quarta-feira, 22 de março de 2023

AS LIÇÕES DE AGUSTINA E DO MPLA – Artur Queiroz

Artur Queiroz*, Luanda

A notícia chegou ao meu correio electrónIco em forma de pergunta: O que se passa com o Projecto Aldeia Nova no Waku Cungo (Cela)? Dizem-me que equipamentos sociais e comunas inteiras ficaram sem abastecimento de água…”. Estremeci. Graças à existência de um hotel com todas as condições (Ritz!) a administração da Empresa Edições Novembro decidiu juntar na cidade todas e todos os jornalistas das províncias do Leste, Planalto Central, Litoral Centro e do Sul paras formação. Uma experiência muito positiva.

José Ribeiro e a sua administração reuniram com o administrador municipal da Cela e propuseram-lhe um projecto ousado. Se nos cedessem um terreno a empresa construía uma nave industrial e um edifício para alojar serviços e transferia uma das rotativas para lá. O objectivo era imprimir o Jornal de Angola na Cela, edição para o Planalto Central e províncias do Leste. No Lubango era instalada outraunidade de produção para a edição do Sul. No Sumbe era criada outra unidade de produção para a edição do Litoral Centro e Sul. 

Na Cela ia nascer um novo jornal destinado exclusivamente ao mundo rural, “amarrado “ à experiência do Projecto Aldeia Nova. O administrador municipal disponibilizou imediatamente um grande terreno mesmo no centro da cidade e comprometeu-se a reservar vivendas para os quadros deslocalizados de Luanda, num bairro que estava praticamente concluído. 

Ainda fizemos mais duas sessões de formação no Waku Cungo. Foi uma experiência extraordinária. Seleccionava jovens jornalistas da Redacção Central que iam comigo para monitorizarem as acções de formação simuladas (notícias, entrevistas e reportagens). Muito gratificante e bons resultados.

O projecto de José Ribeiro morreu menos de um ano após nascer. E lá se foi o sonho de criar unidades de produção na Cela, Lubango e Sumbe. Cada uma com a sua edição autónoma da edição nacional. E o jornal dedicado ao mundo rural. O próprio Gabinete de Formação foi extinto quando eu saí da empresa. 

Nada que me tivesse deprimido porque sou um sonhador falhado. Mas fiquei com uma mágoa muito grande. Aquelas e aqueles profissionais mereciam ir mais longe do que foram. Tinham talento, vontade e disponibilidade para chegarem ao olimpo do jornalismo. Ficaram onde eu caí, por falta de asas para continuarem a voar. Espero que já tenham recuperado e estão a voar muito alto.

O MPLA é em primeiro lugar um espaço de camaradagem. Depois é uma interminável cadeia de amizade. E para reforçar o que já é tão forte, o partido é uma Grande Família. Imbatível. Um camarada daqueles que é também amigo e parente mandou-me uma mensagem dizendo que o meu MPLA já não existe. Afirma mesmo que a direcção se afastou tanto dos valores e princípios do nosso EME que já toca as raias da extrema-direita. Não acredito. Não quero.

Quando era miúdo eu e o Carlos Pacheco (esse mesmo o falso historiador) apostámos tudo na Filosofia. Fui niilista, duvidei da própria dúvida, tornei-me um ateu militante. Anticlerical primário. Apesar de saber tudo do pensamento de Santo Agostinho e São Tomás de Aquino. Este ensinou-me que todo o ser humano é uma dignidade infinita, único e irrepetível. Somos todos Deus. 

O MPLA em 1992 deu-me mais uma grande lição. Aquilo em que não acreditamos pode vir a ser uma realidade que nos toca. O meu partido tornou viável a democracia representativa e a economia de mercado. Aí passei a ser irracionalmente do MPLA. Continuo a acreditar que um dia vamos construir uma sociedade de paz, abundância e felicidade. 

Agustina Bessa Luís concedeu-me duas entrevistas, qual delas a mais profunda. Na segunda, depois do trabalho ficámos à conversa. E ela falou-me dos Falsos Evangelhos. Pedi-lhe para pormenorizar mas ela recusou. Quando lhe disse que era ateu ela riu-se muito e depois murmurou quase de si para ela: Não se atrevam nunca a brincar com a Fé dos Homens”

Agustina e o MPLA ensinaram-me que eu não sou ninguém para negar o que tanta gente acredita. Quem sou eu para negar a existência de Deus se tantos milhões de seres humanos, provavelmente todos melhores e mais inteligentes do que eu, acreditam? Desde então não frequento religiões como nunca frequentei. Mas se tanta gente acredita em Deus, que acredite. Se existir, melhor para os crentes. Se não existir, nada muda. Nem para mim nem para eles.

Um camarada, amigo e parente disse-me que o projecto fabuloso Aldeia Nova estava por terra. Perguntei a outro se era verdade. E ele disse-me que se afastou, quando o Presidente José Eduardo dos Santos entregou tudo a empresários e técnicos israelitas. Mas sim, as coisas deram um tanto para o torto. Fiz chegar esta opinião a quem tinha dúvidas. E ele respondeu:

“Não me parece novidade quanto a esses resultados. Num país onde quem governa não sabe governar, nem cuidar do erário, não se pode esperar que sejam os estrangeiros a fazê-lo!”.

 Por favor, meu camarada, meu amigo, meu parente. Não voltes a desiludir-me com tanta crueza. Eu sou irracionalmente do MPLA. O MPLA é o Povo e o Povo é o MPLA. Vai resolver todos os problemas do povo. Em primeiríssimo lugar. 

A nossa amada Pátria Angolana vai ser terra de paz, abundância e felicidade sob a bandeira do MPLA. Eu acredito mais nisso do que em todos os deuses de todos os olimpos.

*Jornalista

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