A eleição de Bola Tinubu nas presidenciais da Nigéria está a suscitar críticas não só por parte de partidos políticos, como também da sociedade civil. O Partido Trabalhista promete contestar o escrutínio em tribunal.
De acordo com a Comissão Nacional Eleitoral Independente (INEC) da Nigéria, Bola Tinubu ganhou as eleições presidenciais do país realizadas no sábado passado (25.02). O antigo governador de Lagos obteve 8,79 milhões de votos, ou seja, 37% dos votos, de acordo com os resultados oficiais anunciados.
No entanto, os principais partidos da oposição descreveram o resultado das eleições como "fraudulento" e Peter Obi, candidato do Partido Trabalhista, que ficou em terceiro lugar, já avançou que pretende recorrer à Justiça e pedir a impugnação dos resultados.
"Os alegados resultados não cumpriram os critérios mínimos de uma eleição transparente, livre e justa. Iremos a tribunal", confirmou Yusuf Datti Baba-Ahmed, candidato à vice-Presidência do Partido Trabalhista, que pediu calma aos apoiantes do partido.
Os candidatos que quiserem contestar as eleições têm um prazo de 21 dias após o anúncio dos resultados para levar o caso aos tribunais.
"Decepcionante"
A Nigéria tem um longo historial de violência política, mas o ambiente permaneceu calmo esta quarta-feira (01.03) nas principais cidades do país, embora muitos nigerianos se mostrassem desapontados.
"Aos olhos de Deus, Bola Tinubu não é o vencedor", disse o comerciante Mercy Efong em Awka, no estado natal de Peter Obi, Anambra.
Também a "Nigeria Civil Society Situation Room", grupo que reúne mais de 70 organizações da sociedade civil e que monitorizou o processo eleitoral em todo o país, defendeu que o resultado não é credível devido a "graves falhas logísticas, falta de transparência, interrupção da votação e incidentes violentos".
"É ainda mais dececionante tendo em conta que as eleições foram realizadas numa atmosfera em que o povo demonstrou um empenho notável na democracia, esperando pacientemente para votar em circunstâncias muito difíceis", sublinhou a organização em comunicado.
Críticas à Comissão eleitoral
Nestas eleições, a Comissão Nacional Eleitoral Independente (INEC) prometeu um novo sistema eletrónico, que identificaria os eleitores através de dados biométricos e garantiria a transmissão dos resultados diretamente das mesas de voto para um portal seguro.
Contudo, nem tudo correu bem e o sistema sobrecarregou a rede nacional de telecomunicações da Nigéria. O sufrágio ficou marcado por longos atrasos e os resultados acabaram por ser registados manualmente nos centros de contagem, como em eleições anteriores, dando origem a suspeitas de manipulação.
"O Presidente [Muhammadu] Buhari disse que faria umas eleições justas e livres, [mas] a INEC está agora a virar tudo de cabeça para baixo", lamentou o condutor Nedu Chukwunata.
Por outro lado, vários eleitores não conseguiram votar devido ao mau funcionamento das máquinas de leitura de cartões de eleitor.
"Dar as mãos"
Durante uma cerimónia esta quarta-feira (01.03), o presidente eleito convidou os opositores e apoiantes a juntarem-se a ele e "darem as mãos", para que os nigerianos possam "reconstruir a nação", sublinhou.
"Peço que não permitam que a deceção deste momento nos impeça de perceber o histórico progresso nacional que podemos alcançar unindo as mãos e os corações num esforço comum para levar esta nação adiante", disse Tinubu.
Bola Tinubu, de 70 anos, assumirá o comando da Nigéria num momento em que o país mais populoso de África enfrenta várias crises. Entre elas está a insurgência islâmica no nordeste do país, escassez de dinheiro e combustível, roubo de petróleo, pobreza e inflação alta.
Enquanto governador de Lagos, de
No último sábado, o país registou uma baixa afluência às urnas com um total de cerca de 25 milhões de votos num universo de 87 milhões de eleitores elegíveis. A participação nas eleições foi de apenas 29%.
O candidato do Partido Popular Democrático, Atiku Abubakar, ficou em segundo lugar com 6,9 milhões de votos. Já o candidato do Partido Trabalhista, Peter Obi, ficou em terceiro, com 6,1 milhões de votos.
Deutsche Welle | Reuters | AFP
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