segunda-feira, 21 de agosto de 2023

Angola | A CANÇÃO DO BANDIDO – Artur Queiroz

Artur Queiroz*, Luanda

A Fatinha era mesmo muito bonita. Vivia numa zona belíssima, colina iluminada donde se via o verde exuberante da Kapopa. O sonho dela era ir para Luanda e viver no mar. Cresceu com o sonho e o sonho cresceu com ela. Um dia, estava eu no colégio do Uíje, partiu à boleia de um camionista que vendia peixe seco da candonga, sem selo do grémio. Nessas férias grandes também fui à capital com meu Pai. Ficámos no hotel Paris, nos Coqueiros. Como tinha combina, fui à procura dos sinais que ela me deixou. Encontrei-a no Bairro Operário, com uma barriga empinada de tanta gravidez. O que foi isto Fatinha? Um aí me cantou a canção do bandido e me engravidei…

A UNITA também está a entoar a canção do bandido. Entre distraídos e indecisos alguém vai engravidar. Depois só lhes resta a vida desprevenida como aconteceu com a bela Fatinha. A vida continua e no percurso pode acontecer que Adalberto da Costa Júnior seja acusado de tráfico de droga, Chivukuvuku de abuso sexual de menores e Filomeno Vieira Lopes internado por demência senil. Vai fazer companhia ao Justino Pinto de Andrade.

O Kid Kindumba tinha a mania que era o rei das forças. Um dia houve um concurso no Ginásio de São Paulo. Depois de vários exercícios que consistiam em levantar pesos cada vez mais pesados, os concorrentes foram chamados a dobrar uma barra de ferro. O Ninito conseguiu uma ligeira dobragem. O Adriano foi um pouco mais longe. O forçudo da Vila Alice, Avelino ou Tractor, dobrou ainda mais. Quase um arco. O Taúta começou e dois minutos depois atirou com a barra ao chão, intacta. Até que subiu ao estrado o Kid Kindumba. Pegou na barra pelas extremidades, levou-a à coxa e fez toda a força. Soltou um guincho de dor e berrou: Já está! Está o quê, ó vigarista? Uma perna partida…

A UNITA é ainda mais vigarista do que o Kid Kindumba. Isso do processo de destituição do Presidente da República é uma barra de ferro pesadíssima. Os dirigentes do partido ao tentarem dobrá-la, partem as pernas, os braços e até partiam a cabeça, se tivessem mais do que tronco e membros. Uma canção do bandido que não passa de propaganda. Para disfarçarem a fraqueza, Adalberto, Chivukuvuku e o maoista convertido às fogueiras da Jamba (Filomeno Vieira Lopes) dizem que o processo é desencadeado pelos deputados da Nação.

Chivukuvuku só conta porque é “coordenador” de um projecto político que não passa disso. É vice-presidente da Frente Patriótica Unida que só existe na cabeça destes vigaristas irremediáveis. Em 2027 fica tudo resolvido. Porque os sicários da UNITA não vão admitir veleidades e não há “frente” oficial. O assassino a soldo de Savimbi ou regressa às fileiras da UNITA ou vai gozar os rendimentos de marimbondo.

Filomeno Vieira Lopes mete pena. De ultra revolucionário em 1974 deu a volta completa ao baralho e estacionou em neonazi, apaixonado pelas fogueiras da Jamba. Mulheres Angolanas ponham-se a pau que o bicho converte todas em bruxas e ficam em cinzas! Como em 2027 não há “frente unida” oficial, o Bloco Democrático vai à vida. Se concorrer às eleições é extinta por falta de votos. Se não concorrer é expulsa por falta de comparência. É um fim merecido para o banditismo político mais repugnante que temos em Angola. Por um lugarzito de deputado e as mordomias, estes vigaristas abandonaram os valores da esquerda e da democracia para se juntarem aos sicários do Galo Negro.

A lógica dos vigaristas é esta: Só são deputados da Nação os que foram eleitos nas listas da UNITA. Os outros não foram eleitos, são filhos da fraude! Para o processo de destituição ser aprovado são necessários dois terços dos deputados eleitos. Como só foram eleitos os deputados da UNITA, estão garantidos cem por cento dos votos.

