Cristina Peres, jornalista de internacional | Expresso (curto)
Bola Tinubu (na foto) foi declarado esta
madrugada o vencedor das eleições do passado fim de semana na Nigéria com 8,79
milhões de votos. Se é aceite que o que se passa em África é importante para
todo o mundo, o que se passa na Nigéria é certamente importante para África.
Os resultados dos 36 estados da maior economia de África estavam anunciados
desde terça-feira à noite, com uma “inatacável vantagem” para o candidato do
partido no poder, Congresso de Todos os Progressistas (APC na sigla inglesa)
porém só hoje a comissão eleitoral anunciou o resultado oficial.
Muhammad Buhari abanona o poder depois de dois mandatos presidenciais
sofríveis na revitalização e modernização de um país preso nas malhas da
corrupção com uma economia praticamente estagnada e fustigado pela insegurança
e terrorismo.
A vitória de Tinubu, 70 anos, ex-governador do coração comercial do país,
Lagos, representa o prolongamento do poder do APC e a política tradicional
nigeriana que permanece nas mãos de uma elite. O presidente eleito nas eleições
mais disputadas desde o fim da era militar, em 1999, defendeu a integridade da
eleição e apelou à união da população depois das suspeitas levantadas pelos
partidos da oposição.
“Estou muito contente por ter sido eleito presidente da república federal da
Nigéria. É um mandato sério e eu aceito-o”, declarou Bola Tinubu em Abuja, a
capital administrativa.
As eleições de sábado 25 (consulte aqui os resultados finais e a distribuição dos votos na
república federal) viram ao longo destes dias a liderança destacada de Peter
Obi, 61 anos, um empresário considerado reformista, o candidato que tinha
à partida menos probabilidades de ganhar, mas que conquistara a simpatia de
milhões de nigerianos, em particular jovens, pela sua atitude despojada e
projetos inspirados na boa gestão que lhe granjeou a fama enquanto
governador de Anambra entre 2006-2014.
Estes foram os primeiros escrutínios no país mais populoso de África em que
nenhum dos candidatos era ex-militar, o que é considerado um avanço
relativamente ao passado pelos analistas políticos. Muhammad Buhari, duas vezes
eleito, era um ex-ditador militar. Na terça-feira à noite, porém o avanço do
apuramento dos votos dava uma “vantagem inatacável” ao candidato pelo partido
no poder, APC (All Progressives Congress) Bola Tinubu, 70 anos, um homem de
negócios milionário e ex-governador do estado de Lagos. Em segundo lugar ficava
Atiku Abubakar, o líder do maior partido da oposição, o Partido Democrático do
Povo, e em último está Peter Obi, do Partido Trabalhista, que venceu no estado-chave de Lagos.
A lei eleitoral nigeriana diz que um candidato pode vencer ao
obter mais votos do que os seus rivais desde que alcance 25% dos votos
em pelo menos dois terços dos 36 estados e Abuja, a capital federal. A vitória
de Tinubu prolonga o controlo do APC ainda que herde um considerável número de
dificuldades da administração anterior.
A Nigéria é o maior produtor de petróleo de África e um em cada seis africanos
é nigeriano. O desemprego é alto, a insegurança e a violência tem aumentado e
os corpos de segurança especiais que têm sido criados para combatê-la estão
frequentemente na origem dos abusos e violência extrema, criando revolta social
por todo o país.
Os partidos da oposição, PDP e trabalhistas, pediram que a eleição fosse
cancelada e repetida alegando que impossibilidade de a comissão eleitoral
fazer o escrutínio eletrónico no seu próprio site prova que os resultados foram
manipulados, reporta a agência Reuters.
A votação foi marcada por atrasos, muitas assembleias de voto abriram
horas mais tarde, e houve registo de ataques violentos a eleitores por homens
armados. A partir do momento em que a comissão eleitoral anunciou os resultados
como oficiais, os apoiantes do Governo acusaram os partidos da oposição de
fomentarem “a falta de lei e anarquia”.
OUTRAS NOTÍCIAS
Vladimir Putin deu ordens aos serviços secretos russos para que reforcem a
segurança nas quatro regiões até agora só parcialmente controladas pelas suas
forças. A segunda instrução foi para controlar a crescente espionagem e as
operações de sabotagem da Ucrânia e do Ocidente contra a Rússia. O Presidente
russo falou após um governador regional russo ter revelado que um drone tinha aterrado perto de uma estação de distribuição de
gás num aparente ataque falhado perto da cidade de Kolomna situada a
apenas
Trinta e dois mortos e dezenas de feridos é o balanço temporário de um choque de comboios na Grécia. Um
comboio com 350 passageiros a bordo colidiu com um outro de mercadorias perto
da cidade de Larissa, sensivelmente à mesma distância entre Salónica, a norte,
e Atenas, a sul.
A China acaba de aprovar a maior expansão de novas centrais de energia a
carvão desde 2015. Pequim aprovou a construção de mais 106 gigawatts de energia
alimentada a carvão no ano passado, valor quatro vezes mais alto do que em 2021
e o valor mais alto desde 2015, mostra uma investigação reportada pelo “The Guardian”.
