domingo, 5 de março de 2023

Angola | ERROS MEUS AMOR ARDENTE – Artur Queiroz

Artur Queiroz*, Luanda

Erro grave. Ontem chamei Sbel ao uísque Sbell. Faltou um “l” o que tirou à marca o sainete do inglês. Um amigo alertou-me para o erro. Está emendado com o pedido de desculpas aos possíveis lesados e o agradecimento a quem alertou. Hoje acordei com espírito de escuteiro e vou alertar o Ministério da Saúde para um erro gravíssimo. Divulgou a lista das unidades hospitalares onde são feitas cirurgias. O Hospital Américo Boavida, em Luanda está lá. A TPA publicou a lista chamando-lhe Boa Vida. O patrono é um Herói Nacional. Convinha que não lhe mudassem o nome. Podia ter sido um médico de sucesso em Luanda mas sacrificou tudo para nos libertar.

Pior só a conferência de imprensa dos presidentes João Lourenço e Emanuel Macron. A TPA emitiu o acontecimento em directo do Palácio da Cidade Alta. O nosso Chefe de Estado falou quase sempre com uma grave anomalia no som. Provavelmente por isso foi anulada a parte das perguntas dos jornalistas. Não quero acreditar que a anulação fosse para evitar perguntas incómodas sobre o que se passa no Poder Judicial em Angola. Sabiam que temos um ministro da Justiça? Desapareceu em combate. Deve estar refém do M23 na República Democrática do Congo. Pelos vistos está tudo a correr bem no sector que ele tutela.

O qual não. A UNITA imitou o Presidente da República e Titular do Poder Executivo violando também gravemente a separação de poderes. Basta. É tempo de alguém dar um murro na mesa e acabar com o banquete. Demolir o edifício da Justiça só interessa mesmo à associação de malfeitores e seita satânica do Galo Negro. Se alguém pensa que o Presidente João Lourenço também ganha com essa selvajaria está redondamente enganado. Quando sua excelência terminar o mandato precisa que o Poder Judicial seja forte, independente e competente. Não se esqueçam dos processos que Trump e Bolsonaro enfrentam.

Como estamos no Março Mulher permito-me falar de duas angolanas de notoriedade pública. Primeiro Exalgina Gamboa. Sim, acho estranhíssimo que a Procuradoria-Geral da República tenha informado que existe um inquérito visando a ex-Presidente do Tribunal de Contas “devido a denúncias públicas”. Acho estranho que tenha sido constituída arguida de um dia para o outro e depois de pelo menos duas semanas de alarido nos tribunais do Miala. Após o editor de Opinião do Jornal de Angola a ter acusado, julgado e condenado, dando cobertura ao lixo mediático do mobutismo que estamos com ele.

Ontem o mesmo Jornal de Angola publicou um texto onde acha que no melhor ano cai a nódoa. Exalgina Gamboa é acusada, julgada e condenada. A linguagem é abaixo de cão. O escriba fala de gatunagem. O filho da ex-Presidente do Tribunal de Contas “pôs-se ao fresco” por isso não foi constituído arguido.

A Polícia Nacional do Cunene quando fazia o balanço da actividade delituosa dizia que uma das causas para os crimes era a “baixa cultura jurídica” dos detidos. O Jornal de Angola não pode ter um escriba mostrando tão baixa cultura. Constituir alguém arguido não é o sumário de uma acusação. Muito menos o prefácio de uma sentença. É para dar todas as garantias de defesa aos suspeitos. Nada mais. E mesmo no mobutismo reinante temos que exigir o respeito pela presunção de inocência. Exalgina Gamboa é inocente até ao dia que transitar em julgado uma sentença condenatória.

Os energúmenos que me mandaram mensagens dizendo que a Dra. Exalgina Gamboa me comprou estão enganados. Nunca falei com ela. Só a conheço por ser figura pública. Conheço vários membros da família Gamboa (por exemplo, o cineasta Zézé e a Malena, alta funcionária do Estado) mas nem sei se a ex-Presidente do Tribunal de Contas pertence a essa família. Aceitar a demolição da Justiça é colaborar na destruição de Angola como país independente. Não contem comigo para ajudar nesse crime hediondo e sem perdão. Só isso.

Isabel dos Santos. A empresária angolana ficou sem a empresa EFACEC em Portugal porque a Procuradoria-Geral da República pediu às autoridades portuguesas que a despojassem dessa propriedade. Argumento:  Foi comprada com dinheiro roubado aos cofres do Estado Angolano. O mesmo Estado que agora paga à revista portuguesa “Sábado” para julgar e condenar a empresária. 