Os deputados da UNITA representam o povo e em nome do povo, porque o povo lhes pediu muito, eles vão apresentar o processo de destituição do Presidente da República. Portanto, não são os deputados do Galo Negro que querem a destituição, é o povo! Os outros deputados não foram eleitos nem representam o povo. Nem sequer são angolanos. Vieram todos de Marte, portanto, não contam. Mesmo que votem contra, de nada serve.

Para manterem o processo da destituição na agenda mediática os autores da canção do bandido até arranjaram uma assembleia só para eles. O  primeiro ano da quinta sessão legislativa da Assembleia Nacional encerrou na terça-feira. Os deputados partiram para merecidas férias. Os cantadores da canção do bandido, no dia seguinte reuniram-se em plenário para a assinatura do processo de destituição! Mesmo assim faltaram quatro “deputados da nação”. Adalberto, o mentiroso compulsivo e autor da canção do bandido, disse que as faltas foram justificadas! Para já os faltosos não vão para a fogueira. 

Pobre país. Se a oposição só é capaz destes números da canção do bandido e falsas manifestações de força, a democracia vai estagnar e depois apodrece. Compete ao grupo parlamentar misto (PRS/FNLA) e ao MPLA encontrarem saída para esta tragédia política. Urgentemente. Eu vou dar uma sugestão. Com estão todos com saudades da Jamba e segundo Samuel Chiwale “a Jamba é um estado dentro do Estado”, mandam os “deputados da nação” para lá e ficam a praticar a democracia das fogueiras. Quem não quiser ir tem de assinar um documento de aceitação das regras do regime democrático.

A vice-presidente do MPLA, Luísa Damião, quer mais divulgação das acções partidárias junto dos Media. Está a meter-se na esfera de Rui Falcão ou virou cega e surda? Num discurso empolgado, como se estivesse a falar para Deus e toda a corte celestial, exigiu aos dirigentes dos Comités Provinciais do partido que “estreitem as relações de cooperação com a sociedade civil, igrejas, associações cívicas e demais veículos da sociedade”. Falava como a senhora professora fala para as crianças da turma. Tinha à frente dirigentes partidários regionais!

O Presidente da República está a gastar a sua imagem por tudo e por nada. Os seus discursos são monocórdicos, parece que abusou da medicação e está ensonado. Hoje na cimeira da SADC mostrou isso. Não fica bem mas também não é caso para destituição. Se puder aparecer menos e ser mais natural (eu sei que não fala assim e tem mais piada…) ficamos todos a ganhar. Luísa Damião e o líder do partido, deviam falar em momentos muito especiais, como o centenário do Jornal de Angola. Falar por falar é gastar e desgastar a imagem. Errado.

Querem discursos bem estruturados e com substância política? Ponham a falar Ângela Bragança. Querem esmagar no combate político? Ponham a falar Virgílio de Fontes Pereira. Querem arrebatar as massas? Entreguem essa missão a Mara Quiosa.

Rui Falcão é imbatível nas respostas directas e demolidoras. Pensa bem e fala melhor. O seu silêncio é para mim um mistério insondável. Só aparece quando o rei faz anos mas devia ser o porta-voz do partido. Quando aparece fala uns segundos só para mostrar que esmaga a concorrência. É de propósito ou o MPLA, como não tem concorrência, esbanja os seus recursos? Mistério!

Hoje é o primeiro dia do Jornal de Angola centenário. Na página de opinião foi publicado um texto assinado por Manuel Rui Monteiro sobre religião e poder. Ele era o ministro da Informação quando Rui Correia de Freitas requereu a mudança do título, de Província de Angola para Jornal de Angola. Nem uma palavra sobre o marco histórico. Luciano Rocha trabalhou no jornal em 1976 e até Março de 1977. Regressou em 2004 e ainda ganha o pão nosso de cada dia na empresa. Hoje escreveu um texto intitulado “activos ainda a voar”. Nem uma palavra sobre o centenário do jornal onde trabalha. Quanto aos activos voam cada vez mais alto e em astronómicas quantidades. Mas não sei se isso é ilegal.

Claro que estou errado. Tenho o passo trocado. Estou a dar importância ao que não tem importância nenhuma. Angola ter um jornal centenário é igual ao hectolitro. 

*Jornalista

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