quinta-feira, 26 de outubro de 2023

Regresso do Nazismo à Força Toda – Artur Queiroz

Artur Queiroz*, Luanda

Tudo como no tempo do colonialismo. Sempre que Portugal era condenado na ONU por causa das suas colónias, os mabecos nos Media e os políticos fascistas faziam um chinfrim tremendo. Na sequência do 4 de Fevereiro só falavam em terrorismo e terroristas. Com o 15 de Março de 1961 (Grande Insurreição no Norte de Angola) os ataques redobraram. Fizeram livros com fotos dos colonos mortos nas fazendas ou nas pequenas aldeias do mato. Ameaçaram “acabar com os pretos”. Porque eram todos terroristas. 

Tropas estacionadas no Toto (caçadores especiais) saíram de peito aberto e muitos morreram. As topas aquarteladas na cidade do Uíge foram socorrer as populações das pequenas aldeias, vilas e fazendas. Sofreram emboscadas. As picadas estavam intransitáveis porque os guerreiros derrubaram árvores gigantescas que impediam o trânsito. Quando paravam, eram atacados à catanada. Muitas baixas em terra. No Cólua foi um desastre. Todos mortos regressaram ao quartel dentro de sacos, vários dias depois. Na ponte do Lukunga foi pior. Um pelotão reforçado com milícias foi dizimado. Aí puseram os aviões de guerra no ar e mataram milhares de civis à bomba. 

As emboscadas constantes puseram as tropas ocupantes entrincheiradas nos seus quartéis até chegarem reforços da “metrópole” obedecendo à ordem do ditador Salazar, “para Angola depressa e em força”. Enquanto não chegavam, os altos comandos prometiam uma grande ofensiva para libertar o norte, sobretudo as grandes fazendas de café. Aproximava-se a colheita e o dinheiro fazia falta. Sempre o dinheiro. 

Todos os dias anunciavam a ofensiva para acabar com os “terroristas” no Norte. Nada. Quando as primeiras tropas chegaram, fizeram um desfile na Avenida 4 de Fevereiro (Marginal). Foram logo enviados para os Dembos. Mal preparados, mal adaptados e desconhecedores do terreno sofreram pesadas baixas. Só em Outubro entraram em Nambuangongo, sete meses depois do início da Grande Insurreição. Mesmo os colonos mais alienados perceberam que já nada voltava a ser como antes. Afinal os negros existiam e exigiam os seus direitos. O primeiro era a Independência Nacional! 

O império português começou a desmoronar-se. A guerrilha do MPLA tomou o distrito de Cabinda. As tropas portuguesas estavam prisioneiras nos seus quartéis. O sul dos Dembos (parte mais próxima de Luanda, capital do distrito), também ficou sob o controlo dos seus guerrilheiros. A parte Norte estava com a UPA/FNLA, Comandantes Margoso e Afamado Pedro. Só um ano depois as fazendas foram reocupadas graças à criação da Organização Provincial dos Voluntários de Defesa Civil de Angola (OPVDCA) que absorveu as milícias assassinas constituídas por colonos, cheios de ódio e espírito de vingança.

A guerra acaba amanhã. Os pretos vão levar uma lição, diziam os colonialistas. Mas passavam os meses e nada. Passaram os anos e todos perceberam que nada mais voltava a ser como antes. As franjas mais politizadas e progressistas da comunidade europeia ousaram apoiar os movimentos de libertação, MPLA e FNLA. O general Holbeche Fino desembarcou em Luanda e garantiu que ia acabar com os terroristas. Foi ele que acabou. Mal aqueceu lugar. Voltou para casa com o rabo entre as pernas. O Norte, entre Caxito e a fronteira de Maquela do Zombo era teatro da guerra. Cabinda território do MPLA.

Lisboa percebeu que o fim estava próximo. E os próceres do fascismo começaram a disparar em todas as direcções. A oposição é vende-pátrias! Os da ONU são terroristas! Os EUA são terroristas! Mobutu é terrorista! Kaunda é terrorista! Vamos dar uma lição aos pretos! Coitados. Mandaram o padre Oliveira falar com Savimbi para ele reforçar os FLECHAS da PIDE. Causaram estragos mas escutem gringos e seus fantoches: “Não há machado que corte a raiz ao pensamento”. 

Israel criou um regime de apartheid na Palestina ocupada. Os nazis sul-africanos foram condenados pela comunidade internacional porque fizeram o mesmo. África do Sul ocupava ilegalmente a Namíbia. Israel ocupa ilegalmente a Palestina. Os polícias de Pretória matavam manifestantes civis nos subúrbios das grandes cidades. Nunca esqueceremos os massacres de Alexandra e Soweto. Israel mata palestinos como se fossem cães vadios apenas porque querem a sua pátria livre.

Israel tem o apoio de toda a extrema-direita nos EUA, União Europeia e Reino Unido (estão no poder). África do Sul recebia material de guerra dos EUA, Reino Unido, França e Alemanha Federal para matar sul-africanos, namibianos e angolanos. Corja de assassinos e genocidas.

Hoje o Presidente da Turquia, Erdogan, afirmou que o HAMAS é um movimento de libertação e não um grupo terrorista. É verdade. Não enterrem a cabeça debaixo da areia. E só acaba quando acabarem os refugiados palestinos e a Palestina  seja livre. Qual é a parte que não percebem? São mesmo matumbos. 

Mas há pior. O regime israelita, de extremíssima direita, está a fazer tudo para ultrapassar os horrores de Hitler e do nazismo. Já conseguiram. Tal como o mundo nunca esquecerá o Holocausto, também não vai esquecer a morte de milhares de crianças à bomba, na Faixa de Gaza. Os nazis da Alemanha pagaram pelos seus crimes. Os nazis de Israel também vão pagar. Os colonialistas mataram as minhas mamãs e os meus manos no Cangundo, no Catumbo, no Dambi, no Kulo. O MPLA e o MFA limparam o ódio e o desejo de vingança do meu coração. Os nazis de Telavive não têm quem faça isso por eles. Vão rebentar de arrogância odiosa. 

Hoje os aviões israelitas atingiram instalações da Cruz Vermelha em Gaza. Uma escola secundária. Feriram um jornalista da Al Jazeera. Mataram mais 400 seres humanos, que o ministro da Defesa de Israel diz serem “animais com figura de gente”. Vão pagar. Mesmo que os EUA estejam a enxamear a região de armas e seus “rambos”. Ainda bem. A última derrota foi no Afeganistão. A próxima (última?) vai ser no Médio Oriente. O amor muitas vezes bate em retirada. Mas a liberdade nunca!

* Jornalista

Ler artigos anteriores:

O Último Adeus a Onambwe – Artur Queiroz

Os Conquistadores da Liberdade -- Artur Queiroz

Os Reféns de Israel e a Destruição de Gaza -- Artur Queiroz

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