João Miguel Salvador, jornalista | Expresso (curto)
Olá,
E obrigado por começar o dia connosco.
Quando o projeto de um altar-palco foi apresentado, nunca se pensou que a
polémica em torno do mesmo pudesse tornar-se maior do que a própria
obra. Mas a verdade é que cresceu ao ponto de se agigantar, mesmo perante um
investimento de 4 milhões e 240 mil euros. Foi mesmo esta proposta mais barata,
apresentada pela Mota Engil, que venceu por apenas 11 mil euros a segunda proposta mais
baixa. Custará menos de metade do que foi proposto por uma empresa de
eventos, que se propôs colocar o sumo-pontífice sobre um altar de €8,5 milhões,
na Jornada Mundial da Juventude (JMJ) marcada para agosto.
Seria, ainda assim, apenas uma pequena parte de todo o dinheiro investido na
JMJ. De acordo com as estimativas mais recentes da Igreja Católica, do Governo
e dos municípios de Lisboa e Loures, a realização do maior evento católico
em Lisboa, no início de agosto, terá um custo de pelo menos 155 milhões de euros.
No caso de Lisboa, a maior parte do dinheiro (21,5 milhões de euros) será
destinada ao Parque Urbano Tejo-Trancão, numa intervenção composta por rubricas
tão distintas como as obras de reabilitação no aterro sanitário de
Beirolas (orçamentadas em 7,1 milhões de euros), o polémico altar-palco
de grandes dimensões (que custará 4,24 milhões de euros, aos quais acresce
IVA e os custos das fundações), uma ponte pedonal sobre o rio Trancão
(4,2 milhões de euros), assim como saneamento, abastecimento de água e
eletricidade (3,3 milhões de euros).
O PS, que desmentiu Moedas depois de o presidente da Câmara ter acusado o partido dos atrasos e ter começado do zero, dá-lhe
agora a mão - viabilizando um empréstimo de 15 milhões para as obras - ,
mas não o faz sem marcar a sua posição sobre o tema e atirar diretamente contra
o edil: “Este é o preço da ineficácia de Carlos Moedas e do seu executivo: é
mais um valor que temos de pagar pela ineficácia da gestão”, disse ao Expresso o líder do PS na Assembleia, Manuel
Portugal Lage. Os 15,3 milhões de euros servirão para “financiar
investimentos emergentes”, pelo que a construção de estruturas como palcos,
altares ou altares-palco não poderá ter acesso a esta parte do financiamento.
A fatura só chegará no fim, mas a conta já vai longa e no rol já há algo
escrito a caneta permanente: os custos puseram fim ao consenso alargado que existia em torno
da JMJ.
Só que os custos não se medirão apenas em euros. É que a Câmara de
Lisboa assumiu a coordenação da Jornada Mundial da Juventude com a Igreja, excluindo o coordenador escolhido pelo governo. “Não
aceitamos mais pretensos coordenadores que não fazem nada e que não ajudam a
resolver nada”, atirou o vice-presidente da Câmara de Lisboa, Filipe Anacoreta
Silva, sobre José Sá Fernandes.
Se a coordenação municipal correr sem (mais) sobressaltos e o
evento se confirmar um sucesso - é preciso muito mais do que betão para que tal aconteça -
, Moedas poderá subir aos céus. Se os resultados forem negativos,
estará destinado ao inferno. Em política são muitos os decisores que
conseguem ficar pelo purgatório, mas todo o escrutínio em torno da JMJ antecipa
que não será esse o caso.
OUTRAS NOTÍCIAS
Tanques, para que vos
quero. O pedido de novos meios pela Ucrânia foi bem aceite pela maioria
dos países ocidentais, mas nem tudo são boas notícias. Em Espanha, a ministra
da Defesa veio avisar que os tanques para a Ucrânia estão em estado “absolutamente lamentável” - os Leopard estão
há uma década parados nos arredores de Saragoça e terão de ser intervencionados
até ao verão. Em Portugal, onde a contribuição com carros de combate Leopard 2
ainda é estudada, prepara-se “a marcação de uma visita técnica” ucraniana para
que estes representantes avaliem os seis helicópteros Kamov portugueses
inoperacionais a enviar para o combate frente à Rússia.
Proteção, quanto vos quero. Desde a execução simbólica de um boneco que
representava o Presidente turco Recep Tayyip Erdogan e da queima do Corão, em
Estocolmo - por um grupo pró-curdo - que Ancara reforçou a sua recusa em
permitir a adesão da Suécia à NATO. Mas a Suécia não desiste: o primeiro-ministro apelou esta terça-feira a uma
diminuição das tensões, antes do regresso ao diálogo com a Turquia para
contornar o seu veto à entrada na NATO.
Casas procuram-se. Desde 2017, há 15 anos, que não havia tão poucas casas à venda. No final do ano passado,
eram apenas 47.200 os fogos para venda
Unicórnios fabricam-se. São oito as empresas em fase de expansão que esde
esta terça-feira entraram no ‘Scaling Up Program’ da Fábrica de
Unicórnios lisboeta, situada no Hub Criativo do Beato. Bairro (retalho
e alimentação), HolyWally (fintech de Singapura)), Knok (inteligência artificial
aplicada às videoconsultas), Leadzai (publicidade digital), Orna (gestão de
incidentes cibernéticos), Pleez (gestão de restauração nas plataformas de
entrega), Sensei (visão computacional para lojas autónomas) e, Zharta (mercados
de capitais) foram as escolhidas.
