quarta-feira, 1 de março de 2023

BOLA PARA A FRENTE

Cristina Peres, jornalista de internacional | Expresso (curto)

Bola Tinubu (na foto) foi declarado esta madrugada o vencedor das eleições do passado fim de semana na Nigéria com 8,79 milhões de votos. Se é aceite que o que se passa em África é importante para todo o mundo, o que se passa na Nigéria é certamente importante para África.

Os resultados dos 36 estados da maior economia de África estavam anunciados desde terça-feira à noite, com uma “inatacável vantagem” para o candidato do partido no poder, Congresso de Todos os Progressistas (APC na sigla inglesa) porém só hoje a comissão eleitoral anunciou o resultado oficial. Muhammad Buhari abanona o poder depois de dois mandatos presidenciais sofríveis na revitalização e modernização de um país preso nas malhas da corrupção com uma economia praticamente estagnada e fustigado pela insegurança e terrorismo.

A vitória de Tinubu, 70 anos, ex-governador do coração comercial do país, Lagos, representa o prolongamento do poder do APC e a política tradicional nigeriana que permanece nas mãos de uma elite. O presidente eleito nas eleições mais disputadas desde o fim da era militar, em 1999, defendeu a integridade da eleição e apelou à união da população depois das suspeitas levantadas pelos partidos da oposição.

“Estou muito contente por ter sido eleito presidente da república federal da Nigéria. É um mandato sério e eu aceito-o”, declarou Bola Tinubu em Abuja, a capital administrativa.

As eleições de sábado 25 (consulte aqui os resultados finais e a distribuição dos votos na república federal) viram ao longo destes dias a liderança destacada de Peter Obi, 61 anos, um empresário considerado reformista, o candidato que tinha à partida menos probabilidades de ganhar, mas que conquistara a simpatia de milhões de nigerianos, em particular jovens, pela sua atitude despojada e projetos inspirados na boa gestão que lhe granjeou a fama enquanto governador de Anambra entre 2006-2014.

Estes foram os primeiros escrutínios no país mais populoso de África em que nenhum dos candidatos era ex-militar, o que é considerado um avanço relativamente ao passado pelos analistas políticos. Muhammad Buhari, duas vezes eleito, era um ex-ditador militar. Na terça-feira à noite, porém o avanço do apuramento dos votos dava uma “vantagem inatacável” ao candidato pelo partido no poder, APC (All Progressives Congress) Bola Tinubu, 70 anos, um homem de negócios milionário e ex-governador do estado de Lagos. Em segundo lugar ficava Atiku Abubakar, o líder do maior partido da oposição, o Partido Democrático do Povo, e em último está Peter Obi, do Partido Trabalhista, que venceu no estado-chave de Lagos.

lei eleitoral nigeriana diz que um candidato pode vencer ao obter mais votos do que os seus rivais desde que alcance 25% dos votos em pelo menos dois terços dos 36 estados e Abuja, a capital federal. A vitória de Tinubu prolonga o controlo do APC ainda que herde um considerável número de dificuldades da administração anterior.

A Nigéria é o maior produtor de petróleo de África e um em cada seis africanos é nigeriano. O desemprego é alto, a insegurança e a violência tem aumentado e os corpos de segurança especiais que têm sido criados para combatê-la estão frequentemente na origem dos abusos e violência extrema, criando revolta social por todo o país.

Os partidos da oposição, PDP e trabalhistas, pediram que a eleição fosse cancelada e repetida alegando que impossibilidade de a comissão eleitoral fazer o escrutínio eletrónico no seu próprio site prova que os resultados foram manipulados, reporta a agência Reuters.

A votação foi marcada por atrasos, muitas assembleias de voto abriram horas mais tarde, e houve registo de ataques violentos a eleitores por homens armados. A partir do momento em que a comissão eleitoral anunciou os resultados como oficiais, os apoiantes do Governo acusaram os partidos da oposição de fomentarem “a falta de lei e anarquia”.

OUTRAS NOTÍCIAS

Vladimir Putin deu ordens aos serviços secretos russos para que reforcem a segurança nas quatro regiões até agora só parcialmente controladas pelas suas forças. A segunda instrução foi para controlar a crescente espionagem e as operações de sabotagem da Ucrânia e do Ocidente contra a Rússia. O Presidente russo falou após um governador regional russo ter revelado que um drone tinha aterrado perto de uma estação de distribuição de gás num aparente ataque falhado perto da cidade de Kolomna situada a apenas 110 km a sudeste de Moscovo. Veja aqui as edições especiais do Expresso quando passa um ano sobre o início da invasão russa da Ucrânia. E siga aqui a atualização ao minuto.

Trinta e dois mortos e dezenas de feridos é o balanço temporário de um choque de comboios na Grécia. Um comboio com 350 passageiros a bordo colidiu com um outro de mercadorias perto da cidade de Larissa, sensivelmente à mesma distância entre Salónica, a norte, e Atenas, a sul.

A China acaba de aprovar a maior expansão de novas centrais de energia a carvão desde 2015. Pequim aprovou a construção de mais 106 gigawatts de energia alimentada a carvão no ano passado, valor quatro vezes mais alto do que em 2021 e o valor mais alto desde 2015, mostra uma investigação reportada pelo “The Guardian”.

