Artur Queiroz*, Luanda
Mário Domingues defendeu no início do século XX o mesmo que defendiam os jornalistas da Imprensa Livre de Angola, a Independência Nacional. Nasceu na Ilha do Príncipe em 1899. Era filho de uma escrava negra de Angola. Foi criado pela avó paterna em Lisboa e na juventude aderiu ao ideário anarquista. Como jornalista colaborou no diário “A Batalha”. Num dos seus textos escreveu: “A liberdade não se concede, conquista-se. Que a conquistem os negros!”
O jornalista Mário Domingues trabalhou nos jornais A Comuna (Porto), A Renovação e A Voz d’África. Os seus textos são denúncias vigorosas do colonialismo e do racismo. Defendia abertamente a independência das colónias portuguesas. Com o triunfo dos fascistas em 28 de Maio de 1926 (Estado Novo), Mário Domingues abandonou o jornalismo e enveredou pela carreira de escritor. Os meus amigos da Letra Livre acabam de editar um livro com textos publicados no jornal anarquista A Batalha. Leiam urgentemente para conhecerem as raízes dos movimentos de libertação das ex-colónias portuguesas. O filho, António Domingues, era pintor e criou uma tela com a família de Agostinho Neto.
Hoje foi a sepultar o Herói Nacional Henrique Carvalho Santos (Onambwe). Uma publicação controlada pelo Miala e a Irmandade Africâner publicou um texto insultuoso e mentiroso contra ele e Lúcio Lara. Porque lutaram contra o colonialismo português. Porque deram um contributo inestimável à criação da República Popular de Angola. Porque o Comandante Onambwe esteve à frente dos que corajosamente combateram os golpistas de 27 de Maio até derrotá-los. Derrotados em 1977 mas hoje estão no poder. Começa a ser claríssima a ligação dos golpistas à “Operação Cobra” ou “Operação Natal em Angola”, organizada pela CIA. Devia ser executada por operacionais norte-americanos e franceses.
A forma como os ocupantes do poder estão a tratar os patriotas angolanos que derrotaram os golpistas de 27 de Maio de 1977 dá que pensar. Qualquer dia colocam na lista negra os que derrotaram a UNITA nas ruas de Luanda quando os seus militares tentaram tomar o poder pela força, após as eleições de 1992. Depois são castigados todos os que derrotaram o regime de apartheid. Já faltou mais. Para já são votados ao ostracismo. Enquanto prossegue a peça teatral (comédia) onde a UNITA finge que é contra João Lourenço, o abono de família do Galo Negro. Aguardemos pelo último acto e o cair do pano.
O Hamas é um partido político palestino com um braço armado. Ganhou as eleições em Gaza e as eleições gerais na Palestina. Ontem as tropas ocupantes de Israel prenderam, em Ramalah (Cisjordânia), o deputado porta-vos do partido. Ninguém pense que é a única organização política que tem um braço armado. Comecemos por nossa casa. O MPLA tinha um braço armado, o Exército Popular de Libertação de Angola (EPLA) depois de Agosto de 1974, as FAPLA. A FNLA tinha o seu braço armado, o Exército de Libertação Nacional de Angola (ELNA) e a UNITA os FLECHAS da PIDE também conhecidos por FALA muito e foge a tempo.
Os colonialistas portugueses chamavam terroristas aos militantes e dirigentes do MPLA, PAIGC e FRELIMO. Os países da OTAN (ou NATO) faziam o mesmo. O Papa Paulo VI, em 1970, recebeu no Vaticano Agostinho Neto, Amílcar Cabral e Marcelino dos Santos. Muita coragem! Outros líderes se seguiram. No final tiveram que reconhecer os “terroristas” e falar com eles na ONU e outras instituições internacionais.
Crimes de guerra. Os EUA cometeram gravíssimos crimes de guerra e contra a Humanidade em todo o mundo e particularmente no Japão (bombas atómicas sobre Hiroxima e Nagasaki), Coreia, Vietname, Iraque, Afeganistão, Síria e agora mesmo na Palestina. Terrorismo puro e duro. Chamar aos outros terroristas, é uma piada de mau gosto.
Números de hoje que traduzem crimes de guerra e contra a Humanidade na Palestina, cometidos por Israel, EUA e os governos do ocidente alargado sem qualquer excepção. Os terroristas já mataram 16 jornalistas palestinos. Desde o dia 7 de Outubro que os terroristas matam uma criança palestina de 15 em 15 minutos. Na Faixa de Gaza mataram 5.000 civis e feriram 13.000. Deportaram quase um milhão do norte para sul do território. Os sionistas prenderam na Cisjordânia 850 palestinos inclusive deputados.