Estes aprendizes de feiticeiro acabam sempre por claudicar. No seu último número, a “Sábado” (fui da direcção da revista quando era uma coisa séria e decente) escreve que conseguiu “dezenas de documentos com muitos milhares de páginas, revelam os offshores, as ligações perigosas, os esquemas, os arrestos, os milhões desaparecidos e até como conseguiu os empréstimos em bancos portugueses para comprar a EFACEC”.

Organizem-se! A EFACEC foi comprada com empréstimos de bancos portugueses ou com dinheiro roubado ao Estado Angolano? 

O Presidente José Eduardo dos Santos e o MPLA decidiram que a adopção do sistema capitalista pendurado na “democracia representativa” exigia a criação de elites angolanas com nervo financeiro e alta capacidade económica. Abriram as portas ao investimento estrangeiro mas com duas condições: O investidor era obrigado a arranjar um parceiro angolano e não podia ter mais do que 49 por cento do capital nas sociedades.  Hoje o dinheiro é despejado à toa em empresas que são desnatadeiras dos cofres públicos. E tal como ontem, os beneficiários são escolhidos pelo dedo do chefe. Saíram os marimbondos entraram as moscas. 

Sim, saíram milhares de milhões dos cofres do Estado para levar esta operação a bom porto. Mas que me lembre, da direcção do MPLA apenas Lúcio Lara se opôs publicamente. Ele era contra a exploração de quem trabalha, contra a corrupção e o roubo à sombra do Estado que pode ter formas violentas de latrocínio. Acontece que esses são os combustíveis que põem a funcionar a máquina tenebrosa do capitalismo. Aprendi isto com Nicos Poulantzas em Vincennes. Não foi nos subterrâneos do banditismo político.

O neocolonialista Macron foi visitar o Museu da Moeda. Fiquei com dúvidas sobre o móbil da visita. Tanto pode ser porque quer impor-nos o Franco CFA como para arranjar um cantinho para a moeda neocolonial repousar eternamente agora que está a ser escorraçada dos países africanos na rota da liberdade. 

O especialista Osvaldo Mboco disse hoje no jornal diário público que “Angola tem um papel importante a desempenhar no seio da francofonia. É um importante actor político e económico que se encontra ligado tanto à África Central francófona, quanto à África Austral anglófona, e cerca de quatro milhões de angolanos compreendem ou falam francês, ou seja, 15 por cento da população”. 

Informo o senhor especialista que o falar ou compreender francês tem a ver com o colonialismo. Em 1961, Milhares de famílias angolanas do Norte de Angola fugiram para o Congo independente. E lá ficaram até acabar a guerra colonial. Ou até já depois da Independência Nacional. Essas angolanas e angolanos nada têm a ver com a França esclavagista, colonialista e neocolonialista. E não acredito que queiram ter.

Notícia importantíssima que ninguém deu, nem os Media angolanos. Na cimeira do G20 que decorreu na Índia foi decidido acolher a União Africana com o mesmo estatuto da União Europeia. Não acreditem quando vos impingem a informação de que aquilo não deu nada. Para África deu e muito. 

Até final do mês a Federação Russa tem que renovar o acordo que permite a exportação de cereais da Ucrânia. Ouso fazer um pedido ao Presidente Putin. Recuse a renovação, se não ficar garantido que a mercadoria vai para os países com fome. Porque até agora fica quase toda nos países do “ocidente alargado”. 

Mamã Maria Manuela de Mascarenhas Pereira do Nascimento faleceu. A Mamã das Manas Mascarenhas partiu. Uma das manas, a Ana Maria, pianista e compositora, é autora, com Eduardo Nascimento e Jorge Macedo, do primeiro Hino Nacional. 

Já estava gravado e cantado por um coro criado por Jorge Macedo quando o oportunismo enrolou tudo e acabou por ficar aquele que hoje temos. Juro que ficámos a perder e muito.

Duas Manas Mascarenhas foram minhas colegas na Rádio, esse meu amor ardente. Amo tanto a estética e a linguagem radiofónica que fiz um manual de Rádio Jornalismo. Concha de Mascarenhas teve um papel fundamentalíssimo na criação da nova Rádio Angolana. Sem ela nada seria possível. Obrigado, Conchinha, por teres dado tanto ao meu amor ardente. Nesta hora associo-me ao teu luto. Choro contigo.  

*Jornalista

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