A Casa Branca declara-se aberta a aumentar as restrições ao Tik Tok.

Um novo relatório do International Crisis Group (organização não governamental de análise e monitorização de conflitos) chama a atenção para os milhares de estrangeiros que aderiram ao auto-proclamado Estado Islâmico na Síria e no Iraque que passaram para a Turquia. Alguns foram deportados, outros ficaram na Turquia, onde foram a tribunal e cumpriram sentenças que estão agora a chegar ao fim. A sua presença no país é uma dificuldade maior do ponto de vista humanitário e de segurança, ainda mais com o país destruído pela série de tremores de terra que abalaram recentemente o território.

O ministério da Habitação já identificou 4000 imóveis devolutos para arrendar que vão servir para aumentar o arrendamento a preços acessíveis na capital.

PIB português atingiu um máximo histórico em 2022: 210,5 mil milhões de euros em termos reais.

Patrões não levam respostas, mas muitas promessas da reunião com o primeiro-ministro.

Benfica e os acusados de falsificação e fraude fiscal.

Apreensão de carta por alcool e drogas vai ter efeitos em toda a Europa. Os exames poderão ser feitos em qualquer país e as regras vão ser uniformizadas, escreve o JN.

FRASES

“Só paro quando morrer”, Ruy de Carvalho, ator comemora 96 anos de vida em palco no Porto

“Uma ofensa e uma provocação gratuita”, André Ventura, líder do Chega a propósito do convite ao Presidente do Brasil para discursar na sessão solene do 25 e abril

“Como pode um país [Suécia] esperar um favor nosso [ratificação da NATO] quando os seus políticos estão constante e repetidamente a espalhar mentiras sobre nós?”, Peter Szijjártó, ministro dos Negócios Estrangeiros húngaro após um encontro com o homólogo sueco Tobias Billström em Estocolmo, aludindo abertamente à troca de “favores” húngaros por fundos europeus

PODCASTS A NÃO PERDER

Mortágua levantará voo com a TAP? Depois de se ter candidatado à liderança do partido, a deputada vai ter de conquistar os bloquistas e defrontar-se com Pedro Nuno Santos. Na Comissão Política desta semana, discute-se qual será a presença da implacável inquiridora na comissão aberta à polémica companhia aérea e ainda outros assuntos “lulo-brasileiros”.

https://expresso.pt/podcasts/comissao-politica/2023-02-28-Mortagua-levantara-voo-com-a-TAP--E-as-relacoes-lulo-brasileiras-1d8f225c

Os adeptos do Besiktas jogaram para campo a solidariedade, já Roger Schmidt respondeu aos adeptos de Vizela com hostilidade. Os acontecimentos desta semana mostram o que o futebol tem de melhor e de pior. Fique a par do ocorrido e da opinião de Duarte Gomes com o podcast A Culpa é do Árbitro.

https://expresso.pt/podcasts/a-culpa-e-do-arbitro/2023-02-27-Entre-FC-Porto-e-Benfica-faltaram-vermelhos-para-a-impetuosidade-no-sangue-de-Pepe-e-Otamendi-da36d89b

Tabu não tem limites e agora está em formato podcast. Bruno Nogueira continua a dizer o que não deve ser dito e desta vez decidiu abordar os desafios de quem vive com doenças incuráveis. Ouça o podcast e não receie rir, que apesar de não ser remédio para tudo, é do melhor que temos.

https://expresso.pt/podcasts/tabu-com-bruno-nogueira/2023-02-28-Esta-doenca-incuravel-mudou-tudo-na-minha-vida.-Muita-gente-tem-medo-de-falar-de-cancro-mas-para-mim-e-positivo.-Renasci-baff721a

O QUE ANDO A LER E A VER

A entrada no segundo ano da guerra na Ucrânia leva-me a ler, reler, ver e rever livros, documentários e novas versões de filmes sobre os dois conflitos mundiais do passado. Leio “As Enviadas Especiais”, de Judith MacKrell (Casa das Letras), um livro sobre seis mulheres jornalistas que desbravaram o universo da reportagem de guerra até à Guerra Civil de Espanha e à II Guerra Mundial quase só acessível a homens. As “seis mulheres extraordináriasna linha da frente da II Guerra Mundial” são Martha Gellhorn, Clare Hollingworth, Lee Miller, Helen Kirkpatrick, Sigrid Schultz, Virginia Cowles e o livro descreve o modus operandi de cada uma nos cenários a partir dos quais reportaram. Não sou grande fã de biografias, porém é interessante ler sobre a busca da voz individual de cada uma, as oportunidades de se tornarem visíveis nos jornais e a competição entre elas. Há mais de 15 anos li de rajada senão todos, quase todos os livros de Martha Gellhorn, aquela que detestava ser referida pela relação e casamento que teve com Ernest Hemingway e as portas que ele lhe abriu. É interessante como o scoop da vida de Gellhorn dependeu de fingir não ser jornalista: cobriu o desembarque da Normandia num navio-hospital fazendo-se passar por enfermeira.

Vi na Netflix (não, ainda não abandonei…) e recomendo a nova versão de “A Oeste Nada de Novo”, o filme que arrecadou sete BAFTAS e é candidato aos Oscar. Sem concessões.

Este Expresso Curto chegou ao fim. Passe uma ótima quarta-feira connosco em expresso.pt.

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