segunda-feira, 21 de agosto de 2023

Angola | Coroa do Rei e a Metro Europa – Artur Queiroz

Artur Queiroz*, Luanda

Na minha juventude corria uma tirada filosófica que muito me ajudou a sobreviver à discriminação e exclusão. Era assim: Viver Não Custa. O que Custa É Saber Viver. Tentei aprender todos os truques, todos os golpes, todas as manhas para saber viver. Confesso que falhei redondamente. Nem cheguei aos calcanhares dos ricaços. Ainda se conseguisse chegar às unhas dos pés dos seus serventes… Nem isso!

Um dia perdi-me de amores por uma menina filha de um ricaço que arrotava postas de lagosta e tinha bafo de uísque da minha idade. Naquele tempo as festas mais finas corriam no salão do Aeroclube de Angola. Estávamos no Carnaval e minha amada queria muito que eu fosse, para dançarmos agarradinhos e segredarmos juras de amor. 

Problema. A organização exigia aos convivas “traje de fantasia”. Viver não custa. A minha amiga Raquel era uma barra em trabalhos manuais e fez-me uma coroa de cartolina que pintou com aguarela dourada. Eu fui à farra, disfarçado de Rei Artur. Coroa na cabeça, camisa fardex, calças de bombazina largonas (as medidas dos fardos não eram para mim) e quedes (sapatilha macambira). Fui barrado à entrada por um armário que falava axim, tinha bigodaça e muitos pelos nos braços. Perdido por cem, perdido por mil.

Dei uma de diplomata e disse ao matulão que tinha um encontro marcado com a minha amada e se falhasse seria infeliz para sempre. Ele não se comoveu e eu parti para a porrada. Outros que foram barrados solidarizaram-se com bornos e bicos. O guardião ficou estendido no chão. Entrámos calmamente, mas por pouco tempo, a polícia entrou em acção. O próprio pai da minha amada era da direcção do Aeroclube de Angola e quando meu viu, desencasacado e com coroa na cabeça, apontou-me aos polícias. Passei a noite na cela da esquadra do chefe Aires (também era aviador) na Vila Clotilde. Ninguém respeitou o Rei Artur e a minha amada, de castigo, foi estudar para Londres.

Viver não custa nada, mas custa saber viver. Falhei sempre. Mas não estou só. Um pasquim infecto controlado pela Irmandade Africâner publicou um texto asqueroso onde revela que o “Presidente da Republica retira filha Jéssica dos negócios familiares”. A peça é ilustrada com uma foto de João Lourenço com a menina Jéssica ao lado. No alto da graciosa cabeça ela tem uma coroa dourada. Também não lhe serviu de nada, isto se é verdade o que foi publicado.

Na peça vem o nome de uma Metro Europa e aí lembrei-me de um episódio que me causou grandes dissabores, na Empresa Edições Novembro. As impressões dos jornais eram péssimas e eu pedi uma amostra do papel. Muito bom. Fui ver os tambores das tintas. Alta qualidade. Então o que se passava? Um caso de polícia.

A empresa que construiu a nave industrial sabia tanto de impressão e artes gráficas como eu sei de nanomedicina. Chapas de zinco na cobertura e nas paredes. Buracos enormes por onde entrava o sol, a lua e a poeira. O pó é grande inimigo da impressão! O calor e a humidade ajudam à festa. Não climatizaram a nave industrial. As tintas expostas a altas temperaturas ficam viscosas e esborratam mesmo na impressão em máquina rotativa. O papel com muita humidade parte com facilidade. Para acertar as miras perde-se muito produto. Dinheiro atirado ao lixo. Mas se estiver muito seco também parte. Porque o movimento da máquina rotativa provoca electricidade estática e estoira o papel. 

Querem mais? A empresa de construção fez o chão da nave industrial como se fosse a sala de uma casa. Imaginem uma bisarma que pesa toneladas rodando a alta velocidade. Se não estiver bem fixa, a vibração é tal que a impressão fica “tremida”. Já existiam fissuras no solo. Desconheciam que a base da máquina tem de ser reforçada para não vibrar. Estas desgraças foram atribuídas à Metro Europa que agora está no ramo da agro-indústria. Espero que não prejudiquem os negócios da família de João Lourenço mesmo que sejam activos a voar.

Os golpes de estado em África só são aceites se os autores estiverem ao serviço do neocolonialismo. Quando os golpistas estão contra as potências neocoloniais são logo ameaçados e se for preciso contra golpeados. O que custa é saber viver. Um dia destes o urânio do Níger pode voltar para França. Ou talvez não. Por aquelas paragens alguns patriotas dão sinais de que aprenderam a viver.

O estado terrorista mais perigoso do mundo sabe. O general Michael Langley, do Africom, anunciou que “admite” fornecer armamento não letal a Moçambique. Grandes artistas! Fornecem armas letais aos terroristas de Cabo Delgado. Ganham milhões com os bandidos armados. Agora fornecem material de guerra não letal ao Governo moçambicano. Ganham a dois carrinhos! Os abutres continuam a debicar no corpo inerte de África como querem e lhes apetece. No Níger, Burkina Faso, Mali, Guiné Conacri e vamos ver mais onde, já existe quem diga não. Estou a favor. Contra o neocolonialismo, sempre!

O embaixador dos EUA em Luanda (capataz de Biden) está a abusar. Ondem “colou-se” à cimeira da SADC e ante as câmaras da TPA disse que sim senhor, João Lourenço está a portar-se bem. Assim gostamos. Vamos apoiar em tudo. 

A coisa da propaganda ficou barata. Deram 2.500 dólares ao Ernesto Bartolomeu e o que custa mesmo é saber viver. Que o diga o assassino psicopata Abílio Camalata Numa. Veio a púbico dizer que a UNITA, nada tem de que se arrepender. Todas as suas actividades foram honrosas! Isto não é liberdade de expressão. É um criminoso a assumir os seus crimes e a afirmar publicamente que está disposto a continuar a actividade criminosa.

A UNITA lutou ao lado das tropas portuguesas contra a Independência Nacional. Abílio Numa está orgulhoso da alta traição. A UNITA foi uma unidade especial das tropas invasoras sul-africanas para destruir a Soberania e a Integridade Territorial. O assassino Abílio Numa está orgulhoso desasa traição que vitimou milhares de civis inocentes e causou um atraso de séculos ao país. A direcção da UNITA queimou vivas mulheres e crianças nas fogueiras da Jamba e Abílio Numa está orgulhoso destes crimes hediondos, declara que se for necessário repete a actividade criminosa. Prisão preventiva e já!

Defender em público a queima de seres humanos nas fogueiras é liberdade de expressão ou crime grave? Responda quem sabe.

*Jornalista

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