A Casa Branca declara-se aberta a aumentar as restrições ao Tik Tok.
Um novo relatório do International Crisis Group (organização não
governamental de análise e monitorização de conflitos) chama a atenção para
os milhares de estrangeiros que aderiram ao auto-proclamado Estado
Islâmico na Síria e no Iraque que passaram para a Turquia. Alguns foram
deportados, outros ficaram na Turquia, onde foram a tribunal e cumpriram
sentenças que estão agora a chegar ao fim. A sua presença no país é uma
dificuldade maior do ponto de vista humanitário e de segurança, ainda mais com
o país destruído pela série de tremores de terra que abalaram recentemente o
território.
O ministério da Habitação já identificou 4000 imóveis devolutos para arrendar que vão servir
para aumentar o arrendamento a preços acessíveis na capital.
O PIB português atingiu um máximo histórico em 2022: 210,5
mil milhões de euros em termos reais.
Patrões não levam respostas, mas muitas promessas da
reunião com o primeiro-ministro.
Benfica e os acusados de falsificação e fraude fiscal.
Apreensão de carta por alcool e drogas vai ter efeitos em toda a Europa. Os
exames poderão ser feitos em qualquer país e as regras vão ser uniformizadas,
escreve o JN.
FRASES
“Só paro quando morrer”, Ruy de Carvalho, ator comemora 96 anos de vida em
palco no Porto
“Uma ofensa e uma provocação gratuita”, André Ventura, líder do Chega a
propósito do convite ao Presidente do Brasil para discursar na sessão solene do
25 e abril
“Como pode um país [Suécia] esperar um favor nosso [ratificação da NATO] quando
os seus políticos estão constante e repetidamente a espalhar mentiras sobre
nós?”, Peter Szijjártó, ministro dos Negócios Estrangeiros húngaro após um
encontro com o homólogo sueco Tobias Billström em Estocolmo, aludindo
abertamente à troca de “favores” húngaros por fundos europeus
PODCASTS A NÃO PERDER
Mortágua levantará voo com a TAP? Depois de se ter candidatado à liderança do partido, a deputada vai ter de conquistar os bloquistas e defrontar-se com Pedro Nuno Santos. Na Comissão Política desta semana, discute-se qual será a presença da implacável inquiridora na comissão aberta à polémica companhia aérea e ainda outros assuntos “lulo-brasileiros”.
https://expresso.pt/podcasts/comissao-politica/2023-02-28-Mortagua-levantara-voo-com-a-TAP--E-as-relacoes-lulo-brasileiras-1d8f225c
Os
adeptos do Besiktas jogaram para campo a solidariedade, já Roger Schmidt
respondeu aos adeptos de Vizela com hostilidade. Os acontecimentos desta semana
mostram o que o futebol tem de melhor e de pior. Fique a par do ocorrido e da
opinião de Duarte Gomes com o podcast A Culpa é do Árbitro.
https://expresso.pt/podcasts/a-culpa-e-do-arbitro/2023-02-27-Entre-FC-Porto-e-Benfica-faltaram-vermelhos-para-a-impetuosidade-no-sangue-de-Pepe-e-Otamendi-da36d89b
Tabu não
tem limites e agora está em formato podcast. Bruno Nogueira continua a dizer o
que não deve ser dito e desta vez decidiu abordar os desafios de quem vive com
doenças incuráveis. Ouça o podcast e não receie rir, que apesar de não ser
remédio para tudo, é do melhor que temos.
O QUE ANDO A LER E A VER
A entrada no segundo ano da guerra na Ucrânia leva-me a ler, reler, ver e rever
livros, documentários e novas versões de filmes sobre os dois conflitos
mundiais do passado. Leio “As Enviadas Especiais”, de Judith MacKrell (Casa das Letras),
um livro sobre seis mulheres jornalistas que desbravaram o universo da
reportagem de guerra até à Guerra Civil de Espanha e à II Guerra Mundial quase
só acessível a homens. As “seis mulheres extraordináriasna linha da frente da
II Guerra Mundial” são Martha Gellhorn, Clare Hollingworth, Lee Miller,
Helen Kirkpatrick, Sigrid Schultz, Virginia Cowles e o livro descreve
o modus operandi de cada uma nos cenários a partir dos quais
reportaram. Não sou grande fã de biografias, porém é interessante ler sobre
a busca da voz individual de cada uma, as oportunidades de se tornarem
visíveis nos jornais e a competição entre elas. Há mais de 15 anos li de rajada
senão todos, quase todos os livros de Martha Gellhorn, aquela que detestava ser
referida pela relação e casamento que teve com Ernest Hemingway e as portas que
ele lhe abriu. É interessante como o scoop da vida de Gellhorn
dependeu de fingir não ser jornalista: cobriu o desembarque da Normandia num
navio-hospital fazendo-se passar por enfermeira.
Vi na Netflix (não, ainda não abandonei…) e recomendo a nova versão de “A Oeste Nada de Novo”, o filme que
arrecadou sete BAFTAS e é candidato aos Oscar. Sem concessões.
Este Expresso Curto chegou ao fim. Passe uma ótima quarta-feira
connosco em expresso.pt.
Sem comentários:
Enviar um comentário