Artur Queiroz*, Luanda
Hoje é o Dia da Mulher Angolana no Março Mulher. Não é mais uma data na rotina dos dias sombrios, tragicamente assombrados pela violência doméstica, o abuso sexual de crianças, sobretudo meninas, pelas berridas desumanas às mamãs zungueiras. As mulheres de Angola bateram-se contra os ocupantes estrangeiros. Deram à luz a Pátria que temos e amamos.
Hoje é o dia da Mamã Maria Eugénia Neto e de Engrácia Cabenha, a Rainha do 4 de Fevereiro. Elas são símbolos vivos da luta do Povo Angolano pela Liberdade. São a vanguarda das mulheres que todos os dias nos dão coragem, força e determinação para lutarmos pela Dignidade. Às Mulheres Angolanas devemos a vida mas também a Nacionalidade. O imenso orgulho de sermos angolanos. Grande Dia!
Entre as mulheres da minha vida está Mary Lu Monroe. Muito mais bonita do que a artista de cinema, mais sensível e desesperadamente livre. Frequentámos a tertúlia de filosofia do Mesquita Brehm no último andar do prédio número três da Rua 5 de Outubro, ali na Maianga. No primeiro andar viviam dois padres que davam explicações de Latim. E no terceiro morava eu, que andava a traduzir as Bucólicas de Virgílio. Por isso fiquei assim e nunca mais recuperei.
A Mary Lu foi estudar inglês na
própria Inglaterra e alemão
Um dia fui reportar a Quilengues
e Lola, onde se produzia o melhor tabaco do mundo. Como grande intelectual, à
noite fui jogar lerpa nos fundos do bar da vila. Lá conheci o Maciel, regente
agrícola que dirigia uma grande fazenda da Algodoeira Agrícola de Angola. A
notícia estava ali. Na pátria do tabaco existia uma propriedade com
Mais tarde recebi a visita do
Maciel
Ao velho Pires também ficámos a dever os vinhos Caxi e Bangasumo. Os invejosos do Vinul e do Castelvinho, puseram a circular que as preciosas bebidas nadas e criadas nas caves da Canata faziam cólera e outras diarreias agudas. Pela fé de quem sou vos garanto que é mentira. Bebi hectolitros daqueles produtos e tirando uma ressaca monstruosa, nada mais senti.
A mulher angolana é milagrosa. Um dia fomos ver o Bana no Salão Voz de Cabo Verde, ali na Massangarala. Os bilhetes, comes e bebes foram pagos por um “bife” do CFB que andava a fazer avanços à Mary Lu. Falava português muito aspirado e trocava o singular pelo plural. Muito simpático.
Sempre que Bana fazia um intervalo, Armando Tito, uma espécie de maestro do conjunto que o acompanhava, mago do violão e meu amigo do peito, vinha sentar-se na nossa mesa, mesmo junto do palco. Bebia Sbel e aproveitava para lançar um olhar lascivo aos seios da Mary Lu, destapados por um generoso decote que lhe chegava ao umbigo.
O “bife” era mais discreto e olhava como quem não quer a coisa. Quando bebericava o seu Sbel dizia-me aspiradamente: Esta uísque é melhores do que as escocês! E esgrilava os belos seios da Mary Lu. Grande sonso!
A minha amiga filósofa e perita em línguas germânicas foi a Nossa Senhora da Cana do Açúcar que aparecia nos canaviais de Damba Maria, alta noite. O Santos Costa e o repórter fotográfico Óscar Saraiva fizeram palpitantes reportagens sobre as aparições. Era ela. Cobria-se com um lençol branco, punha uma vela acesa na mão e colocava-se no meio das canas de açúcar da fazenda Cassequel. A luz da vela coada pelo pano parecia uma auréola vinda do céu e desenhava a silhueta da santinha.
Quando se soube que não havia Nossa Senhora e as aparições eram falsas, o Gingeira despediu os dois repórteres. Renato Ramos deu-lhes emprego no jornal A Palavra, que em Luanda deu grande destaque aos milagres na Damba Maria,
Na vida, tudo o que é bom, é feminino. Excepto o vinho, o maruvo, o kandingolo e o Sporting. Sporingué Sporingué! Sporingué! Isto sem esquecer que fui pupilo de mestre Demóstenes de Almeida no Atlético, Mas não jogava nada. Só sarrafada.
As mulheres são mesmo milagreiras. Fazem o milagre da vida e da existência. Estádio supremo da criação. Mas são capazes de descer ao nível dos vadios e transformam o uísque Sbel num “scotch” de primeira. O que é preciso mais para termos um mundo de paz e amor? Nada. Confiemos tudo à Mulher.
Por maldade ainda não vos disse o que é isso de uísque Sbel. Digo agora que acabou a minha historinha dedicada ao Dia da Mulher Angolana. É a signa de Sociedade de Bebidas Espirituosas do Lobito (SBEL) empresa fundada pelo mais velho Artur Pires que, segundo informações fidedignas, ainda está vivo! Que viva muitos mais.
Ele montou a sua destilaria na Canata. Dado o sucesso do produto, ainda fez um Sbel rótulo preto com a idade do Logan dos cavalos brancos. Depois comprou tudo quanto era abacaxi e começou a fabricar vinho, o Caxi e o Bangasumo. Uma garrafa de litro custava meia cinco. Mais do que suficiente para embebedar o mais empedernido dos mortais. Aquilo era tiro e queda. Ao terceiro copo já a língua começava a bater nos dentes e as palavras arrastavam-se pesadamente como se não quisessem existir.
Tudo o que é bom na vida mora no feminino. Viva a Mulher Angolana.
*Jornalista
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