Ontem os terroristas bombardearam
a Igreja de São Porfírio
No sul de Gaza nasceu uma cidade
de tendas habitadas por milhares de mulheres e crianças. Ali estão à espera de
uma bomba que os mate porque água e comida não chegam. Ficaram sem as suas
casas nos bombardeamentos. Israel tem o direito de se defender! Um milhão de
palestinos enjaulados num cantinho da grande prisão e metidos
Boa notícia. Biden informou que a estrada destruída à bomba pelos seus terroristas e que liga a fronteira do Egipto a Gaza está a ser reparada para passarem 20 camiões com ajuda humanitária. Depois digam que o estado terrorista mais perigoso do mundo e os sionistas são mauzinhos. Mentira, são anjinhos.
A Igreja Baptista, proprietária do Hospital Al Ahli insiste que os terroristas dos EUA Israel e companhia bombardearam a unidade de saúde. A ONU hoje exigiu uma investigação independente, com urgência. Para ninguém se atrever, os aviões de Israel ontem à noite destruíram uma igreja ao lado. Que vá lá o Guterres investigar.
Os líderes religiosos cristãos de Jerusalém consideram que a destruição à bomba de uma igreja na Faixa de Gaza é um crime de guerra que não pode passar impune. Mas os terroristas já fizeram o mesmo em dezenas de escolas (algumas da ONU) e demoliram duas universidades! Qual é o problema? Brancos puros só os anglo-saxónicos e europeus arianos. Os outros são mais ou menos pretos. Todos são para matar!
O Biden ontem roncou grosso e garantiu que os EUA estão prontos a fazer duas guerras ao mesmo tempo. Ou mais. São os maiores! E têm imenso dinheiro para matar. Hoje vão 14 mil milhões para Israel. Matem palestinos até onde for preciso.
Um antigo chefe da CISA garante que está tido pronto para a invasão de Gaza. O objectivo e criar na Palestina um sistema de segurança israelita. O ministro da Defesa Galant diz que a guerra tem três fases. A primeira ainda não acabou. Só depois avança a invasão que é a segunda fase. Mortos os palestinos criam um “sistema de segurança” para mais ninguém sair da prisão de Gaza e ir matar israelitas. Bem pensado. O trio Biden, Bklinken e Austin mais os genocidas da União Europeia e Reino Unido vão à inauguração do novo regime. Líderes dos países árabes, na sua infinita paciência, recebem estes genocidas!
Joe Biden diz que o partido Hamas é como Putin. A Federação Russa é igual ao Hamas. Úrsula von der Leyen foi a Washington e repetiu exatamente as mesmas palavras. A guerra da Ucrânia só tem duas soluções: Derrota do regime nazi de Kiev até ao último ucraniano ou negociações de paz. EUA e União Europeia colocaram-se fora dessa solução. Porque querem a guerra custe o que custar. A partir do dia 7 de Outubro a paz no Médio Oriente já não é possível com conversa fiada. Ou se materializa a solução dos Dois Estados ou a guerra total até acabarem todos os árabes ou todos os israelitas.
Claro que a paz é a única opção. Por isso Israel tem que cumprir as Resoluções da ONU sem mais truques. Muito menos com a limpeza étnica e o genocídio. Os EUA, sendo a parte de Israel estão fora da mediação. A União Europeia, sendo a parte Israel, está fora da mediação. O Reino Unido sendo a parte Israel e a raiz do problema, está fora da mediação. Quem sobra? Estados Árabes e países do BRICS. Alguém se vai arrepender de comparar o Hamas ao Presidente Putin e a Federação Russa ao Hamas. E muito.
Hoje em Doha decorreu uma manifestação gigantesca. Só os membros do governo ficaram em casa ou nos seus gabinetes, São os árabes ricos. Saíram do conforto para mostrarem solidariedade com os palestinos que ainda não foram mortos na limpeza étnica, que está a decorrer. O mesmo acontece no Iraque, Tunísia, Síria e por todo o Mundo Árabe. O ódio e a vingança andam à solta. Há que escolher entre a paz e os dois estados ou nenhum estado. Porque vem aí o apocalipse.
* Jornalista
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