domingo, 10 de dezembro de 2023

A Bala que Matou Gal Matou Miguel -- Artur Queiroz

Artur Queiroz*, Luanda

O Gal morreu. Coitado do Gal era tão bom menino. Tão amigo dos amigos. Vestiram-lhe uma farda, ensinaram-no a matar e foi para a Faixa de Gaza. Outro bom menino disparou sobre ele e foi o fim. Até o Netanyahu foi ao funeral porque Gal era filho de um membro do Gabinete de Guerra. Afinal os judeus também morrem. As balas perfuram os corpos dos brancos. Que horror! Jeová pode ser um bom agente imobiliário mas não é um bom branco. Deixou um terrorista de cor indefinida matar o Gal. É preciso reforçar o apartheid e o racismo.

Olhem para Angola com olhos de ver. Uma bala matou Miguel, médico, bom amigo, bom cidadão. Era filho do governador-geral de Angola. Uma bala dos “terroristas” do MPLA matou-o. E sabem que mais? Ele era contra a guerra colonial. Ele dizia que Angola tinha que ser independente, como todas as outras colónias portuguesas. Acabou o curso de medicina, meteram-lhe uma farda, galões de alferes e foi para a guerra. Uma bala pôs fim à sua vida.

Olhem para Angola. Os professores do ensino preparatório e secundário entraram em luta logo a seguir ao 25 de Abril de 1974. Participaram num grande comício no pavilhão do Clube Nun’Álvares, na Ilha do Cabo, apoiado pelo Movimento Democrático de Angola. A meio da actividade política apareceu o “Camarada Faria”. Desfraldou a bandeira do MPLA e amplificou a mensagem de Agostinho Neto: O inimigo é o colonialismo e o imperialismo. O Povo Português é um povo amigo! Sabem qual foi a reacção?

O pequeno comércio dos musseques (cantinas) estava nas mãos de agentes da Polícia de Segurança Pública (PSP) e taxistas. A PIDE em Angola, depois do 25 de Abril de 1964, virou Polícia de Informações Militares (PIM). Mudaram as moscas mas a porcaria era a mesma. Os torcionários fugiram para a Rodésia de Ian Smith (Zimbabwe) e África do Sul, onde venderam os seus serviços aos racistas. No dia seguinte ao comício da Ilha, os independentistas brancos avançaram com os esquadrões da morte, constituídos por polícias, taxistas e bufos. À noite, depois do jantar, iam matar negros para os musseques! Estavam a repetir as mortandades de 1961, após a Revolução do 4 de Fevereiro.

Engano trágico. Em 1974, milhares de jovens angolanos que cumpriram ou estavam a cumprir o serviço militar obrigatório puseram-se ao lado do MPLA e enfrentaram os esquadrões da morte. Defenderam o povo dos musseques. O MPLA definiu bem o inimigo. O MPLA apelava aos portugueses para ficarem em Angola, ajudando os angolanos a criar o novo país, livre e independente. E eles iam para os esquadrões da morte. Depois para a UNITA, apresentada como o “movimento dos brancos”. Tudo menos os “terroristas” do MPLA. Fecharam estrondosamente a porta que se lhes abriu, para serem construtores de Angola e se redimirem de agentes do colonialismo.

Num momento crucial para o futuro de Angola, os patrões da camionagem reuniram-se no Sindicato dos Motoristas e decidiram reforçar os esquadrões da morte. Assinaram a guia de marcha para abandonar Angola. Mas roncavam grosso: Vamos matar os pretos! Os pretos não podem governar! Coitados, Pagaram um preço elevadíssimo pela última lição. Até hoje não percebem o que aconteceu. Atribuem à descolonização a culpa da sua fúria assassina e arrogância.  

Os israelitas estão a repetir os mesmos erros. Exibem a mesma arrogância., Nós somos brancos do Jeová, vamos matar os palestinos todos! Só hoje rebentamos com 450 alvos do HAMAS. Nós vamos arrasar Beirute! Vamos destruir o Hezbollah. Morte aos árabes que são porcos e cheiram mal! O sionismo é uma forma de colonialismo ainda mais acéfala do que o original criado pelos europeus e ampliado pelo estado terrorista mais perigoso do mundo.

Os criminosos de Washington estão desorientados. Sentem que está a desmoronar-se o império. Mas não podem ser tão irracionais. Israel não vai destruir o HAMAS. Não vai destruir o Hezobalh. Não vai destruir o Irão. Não vai destruir a Turquia. Não vai submeter o mundo. Por muito que os nazis de Telavive queiram imitar Hitler, esqueçam. Parem enquanto é tempo. Todos os que decidiram submeter o mundo, foram derrotados quando menos esperavam. Napoleão acabou nas estepes russas. Hitler suicidou-se quando viu que o III Reich afinal não passou de uma carnificina desumana.

O governo nazi de Telavive dá que pensar. Entre as monstruosidades de Hitler destaca-se o extermínio de judeus apenas por serem judeus. Não tinham armas, não tinham exércitos, não queriam o poder. Muitos eram contra o nazismo. Mas isso não pode justificar o Holocausto. Nada justifica o Holocausto. E quando a Humanidade pensava que a Terra nunca mais esqueceria esses crimes contra os judeus, eis que os nazis de Telavive ultrapassam largamente os métodos da GESTAPO. Exterminam palestinos porque para eles são todos terroristas. 

Os nazis do III Reich fizeram deportações, torturaram e mataram em segredo. Os nazis de Telavive repetem esses crimes hediondos ante as câmaras de televisão. A União Europeia apoia. O estado terrorista mais perigoso do mundo comanda. O Genocídio na Palestina vai acabar. Tem que acabar. Ou acaba Israel. 

Os nazis de Telavive mataram 94 jornalistas desde Janeiro, um ano. Os que mataram profissionais da comunicação social são defensores intrépidos desta “civilização ocidental”. O secretário-geral da ONU disse hoje no Conselho de Segurança que 130 funcionários das Nações Unidas foram assassinados pelos nazis de Telavive desde 7 de Outubro passado. Mas denunciou mais: Foram mortos 17.000 civis dos quais 4.000 mulheres e 7.000 crianças. Os nossos filhos! Os filhos da Humanidade que prezam a liberdade. Foram destruídos na Faixa de Gaza 27 hospitais, 88 mesquitas, três igrejas, 370 escolas. Sob os escombros das cidades bombardeadas estão milhares de civis! Nem mais um morto na Palestina!

Acreditam mesmo que a Faixa de Gaza é como Luanda e o Norte de Angola em 1961? Que os palestinos são os maus e podem ser mortos como galinhas para a cabidela? A bala que matou Gal mata judeus, islâmicos, brancos, pretos, amarelos, azuis às riscas.

Um pequeno país que tem especial capacidade para ser mau vizinho e praticar a má vizinhança não pode dar-se ares de III Reich. Não façam de Telavive uma nova Dresden! Se são assim tão defensores dos judeus, acabem com o Genocídio na Palestina. Protejam o Estado de Israel. Se não pararem já, um dia destes vão ter israelitas a imitar os retornados das colónias portuguesas tipo Agualusa! E vão culpar os que travaram o genocídio de palestinos.

* Jornalista

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