Artur Queiroz*, Luanda
António Guterres afirmou que 89 funcionários da Agência das Nações Unidas de Assistência aos Refugiados da Palestina no Médio Oriente (UNRWA) morreram na Faixa de Gaza. A Organização Mundial de Saúde revelou que até hoje 160 profissionais, entre os quais médicos, foram assassinados pelos nazis de Telavive com os seus bombardeamentos de extermínio dos palestinos. Hoje quatro hospitais foram bombardeados e há dezenas de mortos. Porque o ministro da Defesa de Israel diz que por baixo das unidades hospitalares há túneis onde se escondem os “terroristas”. Por isso, vai tudo à frente. Porquê? Explico.
Os colonialistas portugueses incutiam nos colonos que os angolanos não eram seres humanos. Não passavam de macacos falantes, aproveitáveis para o trabalho escravo. A vida dos negros não tinha qualquer valor. Eram corpos sem alma e sangue de galinha, bom para cabidela. O baixo nível escolar dos que vinham colonizar Angola (muitos eram presos de delito comum) facilitava a assimilação destas teses racistas.
Os mentores do colonialismo até criaram um prémio extra para quem desembarcava nos portos de Luanda e do Lobito. Mal atravessavam a linha do Equador subiam logo na escala social. Todos os negros, mesmo “assimilados”, ficavam abaixo deles. Além de que tinham garantido o fim da fome e da miséria. Assim perpetuavam as políticas racistas e de opressão.
O 4 de Fevereiro de 1961 marcou o início da Luta Armada de Libertação Nacional. Afinal os animais falantes, sem alma e com sangue de galinha lutavam pela Liberdade e a Dignidade, valores dos Humanos! Há que exterminá-los pela falta de respeito ao branco!
Assim começou a Guerra Colonial com o apoio generalizado dos colonos. As excepções honrosas e corajosas confirmam a regra. As hordas de milícias (colonos civis armados) e as tropas despachadas à pressa de Portugal partiram para o genocídio. As operações militares no “mato” incluíam quase sempre a destruição das aldeias. A soldadesca tinha instruções para pegar fogo a todas as cubatas.
A Igreja alinhou actvamente na Guerra Colonial. O Padre António Vieira explicou às lideranças políticas da época no Brasil e em Lisboa que “os índios e os negros têm alma como nós”. Séculos depois os sacerdotes integravam as unidades militares que iam matar pretos para as colónias. Milhares de “padres capelões” deram cobertura à criminosa agressão armada aos civis em Angla, Guiné e Moçambique. Porque os pretos não têm alma e os portugueses são “uma raça superior”. Porque Nossa Senhora (deles) apareceu a três crianças numa serra e para não sujar os pés brancos de neve ficou em cima de uma árvore. Terra de Santa Maria. Povo escolhido. Numa mão a cruz e na noutra a espada.
Os nazis de Telavive têm a mesmíssima mentalidade. Por isso estão a exterminar os palestinos. Os judeus são o povo escolhido pelo deus deles. A Palestina é deles porque Jeová lhes deu aquela terra. Está escrito no livro sagrado daquela confissão religiosa. Jeová dá-lhes tudo, até segurança ilimitada. Deus também dá tudo aos seus e Alá não fica atrás. A Terra Santa está empapada com o sangue de civis inocentes. Jeová patrocina o genocídio dos palestinos na Faixa de Gaza e na Cisjordânia. É a loucura total.Hoje o genocídio continua. Os
genocidas estão em Washington, Londres, Paris, Bruxelas e Berlim. Os sargentos
do governo de Israel cumprem ordens. Somos todos culpados! Todos temos as mãos
sujas de sangue. Com a nossa indiferença estamos todos a matar crianças
Nem os bispos angolanos! Aconteceu agora uma reunião da Conferência Episcopal de Angola e São Tomé (CEAST). Nem uma palavra sobre a tragédia na Terra Santa. Podiam, no mínimo, imitar o Papa Francisco. No máximo, recordarem-se do genocídio praticado em Angola durante a Guerra Colonial. Os Imbambas e Chissenguetis nem sequer saudaram os 48 anos da Independência Nacional. Continuam com a mentalidade de “capelães militares” das tropas colonialistas. Mas não se esqueceram de hastear a bandeira do Aldraberto da Costa Júnior, o aldrabão compulsivo. Estão sempre do lado das fogueiras da Jamba e da Inquisição.
Os Imbambas dizem que “Angola precisa com urgência de uma comunicação social credível, que una os angolanos, e se regule por critérios de serena objetividade, que evite a propaganda e se livre de métodos de informação que violando a justiça e a verdade ferem a dignidade e o bom nome dos cidadãos”. Isto está escrito na Nota Pastoral sobre a Situação Social de Angola, divulgada no final da reunião do Conselho Permanente dos bispos.
Que acrescentam: “Precisamos todos, sem exceção, de sentar e refletir em conjunto tudo o que correu mal, apreciar os feitos positivos que fomos capazes de realizar e iniciarmos imediatamente a reconstrução do nosso tecido social”.
Sobre o 48º aniversário da Independência Nacional nem uma palavra. A independência deles foi com os racistas de Pretória no Huambo. Ou no Uíge com os mercenários e o colonialista Ferreira Lima, financiador das milícias que mataram milhares de civis inocentes em 15 de Março de 1961 e nos meses que se seguiram.
O banho de sangue na Terra Santa, o genocídio de palestinos, isso não interessa aos Imbambas e Chissenguetis. A Igreja do Cónego Manuel das Neves está de rastos! Vou explicar aos senhores bispos. Há 48 anos, os poucos jornalistas negros em Angola tinham começado na profissão um ano antes. A maioria entrou na profissão pela minha mão! Na Imprensa Livre do último quartel do século XIX tínhamos muitos jornalistas angolanos negros. A radicalização do colonialismo acabou com eles. Até ao 25 de Abril de 1974 tivemos no máximo uma dúzia de jornalistas mestiços. Negros, nem um. O que temos hoje é um milagre. Apenas 48 anos depois da Independência, Angola tem centenas de jornalistas. E u vos saúdo camaradas!
Não vou opinar sobre o golpe
palaciano que ocorreu
* Jornalista
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