Notas voadoras. Foram centenas as notas de 50 euros que se soltaramde um
veículo, na sequência de um acidente numa autoestrada em Marbella, no sul de
Espanha. O automóvel envolvido no desastre circulava com um total de 20 mil
euros - que pertenciam a dois cidadãos de origem árabe, os quais transportavam
o dinheiro numa mala - no interior. O motivo do trânsito causado foi apenas um:
vários condutores tentaram recolher o dinheiro perdido.
Novos voos. Foi no último dia do mercado de transferências - acompanhado em direto - que a venda foi oficializada:
Enzo Fernández segue do Benfica para o Chelsea por €121 milhões. Roger Schmidt,
treinador dos encarnados, reagiu assim: “É uma parte do futebol. Mas a única coisa que conta é o
Benfica, não falo de jogadores que já não estão”.
PODCASTS
Guiné-Bissau: a grande rota do
tráfico de droga e o jornalismo de investigação
O narcoestado em foco neste episódio do Mundo a Seus Pés, uma conversa com os jornalistas
Micael Pereira e Carlos Isaac conduzida por Cristina Peres.
Nuno Rangel, CEO da Rangel Logistics: “Nunca ninguém está preparado para uma
pandemia, mas demos a resposta que era preciso dar ao país”
Em foco no podcast O CEO é o limite o percurso de Nuno Rangel, CEO da
Rangel Logistics, líder que escolheu ser parte da solução durante a pandemia.
Episódio gravado ao vivo no Porto.
Um ano de maioria, com António Costa à defesa
Mais um chumbo constitucional à eutanásia e mais uma entrevista de António
Costa para analisar no Linhas Vermelhas, com Cecília Meireles e Mariana Mortágua.
O QUE EU ANDO A LER
É mais um pequeno livro de uma escritora que meio mundo ainda anda a descobrir - eu incluído, que até há pouco tempo só tinha lido a sua entrevista ao Expresso. “O Jovem”, de Annie Ernaux, publicado no ano passado pela Livros do Brasil, é o livro da vencedora do Prémio Nobel da Literatura em que a francesa descreve uma relação afetiva com um homem trinta anos mais novo. Livros pequenos, quando são bons, sabem sempre a pouco. Este é o caso.
O QUE EU ANDO A VER
Comecei a vê-la em pequenos
vídeos da britânica BBC, sugeridos pelo Instagram. A atriz era Diane
Morgan, escolha recorrente de Charlie Brooker (criador de “Black Mirror”) nos
seus projetos, e a personagem era a que agora chega à Netflix em “O
Nosso Mundo, Segundo Philomena Cunk“ (“Cunk on Earth”, no título
original). Trata-se de uma incrível série documental fictícia - em cinco
episódios curtos, de apenas meia hora - sobre a história da civilização. É
através de entrevistas a especialistas que Philomena Cunk nos mostra a (sua
visão da) história da Humanidade, com muitas piadas linguísticas à mistura.
Mas nem só de boas surpresas se faz a lista de títulos do momento.
“Caleidoscópio”, que foi o primeiro fenómeno televisivo do ano,
é para mim uma desilusão. Estreado a 1 de janeiro na Netflix e
talhada para o êxito mundial, chegou com a pompa dada aos grandes títulos dos
serviços de streaming. A campanha prometia uma série cujos episódios podiam ser
vistos por qualquer ordem, o que à partida parecia inovador e tentador, mas ou
as minhas expectativas estavam demasiado elevadas ou o resultado não é tão bom
como se anunciava. Trata-se, afinal, de mais uma série sobre o planeamento de
um assalto de grandes dimensões e a razão para que se possa assistir por
qualquer ordem é só uma: os capítulos não têm qualquer ligação entre si. Valha-nos
a grande interpretação de Giancarlo Esposito, que conhecemos pelo papel de
Gustavo Fring em “Breaking Bad” e na prequela “Better Call Saul”).
Felizmente, “Caleidoscópio” não é a única série a marcar o começo de
2023.
A criação pós-apocalíptica “The Last of Us”, baseada no jogo homónimo,
está em crescendo - provando que é possível fazer mais do que transportar
determinado universo das consolas para a televisão. Depois de um terceiro
episódio que surpreendeu o mundo no início desta semana, eis que surge o teaser do quarto capítulo, que chega segunda-feira
à HBO Max. Há que estar preparado para o que aí vem.
Este Expresso Curto fica por aqui. Tenha uma ótima quarta-feira, acompanhe os nossos Exclusivos, vá preparando os dias de descanso com a ajuda das sugestões Boa Cama Boa Mesa e divirta-se com os nossos jogos (palavras cruzadas, sudoku e sopas de letras). Quanto a nós, já sabe que estaremos sempre por cá: no Expresso e na SIC, na Tribuna e na Blitz.
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