Artur Queiroz*, Luanda
A vingança é própria dos fracos e tem uma vertente muito vincada (tipo Morro do Chingo) de cobardia. Vingadores são acima de tudo leprosos morais que se escondem sob a capa dos fortes para esmagar os indefesos. Se o vento vira de direcção, tornam-se ratos assustados e refugiam-se nas sargetas. Em Angola conhecemos bem essa fauna e as consequências das suas vinganças e outras baixezas. Não digo que havemos de voltar, mas tenho esperança que a decência, a honra, a dignidade, o orgulho de ser angolano, cedo ou tarde voltarão.
O primeiro mandato de João Lourenço ficou marcado pelas exonerações implacáveis, sem prévio aviso, sem uma palavra, sem a urbanidade que supostamente existe entre gente civilizada. A mensagem foi muito clara: O Estado sou eu. O MPLA sou eu. Os funcionários do Estado são meus. Tenho o direito ilimitado de nomear, exonerar, eliminar. Não sei se este abuso de poder chegou ao direito de pernada. Mas pelo comportamento de algumas dirigentes partidárias e governamentais penso que sim, esse direito é exercido. Do socialismo passámos à economia de mercado e recuamos ao feudalismo.
Em pleno regime capitalista João
Lourenço anunciou o combate â corrupção. Se tivesse anunciado que Angola ia
mudar-se para a Lua, seria mais credível. Os corruptos são a guarda avançada da
economia de mercado. Esse engano de alma apenas serviu para perseguir
familiares e pessoas próximas do Presidente José Eduardo dos Santos.
Enriquecer-se ainda mais e enriquecer a sua turma. Na sua voracidade pelo
dinheiro alheio também atingiu familiares e pessoas próximas de Agostinho Neto.
Angola nasceu no dia em que ele tomou posse. Ricos só com o seu beneplácito.
Obras só as dele. Foi neste quadro de baixeza moral e desprezo pelo povo em
geral que decorreu o mandato de
O segundo mandato de João Lourenço começou sob o signo da vingança. Entrou a demolir todos os obstáculos. Até as contas da Fundação Dr. António Agostinho Neto foram congeladas. O que restava de independência do Poder Judicial foi amarfanhado, espezinhado, comprado à razão de dez por cento cada recuperação de activos em muitos casos roubo descarado de bens. Vingança dos Presidentes da República anteriores por terem um currículo de servidores públicos e um percurso de vida que ele nem que viva mil anos consegue. Vingança!
No dia seguinte à sua tomada de posse votou as Forças Armadas ao mais apagado e vil esquecimento. Vingança. Ele acomodou-se habilidosamente no comissariado político (conversa não enche barriga nem derrota os karkamanos) e depois apanhou boleia do partido. Chegou ao topo pela mão de José Eduardo dos Santos que depois encafuou no porão de um avião para exibir o troféu da sua perfídia como forma de somar mais uns quantos votos.
A minha hora chegou! Foi a Washington receber ordens de Antony Blinken e Lloyd Austin. Chamou uns kaxikos e avançou com a guerra contra os amigos de sempre e o Sul Global. Vingança dos namibianos que vivem de pé, orgulhosos da política externa de não-alinhamento como aprenderam com Angola durante a guerra de libertação contra os racistas de Pretória e o estado terrorista mais perigoso do mundo.
Vingança dos sul-africanos que bateram com a porta na cara aos terroristas de Washington. Vingança de todos os que o deixaram sozinho de mão estendida aos donos. Os EUA estimam que entre 1992 e 2002 morreram 800.000 angolanos e mais de um milhão fugiram para o estrangeiro ou para locais de Angola mais seguros. A Guerra pela Soberania Nacional e a Integridade Territorial, entre 1975 e 2002 custou triliões. As contas são fáceis de fazer.
A propaganda dos EUA, Reino Unido e União Europeia anunciou que a Federação Russa gasta por dia 300 milhões de euros na operação de desarmamento e desnazificação da Ucrânia. O outro lado gasta mais, mas para facilitar vamos aceitar que os gastos são iguais. Façam as contas multiplicando por 365 dias durante dez anos. O Presidente José Eduardo dos Santos, em nome da paz e reconciliação nacional esqueceu os prejuízos. Os mortos foram recordados com respeito e gratidão. Vingança! João Lourenço esqueceu os mortos, castigou os vivos e foi entregar-se ao estado terrorista mais perigoso do mundo, responsável pela destruição de Angola e por pelo menos 800.000 mortos
O Presidente da República, eleito como cabeça de lista do MPLA está a vingar-se do MPLA. E do Povo Angolano! Se a Constituição da República lhe permitisse um terceiro mandato era a desgraça total. Usava esses cinco anos para destilar ódio sobre os pobres. Sobre os patriotas. Sobre os que se bateram pela Pátria. No intervalo ia comer os kitutes da terra a Nova Iorque.
Esclarecendo. Um mandato de cinco anos dá para cumprir todo o programa de governo apresentado ao eleitorado. Se não dá, então o partido mentiu aos eleitores e não merece confiança. Um segundo mandato é uma década de poder. Dá para tudo, como se está a ver pelo exemplo anexo. João Lourenço sabe que o compromisso do MPLA na Independência Nacional foi seguir uma política externa de não-alinhamento e relações de reciprocidade com todos os países. No segundo mandato já entregou Angola ao estado terrorista mais perigoso do mundo. Aos esclavagistas e colonialistas do ocidente alargado.
Um terceiro mandato seria de ódio. João Lourenço gastou uma fortuna para ser campeão da paz em África e os africanos desataram à porrada aos esclavagistas e colonialistas do ocidente alargado. Lá se foi o título que tanto dinheiro custou. Se ficasse mais cinco anos ajudava os aliados a destruir o que resta da dignidade dos africanos. Vingança ao matabicho.
Para o caso de haver alguém distraído informo que na Eslováquia ganhou as eleições Robert Fico. Fez campanha prometendo, em nome da paz regional, que Bratislava não vai apoiar Kiev na adesão à União Europeia e à OTAN (ou NATO). E não apoia a guerra contra a Federação Russa por procuração passada à Ucrânia. Por favor, entreguem a João Lourenço esta declaração do político eslovaco: “A guerra na Ucrânia começou em 2014 quando os fascistas ucranianos mataram civis ucranianos de nacionalidade russa”. O Presidente da República de Angola disse que a guerra começou em Fevereiro de 2022, há um ano e meio.
Um parceiro de João Lourenço, Carlos Kandanda, disse hoje nunca artigo de opinião que “Angola foi transformada num Estado Satélite da União Soviética, com a presença massiva de efectivos militares do Pacto da Varsóvia”. Um “site” da CIA diz que entre 1975 e o Acordo de Bicesse passaram por Angola 11 mil assessores soviéticos. O que mesmo assim é falso. Com o Kandanda e a Kanguimbo Ananaz João Lourenço fica muito abaixo de Mobutu.
*Jornalista
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