenadores que não fazem nada e que não ajudam a resolver nada”, atirou o vice-presidente da Câmara de Lisboa, Filipe Anacoreta Silva, sobre José Sá Fernandes.

Se a coordenação municipal correr sem (mais) sobressaltos e o evento se confirmar um sucesso - é preciso muito mais do que betão para que tal aconteça - , Moedas poderá subir aos céus. Se os resultados forem negativos, estará destinado ao inferno. Em política são muitos os decisores que conseguem ficar pelo purgatório, mas todo o escrutínio em torno da JMJ antecipa que não será esse o caso.

OUTRAS NOTÍCIAS

Tanques, para que vos quero. O pedido de novos meios pela Ucrânia foi bem aceite pela maioria dos países ocidentais, mas nem tudo são boas notícias. Em Espanha, a ministra da Defesa veio avisar que os tanques para a Ucrânia estão em estado “absolutamente lamentável” - os Leopard estão há uma década parados nos arredores de Saragoça e terão de ser intervencionados até ao verão. Em Portugal, onde a contribuição com carros de combate Leopard 2 ainda é estudada, prepara-se “a marcação de uma visita técnica” ucraniana para que estes representantes avaliem os seis helicópteros Kamov portugueses inoperacionais a enviar para o combate frente à Rússia.

Proteção, quanto vos quero. Desde a execução simbólica de um boneco que representava o Presidente turco Recep Tayyip Erdogan e da queima do Corão, em Estocolmo - por um grupo pró-curdo - que Ancara reforçou a sua recusa em permitir a adesão da Suécia à NATO. Mas a Suécia não desiste: o primeiro-ministro apelou esta terça-feira a uma diminuição das tensões, antes do regresso ao diálogo com a Turquia para contornar o seu veto à entrada na NATO.

Casas procuram-se. Desde 2017, há 15 anos, que não havia tão poucas casas à venda. No final do ano passado, eram apenas 47.200 os fogos para venda em Portugal Continental. De acordo com um estudo da base de dados Confidencial Imobiliário, 17.600 eram casas novas (37%) e 29.600 usadas (63%). O Governo já veio prometer medidas para a habitação, mas o setor imobiliário pede mais. Numa altura de aumento das taxas de juro, o PCP agendou para 15 de fevereiro, com caráter obrigatório, um debate parlamentar sobre habitação.

Unicórnios fabricam-se. São oito as empresas em fase de expansão que esde esta terça-feira entraram no ‘Scaling Up Program’ da Fábrica de Unicórnios lisboeta, situada no Hub Criativo do Beato. Bairro (retalho e alimentação), HolyWally (fintech de Singapura)), Knok (inteligência artificial aplicada às videoconsultas), Leadzai (publicidade digital), Orna (gestão de incidentes cibernéticos), Pleez (gestão de restauração nas plataformas de entrega), Sensei (visão computacional para lojas autónomas) e, Zharta (mercados de capitais) foram as escolhidas.

Notas voadoras. Foram centenas as notas de 50 euros que se soltaramde um veículo, na sequência de um acidente numa autoestrada em Marbella, no sul de Espanha. O automóvel envolvido no desastre circulava com um total de 20 mil euros - que pertenciam a dois cidadãos de origem árabe, os quais transportavam o dinheiro numa mala - no interior. O motivo do trânsito causado foi apenas um: vários condutores tentaram recolher o dinheiro perdido.

Novos voos. Foi no último dia do mercado de transferências - acompanhado em direto - que a venda foi oficializada: Enzo Fernández segue do Benfica para o Chelsea por €121 milhões. Roger Schmidt, treinador dos encarnados, reagiu assim: “É uma parte do futebol. Mas a única coisa que conta é o Benfica, não falo de jogadores que já não estão”.

PODCASTS

Guiné-Bissau: a grande rota do tráfico de droga e o jornalismo de investigação
O narcoestado em foco neste episódio do Mundo a Seus Pés, uma conversa com os jornalistas Micael Pereira e Carlos Isaac conduzida por Cristina Peres.

Nuno Rangel, CEO da Rangel Logistics: “Nunca ninguém está preparado para uma pandemia, mas demos a resposta que era preciso dar ao país”
Em foco no podcast O CEO é o limite o percurso de Nuno Rangel, CEO da Rangel Logistics, líder que escolheu ser parte da solução durante a pandemia. Episódio gravado ao vivo no Porto.

Um ano de maioria, com António Costa à defesa
Mais um chumbo constitucional à eutanásia e mais uma entrevista de António Costa para analisar no Linhas Vermelhas, com Cecília Meireles e Mariana Mortágua.

O QUE EU ANDO A LER

É mais um pequeno livro de uma escritora que meio mundo ainda anda a descobrir - eu incluído, que até há pouco tempo só tinha lido a sua entrevista ao Expresso. “O Jovem”, de Annie Ernaux, publicado no ano passado pela Livros do Brasil, é o livro da vencedora do Prémio Nobel da Literatura em que a francesa descreve uma relação afetiva com um homem trinta anos mais novo. Livros pequenos, quando são bons, sabem sempre a pouco. Este é o caso.

O QUE EU ANDO A VER

Comecei a vê-la em pequenos vídeos da britânica BBC, sugeridos pelo Instagram. A atriz era Diane Morgan, escolha recorrente de Charlie Brooker (criador de “Black Mirror”) nos seus projetos, e a personagem era a que agora chega à Netflix em “O Nosso Mundo, Segundo Philomena Cunk“ (“Cunk on Earth”, no título original). Trata-se de uma incrível série documental fictícia - em cinco episódios curtos, de apenas meia hora - sobre a história da civilização. É através de entrevistas a especialistas que Philomena Cunk nos mostra a (sua visão da) história da Humanidade, com muitas piadas linguísticas à mistura.

Mas nem só de boas surpresas se faz a lista de títulos do momento.

“Caleidoscópio”, que foi o primeiro fenómeno televisivo do ano, é para mim uma desilusão. Estreado a 1 de janeiro na Netflix e talhada para o êxito mundial, chegou com a pompa dada aos grandes títulos dos serviços de streaming. A campanha prometia uma série cujos episódios podiam ser vistos por qualquer ordem, o que à partida parecia inovador e tentador, mas ou as minhas expectativas estavam demasiado elevadas ou o resultado não é tão bom como se anunciava. Trata-se, afinal, de mais uma série sobre o planeamento de um assalto de grandes dimensões e a razão para que se possa assistir por qualquer ordem é só uma: os capítulos não têm qualquer ligação entre si. Valha-nos a grande interpretação de Giancarlo Esposito, que conhecemos pelo papel de Gustavo Fring em “Breaking Bad” e na prequela “Better Call Saul”).

Felizmente, “Caleidoscópio” não é a única série a marcar o começo de 2023.

A criação pós-apocalíptica “The Last of Us”, baseada no jogo homónimo, está em crescendo - provando que é possível fazer mais do que transportar determinado universo das consolas para a televisão. Depois de um terceiro episódio que surpreendeu o mundo no início desta semana, eis que surge o teaser do quarto capítulo, que chega segunda-feira à HBO Max. Há que estar preparado para o que aí vem.

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